Se alguma vez houverdes entrado, houverdes respirado a frescura, a serenidade, a tranquilidade desse Reino, então aquelas coisas que são reais, aquelas coisas que são o folego da vida, as coisas importantes, nunca poderão ser esquecidas. Nunca podereis duvidar, nunca podereis sofrer de novo. Somente então é que podeis saber que não estais seguindo cegamente as pegadas de outrem; somente então é que estais seguindo o Absoluto, o Eterno. Somente então sereis uno com Aquele que tem o seu Ser em todas as coisas. Só então é que podeis persuadir, podeis ter a língua do erudito, o coração do sábio e do compassivo. Somente então é que podeis fazer que os homens saibam realmente o que significa escapar da aflição, de todas essas coisas triviais, pelas quais eles são torturados e esmagados na vida diária. É por isso que vos convém descobrir a vós mesmos, é por isso que deveis escutar essa Voz, que deveis sofrer e aprender em cada pequena coisa da vida diária. Porque, quando vos houverdes encontrado a vós mesmos, te-Lo-ei encontrado; e Ele se tornará parte de vós, tornar-se-á uno convosco. Ele está onde estais, não é uma entidade separada, um Ser separado, vivendo em uma radiação solitária. Onde estais, ali está Ele, e onde estou, aqui Ele está, e quando alguém tem vivido e gozado nesse Reino, está com Ele. Porque tereis encontrado a vós mesmos, tereis encontrado o verdadeiro "Eu"; e uma vez que O tenhais encontrado, podereis sempre voltar à Fonte. Tendes então a chave de todo o conhecimento, tendes sempre o poder de ser parte da Eterna Compaixão, da Fonte Eterna de todas as coisas. Eu quisera ter o poder de fazer-vos contemplar as coisas, de sentir essas coisas por vós mesmos.
Ontem estava eu sentado na alameda em frente deste Castelo. Sabeis como crescem aqui as árvores, umas baixas, outras altas, e como juntas elas formam uma caverna por sobre os troncos; e lá vi a minha Glória, a minha Felicidade, tudo que para mim é real, a Fonte, a Vida, de todas as árvores, de todas as coisas vivas. Quando uma vez O puderdes ver, viver Nele, e Nele ter o vosso ser, então estareis eternamente nesse Jardim, não sereis um observador externo contemplando alguns troncos, algumas rosas, algumas flores.
Há dois tipos de pessoas; as que estão nesse jardim, onde há frescura, onde há doçura, beleza, tranquilidade, e o suave murmúrio de mil vozes; onde o ar todo está vivo com o sentimento de Beleza Eterna, onde há a sensação de poder, a sensação de paz e de admirável força e realidade. Ao outro tipo pertencem as que estão fora desse jardim, simplesmente olhando as copas das árvores, as poucos flores dispersas, onde escasseiam algumas sombras, onde há folhagens falhas, e alguns ramos da estação passada. Uma vez que tenhais entrado neste jardim, podeis dar a chave a outros e persuadi-los a entrarem por si mesmos. Podeis faze-los compreender que este jardim, este Reino, não tem barreiras, conquanto possa ter um muro superficial feito de pensamentos e sentimentos humanos. Quando estiverdes de dentro, não estareis mais olhando o mundo interno pelo lado de fora, mas estareis olhando o mundo externo apoiados na Verdade, a fonte de todas as coisas, o verdadeiro Ser. Quando já tiverdes essa chave, podereis sempre sair, contemplar as folhagens falhas, os ramos mortos, os restos de flores secas da estação passada; podereis então sair sempre para o exterior e ter experiências, porque tendes entrado naquele jardim e lá encontrastes o verdadeiro conhecimento, a verdadeira Felicidade.
É por isso que, se eu tivesse poder, vos arrastaria todos pela força ou por quaisquer outros meios; porque uma vez que tenhais olhado para dentro do jardim e provado uma visão ainda que fugitiva, nunca mais ficareis satisfeitos com o aspecto externo das coisas; desejareis sempre voltar, desejareis sempre ter essa visão aumentada, glorificada...
páginas 83; 84 e 85 do "O Reino da Felicidade" de Krishnamurti.