O amor é uma das grandes forças
universais; existe por si mesmo e seu movimento é livre e independente dos
objetos nos quais e através dos quais se manifesta. Manifesta-se em qualquer
lugar onde encontre uma possibilidade de manifestação, onde quer que haja
receptividade, onde quer que haja alguma abertura para ele. O que você chama de
amor, e pensa ser uma coisa individual e pessoal, é apenas a sua capacidade de receber
e manifestar esta força universal. Entretanto, apesar de universal, não é uma
força inconsciente; é um Poder sumamente consciente. Conscientemente, ele
procura sua manifestação na terra; conscientemente escolhe seus instrumentos,
desperta para suas vibrações aqueles que são capazes de uma resposta,
esforça-se para realizar neles aquilo que é sua meta eterna, e quando o
instrumento não é adequado, deixa-o e volta-se para procurar outros. Os homens
pensam que, de repente, se apaixonam; veem seu amor chegar e crescer e gradualmente
desaparecer — ou, talvez, durar um pouco mais naqueles que são especialmente capacitados
para seu movimento mais durável. Mas a sensação de ser uma experiência pessoal
toda sua era uma ilusão. Nada mais era do que uma onda do mar sem fim do amor
universal.
O Amor é universal e eterno; está
sempre se manifestando e é sempre idêntico na sua essência. É uma Força Divina;
porque as deformações que vemos nas suas aparentes expressões pertencem a seus
instrumentos. O amor não se manifesta apenas em seres humanos; está em todo
lugar. Seu movimento está nas plantas, talvez nas próprias pedras; nos animais
é fácil notar sua presença. Todas as deformações deste grande Poder Divino vêm
da obscuridade e ignorância e egoísmo do instrumento limitado. O amor, a força
eterna, não tem apego ou desejo, não tem fome de posse nem ligação egoística; é
no seu movimento puro, a procura da união do ser com o Divino, uma procura
absoluta, indiferente a todas as outras coisas. O Amor Divino dá-se e não pede
nada. O que os seres humanos fizeram dele não é preciso dizer —
transformaram-no em algo feio e repulsivo. E, entretanto, mesmo nos seres
humanos, o primeiro contato com o amor traz para baixo algo da sua substância
mais pura; por um momento eles se tornam capazes de esquecer de si mesmos, por
um momento seu toque divino desperta e amplia tudo que é bom e bonito. Mas
depois vem à tona a natureza humana, cheia de suas exigências impuras, pedindo
alguma coisa em troca, negociando com o que dá, clamando por suas próprias
satisfações inferiores, distorcendo e denegrindo o que era divino.
Para manifestar o Amor Divino
você deve ser capaz de receber o Amor Divino, pois somente podem manifestá-lo
aqueles que por sua natureza são abertos a seu movimento natural. Quanto mais
vasta e clara a abertura, mais eles manifestam o Amor Divino na sua pureza
original; quanto mais misturado com os baixos sentimentos humanos, maior será
sua deformação. Aquele que não é aberto ao amor na sua essência e na sua
verdade, não pode se aproximar do Divino. Mesmo aqueles que buscam, através do
caminho do conhecimento, chegar a um ponto além do qual, se quiserem avançar
mais longe, são obrigados a entrar ao mesmo tempo no amor e sentir os dois como
um só: o conhecimento, a luz da união divina e o amor, o próprio cerne do
conhecimento. Existe um momento no progresso da alma em que eles se encontram e
você não pode distinguir um do outro. A divisão, a distinção que você faz entre
os dois, a princípio é uma criação da mente: no momento que você se eleva a um
plano mais alto, elas desaparecerão.
Entre aqueles que vieram a
este mundo procurando revelar o Divino aqui e transformar a vida terrena,
alguns há que manifestaram o Amor Divino em uma plenitude mais vasta. Em alguns
a pureza da manifestação é tão grande que são mal compreendidos por toda a
humanidade e até mesmo são acusados de ser duros e sem coração, embora o Amor
Divino esteja lá. Porque neles, esse amor é divino e não humana em sua forma e
em sua substância. Pois quando o homem fala de amor, ele o associa a uma
fraqueza emocional e sentimental. Mas a intensidade divina de
auto-esquecimento, esta capacidade de se dar inteiramente, sem nenhuma
restrição ou reserva, como uma doação, não pedindo nada em troca, é muito pouco
conhecida dos seres humanos. E quando não está misturado com emoções fracas e
sentimentais, acham-no duro e frio; não podem reconhecer nele o mais alto grau
e intensidade do poder de amor.
O grande holocausto, a suprema
doação, foi a manifestação do amor do Divino no mundo. A Consciência Perfeita
aceitou mergulhar e ser absorvida na inconsciência da matéria, para que a
consciência pudesse ser despertada nas profundezas de sua obscuridade e pouco a
pouco um Poder Divino crescer nela e fazer de todo este universo manifestado a
mais alta expressão da Consciência Divina e do Amor Divino. Este foi o amor
supremo: aceitar a perda da condição perfeita da divindade suprema, de sua consciência
absoluta, de seu conhecimento infinito, para unir-se à inconsciência,
co-habitar no mundo com a ignorância e a escuridão. E no entanto, ninguém
talvez chamaria a isto de amor; porque não se reveste de um sentimento
superficial; não faz exigências em troca do que fez, não demonstra seu
sacrifício. A força do amor no mundo está tentando encontrar consciências que
sejam capazes de receber este movimento divino na sua pureza, e de expressá-lo.
Esta corrida de todos os seres em busca de amor, este empurrão irresistível e a
procura no coração do mundo e em todos os corações é o impulso dado pelo Amor
Divino, que se esconde atrás do anseio e busca dos homens. Ele experimenta
milhões de instrumentos, tentando sempre e sempre falhando; mas este toque
constante prepara esses instrumentos e subitamente acordará neles um dia a
capacidade de autodoação, a capacidade de amar.
O movimento do amor não é
limitado aos seres humanos e é talvez menos distorcido em outros mundos. Olhe
para as flores e árvores. Quando o sol se põe e tudo se torna silencioso,
sente-se por um momento e coloque-se em comunhão com a natureza: você sentirá,
subindo da terra, de debaixo das raízes das árvores, ascendendo e caminhando
através de suas fibras até os mais altos galhos espalhados, a aspiração de um
amor intenso e saudade — saudade de algo que traz luz e dá felicidade, pela luz
que se foi e que você gostaria de ter de volta. Há um anseio tão puro e intenso
que se você puder sentir o movimento nas árvores, seu próprio ser também se
elevará numa prece ardente pela paz e luz e amor que ainda não são manifestados
aqui. Se você entrar em contato com este verdadeiro amor divino, vasto e puro,
se você o tiver sentido mesmo por um momento e na sua forma mais íntima, tomará
consciência da coisa abjeta na qual o desejo humano o transformou. Tornou-se,
na natureza humana, algo baixo, brutal, egoísta, violento, feio, ou então, algo
fraco e sentimental, formado de sentimentos mesquinhos, frágeis, superficiais e
exigentes. E a esta torpeza e brutalidade ou a esta fraqueza egoísta chamam-na
de amor!
A Mãe