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sábado, 30 de agosto de 2025

É possível não mais despertar depois de despertar

🔥 Introdução

Num comentário feito num vídeo em nosso canal, em que falamos da dor que o despertar espiritual traz, o confrade nos trouxe uma pergunta interessante: É possível não mais despertar, após o despertar?

Essa pergunta — “É possível não mais despertar depois de despertar?” — carrega uma densidade existencial profunda.

Para nós, já se mostrou como fato, não ser possível “des-despertar” no sentido pleno. Uma vez que o indivíduo , a opção de voltar ao sonambulismo voluntário se torna um tormento. Mas é possível — e até comum — alimentar o desejo de não ter despertado.


🔥 O despertar espiritual não é um prêmio.

Não é um evento glamoroso. É um cataclisma. Ele desmonta nossas incertas certezas emprestadas, desintegra muito do que antes nos identificávamos e expõe o vazio por trás dos relacionais, escancara nossas máscaras sociais.

Em resultado, surge a dor: Você percebe que o antigo modo de se relacionar, de estar em sociedade, não cabe mais em lugar algum. Mas o “novo estado de ser”, a nova capacidade de perceber a realidade, ainda não tem morada.


🌒 Então, o que acontece?

São muitos os confrades tentam voltar a dormir, buscando por várias formas de distrações e passatempos. Tentam fugir de seus conflitos pessoais através do trabalho, esportes, relacionamentos, consumo, narcotização química ou até com mecânicas práticas espirituais que não resultam em nada mais que uma falsa respeitabilidade grupal.

Tentam reencenar a vida anterior com mais cinismo ou cansaço. Se anestesiam porque não suportam a o peso de viver lucidamente em meio de ambientes onde todos dormem o sono capital.

Mas... é como tentar dormir com uma sirene acesa dentro do peito.


💡 O despertar é um ponto sem retorno.

Mesmo que o indivíduo queira esquecer, permanece um “eco de verdade” que não se apaga. Mesmo que ele se esconda no barulho do mundo, algo nele já sabe que é só teatro com desgastado roteiro. E isso... é o que mais inquieta.

Nesse teatro, é possível fingir que não se despertou. Mas não é possível voltar a ter a antiga e condicionada percepção da realidade de antes do despertar, porque, a inocência se foi. O olhar mudou. E mesmo o silêncio forçado, agora, grita.


1. O DESPERTAR COMO RUÍNA

Despertar não é conquistar um topo. É colapsar um edifício inteiro de ilusão. O indivíduo não acorda numa luz celestial com harpas tocando. Ele acorda no meio dos escombros — da sua identidade, das suas identificações, dos seus apegos, dos seus enredos partidários, dos seus sentidos herdados de propósito existencial.

E esse colapso não se reconstrói com os tijolos antigos. Não se “volta atrás” como quem desinstala um aplicativo do celular.

É como morder o fruto proibido da percepção incondicionada. O indivíduo viu. Viu-se imerso na atemporalidade. Sentiu-se um com tudo que é. Percebeu a ilusão da percepção espaço-tempo.


2. A TENTAÇÃO DO RETROCESSO

Mas há dias em que o preço do despertar parece alto demais. E aí surge a pergunta oculta por trás da original: “Eu posso, por favor, voltar a dormir… só mais um pouco?”

E é claro, a sociedade capital lhe oferece uma vasta variedade de anestesias, entre elas, buscar por novos investimentos, sustentar relacionamentos baseados em papéis, em protocolos cronológicos. Promessas espirituais de salvação fácil. Rituais automáticos com roupagem sagrada. Distrações hiperconectadas.

A consciência tenta regredir. Mas a regressão é sempre artificial. É como um adulto tentando caber num berço. Pode até deitar… mas o corpo não cabe mais.


3. A MEMÓRIA DO DESPERTAR

Mesmo que o indivíduo tente ignorar ou reprimir o que viu, há uma “memória vibracional” do despertar que continua viva. Ela é sutil, mas insistente. Ela volta no silêncio das madrugadas, na inquietação diante da superficialidade, no desconforto com mentiras que antes eram normais e na repulsa por certas “alegrias” que agora soam artificiais.

Essa memória é como uma brasa debaixo da pele. Não vira cinza.
Não apaga com distração.


4. A ILUSÃO DA NORMALIDADE

Muitos que despertam tentam, por um tempo, retornar à aparência de normalidade, com sorrisos nas festas ou nos almoços de domingo. Fingir interesse em conversas rasas. Postar fotos alegres enquanto gritam por dentro.
Aceitar empregos, títulos e metas que agora soam absurdas.

Mas em tudo isso, algo já quebrou por dentro — e essa quebra é irreversível. Não importa quanto o indivíduo disfarce: no mais fundo de si, ele sabe que é tudo teatro.


5. O VERDADEIRO IMPASSE

O impasse do despertar é este: "Agora que eu vi a verdade nua, crua e de modo cortante, o que faço com ela numa fragmentada sociedade capital, que dorme, e o pior, nem desconfia que dorme?"

É aqui que muitos travam. Alguns desistem. Outros adoecem. Outros ainda se isolam. Mas alguns — poucos — atravessam esse deserto. E constroem uma vida silenciosamente lúcida, sem pretensão de salvar o mundo. Sem buscar aceitação.
Apenas sendo farol, para os mais sensíveis, em meio à névoa dos apelos de consumo ilusório.


Definitivamente não. Não é possível não mais despertar após o despertar.

O corpo pode até simular o sono. Mas a qualidade da observação, já não cabe mais na noite. A pergunta verdadeira não é “posso voltar atrás?”, mas sim, “Como sigo viver com o peso — que surgiu da bem-aventurança — de ver o que vi?”

E isso… já é outra história. Mas o indivíduo começar aceitando a solidão como ponte para a maturidade. A viver sem garantias, sem retornos, mas com inteireza interna. Deixando de buscar respostas e começando a viver as perguntas.

Finalizamos com uma poesia e com o desejo de luz crua no caminhar do estimado ouvinte.


“Depois do Despertar”

Um dia
os véus caem.

e o que era chão
vira abismo.

não há música,
não há anjos,
só o eco da lucidez
doendo nos ossos.

você vê.
e ao ver,
desaprende a dormir.

mas dias virão
em que a claridade será peso.
e você desejará
com toda a alma cansada
nunca ter acordado.

sentirá saudade
do conforto da mentira.
da inocência programada.
do calor falso da caverna.

tentará voltar.
sim, tentará.
vestirá velhas peles,
sentará à mesa dos que ainda sonham,
rirá das mesmas piadas.

mas algo em você
permanece à margem.
um fio de silêncio
atrás do olhar.
um grito contido
em cada sorriso.

o mundo noturno já não te veste.
o sol é ferida,
mas também é bússola.

e você segue.
com a alma esfolada,
os olhos abertos,
e um vazio que não pede resposta,
mas presença.

porque depois do despertar,
não se vive mais para pertencer.
vive-se para não trair
aquilo que se viu.

 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill