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quarta-feira, 28 de março de 2018

Energia, Entropia e Vida


ENERGIA, ENTROPIA E VIDA

Deshpande: Outro dia consideramos o tema “Deus”. Também discutimos a respeito da energia e você falou da energia humana e da energia cósmica. Vou expor a posição científica. Os cientistas têm medido a energia e levantaram assim uma equação: E=MC², um valor fantástico. Esta é a energia material e os biólogos também têm provado que a energia vital é anti-entrópica; isto quer dizer que enquanto a energia material se dissipa, a energia vital não. Portanto, este movimento de anti-entropia está contra o fluxo material da energia, a qual se dissipa e termina em uma inerte uniformidade. O ser humano geralmente se move com energia entrópica, e em consequência se deteriora, declina. Os cientistas têm medido inclusive a magnitude temporal desta energia. O problema é por conseguinte: Como pode o homem, sendo consciente disto, integrar-se ao movimento de energia anti-entrópica?

Krishnamurti: Pode-se ver de modo muito simples que aquilo que é mecânico se gasta passado certo tempo.

Deshpande: O que é mensurável pode ser manipulado pela mente, pelo homem; um exemplo disto é a bomba atômica. Esta energia, este movimento entrópico, hoje domina o mundo. Como escapar de suas garras?

Pupul Jayakar: Este é um ponto muito importante. Se existe um movimento de energia que não se dissipa a si mesmo, que não cessa, então — tanto do ponto de vista científico como do  humano — essa é provavelmente a resposta a todos os problemas do mundo.

Krishnamurti: O que é então que você pergunta? Pergunta como este movimento de deterioração mecânica — que pode levar um milhão ou dez milhões de anos —, como pode colocar-se fim a essa deterioração em que o homem está preso? Ou se existe um movimento contrário a esse?

Deshpande: E também, qual é a natureza desse movimento contrário.

Krishnamurti: Exponhamos outra vez essa questão, de modo simples. O homem está preso na energia material, na energia mecânica; preso pela tecnologia, pelo movimento do pensar. Compreende a chave disso?

Deshpande: Não.

Krishnamurti: Todo o campo do conhecimento tecnológico e o movimento estão dentro desse campo. Esse é o campo em que o homem vive, o qual tem uma enorme influência sobre ele; realmente se apodera dele, o absorve; os cientistas e os biólogos têm medido a energia desse movimento, e essa energia é uma energia de deterioração, de desgaste. Os cientistas também dizem que existe um movimento contrário de energia em direção oposta, que é a energia criativa; a verdadeira energia humana que é não-mecânica, não-tecnológica. Agora, qual é a pergunta?

Deshpande: Biólogos tais como Huxley, Chardin, sustentam que o homem tem evoluído desde a mais pequena das células até o momento em que aparece nele a consciência; o homem, como uma entidade, pode ser consciente de todo o processo evolutivo.

Pupul Jayakar: Disto surge outro fato muito interessante. Chardin disse que o próximo salto para adiante virá por “um processo de ver”, que é igual ao tradicional pashyanti. Penso que é importante explorar este verbo que está tão carregado de sentido tradicional na Índia.

Krishnamurti: Chegaremos a isso se podemos examinar os processos de deterioração, a energia mecânica, entrópica. Também tentamos descobrir essa energia de vida que não é energia mecânica. O que é esta energia?

Deshpande: Os biólogos dizem que está no desenvolvimento cultural, no destino do homem, não no surgimento de novas espécies.

Achyut: Esta questão enfrenta o homem em muitos níveis. Depois de que se lançaram os satélites, houve uma nova medida do cosmos. Chamamos a isso de o infinito mensurável. Mas o homem sabe também que existe o infinito imensurável. Essa percepção vem ao homem moderno quando se afasta do imediato e alcança uma compreensão, no mais alto sentido, do meio circundante.

Krishnamurti: Concordo. Eles têm medido o pensamento. Tem medido a memória.

Fritz Wilhelm: Em que sentido você entende que o pensamento é mensurável?

Krishnamurti: No sentido de que são medidos impulsos elétricos do pensamento.

Fritz Wilhelm: O pensamento é a medida da entropia.

Pupul Jayakar: Só pode medir-se o que tem um começo e um fim.

Krishnamurti: Há, pois um movimento que finalmente, em sua própria ação motriz, conduz à deterioração.

Fritz Wilhelm: Também conduz à radiação e nisso está o final da entropia. Há esses dois movimentos; o movimento mecânico, e o anti-mecânico.

Achyut: O enfoque do biológico é muito tentador quando chega à consciência. Toda vez que fala da energia da vida, não o faz com a mesma precisão de quando fala do outro. Há um reconhecimento de que o anti-entrópico é o desconhecido, o indefinível. Depois de ter dito que existe “o outro”, “o outro” segue sendo o desconhecido.

Deshpande: Um fato é certo. Que a energia da vida não se move na mesma direção que a energia entrópica.

Achyut: Tomemos o movimento da energia vital como algo desconhecido para nós. Não podemos manipulá-la. Na medida em que o homem se torna consciente de todo o processo evolutivo em si mesmo, se torna perceptivo com relação à consciência.

Pupul Jayakar: Eu penso que estamos girando em círculos. O observável é que o homem nasce, vive e morre. O fenômeno de um movimento cíclico de começo e fim da energia é visível e está profundamente arraigado em nossa consciência — a coisa que aparece e desaparece, as duas manifestações da energia. Há, por acaso, uma energia que não tenha que ver com a aparição e a desaparição?

Krishnamurti: É a mesma coisa. Aceitamos isto de que há um começo e um final da energia?

Fritz Wilhelm: Os indivíduos podem começar e terminar, mas não a vida. Ela cria.

Krishnamurti: Não introduza ainda ao indivíduo. Há um movimento da energia que é mecânico, que é mensurável, que pode terminar, e há a energia da vida que não se pode manipular, que prossegue infinitamente. Vemos que em um caso há desgaste de energia e que no outro não há.

Fritz Wilhelm: Eu não vejo o outro como um fato.

Krishnamurti: Muito bem. Vejamos o movimento da energia que pode alcançar uma altura e logo declina. Existe alguma outra forma de energia que nunca pode terminar, que não tem relação com a energia que começa, continua e se murcha?Como averiguaremos? Entenderam? Qual é a energia que decai?

Pupul Jayakar: É a energia material que decai. Por quê? Pela fricção?

Krishnamurti: Investiguemos isso. Qualquer energia que encontra resistência se desgasta. Tome um automóvel subindo a colina, sem poder suficiente para fazê-lo; a energia gerada pelo motor se esgotará. Existe uma energia que possa não se esgotar jamais, seja que você vá costa acima, costa abaixo, paralelo, vertical? Existe uma energia que em si mesma não tenha fricção, e que se encontra resistência não reconhece a resistência, não reconhece a fricção?

Há nisso outro fator. A energia também surge através da resistência, da manipulação.

Pupul Jayakar: No momento em que a energia cristaliza...

Krishnamurti: Não diga isso.

Pupul Jayakar: Por que, senhor? O organismo humano é uma cristalização.

Krishnamurti: O organismo humano é um campo de energia, mas não use a palavra cristalização.

Estou levando isto de modo muito simples. Existe a energia que encontra resistência e se desgasta. Nesse campo total há a energia produzida mediante a resistência, o conflito, a violência, mediante o crescimento e a decadência, através do processo de tempo... Agora, pergunto: há alguma outra energia que não seja do tempo, que não pertença a este campo?

Achyut: A tradição chama essa energia de “a flecha atemporal”.

Fritz Wilhelm: Você pergunta se existe uma energia que seja irresistível, não é isso?

Krishnamurti: Não. Eu só conheço a energia que se acha no campo do tempo. Pode ter uma extensão de dez milhões de anos, mas ainda segue estando no campo do tempo. Isso é tudo quanto nós, os seres humanos, conhecemos. E como seres humanos, estamos investigando se existe uma energia que não esteja no campo do tempo.

Fritz Wilhelm: Você quer dizer, uma energia que não experimenta nenhuma transformação?

Krishnamurti: Olhe, eu conheço a energia, a causa da energia, o cessar da energia. Conheço a energia como o resultado de vencer a resistência, conheço a energia da dor, a energia do conflito, da esperança, do desespero; todas estão no campo do tempo. E essa é a totalidade da minha consciência. Então, pergunto: existe uma energia que não esteja sujeita ao tempo, uma energia que não se encontre, absolutamente, dentro do campo do tempo? Existe uma energia que possa passar pelo campo do tempo sem que o tempo lhe afete? Isso é muito interessante; o homem deve ter se feito essa pergunta por séculos, e ao não pode achar uma resposta, criou um Deus e o situou fora do campo do tempo. (Pausa).

Mas colocar Deus fora do campo do tempo é invocar a um Deus dentro do campo do tempo. E, portanto, Tudo isto é parte da consciência. E isso se deteriora. Se deteriora — se é que posso utilizar essa palavra — porque pertence ao tempo, porque é divisível. E minha mente, que é divisível, desejando achar uma energia atemporal, procede a formular uma energia a qual chama de Deus e adora isso. Tudo isso está no campo do tempo.

Pergunto, então: existe alguma outra energia que não seja do tempo? Compreende?

Deshpande: Sim.

Krishnamurti: Como descubro isso? Descarto a Deus, porque Deus está dentro do campo do tempo. Descarto o Eu Superior, o Atman, o Brahman, a alma, o céu, porque tudo isso se acha no campo do tempo. Agora, pergunto: existe uma energia que seja atemporal? Sim, senhor, existe. Vamos investigar?

Deshpande: Sim, senhor.

Krishnamurti: Como descubro isso? A consciência deve esvaziar a si mesma de seu conteúdo, não é assim? O conteúdo que o tempo tem criado e que eu chamo de consciência.

Deshpande: A questão é que se o tempo é a consciência, então, tem que haver alguma outra coisa.

Krishnamurti: Espere. O conteúdo constitui a consciência; de outro modo não há consciência.

Pupul Jayakar: Posso perguntar algo? O vazio total da consciência, não é o mesmo que ver a totalidade da consciência?

Krishnamurti: Sim, o é. Estou de acordo. Não creio que tenha me expressado com clareza. Há o fato do total esvaziamento da consciência e existe o outro fato, que é o de ver com a totalidade, com todo o conteúdo. Ver o campo do tempo como um estado normal, ver todo o campo do tempo. Bem, agora, o que significa esse ver?

Esse ver é diferente do campo do tempo? Ou esse ver se separou do campo do tempo e então pensa que é livre e que olha no campo do tempo, e a isso é o que chamamos de percepção?

Deshpande: Correto, senhor. Essa percepção pressupõem um percebedor.

Krishnamurti: Voltamos a mesma coisa. Surge, então, a pergunta: o que é o ver total? Eu vejo logicamente, verbalmente; compreendo toda a consciência do homem, a totalidade dela. Essa totalidade é o conteúdo da consciência, que tem sido acumulado através do tempo — que é a cultura, a religião, o conhecimento. Seja que se contraia ou se expanda, esse conteúdo segue estando no campo do tempo. Quando se expande, inclui a Deus, não-Deus, ao nacionalismo, etc. Esse é todo o movimento da consciência dentro do campo do tempo. A própria consciência é tempo. O que você diz, Deshpande?

Deshpande: Eu não tenho outro instrumento que a consciência.

Krishnamurti: Dou-me conta disso. Vejo que a consciência é tempo porque a consciência é o conteúdo e este tem sido acumulado através de séculos e séculos.

Deshpande: A consciência é conflito, fricção.

Krishnamurti: Sabemos isso. Como minha mente pode olhar este campo total do tempo e não ser do campo? Essa é a questão. De outro modo, não posso olhar. A percepção total deve estar livre do tempo. Há uma percepção e um ver que não sejam do tempo? O que você diz?

Deshpande: Essa é a nossa pergunta.

Krishnamurti: E se não é do tempo, então, essa percepção é o movimento da vida. A própria percepção é o movimento da vida.

Deshpande: Logicamente deveria ser assim.

Achyut: Nós podemos dizer que a própria percepção é o movimento da vida? Eu não sei nada a respeito disso.

Krishnamurti: Pode minha mente, que é tempo, que é o conteúdo da consciência, pode minha mente, pertencendo completamente ao tempo, dissociar a si mesma da totalidade do campo? Ou há uma percepção que não é do tempo e, portanto, vê a totalidade?

Pupul Jayakar: Eu diria que simplesmente não posso afirmar “o outro”. Concordo com Achyut.

Achyut: No momento em que afirmo isso, isso se harmoniza com o Deus dos Upanishads. Quando posso dizer é que ao ver que toda a consciência está no campo do tempo, posso permanecer com isso. Sou “isso”.

Krishnamurti: Você é “isso”. Alguém lhe disse que esse movimento dentro do campo do tempo é mensurável e lhe pergunta se existe uma percepção — não afirma que existe ou que não existe —, pergunta-lhe se existe uma percepção que vê a totalidade da consciência, a qual é tempo. Há uma percepção assim? É uma pergunta legítima.

Pupul Jayakar: Posso dizer algo? Eu lhe vejo. Vejo esta residência. Vejo o funcionamento da minha consciência. Não há mais que isso. Posso vê-lo. É uma coisa concreta. O ver é concreto.

Krishnamurti: Compreendo, Pupul. Aqui estou sentado nesta residência. Vejo o conteúdo da residência e vejo a mim mesmo nela. O “mim mesmo” é o observador, quem é consciente da residência, das proporções, do espaço da residência, e isto o vê por meio da consciência que está constituída de tempo. O observador e o observador estão no campo do tempo. Isso é tudo. Quando o observador inventa algo, isso permanece no campo do tempo. É assim que qualquer movimento está dentro desse campo. Isso é um fato. Mas, sabendo isto, vem alguém e pergunta: existe um movimento que não seja do tempo?

Compreenderam a pergunta? Pode a mente ver a si mesma como o campo do tempo? — não como o observador que vê o campo do tempo. Pode a mente por si mesma dar-se conta totalmente de que vê a consciência como tempo? Isso é bastante simples.

Pupul Jayakar: Eu não vejo isso. O que implica ver a consciência como tempo? Quando observo ao pensamento, vejo-o como algo que flui, vejo-o como um movimento; desperto a um pensamento que tem sido, depois a outro, e assim sucessivamente. E refino tudo isto e digo que há um movimento. Quando Krishnaji diz: “Perceba esta residência”, eu percebo esta residência e o funcionamento interior da minha consciência. Não há uma percepção do tempo. Isso é o presente ativo.

Krishnamurti: O que é que você quer dizer, Pupul?

Pupul Jayakar: Eu não posso aceitar a percepção da consciência como um movimento de tempo. Se não admitimos o concreto do ver, nos movemos então no campo do conceitual.

Krishnamurti: O que você diz é que quando entra nesta residência percebe o espaço, a cor, as proporções, e percebe a consciência com a mesma palpável sensação, não é verdade?

Pupul Jayakar: Quando Achyut fala e eu percebo isso; depois, conecto ambas as percepções, e o pensamento entra no tempo. Não há tempo separado da conexão.

Krishnamurti: Se há percepção não há tempo. Quando olho não há tempo.

Pupul Jayakar: Você perguntou: “você vê a consciência como o conteúdo total do tempo?” Eu questiono essa proposição. Gostaria de examiná-la sob o microscópio.

Krishnamurti: Minha mente é o resultado do tempo — a memória, a experiência, o conhecimento. Minha consciência está dentro do campo do tempo. Como posso ver que todo o conteúdo está dentro do tempo?

Pupul Jayakar: Graças a memória, ao pensamento.

Krishnamurti: Como vejo que todo o conteúdo está dentro do campo do tempo? Essa é uma conclusão que acabamos de levantar, ou é uma verdadeira percepção? Vamos devagar. Temos sustentado verbalmente que o cérebro, a mente, a totalidade disso é o resultado do tempo. Essa é uma conclusão, ou o vejo como um fato e não como uma conclusão?

Pupul Jayakar: Como você distinguiria uma coisa da outra?

Krishnamurti: Uma é uma fórmula, uma conclusão, uma declaração; a outra é algo que estou descobrindo.

Pupul Jayakar: Eu o acho muito difícil. Sabe o que você pede, senhor? Pode-se perceber uma abstração? Quando não há pensamento, “o que é” é uma abstração.

Krishnamurti: Espere, você está adiantando suas conclusões. Não se chegou a nada disso. O que você disse é sim uma abstração, uma conclusão.

Pupul Jayakar: Eu me pergunto: quando digo que a consciência é produto do tempo, se trata de uma declaração, ou isso é algo que posso ver?

Krishnamurti: É uma declaração com um significado verbal que aceito e que, portanto, se torna uma conclusão, ou é um fato tão real como esta residência, o fato de que a totalidade do meu cérebro, da minha consciência, é este enorme campo do tempo? Isso e tão concreto como isto?

Pupul Jayakar: Como pode ser isso tão concreto como o outro?

Krishnamurti: Eu lhe mostrarei em um minuto. Eu vejo que uma conclusão não é um fato, porque o pensamento tem interferido nisso e tem escutado esta declaração e a aceita, convertendo-a em uma fórmula para ficar com essa fórmula. Isso é uma abstração. Uma fórmula é uma abstração criada pelo pensamento e, por conseguinte, ela é a causa do conflito. É a própria natureza do conflito. Vejo isso claramente. Bem, agora, há uma percepção que não seja do pensamento, da mente como o campo total do tempo? As fórmulas são coisas das mais letais. Fórmulas e conceitos são produtos do pensamento e, portanto, se acham totalmente no campo do tempo.

Estou investigando este campo. Dissemos que o tempo é a consciência. O tempo é o resultado de séculos e séculos de experiência. Essa é a minha consciência, e a consciência está constituída por todo o conteúdo. Eu ouço que você afirma isso e o pensamento o recolhe e faz disso uma fórmula. Vejo que a própria fórmula está dentro do campo do tempo, que essa mesma fórmula é o fator de atrito. Portanto, nem me aproximo disso. O nego. Agora me pergunto: o neguei, ou ainda estou pensando, sentindo que o tenha negado? Estou tratando ainda de encontrar um fato que não esteja no campo do tempo? (Pausa)

Quando entro nesta residência, eu vejo. Não há um movimento do pensar. Simplesmente, vejo. Mas no instante em que o pensamento diz que há proporção, cor, beleza, nesse instante o tempo interfere. Está seguindo? Do mesmo modo, este campo total do tempo só existe quando o pensamento opera.

Estou descobrindo algo: quando o pensamento opera, deve operar no campo do tempo, deve chegar a uma conclusão, e a conclusão é parte da consciência; isso é tudo.

Agora pergunto: não há nenhum movimento do pensar, ou estou pretendendo para mim mesmo que não há movimento do pensar e que só há percepção? A mente se engana a si mesma quando diz: “Eu não tenho fórmulas”, mas está entrincheirada em fórmulas — sendo as fórmulas pensamento, o que, por sua vez, é consciência? Ou existe uma percepção que nada tem que ver com o pensamento? Eu só sei que toda a consciência está no campo do tempo e que o pensamento é consciência.

Portanto, estou investigando; não quero enganar a mim mesmo, não quero fingir que tenho algo que na realidade não tenho. Eu ouço sua afirmação: “a totalidade da consciência é tempo”. Quero averiguar se a mente — que é o resultado do tempo — aceita esta afirmação como uma fórmula e, portanto, permanece no tempo, ou se vê a verdade, o fato — sendo o fato uma percepção do movimento total do pensar.

Se a mente, ao examinar, ao investigar, aceita a afirmação como uma fórmula e diz: “sim, é bem assim”, esse “assim” é a percepção de uma conclusão, o qual é a operação do pensamento. Portanto, vejo que o tempo está operando ainda nesse sentido.

Ou é este um fato compreensível, um fato de que posso dar-me conta? Ou o pensamento está completamente ausente e só há percepção e nenhuma outra coisa? O que é que ocorre então? Nada mais pode se dizer quando não surge o pensamento.

Pupul Jayakar: O que é que você percebe nesse instante?

Krishnamurti: Nada. É logicamente correto que assim seja.

Achyut: Qualquer coisa que nós ouvimos, no instante seguinte se torna uma recordação.

Krishnamurti: Eu não me importo, absolutamente, com você. Perdoe-me. Não me preocupo se você vê ou não vê. Disse-lhe que ia investigar. Estou investigando. Você não está investigando. Você fica apenas com a fórmula. Vejo este fato. Percebo a fórmula com uma fórmula, ou percebo sem movimento do pensar, sem uma fórmula? Então Pupul me pergunta: nesse estado, o que há que se perceber? Absolutamente nada, porque aquilo não é do tempo. Esse é o fator de energia da vida.

Fritz Wilhelm: Este estado que você descreve pode ser chamado entropia do pensamento, um estado onde já não é possível nenhum movimento.

Krishnamurti: Você não está investigando.

Pupul Jayakar: Eu desejo fazer uma pergunta. Você disse que não há nada. Há movimento?

Krishnamurti: O que você entende por movimento, antes que eu diga sim ou não?

Pupul Jayakar: Daqui até ali.

Krishnamurti: Algo mensurável, comparável. Mensurável significa movimento. O movimento, quando é medido, está no campo do tempo, correto? E você me pergunta se nesse nada, nesse vazio, há movimento. Para você, o movimento é mensurável e se eu digo que há movimento, então você me dirá que isso é mensurável e que, portanto, está no tempo.

Pupul Jayakar: Há movimento no vazio.

Krishnamurti: E o que isso significa? O movimento do tempo é uma coisa e o movimento do nada, do vazio, não é do tempo e, em consequência, não é mensurável. Mas aquilo tem seu próprio movimento que você não pode compreender, a menos que deixe de se mover no tempo. E aquilo é infinito, esse movimento é infinito.

Bombaim, 11 de fevereiro de 1971
Tradição e Revolução

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill