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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Diálogo sobre descontentamento

ACHO que é importante compreender-se o problema do descontentamento. Talvez encontremos a solução correta de nossos enormes problemas se pudermos investigar o significado profundo do descontentamento. Quase todos nós estamos insatisfeitos com nós mesmos, nosso ambiente, nossas idéias, nossas relações. Desejamos efetuar uma modificação. Há descontentamento geral, do simples aldeão ao homem mais letrado - se não está subordinado ao seu poder, se não é escravo da sua ciência. Alastra-se por toda a parte uma insatisfação que nos leva a executar toda sorte de ações, e queremos encontrar um caminho que nos conduza à satisfação. Se estais insatisfeito, desejais encontrar

um caminho para a felicidade. Se estais batalhando dentro em vós mesmo, aspirais a encontrar o caminho da paz. Estando insatisfeito, descontente, desejais uma solução que seja satisfatória. Por conseguinte, a mente está sempre a tatear, sempre a sondar, em busca da Verdade - em busca da solução para o seu descontentamento. Uns encontram a solução na satisfação própria, num alvo, num objetivo na vida, por eles estabelecido; e tendo descoberto um meio por onde encaminhar o seu desejo, pensam ter encontrado o contentamento.

O contentamento pode ser encontrado? A paz é uma coisa que possa ser achada pelo processo do intelecto? A felicidade é coisa adquirível pela compreensão ou pela criação do seu oposto? Esse sofrimento, esse descontentamento é essencial em nossa vida? O fato é que estamos descontentes com o que é, descontentes com as coisas que temos, descontentes com o que somos; e o descontentamento surge por causa da comparação. Estou descontente porque vejo que sois ilustrado, rico, feliz, poderoso. É essa a causa do descontentamento? Ou vem à existência o descontentamento quando estou em busca de um caminho por onde possa afastar-me do que é? Se eu puder compreender o caminho do descontentamento, talvez possa haver felicidade, talvez possa haver satisfação. Não há caminho para a felicidade, para o contentamento. Aquele contentamento e aquela felicidade não constituem um processo de "estagnação". Pois, se me vejo descontente e desejo estar contente, esse caminho me conduz ao contentamento, que é estagnação; e isso é o que deseja a maioria de nós. Mas existe algum caminho?

Podemos investigar, podemos sondar a questão do descontentamento, sem procurarmos criar o seu oposto, sem querermos alcançar o seu oposto? Porque, afinal de contas, quando somos jovens, estamos descontentes com a sociedade, tal como está constituída. Queremos reformá-la, produzir uma modificação. Aderimos, assim, a uma sociedade, a um partido, um grupo político ou associação religiosa. E logo o nosso descontentamento se canaliza, e é refreado e destruído. Porque, nesse caso, estamos interessados tão-somente em pôr em prática um método, um sistema, para produzirmos um resultado e, em virtude disso, pomos fim ao nosso descontentamento. Este não é um dos nossos maiores problemas? Como nos satisfazemos facilmente!

O descontentamento não é essencial em nossa existência, relativamente a qualquer questão, qualquer indagação, no sondar, no descobrir o que é o Real, o que é a Verdade, o que é essencial na vida? Posso possuir em mim esse flamejante descontentamento durante o tempo de colégio; mais tarde, porém obtenho um emprego e lá se vai o descontentamento. Torno-me satisfeito, luto para manter minha família, para ganhar a vida, e, dessa maneira, o descontentamento se acalma, é destruído, e me transformo numa entidade medíocre, satisfeita com as coisas da vida, e não mais estou descontente. Entretanto, a chama tem de ser alimentada desde o princípio até o fim, para que haja verdadeira investigação, o verdadeiro sondar do problema relativo ao que é o descontentamento. Porque a mente busca muito prontamente um narcótico que a ponha satisfeita com suas virtudes, qualidades, idéias, ações, e estabelece uma rotina na qual se aprisiona. Estamos muito familiarizados com esse fato; o nosso problema, porém, não é o de como acalmar o descontentamento, mas de como mantê-lo em combustão, ativo, cheio de vitalidade. Todos os nossos livros religiosos, todos os nossos gurus, todos os nossos sistemas políticos pacificam a mente, aquietam-na, influem sobre ela para fazê-la arrefecer, pôr de parte o descontentamento e ficar chafurdando nalguma forma de satisfação. E não é essencial estar-se descontente, para se descobrir o que é verdadeiro?

Por que ficamos descontentes? - e o descontentamento produz revolução, modificação, transformação? E só é possível a revolução quando compreendemos a natureza do descontentamento? E com o que há descontentamento? Que coisa é essa com a qual estamos descontentes? Se puderdes investigar verdadeiramente esta questão, talvez vos seja possível achar uma solução. Com que estamos descontentes? Ora, com o que é. Esse "o que é" pode ser a ordem social, podem ser as relações, pode ser o que somos, a coisa que somos essencialmente isto é, o feio, os pensamentos inconstantes, as ambições, as frustrações e os temores sem conta; isso é o que somos. Pensamos que, afastando-nos disso, encontraremos uma solução para o nosso descontentamento. Por conseguinte, estamos sempre em busca de um método, um meio de modificar "o que é". É nisso que está interessada a nossa mente. Se me vejo descontente e desejo encontrar o método, o meio de chegar ao contentamento, fica o meu espírito ocupado com o meio, o método e a prática do método, a fim de alcançar o contentamento. Assim, pois, já não estamos interessados em manter vivas as brasas, em nutrir a flama que arde e que se chama descontentamento. Não descobrimos o que existe na base desse descontentamento. Interessa-nos, tão somente afastar-nos dessa chama, dessa ânsia ardente.

Não há dúvida de que estamos descontentes com "o que é". E é extraordinariamente difícil sondar "o que é" - a Realidade, e não "o que deveria ser", sondar aquilo que sou momento por momento. Esse indagar e sondar não visa ao "eu superior", mera fabricação da mentalidade, mas somente ao que é. Isso é dificílimo, porquanto a nossa mente nunca fica satisfeita, jamais fica contente quando examina o que é. Quer sempre transformar o que é noutra coisa, - o que indica o processo da condenação, da justificação ou da comparação. Se observardes a vossa própria mente, vereis que quando ela se vê frente a frente com o que é, logo o condena e compara com o que deveria ser; ou justifica-o, etc., e desse modo afasta de si o que é, desembaraçando-se dessa coisa que lhe causa perturbação, dor, ansiedade.

O descontentamento não é essencial? E não achais que não devemos deixá-lo consumir-se, mas sempre nutri-lo, investigá-lo, sondá-lo, de modo que, com a compreensão do que é, surja o contentamento? Este contentamento não é o contentamento produzido por um sistema de pensamento; é o contentamento que acompanha a compreensão do que é. Esse contentamento não é produto da mente - da mente que está sempre perturbada, agitada, que é incompleta, quando busca a paz, quando busca um caminho que a leve para longe do que é. E desse modo, o espírito, pela justificação, pela comparação, pelo julgamento, procura alterar o que é e espera assim alcançar um estado em que nunca será perturbado, em que estará calmo, no qual haverá tranqüilidade. E quando a mente se vê perturbada por causa das condições sociais - pobreza, miséria, degradação, angústias pavorosas - quando a mente percebe tudo isso e deseja alterá-lo, logo se prende e enreda no método de alterar, no sistema de alterar. Se o espírito, porém, é capaz de olhar o que é, sem comparação e sem julgamento, sem o desejo de transformá-lo noutra coisa, pode-se ver que surge uma espécie de contentamento não produzido pela mente.

O contentamento que é produto da mente é fuga. É estéril. É coisa morta. Mas há contentamento que não vem da mente, que surge com a compreensão do que é, e no qual se verifica uma revolução profunda, atingindo a sociedade e as relações individuais. O descontentamento, pois, não deve ser aplacado, posto de parte, narcotizado por algum sistema de pensamento. Ele é essencial. Cumpre mantê-lo vivo, ardente, para podermos investigar as coisas.

Achamo-nos em conflito uns com os outros e nosso mundo está sendo destruído. Há crise sobre crise, guerra após guerra; há fome, há angústias; há os que são excessivamente ricos, revestidos de respeitabilidade, e há os que são pobres. Para se resolverem esses problemas, o que é necessário não é um novo sistema de pensamento, não é uma nova revolução econômica, mas sim a compreensão do que é - o descontentamento, o constante investigar do que é - da qual resultará uma revolução de alcance infinitamente maior do que o da revolução de idéias. E essa revolução é que se faz sumamente necessária para a criação de uma civilização diferente, uma religião diferente, um diferente estado de relação entre os homens.

Krishnamurti - 25 de fevereiro de 1953
Do livro: Autoconhecimento - Base da Sabedoria
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill