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domingo, 1 de abril de 2018

Não queremos ser livres, queremos depender


Não queremos ser livres, queremos depender

Ontem a tarde falamos do sofrimento e de acabar com ele. A eliminação do sofrimento traz consigo paixão. Na realidade, pouquíssimos entendem ou se aprofundam na questão do sofrimento. É possível terminar com ele? Esta tem sido uma pergunta que todos os seres humanos têm se formulado, talvez, não totalmente conscientes; mas no fundo querem descobrir, como nós, se é possível acabar com o sofrimento, com a dor a tristeza humana. Porque, do contrário, não haverá amor. Quando há sofrimento, se produz um tremendo choque no sistema nervoso, como se fosse um golpe no físico e no psicológico. Geralmente, tratamos de fugir do sofrimento através das drogas, do álcool, de algum tipo de religião. Ou nos tornamos cínicos e aceitamos as coisas como inevitáveis.

Podemos investigar profunda e seriamente esta questão? É possível não fugir do sofrimento? Quem sabe meu filho morra e isso me produza um enorme sofrimento, um choque, para descobrir na realidade me sinto muito só. Não posso afrontá-lo, não posso tolerá-lo, e por isso fujo. Existem muitas formas de fuga: o mundano, o religioso e o filosófico. A fuga é um desperdício de energia. Não se trata de fugir de nenhum tipo de agonia, da dor de sentir-se só, da tristeza ou de um choque, senão de permanecer completamente com o sucesso, com essa coisa que chamamos “sofrimento”. Isso é possível? Podemos enfrentar qualquer problema e não tratar de resolvê-lo, senão tentar olhá-lo como se segurássemos uma joia preciosa, requintada? A beleza da joia é, em si mesma, muito atrativa, tão agradável que não desviamos o olhar. Do mesmo modo, se podemos ficar com nosso sofrimento, sem permitir nenhum movimento do pensamento ou fuga, então, essa mesma ação de não se afastar do fato produz a completa libertação disso que causa o sofrimento. O analisaremos mais adiante.

Também devemos considerar o que é a beleza, visto que é muito importante, e não me refio à beleza de uma pessoa ou às maravilhosas pinturas e estatuas dos museus, nem aos esforços do homem antigo para expressar seus sentimentos nas pedras, nas pinturas ou nos poemas. Devemos nos perguntar o que é a beleza. Pode ser que ela seja a verdade, talvez seja o amor. Se não compreendermos a natureza e a profundidade dessa extraordinária palavra, nunca seremos capazes de nos deparar com aquilo que é sagrado. Devemos estudar atentamente a beleza.

Quando se vê algo muito belo, como uma montanha nevada que contrasta com o céu azul, o que ocorre na realidade? Quando vê algo muito vivo, belo, majestoso, por um instante, por um segundo, a majestade e a imensidade da montanha faz com que nos esqueçamos de todo interesse próprio, de todos os problemas. Nesse segundo não há um “eu” que observa. A própria grandeza da montanha, por um segundo, nos faz esquecer todas as preocupações. Estou certo que já perceberam isto. Já observaram um menino com um brinquedo? Passa o dia inteiro fazendo travessuras, coisa que é normal, e, ao dar-lhe um brinquedo, permanece durante uma hora em perfeita calma, até que o quebra. O brinquedo interrompe suas travessuras, o distrai. Similarmente, quando vemos algo muito belo, essa mesma beleza nos absorve. Quer dizer, há beleza quando o “eu” não interfere, o próprio interesse, nenhuma atividade do ego. Sem que nos absorva ou nos comova algo tão belo como uma montanha ou um vale com profundas sombras, sem que nos distraia uma montanha, é possível compreender a beleza sem que o “eu” interfira? Porque quando há interferência do “eu”, deixa de haver a beleza; quando há interesse próprio, não há amor. De modo que o amor e a beleza caminham juntos, não estão separados.

