Pergunta: É possível a mente humana poder perceber a verdade?
Krishnamurti: Pode a mente humana perceber a verdade? Acho que não pode. O que é presentemente a mente humana? Existe uma mente humana, ou é meramente a resposta instintiva do animal que continua em nós? Não é uma observação sarcástica!
Em primeiro lugar, para perceber qualquer coisa na vida, e muito mais a verdade - para perceber a minha mulher, o meu vizinho, o meu filho - tem que existir uma certa calma na mente, não uma calma disciplinada - nesse caso não é calma, é uma mente sem vida. Ora, uma mente em conflito não deixa observar nada, observar eu próprio. Portanto, estou em permanente conflito, em constante movimento, a mexer, mexer, a falar, eternamente a fazer perguntas, a explicar; aí não é possível haver qualquer observação. É isso que a maior parte de nós faz, quando estamos perante 'o que é'. Portanto, vemos que só pode haver observação quando não há conflito. Para não haver conflito, podemos tomar um tranquilizante, um comprimido, para ficarmos tranquilos, mas não é isso que dá percepção, isso faz-nos é dormir; e isso é provavelmente o que a maior parte de nós quer. Ora, para observar, tem que haver uma certa tranquilidade na mente; e se se vê ou não o que é a verdade, depende da qualidade da mente.
A verdade não é algo estático. A verdade não é algo fixo - que não tem poder. É algo que deve ser vivo, tem que ser extraordinariamente sensível, vivo, dinâmico, vital. E como é que uma mente pútrida e débil que está em tumulto, permanentemente mordida pela ambição - como é que pode compreender isso? Pode dizer que há a verdade e repeti-lo continuamente e deixar-se adormecer.
Assim, a questão é, realmente, não se a mente humana pode compreender a verdade, mas se é possível derrubar os muros da mesquinhês que o homem construiu à sua volta e a que chama mente - essa é de facto a questão. Um dos muros de que todos nós gostamos tanto é a autoridade.
- 'Collected Works' [Colectânea], vol. 13, 1962-1963. Revolução Psicológica Varanasi, Índia
2ª Palestra Pública, 3 de Janeiro, 1962
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