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terça-feira, 28 de agosto de 2012

O observador e a coisa observada


EUROPA — 1966 - SAANEN — II

PODEMOS CONTINUAR com o que estávamos dizendo anteontem? Falávamos, em palavras diferentes, sobre a importância de operar-se uma revolução total na mente. Estamos acostumados com “reformas de remendos”, mudanças fragmentárias, as quais se realizam ou sob compulsão, como meio de defesa, ou com uma finalidade, um propósito moral, ético. Todos reconhecemos a necessidade de uma revolução fundamental, radical, total, na mente, O homem vive há tanto tempo em conflito, dentro e fora de si mesmo, sempre aflito, sempre a funcionar entre os limites de seu egotismo, entre guerras, enganos, desonestidade, crueldade; todas estas coisas nos são bem familiares. Os que são verdadeiramente sérios percebem a importância da mudança, a necessidade de uma mente que seja capaz de atacar todos estes problemas e ao mesmo tempo viver neste mundo, sem dele se retirar para uma vida monástica; viver de uma maneira totalmente diferente.
Vê-se, também, que se operam mudanças fragmentárias pela ação da vontade. Eu quero mudar. Exerço fortemente a minha vontade, esforço-me, procuro, por meio da perseverança, da constância, de incansável atividade, promover uma modificação, contudo não há mudança total. Dentro em nós está sempre a travar-se esta tremenda batalha, a qual se manifesta em nossa conduta externa, em nossas relações exteriores, Se um indivíduo é verdadeiramente sério, como irá promover a completa transformação de sua mente? Não duvido de que já se tenha feito dúzias de vezes esta pergunta: “Que se deve fazer?” Um homem sabe que lhe falta sensibilidade, afeição, afeição genuína, intensa, profunda, não maculada por nenhuma espécie de egoísmo ou autocompaixão. Sabe este homem que funciona entre os limites de seu EGO — e a perene atividade egocêntrica. Sabendo de tudo isso, que deve fazer? Como romper essas fronteiras de autodefesa, para ficar inteira mente livre de conflito, aflição, sofrimento, de todas as tribulações da existência humana?
É isso o que vamos considerar, isto é, se de algum modo é possível viver no instante presente, tão completamente que o tempo não exista; se é possível mudar sem ser lenta e gradualmente, ser livre não numa “vida futura” (se existe), sem pensar que “serei alguma coisa amanhã”. Como se conseguirá isso?
Já se têm tentado diferentes maneiras, e muitos se têm forçado a não pensar, absolutamente, por reconhecerem que o pensamento é a origem de todos os males. Têm-se experimentado drogas de vários graus de eficácia, capazes de exaltar a sensibilidade, de dar uma diferente intensidade às ações do indivíduo. Experimentam-se drogas que expulsam por completo o medo, de modo que caem todas as defesas e o indivíduo fica completamente aberto e sem nenhuma idéia de seu EU. Muitas maneiras têm sido tentadas e os indivíduos se têm identificado com unia idéia a que chamam Deus, ou com o Estado, ou com uma existência futura. E vão assim suportando as constantes aflições, angústias e ansiedades desta vida. Todos sabemos disso; temos feito muitas tentativas dessa espécie. Podem elas produzir um certo efeito temporário, por um ou dois dias. Mas, esse efeito passa rapidamente e vemo-nos de volta, talvez um pouco mais requintados, à rotina diária, à existência monótona e insensível de cada dia, suportando nossas aflições, defendendo-nos, disputando, arrastando nossa existência até chegar à morte. Disso também sabemos. Perguntamos a nós mesmos se há alguma possibilidade de sacudirmos de nós, lançarmos fora, furtar-nos inteiramente a essa maneira de vida, de modo que tenhamos uma mente inteiramente nova, uma existência total mente diferente; que não haja separação entre a natureza e nós, entre outrem e nós, e nossa vida adquira uma qualidade superior, profunda significação! Penso que é isso o que está buscando a maioria de nós. Podemos não saber exprimi-lo, pô-lo em palavras, mas, no íntimo, é isso, e não a felicidade pessoal, o que deseja a maioria de nós. Esta (a felicidade Pessoal) tem muito pouca importância, mas o que tem verdadeira importância é uma vida que em si mesma encerre um extraordinário significado, uma vida sem conflito de espécie alguma, da qual esteja totalmente ausente o tempo. É isto possível?
Pode-se fazer aquela pergunta intelectual, verbal, teoricamente, mas, nesse caso, é evidente, a pergunta conduz a uma resposta teórica, a uma possibilidade conjetural, conceptual, e não real. Mas, se uma pessoa faz a pergunta seriamente, com intensidade e paixão, por perceber a futilidade da maneira como está vivendo, se faz realmente tal pergunta, qual é então a resposta? Que deve fazer ou não fazer? Acho importante cada um interrogar a si próprio e não através do orador, porque uma pergunta feita por outrem tem insignificante e superficial valor. Mas, se a pessoa faz a pergunta a si própria, com toda a seriedade e, por conseguinte, com intensidade, acha-se então num estado de relação com o orador, e sua mente disposta a examinar, a penetrar fundo, sem motivo algum, sem propósito nem direção, porém com um ardor que exige a resposta, um ardor que dispensa completamente o tempo, o conhecimento, e penetra realmente, a fim de descobrir se há alguma possibilidade de transpormos as fronteiras da atividade egocêntrica.
A este respeito estivemos falando anteontem, isto é, sobre o observador e a coisa observada. Dissemos que o observador é a coisa observada, que a totalidade da consciência, ou seja, a mente, o pensar, o sentir, o agir, a ideação — toda a agitação, confusão e aflição em que estamos vivendo — dissemos que tudo isso está contido no observador e na coisa observada. Deixai-me sugerir-vos que não vos limiteis a escutar o orador, porém que “escuteis” o fato que se verifica em vossa mente, quando se ouve a declaração de que a consciência inteira está dividida entre o observador e a coisa observada. Lá está o “experimentador” a exigir experiências que proporcionem prazer ou afastem a dor, a exigir mais e cada vez mais, a acumular conhecimentos, dores, sofrimentos; e lá está também o pensador, o observador, o experimentador separado da coisa observada, da coisa experimentada.
Há a entidade que diz “Eu sinto cólera”. Esse EU é diferente da cólera. Existe a violência e a entidade que “experimenta” a violência. Quando uma pessoa diz “Sinto ciúme”, o ciúme é uma coisa diferente da entidade que sente ciúme.
Quando uma pessoa olha para uma árvore, para sua mulher ou marido, para outra pessoa, está presente o observador que vê a coisa ou pessoa. A árvore é diferente do observador. A consciência inteira, a existência inteira está dividida entre o observador, o experimentador, o pensador, a um lado, e a outro lado o pensamento, a coisa experimentada, a coisa observada. Manifesta-se um forte sentimento sexual, ou de violência. Sou diferente desse sentimento; tenho de fazer alguma coisa em relação a ele; tenho de agir. Que devo fazer? Eu “devo” e “não devo”. Que devo fazer, e que não devo fazer? Há essa divisão interminável, que, no seu todo, é nossa consciência. Qualquer mudança que se verifique nessa consciência, não é mudança nenhuma, porque o observador permanece sempre separado da coisa observada. Se se não compreende isso, não é possível ir-se mais longe.
Quando digo “sou agressivo e não devo ser agressivo”, ou “continuarei a ser agressivo” — aí está presente o EU, eu que sou agressivo; a agressividade é uma coisa separada de mim. Tenho de preencher-me; o preenchimento é diferente da entidade que deseja preencher-se. Esta divisão existe sempre, e é dentro desta esfera que estamos tentando transformar-nos. Estamos a dizer que não devemos ser violentos; que devemos tornar-nos “não-violentos”; que não devemos ser agressivos; que devemos ser menos agressivos; que não devemos buscar preenchimento. Tudo isso se passa dentro daquela esfera, e nela nenhuma possibilidade existe de radical transformação.
Para que possa haver uma revolução total na mente, deve desaparecer totalmente o observador, porque o observador é a coisa observada. Quando sentis cólera, a cólera não é diferente do observador. O observador é a cólera. Quando dizeis que sois francês, alemão, indiano, comunista, o que quer que seja, a idéia é VÓS. O vós não é diferente da idéia. Para que haja uma revolução total — e ela é necessária — não podeis continuar como estais, numa batalha incessante, exterior e interior, em confusão, aflição, com sentimentos de culpa, sentimentos de fracasso, de solidão. Não existe nenhuma essência de afeição ou amor. O amor e a afeição estão rodeados, cercados pelo ciúme, a ansiedade, o medo. Só há transformação total quando o observador é a coisa observada, pois o observador nada pode fazer em relação àquilo que observa.

Krishnamurti – 12 de julho de 1966 – Saanen II 
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill