A meditação é o "processo de descondicionamento" da mente; significa estar cônscio sem condenação, sem justificação ou resistência, de cada pensamento, cada sentimento, cada fantasia que surge, conforme as nossas idiossincrasias e tendências pessoais. A meditação, pois, significa a libertação do passado. É a memória do passado que condiciona a nossa reação, e a meditação é o processo de libertar a mente do passado.
Mas surge-nos aqui uma dificuldade. É necessário que a mente se liberte do passado, para não deformar o que é, para ver as coisas claramente, tais como são; e como pode a mente, que é resultado do passado, libertar-se do passado? Só pode libertar-se a mente do passado, ao reconhecer que cada pensamento é produto do passado, e ao ter plena consciência de que o pensamento não pode resolver problema algum. Todo problema é um estímulo, é um desafio sempre novo; e traduzir o novo em termos de velho é negar o novo.
Quando a mente se percebe a si mesma como o centro desfigurador, e está livre, lúcida, desvinculada do passado, e não mais se separa como "você", como "eu" — está ela então tranquila; e nessa tranquilidade existe compreensão, inteligência, realidade. Essa é uma experiência que deve ser vivida por cada um, e que não pode ser repetida.Se a repetimos, então já é coisa velha. Mas se você tem interesse em resolver os problemas humanos, é necessária essa espécie de meditação; e quando a mente se torna naturalmente tranquila, como uma lagoa depois do vendaval, surge então a realidade.
Krishnamurti em, A ARTE DA LIBERTAÇÃO