Também temos que falar da morte, que é uma das coisas que, como é evidente, todos devemos enfrentar. Sejamos ricos ou pobres, a morte é algo seguro para todos os seres humanos; todos morremos. Mas não somos capazes de compreender a natureza da morte. Temos medo de morrer, e temos a esperança de que haja continuidade após a morte. DE modo que vamos descobrir por nós mesmos o que é a morte, porque deveremos enfrentá-la, sejamos jovens ou velhos. E para compreendê-la devemos saber o que é viver, o que é nossa vida.

Estamos desperdiçando nossas vidas? Com a palavra desperdiçar me refiro a dissipar nossa energia de diferentes modos, por exemplo, em profissões especializadas. Estamos desperdiçando toda nossa existência, nossas vidas? Se você for rico pode ser que diga: “Sim, tenho acumulado muito dinheiro, e isso tem me proporcionado muito prazer”. Ou se você tem um talento, é um perigo para uma vida religiosa. O talento é um dom, uma faculdade, uma atitude numa direção concreta, o que é uma especialização. Mas a especialização é um processo fragmentário. Vocês devem se perguntar se estão desperdiçando suas vidas. Pode ser que você seja rico, talvez tenha todo tipo de habilidades, ou quem sabe seja um especialista, um grande cientista ou um homem de negócios, mas ao final de sua vida, tem desperdiçado o tempo? Todas as dificuldades, os sofrimentos, as tremendas ansiedades, a insegurança, as absurdas ilusões que o homem tem colecionado, todos os seus deuses, seus santos, etc., supõem desperdício de tempo? Pode ser que você tenha poder, posição, mas ao final, e daí? Essa é uma pergunta que você deve se fazer, já que outra pessoa não pode responder por você.

Temos separado a vida e a morte. A morte é o final da vida. Situamos a morte o mais longe possível, com um largo intervalo de tempo, mas morremos ao final desta longa viagem. Agora, o que é que chamamos viver? Ganhar dinheiro, ir ao escritório das nove às cinco, trabalhar duramente num laboratório, numa oficina ou numa fábrica, com esse interminável conflito, medo, ansiedade, solidão, desespero, depressão: isso é o que chamamos viver, a vida. Ainda que nos apeguemos a isso, isso é viver? Nessa vida há dor, sofrimento, ansiedade, conflito, todo tipo de enganos e de corrupção. Onde há interesse próprio há corrupção. E a isso o chamamos viver. Sabemos isso, estamos familiarizados com tudo isso, essa é a nossa existência diária. E temos medo de morrer, de saber; tememos liberar tudo o que conhecemos, tudo o que temos experimentado e acumulado: nossos maravilhosos móveis e nossa bela coleção de pinturas e representações. E a morte chega e diz: “Não posso ter nenhuma destas coisas”.

Ainda assim, continuamos apegados ao conhecido, temendo o desconhecido. Inventamos a reencarnação, mas não estudamos o que é isso que encarna a próxima vida. O que encarna na próxima vida é um conjunto de recordações, porque vivemos delas. Vivemos com o conhecimento que temos adquirido ou herdado, somos esse conhecimento. O “eu” é o conhecimento de experiências passadas, pensamentos, etc. O “eu” pode inventar algo divino em si, mas segue sendo a atividade do pensamento, e o pensamento é sempre limitado. Assim é como vivemos, a isso chamamos viver: prazer e dor, castigo e recompensa. E a morte significa o final de tudo isso, de todas as coisas que temos pensado, acumulado ou desfrutado. Sem dúvida, estamos apegados a isso. Estamos muito unidos à nossas famílias, à todo dinheiro acumulado, ao conhecimento, às crença e aos ideais com os quais vivemos. E, nisso, a morte diz: “Meu amigo, acabou-se”.

Mas, por que o cérebro tem separado a vida (viver com o conflito, etc.) da morte? Por que se produziu essa divisão? Surge quando há apego? Quero descartar que estamos compartilhando aquilo com o que o homem tem vivido durante milhões de anos, quer dizer, a vida e a morte. Temos que examiná-lo juntos, e não resistir nem dizer: “Sim, acredito na reencarnação, vivo com isso, para mim é muito importante”. Se fosse assim, nossa conversa terminaria. De modo que devemos estudar o que é viver, o que significa desperdiçar nossa vida, e o que é morrer. Estamos apegados a muitas coisas: a um guru, ao conhecimento acumulado, às recordações de nosso filho ou filha, etc. E vocês são estas recordações. Todo seu cérebro está cheio de recordações, não só recordações de sucessos recentes, senão também aqueles que permanecem latentes do tempo dos animais, dos macacos. Somos parte destas recordações, e estamos apegados a toda esta consciência. Isso é um fato.

E a morte se apresenta e diz: “Chegou o fim de seu apego”. Tememos ser completamente livres de tudo isto. A morte põe fim a tudo o que temos conquistado. Podemos inventar e dizer: “Continuarei na próxima vida”. Mas, o que vai acontecer a seguir? Entendem a minha pergunta? O que é esse desejo de continuidade? Existe realmente a continuidade, se excluímos a conta bancária, ir diariamente ao escritório, a rotina de adorar e a continuidade de nossas crenças? O pensamento tem criado tudo isso. O “eu”, o ego, o mim e a pessoa são um conjunto de antigas e modernas recordações. Vocês mesmos podem ver. Não necessitam estudar livros nem filosofias que falem de tudo isso. Por si mesmos podem ver, com clareza, que são um punhado de recordações. E a morte coloca fim a tudo isso, e por isso temos medo.

Mas, pode-se viver neste mundo moderno com a morte? Não falamos do suicídio ou, de outro modo, você pode, enquanto vive, terminar com todo o apego, o qual é morrer? Estou apegado à casa onde vivo, a comprei, paguei muito dinheiro por ela; estou apegado à todo o mobiliário, aos quadros, à família, às recordações. E chega a morte e arranca tudo isso. Portanto, posso viver minha vida diária com a morte? Morrer significa terminar com tudo a cada dia, com os apegos. Mas nós separamos a vida e a morte; por isso estamos sempre com medo. Mas quando unirem a vida e a morte, viver é morrer, então descobrirão que há um estado do cérebro no qual cessam tanto o conhecimento como as recordações. Contudo, requer-se conhecimento para ler, para vir até aqui, para falar inglês, para gerenciar contas, para ir pra casa, etc. Necessita-se do conhecimento, mas não como algo que preenche a mente completamente.

Outro dia conversamos com um técnico em informática. O computador tem sido programado e pode armazenar memória. Também pode imprimir essa memória num papel, num disco, e eliminá-la para que não haja nada, de forma que possa reprogramar-se ou receber nossas instruções. Similarmente, pode o cérebro utilizar o conhecimento quando é necessário, mas estar livre dele? Quer dizer, nosso cérebro sempre está registrando. Você registra o que está dizendo agora, e esse registro se converte em memória. Essa memória, esse registro, é necessário em certa área, que é a física. Bem, agora, pode o cérebro estar livre, de maneira que possa funcionar numa dimensão totalmente diferente? Ou, dito de outro modo, cada dia, quando se deite, elimine tudo o que tenha acumulado, morra ao finalizar o dia.

Uma afirmação como essa, quer dizer, viver é morrer, não são duas coisas realmente separadas. Há que se escutar essa afirmação não só com o ouvido, senão que há que se fazê-lo com determinação. Escutem a verdade, sua realidade, e, por um momento, observem sua simplicidade. Mais tarde, ele perde tudo isso, ainda está apegado, já sabe tudo o mais. É possível que cada um de nós, ao final de cada dia, morra para tudo que não é necessário, à cada recordação de uma ferida, às crenças, à fé, à ansiedade, ao sofrimento? Se a cada dia findam com tudo, então descobrirão que estão vivendo sempre com a morte, visto que isso é findar.

Também se deve estudar a questão do findar. Nunca concluímos nada completamente. O fazemos se obtemos algum benefício, alguma recompensa. Podemos, deforma voluntária, terminar sem a suposição de que existe algo melhor num futuro? Temos a possibilidade de viver dessa maneira no mundo moderno. Essa é a forma holística de viver, na qual convivem o viver e o morrer.

Devemos também falar do que é o amor. O amor é uma sensação? É desejo? É prazer? É algo do pensamento? Ama a sua esposa, a seu esposo ou a seus filhos? O amor implica ciúme? Não diga: “Não”, porque você é ciumento. O amor é medo, ansiedade, dor, etc.? Então, o que é o amor? Você pode ser rico, ter poder, posição, importância, toda essa forma hierárquica de ver a vida; contudo, sem amor, sem essa qualidade, sem esse perfume, sem essa chama, você é uma casca vazia. Se amasse seus filhos, haveria guerras? Se amasse seus filhos, permitiria que se mutilassem nas guerras, que se matassem ou que o fizessem a outros? Pode o amor existir se há ambição? É algo que se deve enfrentar. Mas não o fazem, porque estão presos na rotina, na constante repetição do sexo, etc. O amor não tem nada a ver com o prazer, com a sensação. O amor não pertence ao pensamento. Portanto, não faz parte da estrutura do cérebro, senão que está totalmente fora dele. Em sua própria natureza e estrutura, o cérebro é um instrumento da sensação, da resposta nervosa, entre outras coisas, mas o amor não pode existir onde há mera sensação. A memória não é amor.

Assim mesmo, devemos falar do que é uma vida religiosa e o que é religião, ainda que se trate de um tema muito complexo. O ser humano sempre tem buscado, investigado, ansiado por algo a mais que o físico, algo mais além da existência diária, da dor, do sofrimento e do prazer. Sempre buscou algo mais além (primeiro nas nuvens, nos trovões, como se fosse, a voz de Deus). Mais tarde adorou as árvores e as pedras. Os primitivos ainda o fazem; nas aldeias afastadas destas horrorosas cidades, continuam adorando às pedras, às árvores e às pequenas imagens. O ser humano quer descobrir se existe algo sagrado. E então chega o sacerdote e diz: “Eu assinalarei, lhe mostrarei o caminho”. Isso é o que fazem os gurus. Também há os rituais dos sacerdotes ocidentais, essa constante repetição, e a adoração de particulares imagens. E você também tem as suas imagens. Pode ser que não creia em nada disso, e talvez diga: “Sou ateu, não creio em Deus, sou humanista”. Contudo, o ser humano sempre quis encontrar algo mais além do tempo e de todo pensamento.

Assim, pois, vamos investigar, vamos exercitar nossos cérebros, nossa razão e nossa lógica, para averiguar o que é a religião e o que é uma vida religiosa. É possível uma vida religiosa neste mundo moderno? Isto não significa se tornar monge ou unir-se a um grupo organizado de monges. Só seremos capazes de descobrir o que é na realidade a vida religiosa quando compreendermos o que são as religiões atuais, delas nos afastarmos e não pertencermos a nenhuma religião organizada, a nenhum guru, e estarmos livres de qualquer autoridade psicológica ou espiritual. Não existe nenhuma autoridade espiritual. Um dos crimes que temos cometido tem sido inventar um mediador entre nós e a verdade.

Assim, começa-se a investigar o que é a religião, e nesse próprio processo vive uma vida religiosa. Tão só com o olhar, observar, falar, duvidar e questionar, sem crença, nem fé, estamos vivendo uma vida religiosa. Vamos fazê-lo agora.

Parece que perdemos toda razão, lógica e sanidade quando tratamos de assuntos religiosos. De modo que devemos ser lógicos e racionais; devemos colocar em dúvida, questionar. Todas aquelas coisas que o ser humano tem criado, como os deuses, os salvadores e os gurus com suas teorias, não são religião; só se trata de uns poucos assumindo autoridade. Ou são vocês quem lhes dão essa autoridade. Observaram que quando há desordem social ou política aparece um ditador, um líder? Temos vários exemplos recentes: Mussolini ou Hitler, esse homem louco. Se há desordem política, religiosa ou em nossa própria vida, criamos uma autoridade. Somos responsáveis por ela, e há pessoas que estão desejos de aceitá-la.

Vamos analisar o que é religião. Quando existe o medo, inevitavelmente o ser humano busca proteção, amparo, algo que lhe agregue uma sensação de segurança, de completa certeza, porque, em essência, tem medo. A partir do medo ele inventa os deuses. A partir desse medo inventa todos os rituais, todo esse circo em nome da religião. Todos os templos deste país, todas as igrejas e mesquitas são uma criação do pensamento. Vocês podem dizer que existe uma revelação, mas nunca se questiona essa revelação; simplesmente a aceitam. E se você utiliza a lógica e a razão, se percebe de que todas as supertições não são religião. Isso é óbvio. Vocês podem se esquecer disso para descobrir qual é a natureza da religião, dessa mente que tem a qualidade de viver religiosamente?

Podemos, como medrosos seres humanos que somos, não inventar, não criar ilusões, mas sim enfrentar o medo? O medo pode desaparecer completamente se o enfrentamos, se permanecemos com ele, se lhe prestamos atenção e não fugimos dele. É como focar o medo com uma luz cintilante. Nesse momento o medo desaparece completamente. E se não há medo, não há Deus, não há rituais; tudo se torna desnecessário e absurdo; tudo é irreligioso. As coisas que o pensamento tem inventado são irreligiosas, porque o pensamento não é mais do que um processo material baseado na experiência, no conhecimento e na memória. O pensamento tem inventando todo emaranhado, toda a estrutura das religiões organizadas que não têm nenhum sentido. Vocês podem deixar tudo isso de lado, voluntariamente, sem buscar nenhuma recompensa? Vocês o farão? Se o fazem, então, começam a se perguntar o que é religião e se existe algo mais além de todo tempo e pensamento.

Podem se fazer essa pergunta, mas se o pensamento inventa algo mais além, então seguirá sendo um processo material. Dissemos que o pensamento é um processo material, porque as células cerebrais sustentam, nutrem o pensamento. O orador não é um cientista, mas podem observá-lo por si mesmos, ao comprovar a atividade de seu próprio cérebro, que é a atividade do pensamento. Se deixam de lado tudo isto, sem resistência, então, inevitavelmente, se perguntarão: existe algo mais além de todo tempo e espaço? Existe algo que nunca antes nenhum ser humano tenha visto? Existe algo imensamente sagrado? Existe algo que o cérebro nunca tenha tocado? O descobrirão se derem o primeiro passo, que consiste em descartar todo esse lixo chamado “religião”, utilizando seu cérebro, sua lógica, suas dúvidas, seu questionamento.

Agora, o que é meditação? É uma parte do que chamamos religião. O que é meditação? É fuga do ruído mundano? É ter a mente em silêncio, em calma, em paz? Praticam sistemas para estar atentos, para controlar seus pensamentos. Sentam-se com as pernas cruzadas e repetem algum mantra. Disseram-me que o significado etimológico da palavra mantra é “refletir sobre não chegar a ser”, ainda que também quer dizer “liberar, deixar de lado toda atividade egocêntrica”. Mas nós seguimos com nosso interesse próprio, com nossas atitudes egoístas, e dessa maneira o mantra perde seu significado. E, o que é meditação? A meditação é um esforço consciente? Meditamos conscientemente, praticamos para alcançar algo, para conquistar uma mente tranquila, uma sensação de quietude no cérebro. Qual é a diferença entre um meditador e o homem que diz: “Quero dinheiro, trabalharei para consegui-lo”? Ambos buscam uma conquista, não é certo? Uma se chama conquista espiritual, e a outra, sucesso mundano. Mas ambas estão na linha da consecução. Assim, para o orador, isso de modo algum é meditação. Qualquer desejo ativo, consciente ou deliberado, não é meditação.

Você deve se perguntar: existe uma meditação da qual não se seja produto do pensamento? Existe uma meditação da qual não se é consciente? Qualquer processo deliberado de meditação não é meditação; isso é óbvio. Vocês podem se sentar com as pernas cruzadas o resto de suas vidas, meditar e controlar sua respiração, mas nunca se aproximarão dessa outra coisa. Porque tudo isso é uma ação deliberada para conseguir um resultado, é causa e efeito. Portanto, o efeito se converte na causa, e ficam presos nesse círculo. Logo, existe uma meditação que não seja obra do desejo, da vontade e do esforço? O orador diz que existe. Não há porque nele acreditar. Ao contrário. Devem duvidar, questionar do mesmo modo que o orador, duvidar, desfiar. Existe uma meditação que não seja premeditada, organizada? Para sabê-lo devemos compreender que o cérebro está condicionado, que é limitado. E esse cérebro trata de entender o ilimitado, o imensurável, o eterno (se é que exista).

Para isso, é importante compreender o som. O som e o silêncio caminham juntos. Vocês não compreendem o som, a profundidade do mesmo, porque separam o som do silêncio. O som é a palavra, o bater de seu coração. O Universo (no sentido de toda a Terra, todo o céu, os milhões de estrelas, todo o firmamento) está cheio de sons. É evidente. Não é necessário que os cientistas nos digam. E temos convertido o som em algo intolerável. Queremos ter o cérebro em calma, em paz, mas se escutamos um som, é o silêncio. O silêncio e o som não estão separados.

Assim, a meditação não é algo premeditado, organizado, senão que começa no primeiro passo, que é estar livre de todas as suas feridas psicológicas, de todo o medo acumulado, das ansiedades, do sentimento, da solidão, do desespero e do sofrimento. Essa é a base; esse é o primeiro e o último passo. Se você dá esse primeiro passo, é o suficiente. Mas não estamos disposto a dá-lo, porque não queremos ser livres. Queremos depender do poder, de outras pessoas, do meio ambiente, de nossas experiências e conhecimentos. Sempre depender, depender, e nunca estar livres de toda dependência, do medo. Assim, o cessar do sofrimento é amor. Quando há amor, há compaixão. E essa compaixão tem sua própria inteligência integral. E quando esta inteligência atua, sua ação é sempre a verdade. Quando essa inteligência existe, não há conflito.

Vocês escutaram o que temos dito a respeito do findar do medo, do sofrimento, da beleza e do amor. Mas escutar é uma coisa e atuar é outra. Tem escutado tudo o que é verdade, lógico, sensato e racional; contudo, não atuam de acordo com tudo isso. Voltam para suas casas e voltam ao de sempre: às preocupações, aos conflitos, às infelicidades. Por isso se pergunta: qual é o sentido de tudo isso? Qual é o sentido de escutar ao orador e não vivê-lo? Escutar e não fazer nada é desperdiçar a vida. Se escutam algo que é verdadeiro e não atuam, estão desperdiçando sua vida. E a vida é demasiadamente valiosa. É a única coisa que temos. Também temos perdido o contato com a natureza, o que significa perder o contato com nós mesmos, porque somos parte dela. Não amam as árvores, aos pássaros, aos rios e as montanhas. Destroem a Terra. Destroem-se uns aos outros. Tudo isso implica em desperdiçar a vida. Quando você se percebe de tudo isso, não de forma intelectual ou verbal, então vive uma vida religiosa. Vestir-se de farrapos, perambular pedindo esmolas ou isolar-se num mosteiro não é uma vida religiosa. A vida religiosa começa quando não há conflito, quando existe esse amor. Nesse momento, pode amar aos demais, a sua esposa ou a seu esposo, e esse amor se estende a todos os seres humanos e não se centra em uma pessoa, porque não é restritivo.

Assim, pois, se colocam todo seu coração, toda sua mente, todo seu cérebro, surge algo que está mais além de qualquer tempo. Aí é onde reside essa bênção. Não está nos templos, nas igrejas ou nas mesquitas, senão que se encontra onde você está.
  
Krishnamurti, Bombaim, quarta palestra pública
10 de fevereiro de 1985

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Você consegue ficar sozinho e em silêncio?

Respire suave e tranquilamente... Comece, então, a observar seus anseios... A inquietação da sua mente...

Você tem a capacidade de ficar sozinho e em silêncio? Simplesmente em contato consigo mesmo?

Perceba... A capacidade de estar sozinho é a capacidade de amar. E isso pode parecer paradoxal a você, mas não é.

Essa é uma verdade existencial.

Somente pessoas que são capazes de estar a sós, são capazes de amar, de compartilhar. De ir no mais profundo âmago da outra pessoa sem possui-la, sem se tornar dependente do outro, reduzindo o outro a uma coisa e sem ficar viciado no outro, também.

Essas pessoas permitem ao outro liberdade absoluta, pois sabem que se o outro for embora eles serão tão felizes como são agora. A felicidade deles não pode ser tirada pelo outro porque não foi dada pelo outro.

Osho diz:  Solidão é ausência do outro; solitude é sua própria presença.

Perceba... Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Solitude é nossa própria natureza, mas não estamos conscientes disso. E por não estarmos conscientes disso, em lugar de ver nossa solitude como uma tremenda beleza e êxtase, silêncio e paz; um estar à vontade com a existência... Nós a confundimos com solidão.

A solitude é uma presença, uma presença transbordante. Você está tão pleno de presença que você pode preencher todo o universo com ela, e não há necessidade de alguém mais. O que é necessário não é algo para que você possa esquecer sua solidão. O que é necessário é que você se torne consciente de sua solitude – a qual é uma realidade.

Você não ama sua mulher, está simplesmente usando-a para não estar só. Nem ela também o ama, pois está sob a mesma paranoia; ela está lhe usando para não se sentir sozinha. Tudo em nome do amor.

Todo mundo foge correndo da solidão. Ela é como uma ferida, dói.

Originalmente as pessoas não ficam felizes quando sozinhas. Elas se sentem muito vazias, acham que alguma coisa está faltando. Não podem viver sozinhas por muito tempo – elas buscam um relacionamento. Dessa forma o relacionamento é somente uma fuga de si mesmo.

Existem apenas dois tipos de pessoas: aquelas que fogem de sua solidão – a maioria, 99,99% das pessoas fogem de si mesmas; e o restante – 0,01% são os meditadores, que dizem: “Se a solidão é uma verdade, então é uma verdade; portanto não faz sentido fugir dela. É melhor penetrar nela, encontra-la, encará-la como ela é”.

Osho diz:

Milhões de pessoas continuam mantendo seus relacionamentos mesmo que sejam simplesmente um inferno! Apenas devido ao medo de que serão abandonadas sozinhas; eles continuam apegados.

É uma miséria, um grande sofrimento, é uma tortura, mas ao menos alguém lhe faz companhia. Em comparação com ser deixado só, é melhor ser miserável, mas estar com alguém.

Essa é uma das razões porque milhões de pessoas prosseguem sofrendo e ainda assim se apegam aos mesmos relacionamentos - os quais não dão a eles nenhum conforto. Mas que são simplesmente destrutivos.

Somente o homem ou mulher que seja capaz de estar sozinho, também é capaz de se relacionar sem ser destruído por isso, pois estar sozinho não é mais um medo. Se algum relacionamento gera miséria, você simplesmente sai fora dele - ninguém pode lhe impedir.

É uma situação bem patética que milhões de pessoas estejam apegadas uns aos outros, simplesmente devido ao medo de que sejam abandonados e deixados sozinhos.

E estar só é a nossa natureza; não há nada a temer, você só precisa experienciar isso.

Uma vez que você experiencia no seu profundo silêncio do coração a beleza de sua solitude, o êxtase de sua solitude, todo medo desaparece, e você rirá de seu passado, de quão estúpido você foi e o que você tem feito consigo mesmo.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill