Sabemos como é extremamente fácil
cairmos numa rotina, a rapidez com que a mente tudo reduz a hábito — o que, às
vezes, se denomina "ajustamento". A mente funciona sempre do
conhecido para o conhecido, e para que possa descobrir o incognoscível, deve, certamente,
libertar-se do conhecido. Pode a mente libertar-se do conhecido? Esse é um
problema realmente interessantíssimo — não apenas interessante, mas também
extraordinariamente profundo, como veremos se pudermos penetrá-lo.
Toda experiência acumulada leva a
mente a ajustar-se, não é verdade? E pode a mente libertar-se da acumulação de
experiência? Quando ela está livre, existe então "experimentador"?
Que entidade é essa que experimenta? Sem dúvida é a acumulação de experiências
anteriores, de lembranças. A mente reage a todo desafio com seus conhecimentos previamente
adquiridos. Sua reação é adequada ou inadequada. Ao reagir adequadamente, não
há conflitos, não há sofrimento; mas quando a reação não é adequada, há
sofrimento, conflito. Para conhecermos a nós mesmos, temos de investigar muito
mais profundamente, temos de compreender o inteiro processo de nossa
consciência total; não apenas a consciência superficial de nossas atividades
diárias, mas nosso profundo inconsciente, que contém todo o resíduo do
condicionamento racial, as memórias raciais, todos os ocultos motivos, impulsos, compulsões,
fixações. Isso não indica que devemos procurar um psicólogo. Pelo contrário,
devemos compreender a nós mesmos pela experiência direta.
Para possuir esse
autoconhecimento, deve a mente estar cônscia de si mesma, momento por momento,
perceber todos os seus movimentos, seus impulsos e motivos, as operações da
memória e como, em virtude da tradição, ela esta entravada pela mediocridade.
Se a mente pode estar cônscia de tudo isso que está contido nela própria,
vereis então que há possibilidade de nos libertarmos de todo o condicionamento
e descobrirmos algo totalmente novo. Então, a própria mente se renova — isso,
talvez, seja o real, o imensurável.
Krishnamurti — Verdade
Libertadora