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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Sobre o medo e a inteligência


A inteligência é a maior segurança para se enfrentar o medo. O problema é: numa crise, quando o medo inconsciente toma conta de você, onde é que há lugar para a inteligência? A inteligência requer a negação do mal que aparece no caminho. Ela requer que se ouça, que se veja e que se observe. Mas quando todo o ser está tomado por um medo incontrolável, por um medo que tem uma causa, mas uma causa que NÃO É IMEDIATAMENTE PERCEPTÍVEL, nessas circunstâncias, onde há lugar para a inteligência? Como lidar com os medos primitivos, arquetípicos, que estão na verdadeira base da psique humana? Um desses medos é o da destruição do eu, o medo de não existir.

Estamos dizendo que, no momento de uma grade onda de medo, a inteligência desaparece. E como lidar com essa onda de medo quando isso acontece? Essa é a pergunta.

Vemos o medo como se fosse os ramos de uma árvore. Mas nós lidamos com esses medos, um a um, e não há liberdade quendo se tem medo. Haverá algum modo de ver o medo sem os ramos?...

Vemos as folhas, os ramos, ou chegamos à verdadeira raiz do medo?...

Estamos dizendo que há medos conscientes e medos inconscientes, e que os medos inconscientes se tornam extraordinariamente fortes em certos momentos e, nesses momentos, a inteligência não está atuando. Como se pode lidar com essas ondas de medo incontrolável?

Esses medos parecem assumir uma forma material. É uma coisa física que domina você.

Perturba-o neurológica e biologicamente... O medo existe, conscientemente ou em profundidade, quando há um sentimento de solidão, quando há um sentimento de abandono total por parte dos outros, um sentimento de isolamento completo, uma sensação de não existirmos, um sentimento de desamparo total. E, nesses momentos, quando o medo profundo surge, obviamente a inteligência não existe e nasce um medo incontrolável e indesejável.

Podemos achar que enfrentamos os medos que conhecemos e, inconscientemente, continuar presos a eles.

Isso é o que estamos dizendo... Podemos lidar com os medos físicos, que são conscientes. Os filamentos da inteligência podem trabalhar com eles.

Você pode até mesmo permitir que esses medos floresçam.

E, então, nesse verdadeiro florescimento, há inteligência. Agora, como você lida com o outro medo? Porque o inconsciente retém esses medos? Ou o inconsciente os acolhe? Ele os retém, eles existem nas profundezas bem conhecidas do inconsciente; ou é uma coisa que o inconsciente adquire do ambiente? Além disso, por que o inconsciente retém os medos? Serão eles parte inerente do inconsciente, da história racial, tradicional do homem? Eles fazem parte da herança genética? Como você lida com o problema?...

Por que, de algum modo, o inconsciente os retém? Por que consideramos as camadas mais profundas da consciência como o depósito, o resíduo do medo? Elas são impostas pela cultura em que vivemos? Pela mente consciente que, não sendo capaz de lidar com o medo, impele-o para baixo e, por isso, o faz permanecer no nível inconsciente? Ou é a mente que, com todo o seu conteúdo, não resolveu seus problemas e está assustada por não ser capaz de resolvê-los? Quero descobrir qual a importância do inconsciente. Quando vocês disseram que essas ondas de medo vêm, digo que elas sempre estão lá, porém, numa crise, você se torna ciente delas.

Antes de tudo, a consciência é constituída pelo seu conteúdo. Sem o seu conteúdo a consciência não existe. Um de seus conteúdos é esse medo básico, e a mente consciente nunca tenta resolvê-lo; ele existe, mas a mente nunca diz: "Eu tenho de lidar com o medo". Nos momentos de crise, essa parte da consciência é despertada e se apavora. Mas o medo sempre está lá... O medo sempre existe. Faz parte da herança cultural? Ou é possível que alguém nasça num país, numa cultura que não aceita o medo?... É óbvio que não existe essa cultura. E, portanto, estou perguntando: o medo faz parte da cultura ou é inerente ao homem? O medo é uma sensação de não ser, tal como existe no animal, tal como existe em toda coisa vivente; o medo de ser destruído.

Trata-se do instinto de autopreservação que toma a forma de medo.

Será que toda a estrutura das células está com medo de não ser? Esse medo existe em todas as coisas vivas. Mesmo uma formiguinha tem medo de não existir. Vemos que o medo existe e faz parte da existência humana, e que qualquer um se torna bastante consciente dele numa crise. Como se lida com o medo no momento em que surge uma onda de medo? Por que esperamos pela crise?...

Nós dizemos que o medo sempre existe, que ele é uma parte da nossa estrutura humana. A estrutura biológica, psicológica, toda a estrutura do ser está com medo. O medo existe, é parte do mais minúsculo ser vivo, da célula mais diminuta. Por que esperamos que haja uma crise para tomarmos consciência dele? Essa é a forma mais irracional de aceitá-lo. Pergunto: por que é preciso ter uma crise para aprender a lidar com o medo?...

Você diz que pode encarar esses medos de modo inteligente. Duvido que você os enfrente assim. Duvido que você possa fazer uso da inteligência antes de ter resolvido o medo. A inteligência só aparece quando não existe o medo. A inteligência é luz e você não pode lidar com a escuridão quando não há luz. A luz só existe quando não há escuridão. Estou perguntando se você pode lidar com o medo de modo inteligente quando ele existe. Afirmo que não. Você pode racionalizá-lo, pode ver a natureza dele, evitá-lo ou ir além dele, mas isso não é inteligência...

Vejam vocês, estou examinando com cuidado toda reação diante de uma crise. O medo existe; por que você precisa de uma crise para despertá-lo? Você diz que uma crise acontece e você acorda. Uma palavra, um gesto, um olhar, um movimento, um pensamento, esses são os desafios que você diz que causam medo. Pergunto: por que esperamos pela crise?... Um gesto, um pensamento, uma palavra, um olhar, um sussurro, qualquer uma dessas coisas é um desafio...

Por que você fica paralisado? Porque o desafio é necessário para você. Por que você não toma contato com o medo antes do desafio? Você diz que a crise desperta o medo. A crise inclui o pensamento, o gesto, a palavra, o sussurro, o olhar, uma carta. É um desafio que desperta o medo? Digo a mim mesmo: por que as pessoas não deveriam despertar para o medo sem um desafio? Se o medo existe, ele precisa ser despertado. Ou ele está dormindo? E se ele está dormindo, por que está assim? A mente consciente receia que o medo possa despertar? Ela o fez dormir e recusou-se a olhar para ele?...

A mete consciente ficou apavorada ao perceber o medo e, portanto, mantém o medo sob controle? Ou o medo está lá, desperto, e a mente consciente não o deixa florescer? Vocês admitem que o medo faz parte da vida humana, da existência?...

Eu digo a mim mesmo: "Devo esperar por uma crise para que esse medo desperte?"... Se ele existe, quem o pôs para dormir? É porque a mente consciente não pode resolvê-lo? A mente consciente está interessada em resolvê-lo e, não sendo capaz, coloca-o para dormir, reprime-o. E quando acontece uma crise a mente consciente fica abalada e surge o medo. Portanto, eu digo a mim mesmo: por que a mente consciente deve reprimir o medo?...

Senhor, o instrumento da mente consciente é a análise, a capacidade de reconhecimento. Com esses instrumentos, ela é incapaz de lidar com o medo.

Ela não pode lidar com ele. Mas o que é necessário é a verdadeira simplicidade, NÃO A ANÁLISE. Portanto, a mente consciente não pode lidar com o medo; ela diz: quero evitá-lo, não posso olhar para ele. Olhe bem o que você está fazendo. Você está esperando que uma crise o desperte e a mente consciente, durante todo o tempo, está evitando as crises. Ela está evitando, raciocinando, racionalizando. Somos mestres nesse jogo. Portanto, digo a mim mesmo, se o medo existe, ele está desperto. Você não pode adormecer uma coisa que faz parte da nossa herança. A mente consciente se abala quando acontece uma crise. Portanto, lide com ele de uma form diferente... O medo básico é o da não-existência; ele é uma sensação de incerteza, de não ser, de morrer. Por que a mente não descobre esse medo e se arruma com ele? Por que ela deve esperar por uma crise? Você está com preguiça e, portanto, não teve a energia necessária para chegar à raiz dele?...

Dizemos que tudo o que é vivo tem pavor de não existir, de não sobreviver. O medo faz parte de nossas células sanguíneas. Todo o nosso ser tem pavor de não existir, tem pavor de morrer, pavor de ser morto. Portanto, o medo de não existir faz parte de nossa estrutura psicológica, bem como biológica; e eu me pergunto por que uma crise é necessária, por que o desafio deve se tornar importante? Oponho-me ao desafio. Quero estar à frente do desafio e não atrás dele...

Eu sei que vou morrer, mas intelectualizei, racionalizei a morte. Portanto, quando digo que a minha mente está bem à frente da morte, ela não está. Ela só está bem à frente do pensamento — que não está muito à frente...

Eu quero ser bem claro. O medo faz parte da nossa estrutura, de nossa herança. Biológica, psicologicamente, as células cerebrais têm pavor de não existir. E o pensamento diz: "Não vou considerar isso". Assim, quando acontece o desafio, o pensamento não pode acabar com ele... O PENSAMENTO NÃO PODE CONSIDERAR O FIM DE SI MESMO. Quanto a isso, ele só pode racionalizar. Pergunto a vocês: por que a mete espera por um desafio? Isso é mesmo necessário? Se vocês disserem que é necessário, então vocês estão esperando por um desafio... O desafio desperta o medo. Atenhamo-nos a isso; pergunto à vocês: por que vocês esperam por um desafio? Para despertar o medo?...

Sou totalmente contrário ao desafio. Minha mente nunca aceitará o desafio.O desafio não é necessário para despertar o medo. Dizer que estou adormecido e que o desafio é necessário para me despertar é uma afirmação errada. Então ela está acordada. Agora, o que está dormindo? É a mente consciente? Ou é a mente inconsciente, adormecida, da qual algumas partes estão acordadas?...

Se você está acordado, nenhum desafio é necessário. Portanto, você rejeita o desafio. Se, como dissemos, a morte faz parte da nossa vida, então estamos acordados o tempo todo.

Digo que o medo está debaixo do tapete, levante-o e olhe. Ele está lá e acordado. Portanto, não é preciso um desafio para fazê-lo acordar. Eu sinto pavor o tempo todo, de não existir, de morrer, de não atingir a meta. Este é o medo básico da nossa vida, do nosso sangue, e ele existe, sempre se observando, se guardando, se protegendo. Mas ele não está totalmente desperto. Não está, nem sequer por um momento, adormecido. Portanto, o desafio não é necessário. O que você faz com relação a ele e como você lida com ele, isso vem depois...

É como uma cobra no quarto: ela está sempre lá. Posso procurar em todos os cantos, mas ela está lá. A mente consciente está interessada em como lidar com ela, e como não pode fazê-lo, ela se afasta. É quando a mente consciente recebe um desafio e tenta enfrentá-lo. Você é capaz de encarar uma coisa viva? Para isso não é necessário um desafio. Mas devido ao fato de a mente consciente ter-se escondido do medo, o desafio é necessário...

Minha mente recusa a necessidade de desafio. A mente consciente não permitirá que o desafio a desperte. Ela está acordada. Mas vocês admitem a necessidade de desafio. Eu não. Ele não faz parte da minha experiência. A questão seguinte consiste em saber se quando a mente consciente está desperta para o medo, ela não é capaz de convidar algo que existe... Assim, a mente consciente sabe que o medo está lá, alerta. Então, o que vamos fazer a seguir?...

É mente consciente que tem pavor disso. Quando ela está acordada, não sente pavor. Em si mesma, ela não sente pavor. A formiga não sente pavor. Se ela for esmagada, será apenas isso. É a mente consciente que diz que sinto pavor disto, de não existir. Mas quando sofro um acidente, por exemplo, se meu avião se espatifa, não há medo. No momento da morte, digo: "Sim, agora sei o que significa morrer". Mas a mente consciente, com todos os seus pensamentos, diz: "Meu Deus! Vou morrer, não quero morrer, não posso morrer, tenho de me proteger" — é dessa coisa que tem pavor...

É o pensamento que cria o medo. É só o pensamento que diz: "Vou morrer, estou só. Não atingi o meu objetivo". Veja isto: essa é a eternidade intemporal, essa é a eternidade verdadeira. Veja como isso é extraordinário. Por que deveria eu estar assustado se o medo faz parte do meu ser? É apenas quando o medo diz que a vida deve ser diferente que há medo. A mente pode permanecer completamente imóvel? ENTÃO SURGE ESSA COISA. E quando ESSA COISA está desperta, qual é então a raiz central do medo?...

Isso já aconteceu comigo várias vezes, muitas vezes, quando a mente está COMPLETAMENTE ESTÁVEL, sem nenhuma aversão, sem aceitar ou negar, sem racionalizar, sem fugir, não há nenhuma atividade de qualquer espécie. Chegamos à raiz dela, não é mesmo?

Krishnamurti
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill