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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Diálogo sobre solidão - II

Acho que a maioria de nós sabe o que é solidão. Conhecemos esse estado em que todos os laços de relação foram cortados, em que não há senso do futuro nem do passado, em que prevalece um completo sentimento de isolamento. Podeis achar-vos no meio de uma multidão, num ônibus superlotado, ou estar sentado ao lado de um amigo, de vosso marido ou esposa, e eis que subitamente vos assalta essa onda, esse sentimento de vácuo, vazio, de um abismo. E a reação instintiva é de fugir. Assim, tratais de ligar o rádio, de tagarelar, de ingressar em alguma associação, ou de pregar Deus, a verdade, o amor etc. Vosso meio de fuga pode ser Deus ou pode ser o cinema; todos os meios de fuga são idênticos. E a reação é de medo a esse sentimento de total isolamento e, por conseguinte, a fuga. Conheceis todos os meios de fuga: o nacionalismo, a pátria, os filhos, o nome, a propriedade, — e por todas essas coisas estais disposto a lutar e a morrer.

Ora, se se reconhece que todos os meios de fuga são iguais, e se percebe realmente a significação de um dado meio de fuga, pode-se ainda fugir? Ou não há mais fuga? E, se não estais fugindo, há ainda conflito? Estais-me seguindo? É a fuga ao que é, o esforço para alcançar uma coisa diferente do que é, que cria o conflito. Assim, para que a mente possa transcender esse sentimento de solidão, essa súbita cessação da lembrança de todas as relações, as quais envolvem ciúme, inveja, ânsia de aquisição, esforço para ser virtuoso etc. — primeiro ela tem de enfrentá-lo, passar por ele, de modo que o medo em todas as suas formas definhe até desaparecer de todo. Dessa forma, pode a mente perceber, num dado meio de fuga, a futilidade de todas as fugas? Não há então conflito, há? Porque já não há nenhum observador da solidão: há só o experimentar dela. Estais seguindo? Essa solidão é o cessar de todas as relações; as idéias já não têm importância; o pensamento perdeu toda a valia. Estou descrevendo as coisas, mas não vos limiteis a ouvir, pois, assim, ao sairdes daqui, levareis somente cinzas. Afinal de contas, estas nossas investigações tem por fim libertar nos de todas estas terríveis complicações, dar-nos na vida algo mais do que apenas conflito, medo, fadigas e tédio.

Onde não existe o medo, está a beleza — não a beleza de que falam os poetas, aquela que os artistas pintam etc., porém coisa bem diferente. E para descobrir a beleza, um homem terá de conhecer esse isolamento completo — ou, melhor, não terá de conhecê-lo, pois ele já existe. Vós fugistes dele, mas ele continua existente e vos segue sempre. Ele lá está, em vosso coração e em vossa mente, nos mais profundos recessos de vosso ser. Vós o encobristes, fugistes dele; mas ele continua existente. E a mente tem de passar por ele, como quem se submete à purificação pelo fogo. Ora, pode a mente passar por ele sem reação, sem dizer que é um estado horrível? No momento em que há reação, torna-se existente o conflito. Se vós o aceitais, continuareis debaixo de seu peso; e se o rejeitais, tomareis a encontrá-lo na primeira volta do caminho. A mente, pois, tem de passar por ele. Estais-me acompanhando? A mente é então aquela solidão, não precisa de passar por ela; ela é a solidão. Quando pensais em termos de “passar por uma coisa” para alcançar outra, já estais em conflito. No momento em que dizeis: “De que maneira devo passar pela solidão, de que maneira devo olhá-la?” — nesse momento já vos achais de novo em conflito.

Existe, pois, vazio, uma solidão extraordinária que nenhum Mestre, nenhum guru ou idéia, nenhuma atividade poderá afastar de vós. Já andastes “mexendo” com essas coisas, já vos entretivestes com todas elas; mas elas não podem preencher esse vazio; ele é um abismo sem fundo. Mas deixa de ser esse “abismo sem fundo” no momento em que o experimentais. Compreendeis?

Para que a mente possa ficar inteiramente livre de conflito, total e completamente livre de apreensão, medo e ansiedade, torna-se necessário o experimentar desse extraordinário sentimento de não relação com alguma coisa; daí provém o sentimento de solidão. Não imagineis que já o tendes; isso é muito difícil. Só quando temos esse sentimento de solidão em que não há medo é que existe o movimento para o imensurável; porque então não há ilusão, não há fabricante de ilusão, não há o poder de criar a ilusão. Enquanto existe conflito, existe o poder de criar ilusão; e com a total cessação do conflito, o temor deixa de existir completamente, e, portanto, não há mais buscar.

Não sei se compreendestes. Afinal, todos vós estais aqui porque andais a buscar. E se examinardes isso, que é que estais buscando? Estais em busca de algo existente além de todo esse conflito, miséria, sofrimento, agonia, ansiedade. Buscais uma saída. Mas, se se compreende isso de que estivemos falando, cessa então toda a busca — e esse é um extraordinário estado mental.

Como sabeis, a vida é um processo de desafio e reação, não? Temos o desafio exterior: o desafio da guerra, da morte, de dúzias de coisas diferentes, e reagimos. O desafio é novo, mas todas as nossas reações são sempre velhas, condicionadas. Não sei se isto está claro. Para reagir ao desafio, eu preciso reconhecê-lo, não? E se o reconheço, é porque o interpreto em termos do passado; portanto, ele é “o velho”, evidentemente. Vede bem isso, por favor, porque desejo ir um pouco mais longe.

Para o homem que vive muito interiormente, os desafios exteriores perderam toda a importância; mas ele continua a ter seus desafios e reações interiores. Porém, eu estou falando a respeito da mente que já não busca, e, portanto, já não tem desafio e reação. E este não é um estado de satisfação, de contentamento, um estado de placidez qual a de uma vaca. Quando compreendemos o significado do desafio e da reação exteriores, e o significado do desafio interior que apresentamos a nós mesmos, e a respectiva reação, e rapidamente passamos por tudo isso — sem levarmos nisso meses e anos — a mente, então, já não está sendo moldada pelo ambiente; já não é influenciável. A mente que passou por essa extraordinária revolução pode enfrentar todo e qualquer problema, sem que nenhum problema deixe marca nem raízes. Desapareceu, então, todo sentimento de medo.

Não sei até que ponto percebestes o que estive explicando. Notai que escutar não significa apenas ouvir; escutar é uma arte. Faz parte do autoconhecimento; e se uma pessoa escutou realmente, e penetrou profundamente em si mesma, isso é uma purificação. E o que foi purificado recebe uma bênção que não é a bênção das igrejas.

Krishnamurti - 18 de maio de 1961 – Do livro: O PASSO DECISIVO - Cultrix

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill