Somos muitos apenas na periferia; a multiplicidade existe apenas na
circunferência. Quanto mais nos movemos em direção ao centro, mais nos movemos
em direção ao uno. No centro somos um.
Na periferia, existimos como muitos. Sua personalidade é diferente da personalidade do seu vizinho. Sua individualidade é diferente de todas as demais. Mas seu centro mais profundo não é diferente. Seu centro mais profundo é o centro mais profundo de tudo. Quando você o alcança, alcança o uno.
O mundo todo é apenas a circunferência. O centro — você pode chama-lo de
Deus ou pode chama-lo de alma suprema ou do que preferir — mas quando você alcança
o seu centro mais profundo do uno, alcança o centro mais profundo de tudo. E aí,
nesse uno, todos os segredos estão ocultos. Aí, todos os mistérios podem ser
revelados a você.
Você não pode conhecê-lo antes disso. A menos que penetre no templo mais
profundo do uno, os mistérios permanecerão mistérios. Você pode criar muitas teorias
e filosofias sobre eles, mas não serão de nenhuma utilidade; serão fúteis,
insignificantes. Você pode filosofar à vontade,
mas nada pode ser concluído. Isso tem acontecido por muito tempo. Muitos séculos
se passaram e os homens estiveram filosofando, criando milhares e milhares de
filosofias, teorias e sistemas sem nenhum resultado. Você pode cria-los, mas
trata-se de algo mental. Você não conhece.
Você pode imaginar. Pode criar um sistema bastante coerente de
pensamentos, mas não será outra coisa senão seus pensamentos, seus sonhos. Os filósofos
são criativos, mas criam sonhos, fantasias. Criam sistemas lógicos, apresentam
argumentos para defende-los, mas a verdade não pode ser criada através de
sistemas lógicos; a verdade não pode ser alcançada por argumentos. Seja o que
for que você alcance, será apenas uma hipótese. A verdade só pode ser alcançada
através da experiência.
Essa é a diferença entre filosofia e religião. A religião diz que a
verdade não é conhecida porque você não é capaz de conhece-la. A menos que você
seja totalmente transformado — a menos que se torne um ser diferente, a menos
que sua perspectiva mude, que seu modo de ver mude, que seus olhos mudem, que
seu coração mude — você não conhecerá a verdade. A verdade não pode ser
conhecida através da contemplação; ela só pode ser conhecida através da sua transformação
interior.
A contemplação é possível, mas você permanece o mesmo; apenas continua a
pensar com a sua cabeça. Você pode criar muitas coisas em sua cabeça. Pode acreditar
nelas, mas sabe que são criações suas. A verdade não é uma criação; você não pode
cria-la. Pode apenas revela-la, descobri-la — ela está oculta. Os argumentos não
serão de nenhuma ajuda. Somente uma autentica viagem para dentro será de alguma
utilidade.
A religião é antifilosófica. Ela diz que a filosofia não tem nenhuma
utilidade; trata-se apenas de uma ginastica intelectual. Você pode apreciá-la;
é um jogo de palavras, de logica, de argumentos, mas não lhe dará nada; você não
chegará a parte alguma. Estará apenas sentado em sua cadeira confortável, com
os olhos bem fechados, pensando, pensando e pensando. Você pode continuar
pensando por muito tempo. Pode pensar coerentemente, consistentemente, mas,
mesmo assim, não dará um passo sequer na direção da verdade.
Você pode até mesmo se afastar cada vez mais, porque a verdade não é uma
construção mental. Ela já está aí; não é uma construção mental. Ao contrário,
por causa de sua ação mental, devido à excessiva atividade de sua mente, a
verdade se oculta. Sua mente cria nuvens. Você fica se movendo nas nuvens e o
céu se oculta. Disperse as nuvens, disperse os pensamentos, disperse os
argumentos, a logica, as filosofias, e subitamente a verdade se revela. Ela sempre
esteve aí. A verdade está oculta dentro de você; portanto, você não precisa ir
a parte alguma. Não há necessidade de ir para o Himalaia. A única coisa necessária
é ir para dentro.
Você existe apenas na periferia, na circunferência. Quanto mais para
dentro você se move, menor você se torna. Quando alcança o centro mais
profundo, você não existe mais. Num certo sentido, você não existe mais; o
velho morreu. Mas, num outro sentido, você existe pela primeira vez, pois agora
a realidade mais profunda lhe é revelada, o eterno lhe é revelado. Agora você alcançou
aquilo que nunca muda.
Osho