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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O que interromperá nosso vicio na formação de padrões?

KRISHNAMURTI: Gostaria de conversar com você, e talvez também com Narayan sobre o que está ocorrendo com o cérebro humano. Temos uma civilização que é altamente refinada mas, ainda assim, ao mesmo tempo bárbara, onde o egoísmo se veste com todos os tipos de roupagens espirituais. Bem no fundo, contudo, há um egoísmo aterrorizante. O cérebro do homem vem evoluindo por milênios e milênios; no entanto, atinge esse ponto divisório e destrutivo que todos conhecemos. Pergunto-me então se o cérebro humano — não um cérebro específico, mas o cérebro humano — está se deteriorando. Será que está realmente num declínio lento e constante? Ou será que é possível a alguém, durante a vida, realizar no cérebro uma total renovação frente a tudo isso; uma renovação que seja prístina, original e impoluta? Estive pensando sobre isso, e gostaria de discutir o assunto.

Penso que o cérebro humano não é um cérebro particular; não pertence a mim, nem a ninguém. Foi o próprio cérebro humano que evoluiu em milhões de anos e, nessa evolução, acumulou uma quantidade extraordinária de experiências, conhecimentos, e todas as crueldades, vulgaridades e brutalidades do egoísmo. Existe alguma possibilidade de que ele se descarte disso tudo e se transforme em outra coisa? Porque, aparentemente, o cérebro funciona através de padrões. Seja ele um padrão religioso, científico, comercial ou familiar, está sempre operando, funcionando em pequenos círculos estreitos. Esses círculos chocam-se uns com os outros, e não parece haver um fim para isso. O que, então, interromperá essa formação de padrões, de modo que não se volte a cair em padrões novos, e que, em vez disso, todo o sistema de padrões, seja ele agradável ou desagradável, seja demolido? Afinal de contas, o cérebro sofreu muitos choques, desafios, e pressões, e se ele não for capaz de se renovar ou de rejuvenescer, há muito pouca esperança. Você entende?

DAVID BOHM: Veja bem, pode ocorrer uma dificuldade. Se você está pensando na estrutura cerebral, não podemos penetrar, fisicamente, nessa estrutura.

K: Fisicamente não podemos. Sei disso, nós já discutimos o assunto. Então, o que o cérebro deve fazer? Os especialistas podem observá-lo, podem examinar o cérebro de um cadáver, mas isso não resolve o problema. Certo?

DB: Não.

K: Então o que deve um ser humano fazer, se ele sabe que não pode se transformar a partir de fora? O cientista, o especialista em cérebros e o neurologista explicam muitas coisas, mas suas explicações e investigações não solucionarão o problema.

DB: Bem, não há qualquer evidência de que possam fazê-lo.

K: Nenhuma evidência.

DB: Algumas pessoas que fazem bio-feedback acham que podem influenciar o cérebro, ligando um instrumento aos potenciais elétricos no crânio, o que lhes permite visualizá-los; pode-se também alterar o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea, e outras coisas. Essas pessoas criaram a esperança de que algo podia ser feito.

K: Porém, não estão tendo sucesso.

DB: Não estão indo muito longe.

K: E não podemos esperar por esses cientistas e bio-feedbackers — desculpe! — para resolver o problema. O que faremos então?

DB: A próxima pergunta é se o cérebro pode ter consciência de sua própria estrutura.

K: Pode o cérebro ter consciência de seu próprio movimento? E pode ele, além de estar consciente de seu próprio movimento, ter energia suficiente para romper todos os padrões e afastar-se deles?

DB: Você tem de perguntar até que ponto o cérebro é livre para romper os padrões.

K: O que você quer dizer com isso?

DB: Bem, veja, se você começa afirmando que o cérebro está preso a um padrão, ele também poderia não estar.

K: Mas aparentemente está.

DB: Até onde podemos perceber. Ele pode não estar livre para escapar. Pode não ter o poder.

K: É isso o que eu disse: energia insuficiente, poder insuficiente.

DB: Sim, ele pode não ser capaz de empreender a ação necessária para sair.

K: Desse modo, ele se tornou seu próprio prisioneiro. E então? 

DB: Então, é o fim.

K: É isso o fim?

DB: Se isso for verdade, então isso é o fim. Se o cérebro não puder escapar, talvez as pessoas escolham alguma outra maneira de resolver o problema.

(...)

K: Quero discutir isso. O cérebro está constantemente ocupado com vários problemas, com a permanência, com o apego, e assim por diante. Ele está constantemente num estado de preocupação. Isso pode ser o fator central; e se ele não estiver ocupado, tornar-se-á preguiçoso? Se não estiver ocupado, poderá manter a energia necessária para romper os padrões?

DB: O que interessa em primeiro lugar é que se o cérebro não estiver ocupado, alguém poderá pensar que ele ficará indolente.

K: Ficar preguiçoso e tudo o mais! Não quero dizer isso.

DB: Se você quer dizer não ocupado, mas ainda assim ativo... 

K: Naturalmente. É isso o que eu quero dizer.

DB: Temos então de penetrar no que é a natureza da atividade.

K: Sim. Esse cérebro está muito ocupado com conflitos, esforços, apegos, temores e prazeres. E essa ocupação dá ao cérebro sua própria energia. Se ele não estiver ocupado, tornar-se-á preguiçoso, drogado, e perderá por assim dizer, sua elasticidade? Ou poderia esse estado desocupado fornecer ao cérebro a energia necessária para romper os padrões?

DB: O que o faz dizer que isso poderia acontecer? Estivemos discutindo, em outro dia, que quando mantemos o cérebro ocupado com a atividade intelectual e o pensamento, ele não se deteriora nem encolhe.

K: Desde que esteja pensando, movendo-se, vivendo.

DB: Pensando de maneira racional; nesse caso, ele permanece forte.

K: Sim. Também é aí que eu quero chegar. Ou seja, que enquanto ele estiver funcionando, movendo-se, pensando de modo racional...

DB: ... ele permanecerá forte. Se ele começar o movimento irracional, ele colapsará. E também, se ficar preso numa rotina, ele começará a morrer.

K: Exatamente. Isso ocorrerá se o cérebro ficar preso a qualquer rotina - à rotina da meditação, ou à rotina dos padres.

DB: Ou ao dia-a-dia da vida do fazendeiro ...

K: ... do fazendeiro, etc., ele gradualmente se tornará entorpecido.

DB: Não apenas isso, mas ele também parece encolher.

K: Encolher fisicamente.

DB: Será que algumas células morrem?

K: Encolher fisicamente; e o oposto disso é a eterna ocupação com tarefas — por alguém que executa um trabalho de rotina... pensando, pensando, pensando! E acreditamos que isso também evita o encolhimento.

DB: Certamente a experiência parece comprovar isso, a partir de medições realizadas.

K: Sim, isso de fato ocorre. Exatamente.

DB: O cérebro começa a encolher numa certa idade. Isso é o que eles descobriram, assim como os músculos começam a perder sua flexibilidade quando o corpo não é usado...

K: Então, façamos bastante exercício!

DB: Bem, eles dizem para exercitarmos tanto o corpo como o cérebro. 

K: Sim. Se ele ficar preso a qualquer padrão, qualquer rotina, qualquer diretriz, ele encolherá.

DB: Vamos estudar o que o faz encolher.

K: Isso é razoavelmente simples. É a repetição.

DB: A repetição é mecânica, e de fato não usa toda a capacidade do cérebro.

K: Já se observou que as pessoas que passaram anos e anos meditando são as mais apáticas sobre a Terra. Isso, através de ampla evidência, também se aplica aos juristas e aos professores.

N: Sugeriu-se que o pensamento racional adia a senilidade. Mas o próprio pensamento racional pode, às vezes, se tornar um padrão.

DB: Talvez. O pensamento racional exercido numa área estreita poderá se tomar também uma parte do padrão.

K: Claro, claro.

DB: Mas há alguma outra maneira?

K: Podemos abordar isso.

DB: Vamos, porém, esclarecer primeiro as coisas a respeito do corpo. Veja, se alguém exercita bastante o corpo, este permanece forte, mas isso pode se tomar mecânico.

K: Sim.

DB: E conseqüentemente teria um efeito negativo.

N: E a respeito dos diversos instrumentos religiosos tradicionais — ioga, tantra, kundalini, etc.?

K: Sei. Oh, eles devem causar o encolhimento! Por causa do que está acontecendo. Tome o ioga, como exemplo. Ele não era vulgarizado, se é que posso usar essa palavra. Mantinha-se estritamente entre poucas pessoas que não estavam preocupadas com kundalini e todo o resto, estavam, isto sim, interessadas em levar uma vida moral, ética, supostamente espiritual. Veja, quero chegar à raiz disso.

DB: Penso que há algo relacionado com isso. Parece que antes o homem estava organizado em comunidades, vivia perto da natureza, e não era possível viver numa rotina.

K: Não, não era.

DB: Mas isso era completamente inseguro.

K: Estamos dizendo, então, que o próprio cérebro se torna extraordinariamente vigoroso — não ficando preso a um padrão — se ele viver num estado de incerteza? Sem se tornar neurótico!

DB: Penso que fica mais claro quando você diz sem se tornar neurótico— a certeza se transforma então numa forma de neurose. Mas preferiria que o cérebro vivesse sem ter certeza, sem exigi-la, sem reclamar um determinado conhecimento.

K: Estamos dizendo então que o conhecimento também debilita o cérebro?

DB: Sim, quando é repetitivo e se torna mecânico.

K: Mas e o conhecimento em si?

DB: Bem, temos que tomar muito cuidado com isso. Penso que o conhecimento tem uma tendência a se tornar mecânico, quer dizer, ele se torna estável, mas nós podemos estar sempre aprendendo, entende?

K: Mas aprendendo a partir de um centro, aprendendo através de um processo acumulativo!

DB: Aprendendo com algo fixo. Veja, aprendemos alguma coisa como sendo permanente, e então aprendemos a partir daí. Se nós estivéssemos aprendendo sem manter qualquer coisa permanentemente estável...

K: Aprendendo e não acrescentando. Podemos fazer isso?

DB: Sim, acho que numa certa medida temos que nos desfazer do nosso conhecimento. Veja, o conhecimento poderá ser válido até certo ponto, e então deixa de ser válido. Passa a atrapalhar. Poderíamos dizer que a nossa civilização está desmoronando por causa de excesso de conhecimento.

K: Naturalmente.
(...)

Trecho de Diálogo entre J. Krishnamurti e David Bohm, extraído do livro:
A Eliminação do Tempo Psicológico


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill