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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bafo de boca não cozinha ovo cósmico


Para poder receber o frescor e a vitalidade fecunda do novo, é preciso haver espaço, é preciso haver silêncio, é preciso ter uma “mente que escuta e um coração que pensa”. Quando estamos no exercício pleno de uma mente fechada pela coleção de antigas e enigmáticas “chaves de ego-conhecimento”, chaves essas que não descobrimos em nosso interior, mas que de outros tomamos por emprestado, não nos damos a oportunidade para a escuta do novo, que, se em si trazer algo que seja verdade, cumprirá seu devido papel de apontar para o entulho que carregamos em nosso interior, o qual nos impede de descobrir a verdadeira chave que já trazemos conosco, desde tempos imemoriáveis. Se essa chave não for — por nós mesmos descoberta —, de forma alguma poderemos descobrir a mensagem única, pessoal e intransferível que se manifesta em nós, por meio do Sopro que nos habita, a qual só se revela quando temos a capacidade de fazer frente ao silêncio, que em última análise só se apresenta quando alcançamos o portal da maturidade, o qual se expressa após termos colocado em seu devido lugar nossas birrentas, infantis e adolescentes “necessidades umbigóides”, as quais frustram a possibilidade de saber por experiência direta a realidade do que seja a genuína expressão do amor. O que pensamos ser amor, não tem nada de genuíno, não tem nada de original; o que pensamos ser amor é apenas uma coleção de imagens envelhecidas pela ação do tempo. A imagem de um morango, não é o morango e, portanto, não tem como nos brindar com a originalidade de seu sabor e com a delícia de seu frescor. 

Parte de nossa tristeza é que não percebemos o modo como fomos condicionados para prestar indevido culto ao passado morto, carregado de imagens, símbolos e tradições que limitam a expressão da autenticidade do Ser que somos. Para boa parte de nós, não se deu a consciência de que, desde a infância fomos programados para o colecionar um enorme pacote de ideias, símbolos, dogmas, antigos conhecimentos, memorizar histórias que não apontam para o desenvolvimento interior que possa nos brindar com a “excelência do Ser que somos”. Por não termos desenvolvido até então, a capacidade de fazer uso da lógica e da razão, as quais nos trazem a capacidade de questionamentos fundamentais, aceitamos como algo inteligente, uma educação cartesiana, mecânica, exata e científica, destituída de um amoroso, sensível e responsável senso humano, sem o qual a verdadeira liberdade criativa e amorosa não encontra o solo fértil para, em seu devido tempo, produzir os tão necessários frutos pelo qual em acelerado sofrimento, em estado dormente espera nossa grande e única família humana. Essa é boa parte de nosso silencioso e incompreendido sofrimento: compactuar através do nosso conformismo e ajustamento para permanecermos como fechadas sementes de amor, sedentas para trazer ao mundo o alimento e o frescor de nosso fruto. Nossa tristeza está no compartilhar da imitação de amargos frutos colhidos nas incontáveis fazendas do conformismo, do maneirismo, do ajustamento, do nivelamento inferior ao que nosso íntimo intui poder alcançar. Parte de nossa grande tristeza está em ter nascido águia e ter se permitido acreditar na programação das palavras vindas de pessoas significativas, palavras estas que ao aceitá-las nos forçaram a acreditar que somos galinhas, cujo único sentido existencial é extrair de nosso interior, a alto custo, de modo acelerado e estressado, nossos ovos criativos para colocá-los nas mãos de mentes que conhecem o poder e o sentido da palavra, — e com o qual nos controlam  —  assim como o nosso total desconhecimento das mesmas. Por causa dessa inicial falta de consciência das palavras é que nos mantemos programados, é que nos mantemos numa silenciosa servidão mercantilista, a qual faz de nosso irmão um acirrado concorrente. Se não chegamos sequer a tomar conhecimento da limitação que temos em compreender e fazer bom uso da palavra, a qual foi criada para tentar expressar, tentar simbolizar aquilo que intuímos em nosso coração, como poderemos alcançar então o poderoso insight, a poderosa experiência que transcende todo entendimento, a liberdade que se expressa quando somos tocados por aquele “Isso!” que está muito além e que transcende os limites da palavra?

Talvez, um dos nossos maiores entraves para a ocorrência direta desta inenarrável experiência, vivida por aqueles que aprendemos a chamar de místicos, mestres e iluminados, e que de forma infantil nos conformamos em cultuar e imitar, esteja no constante e mecânico exercício de mente fechada, a qual nos mantém com a boca aberta, falando demais sobre o velho por não ter nada de novo a dizer. Quando nos mantemos prisioneiros desse limitante modo de vida sustentado por nossa verborrágica mania de proferir nossa coleção de certezas incertas, não há a menor possibilidade de receber o frescor do novo. Para receber o novo, é preciso ter em nós instalada a consciência de que falar é prata e escutar é ouro; a consciência de que a boca deve saber permanecer fechada para dar o devido espaço para a abertura de mente e coração. Isso não significa de modo algum o exercício de uma aceitação servil. Ao contrário, quando mantemos uma escuta atenta, isenta de qualquer forma de escolha, achismo ou julgamento precipitado, nessa escuta, sem a necessidade de esforço, nos é apresentado uma capacidade de visão a qual de imediato nos mostra o falso e o verdadeiro, nos separa o joio do trigo.

Para receber o novo, precisamos despertar um coração que pensa e uma mente que sente,  uma boca que cala e um coração que fala. Para que isso aconteça é preciso estar nesta sala, é preciso chegar neste portal que nos apresenta um novo paradigma existencial, não com a velha mente com suas pegadinhas, maneirismos, achismos, com seu vício por disputas intelectuais, sua coleção de certezas incertas copiadas da experiência de outros homens, com suas verdades que não convencem nem a si mesma, pois, se essa capacidade a mente tivesse, estaria ela ainda correndo, buscando por tantos cantos, tantos blogs, tantos sites, tantas instituições e tantos livros? Estaria ela ainda depositando esperanças na busca de alguém que lhe traga a palavra mágica, o estado de presença mágica? Não seria ela capaz de fazer frente aos possíveis “barulhos” que se apresentam somente quando estamos em silêncio? 

Para receber o novo é preciso aqui chegar trazendo consigo a consciência de que tudo que penso saber não foi capaz de me brindar com a verdadeira liberdade do espírito humano; não foi capaz de me fazer saber por experiência direta o que é o amor e sua energia, o qual nada pede para si e que é só doação incondicionada, só um movimento em direção ao outro que, em última percepção intuitiva  — a qual ultrapassa em muito os limites da lógica, da razão e do intelecto  —, nos traz a benfazeja consciência de que o “outro” também sou “eu”. Para conhecer essa realidade do amor, ao qual os místicos num esforço amoroso — sem querer nada para si — tentaram traduzir com a maior da boa vontade através dos limites impostos pela palavra, é preciso aqui chegar, totalmente exausto de pensar e fazer uso dos pronomes possessivos “meu, minha, meus, minhas” e dedicar-se, de mente e coração, dedicar-se de modo holístico, com toda a energia do Sopro que nos habita para o poder da energia qualitativa e criativa do “nosso”, sem a qual, não há possibilidade de nossa existência apresentar Vida com qualidade. 

Para receber o novo é preciso já ter observado que, por mais prestígio e respeitabilidade adquirida, por mais conhecimento que possamos trazer na pesada mochila que sustentamos em nossos ombros, conhecimento esse que trazemos da coleção de livros, que talvez agora se encontrem empoeirados em nossa velha estante, isso não pode nos brindar com a qualidade criativa de uma mente que traz em si uma poderosa capacidade de silêncio, o qual se manifesta sem o menor esforço de nossa parte. Para que o poder dessa mente silenciosa se apresente, precisamos ter conosco a consciência e a inquietude daquele que se sente como ansiosa semente por tornar-se broto; ter o estado de “prontificação” para se permitir ser lançado ao solo úmido da humildade, prontificação essa expressa pela capacidade de se permitir uma escuta atenta, sem a qual os frutos da capacidade de uma nova visão de mundo, contida em estado latente no interior da semente que somos, não tem a menor possibilidade de florescer e crescer em direção à Luz do discernimento e da Percepção Pura. 

Para receber o novo é preciso ter a consciência de que a adolescente mania de vomitar emprestadas “certezas incertas” não tem o poder de produzir a maturada completude da Inteireza e Excelência de Ser, as quais só se manifestam através do Silêncio adquirido quando somos capazes de nos abrir para o adubo do tédio e da insatisfação que trazemos conosco, quando temos a capacidade de não mais despejá-los nos ouvidos de terceiros, aceitando pagar caro para poder usá-los. Para receber o novo é preciso ter a consciência de que mesmo a melhor capacidade de oratória — a qual muitas vezes é produto de uma imitação levemente modificada — não produz a necessária energia criativa capaz de causar uma profunda mutação em nossas células cerebrais; é preciso já ter consigo a consciência de que, ao fim do melhor discurso, quando deitamos nossa cabeça na maciez de nosso travesseiro, lá estão as incessantes falas do vazio, do tédio e da insatisfação, nos forçando a voltar ainda mais vazios para o estado do qual tentamos fugir através da inconsciente "nova droga de escolha", expressa pela vaidade de tal capacidade de oratória.

Para receber o novo é preciso ter vivenciado o deserto do real e nele ter observado que, aquilo que chamam de “inferno” é a estagnação causada pela repetição. É preciso ter adquirido a consciência da insuficiência de se permitir continuar correndo atrás das “boas vindas de terceiros”, da “aceitação de terceiros”, com as quais, quase sempre de modo inconsciente, tentamos aplacar a dor resultante de nossa própria incapacidade de darmos às boas vindas ao Ser que somos e de não saber o porquê de neste espaço tempo, aqui ter vindo; ter a consciência de que por melhores que sejam as boas vindas de terceiros, as mesmas não tem o poder de produzir as boas vindas de nossa autonomia psíquica, emocional, espiritual e, o mais importante de tudo, de nossa autonomia vocacional.

Para receber o novo, os instintos naturais que nos foram dados para a manutenção de nosso organismo e que foram desequilibrados pela aceitação passiva à excessiva exposição da imensa rede de condicionamentos, já devem ter sido, há muito, colocados em seu devido lugar e proporção de atuação através da participação responsável em outras especializadas e por vezes anônimas “Oficinas do Ser”. Se a necessidade de aceitação, de reconhecimento, de prestígio, de expressar emprestados conhecimentos, de buscar incessantemente por incontáveis formas de obter prazer imediato destituído de responsabilidade, se tudo isso não foi devidamente trabalhado, não há a mínima possibilidade de se aventurar no portal de um novo paradigma. Isso é que significa “prontificação”; isso que significa “meditação”; isso que significa “forças para realizar a vontade do Ser que sou e não a vontade do ser que penso ser”.

Um fraterabraço e um beijo no coração!

Outsider44
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill