O conhecimento obtido do estudo e de conclusões a partir das escrituras é de determinado tipo. Mas o conhecimento obtido do samadhi é de natureza muito superior.
Neste ponto, descreve Patanjali dois tipos de conhecimento: o conhecimento obtido através da mediação dos sentidos e da razão, e o conhecimento obtido pela experiência direta, superconsciente. O conhecimento comum chega-nos pela percepção dos sentidos e através da interpretação dessa percepção pela nossa razão. É, portanto, um conhecimento necessariamente limitado aos “objetos ordinários”; ou seja, àquelas espécies de fenômenos que estão ao alcance de nossas percepções sensoriais. Quando o conhecimento ordinário tenta lidar com o extraordinário, revela-se de imediato sua incapacidade.
Temos, por exemplo, as diversas escrituras e livros que nos falam da existência de Deus. Podemos lê-los e aceitar-lhes os ensinamentos — até certo ponto. Não podemos, porém, pretender que conhecemos Deus pelo fato de os termos lido. Quando muito, podemos afirmar que sabemos que tais livros foram escritos por pessoas que afirmavam conhecer Deus. Por que haveríamos de acreditar nelas? É certo que nossa razão pode sugerir-nos que existe a probabilidade de os autores serem honestos e confiáveis, nem iludidos nem dementes, levando-nos, portanto, a acreditar no que nos dizem. Essa crença, entretanto, será apenas parcial e passageira: inteiramente insatisfatória, não chegando por certo a ser um conhecimento.
Assim, restam-nos duas alternativas: ou concluir que existe um só tipo de conhecimento, limitado aos objetos de contato sensorial, e resignar-nos, consequentemente, a um agnosticismo permanente no que tange aos ensinamentos das escrituras; ou admitir a possibilidade de outro conhecimento, um tipo superior que se situa além do nível sensorial, e por isso capaz de confirmar a verdade desses ensinamentos, através da experiência direta. Trata-se do conhecimento alcançado pelo samadhi. E cada um de nós precisa encontrá-lo por si próprio.
“A realização” — diz Swami Vivekananda — “é a religião verdadeira; tudo o mais não passa de preparação — palestras ouvidas, livros lidos ou a reflexão são apenas a base preparatória; isso não é a religião. A concordância ou discordância intelectuais não são a religião”. A religião é, de fato, uma espécie de busca rigorosamente prática e empírica. Não se toma nada de boa fé. Aceita-se somente a própria experiência. Avança-se sozinho, passo a passo, como o explorador numa floresta virgem, para se ver o que se vai encontrar. Tudo o que Patanjali ou outro qualquer pode fazer por nós é estimular-nos a buscar a exploração e oferecer-nos algumas sugestões e alertas que nos ajudem na caminhada.
Diz-nos Patanjali que no estado de samadhi nirvichara a mente se torna “pura e plena de verdade”. Diz-se que a mente fica pura porque, nesse estado, as ondas menores de pensamento foram engolidas pela onda maior da concentração sobre um objeto único. É certo que existem ainda dentro dessa onda as “sementes” de apego, mas é apenas num estado de morte aparente. Pelo menos por ora não podem causar dano, e muito provavelmente jamais se tomarão outra vez férteis pois, havendo progredido tanto, é-nos relativamente fácil chegar ao ponto final capaz de aniquilá-las.
Diz-se que a mente está plena de verdade no samadhi nirvichara porque ela prova agora o conhecimento direto supersensorial. Quem já meditou sobre algum Ideal Escolhido ou personalidade espiritual experimentou o contato direto com essa personalidade, não mais como algo imaginado subjetivamente, e sim como alguma coisa objetivamente conhecida. Se você se puser a meditar em Krishna, em Cristo ou em Ramakrishna e buscar figurá-los para si mesmo na mente, descobrirá que a imagem se dissolve na realidade de uma presença viva. E, ao conhecer essa presença, verá que a imagem que dela você fez era imperfeita e diferente do original vivo. Os que passaram por essa experiência comparam-na à ação de um ímã. No estágio inicial da meditação, parece que todo o esforço parte de nós próprios; esforçamo-nos para manter a mente fixa em seu objeto. Logo, porém, tomamos consciência de uma força externa, de um poder magnético de atração que puxa nossa mente na direção desejada, de tal modo que o esforço já não é mais nosso. Isso é conhecido como graça.
“A realização” — diz Swami Vivekananda — “é a religião verdadeira; tudo o mais não passa de preparação — palestras ouvidas, livros lidos ou a reflexão são apenas a base preparatória; isso não é a religião. A concordância ou discordância intelectuais não são a religião”. A religião é, de fato, uma espécie de busca rigorosamente prática e empírica. Não se toma nada de boa fé. Aceita-se somente a própria experiência. Avança-se sozinho, passo a passo, como o explorador numa floresta virgem, para se ver o que se vai encontrar. Tudo o que Patanjali ou outro qualquer pode fazer por nós é estimular-nos a buscar a exploração e oferecer-nos algumas sugestões e alertas que nos ajudem na caminhada.
Diz-nos Patanjali que no estado de samadhi nirvichara a mente se torna “pura e plena de verdade”. Diz-se que a mente fica pura porque, nesse estado, as ondas menores de pensamento foram engolidas pela onda maior da concentração sobre um objeto único. É certo que existem ainda dentro dessa onda as “sementes” de apego, mas é apenas num estado de morte aparente. Pelo menos por ora não podem causar dano, e muito provavelmente jamais se tomarão outra vez férteis pois, havendo progredido tanto, é-nos relativamente fácil chegar ao ponto final capaz de aniquilá-las.
Diz-se que a mente está plena de verdade no samadhi nirvichara porque ela prova agora o conhecimento direto supersensorial. Quem já meditou sobre algum Ideal Escolhido ou personalidade espiritual experimentou o contato direto com essa personalidade, não mais como algo imaginado subjetivamente, e sim como alguma coisa objetivamente conhecida. Se você se puser a meditar em Krishna, em Cristo ou em Ramakrishna e buscar figurá-los para si mesmo na mente, descobrirá que a imagem se dissolve na realidade de uma presença viva. E, ao conhecer essa presença, verá que a imagem que dela você fez era imperfeita e diferente do original vivo. Os que passaram por essa experiência comparam-na à ação de um ímã. No estágio inicial da meditação, parece que todo o esforço parte de nós próprios; esforçamo-nos para manter a mente fixa em seu objeto. Logo, porém, tomamos consciência de uma força externa, de um poder magnético de atração que puxa nossa mente na direção desejada, de tal modo que o esforço já não é mais nosso. Isso é conhecido como graça.
Como nos assegurar de que as revelações alcançadas através do samadhi são revelações verdadeiras, e não algum tipo de auto-ilusões ou de auto-hipnose? O bom senso indica diversos testes. Por exemplo, é óbvio que o conhecimento obtido dessa força não deve contrariar o conhecimento já alcançado por outras pessoas: são muitas as pessoas que conhecem, mas há uma só verdade. É também evidente que tal conhecimento deve pretender algo que não se pode conhecer de outro modo — isto é, que não pode ser conhecido através da nossa experiência sensorial ordinária. Finalmente, é preciso que essa experiência traga consigo renovação completa da mente e transformação do caráter. "A relação correta entre a prece e o comportamento" — escreve o arcebispo Temple — "não está no fato de que o comportamento é extremamente importante e a prece pode ajudar a este respeito; e sim no fato de que a prece é extremamente importante e o comportamento o confirma". E se isso é verdadeiro nas fases preliminares da vida espiritual, deverá ser ainda mais marcadamente evidenciado no estado final e unitivo do samadhi. Ao atingi-lo, a pessoa torna-se santa.
Swami Prabhananda e Cristopher Isherwood, em "Como Conhecer Deus - Aforismos iogues de Patanjali"