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sábado, 31 de março de 2018

Na vida holística, não há raízes psicológicas

Na vida holística,
não há raízes
psicológicas

[...] Devemos compreender a insegurança, sua causa. A causa da insegurança é nossa própria limitação de percepção, nosso estado psicológico fragmentado. Mas há uma maneira de viver holística em que não existe a segurança ou a insegurança.

Assim, se o desejam, vamos nos perguntar o que é esse estado holístico da vida. A palavra holístico significa “completo”, um estado no qual não existe fragmentação (como um homem de negócios, um artista, um poeta, uma pessoa religiosa, etc.) Contudo, nós constantemente categorizamos as pessoas como comunistas, socialistas, capitalistas, etc.

Nossas vidas, se observam com determinação, estão divididas fragmentadas; e devemos compreender por que os seres humanos, que tem vivido nesta magnífica Terra durante milhões de anos, estão fragmentados, tão divididos. Como dissemos ontem, uma das principais causas da divisão se deve a que o cérebro é escravo do pensamento, o qual é limitado. Onde há limitação tem que haver fragmentação. Se estou interessado em mim mesmo, em meu progresso, em realizar-me, em minha felicidade e em meus problemas, divido toda a estrutura da humanidade em forma de “eu”. D modo que o pensamento é um dos fatores da fragmentação dos seres humanos. E o tempo é outro fator.

Alguma vez já consideraram, o que é o tempo? Segundo os cientistas interessados no tema, o tempo é uma sequência de movimentos; movimento é tempo. O tempo não é só do relógio, do cronológico, senão que também é o nascer e o pôr do sol, a escuridão da noite e a luminosidade da manhã. E também há o tempo psicológico, o tempo interno: “Sou isto e serei aquilo”; “Não sei matemática, mas algum dia a aprenderei”. Para tudo isso se requer tempo; para aprender um idioma se necessita de muito tempo. Há o tempo para aprender, para memorizar, para desenvolver uma habilidade, e também há o tempo como a entidade egoísta que diz: “Chegarei a ser algo mais”. Esse “chegar a ser” psicológico também implica tempo. E nós estamos estudando não só o tempo para aprender uma habilidade, senão também o que temos desenvolvido como um processe de conquista. Não sabe como meditar, mas cruza as pernas e aprende como controlar seus pensamentos para conquistar algum dia essa suposta meditação. De modo que pratica, pratica, pratica, e é assim que se converte em mecânico. Quer dizer, qualquer tipo de prática faz com que seja mecânico.

De modo que o tempo é o passado, o presente e o futuro. O passado consta de todas as recordações, as experiências, o conhecimento, e o que os seres humanos têm conquistado. Tudo o que permanece no cérebro como memória é o passado. É tão simples. O passado (as recordações, o conhecimento, as experiências, as tendências) está atuando agora; por isso você é o passado. E o futuro é o que você é agora, talvez, algo modificado. O futuro é o passado modificado. Por favor, observe, compreenda isso. O passado, que se modifica no presente, é o futuro. Sem uma transformação radical no presente, amanhã você será o mesmo que é hoje. Assim que o futuro é o agora; não me refiro ao futuro necessário para adquirir conhecimentos, senão ao futuro psicológico. Assim, a psique, o “eu”, o ego são o passado, são a memória. E essa memória se modifica a si mesma no agora, e assim segue. Portanto, o futuro e o passado estão no presente. Todo tempo (o passado, o presente e o futuro) é uma continuidade do agora. Isto não é complicado, mas sim, lógico. Se agora vocês não se transformam, quer dizer, neste instante, o futuro será o que são agora, o que têm sido. Pois bem: é possível nos transformar radical, fundamentalmente agora? Não no futuro.

Somos o passado. Não há duvida disso. E o passado se modifica de diferentes modos através de reações e desafios, e essa modificação se converte no futuro. Este país tem tido uma civilização durante três ou quatro mil anos; isso é o passado. Mas as circunstâncias modernas requerem que rompemos com esse passado e que deixemos essa cultura. Podem falar da cultura passada e desfrutar de sua fama, mas esse passado se esfumaçou, tem sido anulado pelas necessidades e os desafios do presente. E estes modificam para uma entidade econômica.

O passado e o futuro estão no agora. Qualquer tempo está no agora. E estamos dizendo que o pensamento e o tempo são as maiores causas de fragmentação nos seres humanos. De forma similar, queremos ter raízes e nos identificar com um grupo, com um guru, com uma família, com uma nação, etc. E a ameaça da guerra é o maior fator em nossas vidas. A guerra pode destruir nossas raízes psicológicas, e por isso estamos dispostos a matar aos demais. Estes são os maiores fatores de nossas vidas fragmentadas.

Agora, vocês escutam essa verdade ou meramente desacreditam do que se está dizendo e, portanto, se contentam com a descrição e não com a verdade, com a ideia e não com o fato? Por exemplo, quem lhes fala diz: “Qualquer tempo está no agora”. Se o compreendem, é a verdade mais maravilhosa. O escutam como uma série de palavras, como uma ideia, como uma abstração da verdade, ou o captam como a verdade que é? O que fazem? O veem, vivem com este fato? Ou fazem desse fato uma abstração, uma ideia, e se interessam por ela e não pelo fato em si? Assim atuam os intelectuais. O intelecto é, de todas as maneiras, necessário, e seguramente temos pouquíssimo intelecto porque dependemos dos outros. Quando escutam uma afirmação como: “Qualquer tempo está no agora”, ou “Você é a humanidade inteira, porque sua consciência é uma com todas as demais”, como escutam isso? Fazem disso uma abstração, uma ideia? Ou escutam essa verdade, esse fato, essa profundidade e sensação de imensidade que a envolve? As ideias não são uma imensidade; sem dúvida, o fato tem enormes possibilidades.

Assim, onde há tempo, pensamento, desejo de identificação e de ter raízes, não pode haver uma vida holística. Tudo isso impede a totalidade do viver, sua completude. Ao escutar esta afirmação, seguidamente sua pergunta deve ser: “Como deter o pensamento?”. Essa é uma pergunta natural, não é verdade? Sabemos que o tempo é necessário para aprender uma habilidade, um idioma ou um tema técnico. Mas, por sua vez, estão começando a perceber de que o fato de “chegar a ser”, o movimento de “o que é” ao “o que deveria ser” implica tempo, e que isso pode ser totalmente errado, que ser que não seja uma verdade. Desse modo, começam a questionar as coisas. Ou simplesmente dizem: “Não entendo o que você diz, prefiro seguir por minha conta”? Isso é o que, de fato, ocorre. A honestidade, igualmente que a humildade, é uma das coisas mais importantes. Quando um homem fútil cultiva a humildade, está é uma parte de sua futilidade. Porque a humildade não tem nada que ver com futilidade, com o orgulho. É um estado da mente que diz: “Não sei o que sou, vou averiguar”; nunca diz: “Eu sei”.

Bem, vocês têm escutado o fato de que todo o tempo está no agora. Podem estar de acordo ou não. E concordar ou descordar é algo terrível. Por que deveríamos concordar ou descordar? Por exemplo, não importa se estão de acordo ou desacordo com a afirmação de que o Sol nasce pelo leste. Em consequência, podemos deixar de lado nosso condicionamento de estar de acordo ou em desacordo, de modo que ambos possamos observar os fatos, que não há divisão entre os que estão de acordo e aqueles que não o estão, para que somente então possamos ver as coisas tais como são? Posso dizer: “Não vejo isso”, mas isso é algo muito diferente. Nesse caso, podemos investigar por que não vê isso. Mas se entramos nessa área de estar de acordo ou não, nos confundiremos mais e mais.

Quem lhes fala diz que vivemos vidas fragmentadas, que nossa forma de pensar está fragmentada. Alguém, um homem de negócios, ganha muito dinheiro e, a partir daí, constrói um templo ou faz obras de caridade; observem que contradição. Nunca somos realmente sinceros com nós mesmos, não sinceros no sentido de ser algo mais ou de compreender algo mais, senão melhor, ser claros e ter essa sensação de absoluta sinceridade significa não assegurar ilusões. Se diz uma mentira, sabe que a disse e o aceita: “Disse uma mentira”; não necessita encobri-la. Se se irrita, está irritado e diz que o está; não precisa lhe buscar as causas, nem dar explicações ou tratar de se livrar disso. Tudo isso é absolutamente necessário se querem investigar as coisas com mais profundidade, tal como estamos fazendo agora. Não convertam um fato em uma ideia, senão, melhor, permaneçam com o fato, o qual requer percepção com muita clareza.

Depois de escutar tudo isto, diz: “Sim, entendo isso lógica e intelectualmente”. E pergunta: “Como relaciono o que entendi lógica e intelectualmente com o que escutei? Qual é a verdade?” Assim, já se criou uma divisão entre o entendimento intelectual e a ação. Você percebe isso? Escute, tão só, escute. Não faça nada a respeito. Não pergunte: “Como posso conseguir algo? Como posso terminar com o pensamento e o tempo?”. Não posso fazê-lo. Seria absurdo, porque você é o resultado do tempo, do pensamento, e o único que faria seria dar voltas no mesmo círculo. Escute, não reaja, não pergunte como, tão só limite-se a escutar (como escutaria uma bela música ou o canto de um pássaro) essa afirmação de que qualquer tempo está contido no agora, e que o pensamento é um movimento. O pensamento e o tempo andam juntos; não são dois movimentos independentes, mas sim um único e constante movimento. Isso é um fato. Escute isso.

É evidente que vocês querem se identificar, e essa é uma das causas da fragmentação em nossas vidas, igual ao tempo e o pensamento. Assim mesmo, querem estar seguros e por isso se apegam. Estes são os fatores da fragmentação. Escutem isso; não façam nada. Agora, se escutam com muita determinação, esse mesmo escutar cria sua própria energia. Se escutam o fato do que está se dizendo e não reagem (porque tão somente escutam), isso significa que reúnem toda sua energia para escutar; significa prestar enorme atenção ao escutar. E isso mesmo elimina os fatores ou as causas da fragmentação. Se fazem algo a respeito, então atuaram sobre isso. Sem dúvida, se observam se distorção, sem preconceitos, então essa mesma observação, essa percepção, que é enorme atenção, elimina a sensação de tempo, de pensamento, etc.

Outro dos fatores que faz com que vivamos nossas vidas de forma fragmentária é o medo. Esse é um fato comum a todos os seres humanos. E os seres humanos, desde os primórdios, têm tido medo, e nunca solucionaram esse problema. Se realmente não tivessem medo, não existiriam os deuses, os rituais e as orações. Esse medo criou todos os deuses, todas as deidades e os gurus com seus absurdos. Assim, podemos analisar a questão de por que os seres humanos vivem com medo, e se é possível libertar-se totalmente do medo, e não tão só ocasional e esporadicamente? É possível ter a percepção dos objetos do medo e também das causas internas do mesmo? Você pode dizer: “Não tenho medo”, mas seu interior tem como base o medo.

O que é o medo? Você não tem medo? Se é sincero de verdade, para variar, por que não dizer: “Tenho medo”. Tenho medo da morte, de perder meu emprego, de minha esposa ou marido, de que meu guru não me reconheça como um grande discípulo, da escuridão, ou de muitas outras coisas. Não estamos falando dos objetos do medo, do medo de algo. Estamos investigando o medo per se, em si mesmo. Assim, perguntamos: qual é a causa do medo e o que é o medo sem uma causa? Existe tal coisa como o medo se não existe uma causa? Ou a palavra medo, o som do medo faz sentir medo? Por exemplo, se são capitalistas ou socialistas, quando escutam a palavra comunismo, reagem de determinado modo. E quando escutam o termo medo também reagem, ao é verdade? Claro que o fazem. Agora, é a palavra que cria o medo ou a palavra é diferente do medo? É a palavra medo diferente do fato, ou o termo cria o fato? Você deve ter isso bem claro. Se não existisse uma palavra como medo, teríamos medo? A palavra amor não é essa chama intensa. Igualmente, pode ser que a palavra medo não seja o medo, essa sensação de paralisia, de viver em um estado de nervos. Vocês já sabem o que causa o medo nas pessoas; vivem na escuridão, sempre temerosas, assustadas, e suas vidas são terríveis. Sem dúvida, a palavra não é o fato, não é a coisa. Isto deve ficar muito clara. Bem, qual é a causa do medo?

Quem lhes fala lhes perguntou qual era a causa do medo. Mas, como vocês escutaram essa pergunta? Ela tem sua própria vitalidade, sua própria energia. É uma pergunta muito importante, e não meramente intelectual. Se ficam com a pergunta e não tratam de encontrar a resposta, começa a desdobrar-se a própria questão. Suponhamos que com toda seriedade lhes digo: “Amo-lhes”. É de coração que digo. Como escutam isso? Escutam ou surgem reações? Talvez nunca tenham amado de verdade. Pode se que estejam casados, tenham sexo e filhos, e não saibam o que é o amor. Seguramente não o sabem, o que pode ser um fato, porque se amassem não criariam imagens nem divisões. Muito bem, qual é a causa do medo? Escutem, porque tentarei sugeri-lo de uma maneira respeitosa. Façam-se essa pergunta e não procurem respondê-la, porque se procuram encontrar uma resposta (de averiguar a causa para logo eliminá-la), significará que “vocês” são diferentes do medo. Mas, vocês são diferentes ou são o medo? Sim, são cobiçosos; a cobiça é diferente de vocês? Se estão irritados, a irritação é diferente de vocês? Vocês são a irritação, são a cobiça, são o medo. Claro que o são. Vocês podem ver o fato de que são a irritação, a cobiça e o medo? Ao separarem-se do medo, vocês dizem: “Devo fazer algo com o medo”. Mas já se vêm fazendo algo com o medo a cinquenta mil anos; já se tem inventado deuses, rituais, etc.

Escutem a pergunta e não a reação, não perguntem como. A palavra como deve desaparecer por completo de suas mentes. Do contrário, sempre pedirão ajuda, e sempre dependerão dos outros. Perderão toda sua vitalidade, sua independência e seu sentido de estabilidade. Se farão essa pergunta sem esperar uma resposta? Façam-na. Se você planta uma semente na terra e está viva, crescerá e através do concreto. Já viram como as lâminas das ervas se abrem através do pesado cimento! Da mesma maneira, se fazem a pergunta e a retém, descobrirão a causa. É muito simples. Posso explicá-la, mas no momento esse não é o tema principal. O importante é fazer-se a pergunta, porque são pessoas sérias e querem descobri-lo. Permitam que a mesma pergunta responda, igual a semente na terra. Nesse caso verão que a semente floresce e se murcha. Não a desenterrem continuamente para ver se cresce. Igualmente como plantam uma semente na terra, nós fazemos o mesmo com a sensação do medo em nossos corações e em nossas mentes. Se deixamos a pergunta a sós e vivemos com ela, então veremos a causa do medo, não a palavra, não a explicação, senão a verdade disso. A causa do medo é o pensamento e o tempo: “Tenho um emprego e amanhã posso perdê-lo”. “Tenho tido uma dor e agora não a tenho, mas pode ser que volte amanhã”. Não o conhecem?

Como já foi dito, o tempo é o passado e o futuro. O pensamento e o tempo são dois fatores do medo. Não podem fazer nada a respeito. Não perguntem como se pode deter o pensamento, já que é uma pergunta absurda. Precisam pensar para regressar à sua casa, para dirigir um automóvel, para falar um idioma, mas ser que o tempo não seja realmente necessário no psicológico, no interno. Diz-se que o medo existe devido a dois grandes fatores, que são o tempo e o pensamento, o que implica recompensa e castigo.

Bem, tenho escutado sua afirmação. E a tenho escutado muito bem, porque esse é um enorme problema que o ser humano não o resolveu e, portanto, está criando estragos no mundo. Você também tem me dito: “Não faça nada a respeito; formule-se a pergunta e viva com ela”, igual a uma mulher que leva a semente em suas entranhas. Formule-se essa pergunta e permita que floresça. Quando o fizer, a mesma pergunta se murchará. Não se trata de que primeiro floresça e logo se murche, senão que no próprio florescer está o murchar-se. Entendem do que falamos?

Senhores, aprendam a arte de escutar. Saibam escutar a sua esposa ou a seu esposo. Escutem ao homem de rua: sua fome, sua pobreza, seu desespero e sua falta de amor. Escutem-no. Quando o fazem, não existem problemas, não há confusão. Unicamente estão escutando e, por conseguinte, no ato de escutar, o tempo desaparece.

Krishnamurti, Bombaim, 3 de fevereiro de 1985
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domingo, 18 de março de 2018

O findar do medo

 O FINDAR DO MEDO

Pupul Jayakar (PJ): Senhor, eu gostaria de encarar este diálogo como se estivesse formulando uma pergunta pela primeira vez. Sofro e, ao estar presa no sofrimento, pergunto-lhe por uma saída. Você tem estado falando da vida do autoconhecimento como o ponto de partida para a investigação, assim que lhe pergunto: Como se começa? Qual é o ponto de partida da investigação?

Jiddu Krishnamurti (K): Em primeiro lugar, é necessário que compreendamos que todos os problemas estão relacionados entre si. Não há nenhum problema separado, independente de outros problemas. Estão todos estreitamente relacionados e, portanto, se pudéssemos resolver ou compreender um problema — compreendê-lo diretamente, a fundo —, na realidade haveríamos resolvido todos os problemas.

PJ: Senhor, eu sou uma pessoa simples, não sei o que é chegar a uma profundidade suficiente como para resolver um problema.

K: Tomemos, por exemplo, a questão do medo, porque o medo é comum a toda a humanidade. Seja que se viva no Ocidente, no Oriente Médio, no Extremo Oriente ou aqui na Índia, você encontrará que o medo é um dos problemas básicos com o qual o homem se enfrenta. E não tem sido capaz de resolvê-lo em absoluto; por milênios tem suportado sua carga. Para compreender o problema do medo, que de fato mutila nossa mente, nosso coração, nossa conduta, devemos primeiro ter bem claro como abordamos o problema.

PJ: O que você entende por “abordar”?

K: A palavra “abordar” implica “aproximar-se a”, “entrar em contato com”, “estar muito, muito, muito acerca...”

PJ: Como se acercar de um problema como o medo? Havendo surgido o medo, o instinto é escapar, de nos afastamos dele, reprimi-lo, fazer todo o possível para evitá-lo. Mas você disse: “Acerque-se dele”.

K: Sim, acerque-se dele.

PJ: O que implica a cercania?

K: Antes de tudo, é completamente inútil escapar do medo. Poderá escapar mediante a adoração, a pregação, mediante toda forma de entretenimento — o assim chamado religioso e outras formas —, mas, quando se findam todos os entretenimentos, todas as pregações, etc., você estará exatamente onde estava. O medo seguirá aí. Basicamente, não terá sido resolvido. De nada serve, pois, escapar do medo. Esse é o primeiro fato.

PJ: Senhor, se se escapa do medo, tem que ver como está escapando.

K: É claro, se deve dar-se conta de como está se escapando.

PJ: Para ver como está escapando, você deve observá-lo.

K: Sim, primeiro deve observar o medo.

PJ: Então, como se observa o medo, e de onde se o observa?

K: Esse medo está separado de você — algo lá fora, sem relação alguma com você — ou você é esse medo? Veja, Pupul, o medo não é diferente de você, você é o medo.

PJ: Senhor, o medo se encontra fora de nós; é, para nós, algo interno.

K: Esse realmente é o problema: quer dizer, sempre tratamos nossas reações como se fossem diferentes de nós, os observadores.

PJ: Senhor, se é que posso expressá-lo assim, você o está levando tão longe que perdi o contato com você.

K: Muito bem: vamos devagar, passo a passo.

PJ: Sim, senhor.

K: Investiguemos. Por exemplo, tenho medo.

PJ: Sim, há medo de todos os tipos...

K: Não, Pupul, se vê que os objetos do medo podem variar, mas o medo é...

PJ: O medo é um movimento tremendo de contração dentro de nós. Bem, agora, você disse: “Observe isso, olhe-o”, mas eu não posso olhar quando me encontro em estado de medo.

K: Oh, sim, você pode. Quando o medo surge, olhe-o, compreenda-o, descubra, investigue qual é a causa.

PJ: Quando o medo se abate sobre nós, podemos, por acaso, investigar?

K: Oh, sim. Isso requer atenção, certo estado de percepção alerta. Observe, eu me dou conta do entorno;  me dou conta do tamanho desta habitação.

PJ: Sim.

K: Poderei dizer que é feia e desproporcional, ou isto ou aquilo, mas me dou conta dela.

PJ: Sim.

K: De maneira similar, posso dar-me conta do meu medo. Poderia morrer, e isso me dá medo. Tenho medo de perder um emprego. Tenho medo de algo que ocorreu hoje ou no passado. Tenho medo de que algo vá ocorrer no futuro.

PJ: Quando você diz que posso dar-me conta do medo, posso dar-me conta dele como um enunciado.

K: Não, não, não. Pupul, isso é...

PJ: Sim, senhor; também posso dar-me conta dele como um estado de ser que tem lugar dentro de mim.

K: Forma parte de mim!

PJ: Quando você diz que o medo forma parte de mim, não compreendo isso. Mas posso chegar a perceber as insinuações do medo que surgem em meu interior. Portanto, tenho uma percepção do exterior e das insinuações internas do medo. Então, como se prossegue a partir dali?

Senhor, estivemos falando sobre o “dar-se conta, sobre o “acercar-se” do medo. Pode-se acercar-se do medo e dar-se conta do interno — do interno onde o medo se manifesta? Se assim é, surge a interrogação de quem é a pessoa que observa o medo, etc.

K: Sim. Pupul, suponha que tenha uma dor de cabeça; essa dor de cabaça forma parte de você.

PJ: Sim.

K: Se está com raiva, isso forma parte de você; se está com inveja, a inveja forma parte de você.

PJ: Concordo.

K: Se tem medo, esse medo forma parte de você; você não está separada do medo.

PJ: Não é assim, senhor; quando tenho uma dor de cabeça, posso observar-me a mim mesma com uma dor de cabeça, mas quando há medo — quando tenho medo — não posso observar-me a mim mesma num estado de medo.

K: Olhe, dou-me conta de que tenho uma dor de cabeça; dou-me conta de que tenho fome.

PJ: Sim.

K: Também me dou conta de que sou ganancioso. Esse dar-me conta me indica que a ganância forma parte de mim; indica que não é algo que está fora de mim mesmo.

PJ: Não, não está.

K: Portanto, o medo sou eu.

PJ: Correto.

K: Então perguntamos: É possível observar esse medo?

PJ: Sim, essa é realmente a pergunta.

K: Sim, é a verdadeira pergunta.

PJ: É possível observar esse medo?

K: Sim.

PJ: Senhor, quando você disse “observar” o medo, quer dizer vê-lo realmente?

K: Ao fim e ao cabo, você conhece todos os sintomas do medo.

PJ: Sim, conheço os sintomas do medo...

K: Espere; conhece todos os sintomas e, talvez, também conheça sua causa.

PJ: Sim.

K: Também conhece, quem sabe, a reação à causa, e o nomear dessa reação como “medo”, o qual forma parte de você.

PJ: Sim.

K: Mas desafortunadamente, por causa da tradição, da educação e demais, você diz: “O medo não sou eu. Eu sou o observador; o medo é algo diferente de mim”.

PJ: Toda nossa educação tem consistido em tratar com algo.

K: Correto.

PJ: Nós tentamos tratar com os problemas. Assim tratamos com o medo.

K: Sim, você trata com o medo como se fosse um problema externo a você mesma.

PJ: Não, senhor, inclusive em relação com um problema dentro de mim mesma... Veja, eu trato com ele, o qual implica que há uma divisão, que me vejo a mim mesma separada desse problema.

K: É assim; educaram-nos desse modo. Nossa tradição, todo nosso pensar habitual é: eu posso “atuar” sobre o medo, o qual implica que você separa a si mesma do medo.

PJ: Sim, a tradição, a educação, me faz pensar que estou separado do medo.

K: Mas nós acabamos de reconhecer que somos o medo. Eu sou o medo.

PJ: Não senhor, o medo é uma manifestação de um dos aspectos do “eu”.

K: Do “eu”, sim. Medo, violência, angústia, solidão, desespero, depressão, insegurança, todas as múltiplas crenças, as incredulidades... tudo isso forma parte de mim.

PJ: Sim, e você disse: “Observe isso”.

K: Observe-o, sem a memória dos medos passados. Observe-o como se fosse pela primeira vez. Essa é a dificuldade.

PJ: Senhor, observar como se fosse pela primeira vez... isso não é possível! Não é possível, porque minha observação contém em si todas as recordações de todas as observações, de todas as experiências que tive antes.

K: Isso é certo.

PJ: Você vê isso, senhor, é com essas recordações que observo.

K: É isso o que estou dizendo: essas recordações do passado são o observador. E você observa o medo como se fosse algo separado de você. Dizemos que o medo, a cobiça, a inveja, a crença, a solidão, a dor, tudo isso, sou eu. Não estou separado de tudo isso. Isso constitui o que sou.

PJ: Sim. Mas isso permanece em nível de um conceito.

K: Essa é a dificuldade. Veja, além do mais, fomos educados não para um puro e simples observar, senão para converter o que observamos numa ideia, uma abstração; e com essa abstração olhamos o fato.

PJ: Então, você quer me dizer “como” olhar?

K: Como você olha uma árvore, que é a coisa mais espantosa que há sobe a Terra? Como observa uma árvore?

PJ: Bem, minha vista cai sobre a árvore...

K: Sim.

PJ: E, ou bem faz caso omisso, ou se detém na árvore.

K: E, — a árvore — não faz caso omisso de nós; nós fazemos caso omisso dela.

PJ: Sim, meus olhos passam sobre ela, se estou interessada, meus olhos se detém na árvore e começo a inquirir em seus diversos...

K: Você a olha. Primeiro, a olha casualmente, e a nomeia “árvore”; depois diz que pertence a certa espécie, a certa categoria, etc. Mas veja, Pupul, com o nomear mesmo já deixou de olhá-la.

PJ: Portanto, você disse...

K: Digo que a palavra interfere com a observação.

PJ: Como se observa sem que a palavra interfira com a observação?

K: Para isso, temos de investigar quão amarrados estamos nas palavras; temos que investigar como nossas mentes, nossos cérebros, funcionam a base de palavras.

PJ: Sim posso pergunta, a mente é o campo sobre o que tem lugar a observação?

K: Tudo depende do que você entenda por “observação”. A observação pode ser muito superficial. Se é uma observação verdadeiramente significativa, uma observação que tem profundidade, está livre da palavra.  

PJ: Senhor, mas em primeiro lugar deixe-me começar com a palavra, porque...

K: Desde já.

PJ: O que há de ser observado é o campo da mente.

K: Estamos falando acerca do medo.

PJ: Tal como este se move no campo da mente.

K: Não, o medo forma parte da mente.

PJ: Então, a observação é...

K: É a observação da mente, e esta tem todas as características, todas as outras qualidades...

PJ: Sim. Portanto, quando desaparece o medo, surge a ira ou surge o desejo...

K: E assim sucessivamente. Como dissemos, todas essas qualidades estão relacionadas entre si.

PJ: Se relacionam entre si, mas o ato de observar...

K: O ato de observar não se relaciona com elas.

PJ: Portanto, a observação do campo da mente...

K: Não, se me permite assinalá-lo, eu não usaria a palavra “campo”; trata-se de observar a natureza da mente, e a natureza desta mente é o medo e demais.

PJ: Eu nem seque a categorizaria.

K: Isso é melhor.

PJ: Portanto, há uma observação da mente.

K: A observação das atividades da mente.

PJ: Sim, há uma observação das atividades da mente. E eu tenho encontrado que, nessa observação, o ritmo da mente diminui.

K: É natural que assim ocorra.

PJ: Bem, agora, quando surge o desejo e é observado, também há um findar deste; mas surgem outras coisas.

K: Sim, uma coisa atrás outra.

PJ: Então, deve-se retroceder até o desejo que acaba de terminar, ou há que se observar a coisa seguinte que tenha aparecido?

K: Vamos devagar. Suponhamos que estou observando o desejo, correto? Mas, enquanto o observo, minha mentem meu cérebro, não está totalmente atento ao desejo; vai atrás de outro pensamento que surge. Os pensamentos surgem continuamente.

PJ: Sim.

K: Agora, quero compreender o medo.

PJ: Concordo.

K: Surgem todas as reações na relação com o medo: repressão, análise, fuga.

PJ: Sim.

K: Bem, agora, é muito difícil estar completamente atento a um fator do medo e não afastar-se dele.

PJ: Sim.

K: Isso significa que o observador — sendo o observador o passado — está ausente na observação.

PJ: Sim, senhor, mas quisera deter-me aqui um instante, porque nisto é onde surge a dificuldade. Eu desperto para o medo que aparece em minha mente, mas durante que eu olho para ele, o medo mudou sua natureza e surge um novo pensamento. Minha pergunta é: Deveria a percepção regressar ao que foi — neste exemplo, o medo — ou deve permanecer com o que tenha surgido?

K: Permaneça com o que tenha surgido.

PJ: Portanto, a atenção — não usarei aqui a palavra “mente” — se move todo o tempo de uma coisa a outra.

K: Sim, se move de uma coisa a outra, e estas se acham todas relacionadas entre si.

PJ:  Se move de uma coisa a outra porque a percepção é como uma luz...

K: Sim, sim.

PJ: ... e qualquer coisa que aparece, você a observa. A dificuldade, senhor, reside em que, visto que o “medo” é o objeto que há de ser investigado, se surgem algumas outras coisas, sentimos que devemos regressar ao estado do medo.

K: Veja, uma de nossas dificuldades é que queremos uma resposta rápida. “Tenho medo; assim que, por favor, diga-me como posso libertar-me dele rapidamente”. Isso é tudo. Somos muito impacientes. Onde a impaciência interfere, está o tempo. Onde há paciência, não tem lugar o tempo.

Bem, agora, eu quero compreender a natureza do medo. Quando ao observar o medo surge outro pensamento, persigo o outro pensamento, não o medo.

PJ: Sim.

K: Persigo o outro pensamento; investigo o que lhe deu origem, etc. Se modo que persigo cada pensamento a medida que surge.

PJ: Sim.

K: Mas finalmente regresso a este ponto, este ponto do medo.

PJ: Porque todas as manifestações que surgem estão relacionadas.

K: Portanto, você está de regresso.

PJ: Sim, mas não regressa deliberadamente.

K: Não, é claro que não.

PJ: Mas como surgem estas manifestações — manifestações de diferentes coisas —, brotam da mente...

K: Sim, a medida que se as persegue, que as observa...

PJ: ... há um findar.

K: Sim, correto; se aquietam, se serenizam. É o fluxo e o refluxo de uma maré.

PJ: Este é, então, todo o campo da observação.

K: Sim. A questão é observar sem nenhuma resistência. Os pensamentos que surgem, uma atrás do outro, são uma forma de resistência ao medo.

PJ: Sim.

K: Você pode observar sem resistência? E quando se é observado, quando são examinados os diversos pensamentos a medida que aparecem, estes se dissipam, e então se está de volta; por conseguinte, não há resistência, nem evasão, nem fuga com relação ao fato do medo.

PJ: Bem, prosseguirei com outro tema, um tema que se acha estreitamente relacionado com o anterior; é o do “reconhecer”, “nomear”. Senhor, o que se interpõe na observação é o ato de reconhecer e nomear imediatamente “o que é” ou o que surge.

K: Sim, esse é o verdadeiro problema. Fique um momento aí, por favor. Esse é o verdadeiro problema. O processo de reconhecimento é a recordação dos anteriores incidentes de medo que foram registrados no cérebro.

PJ: Sim.

K: Quer dizer, quando surge uma nova reação — uma reação que, neste caso, temos denominado “medo” —, o cérebro imediatamente diz: “Sim, já tive este sentimento antes”. Há um imediato reconhecimento do processo.

Bem, agora, a questão é ver, observar muito atentamente o fato ao qual nos enfrentamos — o fato que somos nós mesmos —, observá-lo sem nenhuma recordação dos incidentes do passado. Ou seja, quando a recordação dos incidentes de medos anteriores ficam em suspenso, você observa o medo como se o estivesse vendo pela primeira vez.

PJ: Ao suspender-se o passado nessa observação, há uma extinção do medo?

K: Sim. Estamos dizendo que, quando ocorre a observação sem observador — porque o observador é o resultado de um milhão de recordações; de fato, é o conglomerado do passado —, quando há uma observação pura, essa observação extingue verdadeira, intensa, profundamente, o fogo do medo.

PJ: Senhor, você fala desta coisa imensa que é o observar sem o observador, como se fosse um assunto muito simples.

K: Sim, soa muito simples.

PJ: Na realidade, não é.

K: É claro que não.

PJ: Porque no ato mesmo da observação, o passado é como uma torrente que se abate sobre nós.

K: É devido a que nos acostumamos a ele; é nossa tradição, é a forma como nos educam.

PJ: Senhor, você falou de “abordar” o medo; pergunto-me, pois, se há um modo de abordá-lo...

K: Disso se trata, justamente. Existe um modo de abordar o medo. Veja, o importante não é o medo senão como abordá-lo.

PJ: Ou seja, observando sem o observador.

K: Espere, espere; não tenho chego a isso todavia. Vamos devagar. Como abordo um problema? Geralmente, desejo resolvê-lo. Como me perturba, quero desfazer-me dele. Quero escapar dele, reprimi-lo mediante diversas formas de atividades. Veja, minha maneira de abordar um problema jamais está livre de algum tipo de desejo, opinião, etc. Se há liberdade com relação a tudo isso, não há problema. O problema existe por causa de minha confusão.

PJ: Em consequência, parece haver tão só um caminho, e é observar e escutar...

K: Observar e escutar a nós mesmos.

PJ: Os sons de nosso próprio ser.

K: Sim. Quer dizer, reconhecer que se é o passado, o presente e o futuro; reconhecer que se é o fazedor do tempo e que se é um escravo do tempo — sendo o tempo, o passado. É ver a grande complexidade de tudo isso e permanecer com essa complexidade sem tratar de evitá-la, de escapar dela ou de atuar sobre ela. Só permanecer com o fato, o fato de que se é um escravo do tempo.

O tempo é uma parte do medo. Veja, eu tenho medo do futuro, tenho medo do passado; não tenho medo do presente. Amedronta-me algo que poderia ocorrer no futuro ou algo que tenha ocorrido no passado. No mesmo segundo que é o presente, não há medo em absoluto.

PJ: Este é, então, um ato — se posso usar esta expressão de pegar a mente antes que esta acabe pega no amanhã ou no ontem.

K: Não, não “pegar”, porque então você teria o problema do pegador e do pegado.

O importante é compreender este fato real, profundo, de que se é, em essência, o fazedor do tempo. Se é o futuro; o futuro não se acha separado de si.

Nós estamos muito habituados ao tempo. A evolução é tempo. O progresso é tempo. Aprender um idioma leva tempo. O tempo se tornou, pois, extraordinariamente importante. Mas deixamos de ver que o tempo é também medo, e que para captar a natureza do medo, tem que se observá-lo muito atentamente, sem impaciência, sem desejo algum de escapar dele, etc. Temos que viver com o medo, e o fato de viver com ele transforma seu caráter.

PJ: Agradeço-lhe muitíssimo, senhor.

Madras
7 de janeiro de 1982
Fogo na Mente
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sexta-feira, 16 de março de 2018

A raiz do medo


A RAIZ DO MEDO

Pupul Jayakar (PJ): Você tem dito, Krishnaji, que a inteligência é a máxima segurança quando enfrentamos ao medo. O problema é o seguinte: numa crise, quando o medo que brota do inconsciente nos inunda, onde há lugar para a inteligência? A inteligência exige negar aquilo que assim se apresenta. Nos exige escutar, ver e observar. Mas quando a totalidade do ser é inundada por um medo incontrolável, medo que tem uma causa mas cuja causa não podemos discernir imediatamente, nesse estado, onde há lugar para a inteligência? Como se encara os medos primitivos, arquetípicos, que se acham na base mesma da psique humana? Um destes medos é o medo da destruição de si mesmo, o medo de não ser.

Jiddu Krishnamurti (K): O que estamos explorando juntos?

PJ: Como tratar o medo? Você não tem respondido isso. Tem falado da inteligência dizendo que é a máxima segurança. Assim é; mas quando o medo nos inunda, onde está a inteligência?

K: Você está dizendo que, no instante de uma grande onda de medo, a inteligência se acha ausente. E pergunta: Como se pode lidar com essa onda de medo nesse instante? Essa é a pergunta?

Sunanda Patwardhan (SP): Vê-se o medo como se fossem os ramos de uma árvore. Mas nós tratamos com estes medos um por um, e assim não nos libertamos do medo. Existe uma qualidade que vê a totalidade do medo sem os ramos?

K: K perguntou: Vemos as folhas, os ramos, ou chegamos na raiz mesma do medo?

SP: Podemos chegar até a raiz a partir de cada ramo particular do medo?

K: Averiguemos.

PJ: Através de um só medo, pode-se chegar a ver a totalidade do medo.

K: Compreendo. Você diz que há temores conscientes e inconscientes, e que os temores inconscientes se tornam extraordinariamente intensos por momentos, e que nesses momentos a inteligência não atua. E pergunta como se pode, então, lidar com essas ondas de medo incontrolável. Não é essa a pergunta?

PJ: Este medos parecem adotar uma forma material; é algo físico o que a si o oprime.

K: Sim, nos transtorna neurologicamente, biologicamente... Exploremos. O medo existe, conscientemente ou nas profundezas, quando há uma sensação de solidão, um sentimento de que os demais nos abandonaram completamente, uma sensação de total isolamento, de não ser, de absoluto desamparo. E nestes momentos, quando surge um medo profundo, ingovernável, um medo que não temos evitado, é óbvio que a inteligência se acha ausente.

PJ: Pode-se sentir que se tenha enfrentado aos temores conhecidos, mas que se está atolado no inconsciente.

K: E então, nesse florescer mesmo há inteligência. Mas, como você lida com o outro? Por que o “inconsciente” — usaremos pelo momento esta palavra “inconsciente” — dá abrigo a estes medos? Ou é que o inconsciente os convida? Acaso os contêm, existem em suas profundidades tradicionais, ou é algo que o inconsciente recolhe do entorno? E, por que o inconsciente abriga medos, qualquer forma de medo? Forma parte intrínseca do inconsciente, a história racial, tradicional do homem? Encontra-se nos genes herdados? Como você encara este problema?

PJ: Podemos discutir o segundo, ou seja, que o medo é pego do entorno?

K: Antes de tudo, ocupemo-nos do primeiro. Por que o inconsciente abriga medos? Por que consideramos que as capas mais profundas da consciência são o depósito, o resíduo do medo? Isso está imposto pela cultura em que vivemos, pela mente consciente que, sendo incapaz de enfrentar-se ao medo, o tenha jogado para baixo, de modo tal que este medo permanece no nível do inconsciente? Ou é que a mente, com todo o seu conteúdo, não tem resolvido seus problemas e teme ser incapaz de resolvê-los? Quero averiguar qual é o significado do inconsciente. Quando você disse que chegam estas ondas de medo, eu lhe respondi que estão sempre ali, mas que, numa crise, se toma consciência delas.

SP: Existem na consciência. Por que você disse que estão no inconsciente?

K: Em primeiro lugar, a consciência está composta de seu conteúdo. Sem seu conteúdo, não existe a consciência. Um de seus conteúdos é este medo básico, e a mente consciente jamais o aborda; está aí, mas ela nunca diz: “Tenho que afrontá-lo”. Em momentos de crise, essa parte da consciência se acha desperta e está amedrontada. Mas o medo segue sempre aí.

PJ: O medo sempre está aí. Forma parte da herança cultural do homem?

K: O medo está sempre aí. Forma parte de nossa herança cultural? Ou é possível que se possa nascer num país, numa cultura que não admita o medo?

PJ: Não existe uma cultura semelhante.

K: Claro que não existe tal cultura. E então me pergunto: O medo, forma parte da cultura ou é inerente ao homem? O medo, tal como existe no animal, em toda a criatura vivente, é uma sensação de não ser; é a sensação de ver-se destruído.

PJ: O instinto de conservação adota a forma do medo.

K: É que a estrutura total das células tem medo de não ser? Esse medo existe em todo criatura vivente. Mesmo a minúscula formiga tem medo de não ser. Vemos que o medo está aí, vemos que forma parte da existência humana; e se se torna tremendamente consciente dele numa crise. Como se enfrenta a isso nesse momento, quando chega a onda do medo? Por que esperamos a crise? Só pergunto.

PJ: Não se pode evitá-lo.

K: Espere um momento. Dissemos que o medo está sempre aí, que forma parte de nossa estrutura biológica e psicológica. Toda a estrutura humana, a totalidade de nosso ser, sente medo. Este forma parte da mais diminuta criatura vivente, da mais insignificante das células. Por que esperamos que venha uma crise e o revele? Essa é uma aceitação extremamente irracional do medo.

Pergunto: Por que deveria ter uma crise para enfrentar-me ao medo?

PJ: De outro modo, este não existe. Veja, senhor, posso lidar inteligentemente com certos medos. Por exemplo, é possível afrontar com inteligência o medo da morte. É igualmente possível enfrentar-se inteligentemente a outros medos?

K: Você disse que pode afrontar com inteligência estes medos, mas eu o ponho em dúvida. Ponho em dúvida que se enfrente, ainda a certos medos — tal como você o expressa — inteligentemente. Ponho em dúvida que se possa ter alguma inteligência antes de haver resolvido o medo. A Inteligência é luz, e não se pode lidar com a escuridão quando não há luz. A luz existe unicamente quando não há escuridão. Eu questiono que você possa afrontar o medo inteligentemente quando o medo existe. Digo que não pode. Pode racionalizá-lo, pode ver sua natureza, pode evitá-lo ou transcendê-lo, mas isso não é inteligência.

PJ: Eu diria que a inteligência radica em uma lúcida percepção do medo quando este surge, em deixá-lo tranquilo, em não tratar de modificá-lo, em não voltar-lhe as costas, o qual leva a dissolução do medo. Mas você disse que onde está a inteligência, o medo não surge.

Nandini Mehta (NM): Não surgirá?

K: Nós não o permitimos que surja.

NM: Eu penso que o medo surge, mas nós não deixamos que floresça.

K: Veja, eu questiono completamente toda a resposta a uma crise. O medo está aí; por que necessitamos uma crise para despertá-lo? Você diz que ocorre uma crise e o medo desperta. Uma palavra, um gesto, um olhar, um movimento, um pensamento, são desafios que, segundo você, acarretam medo. Eu pergunto: Por que esperamos que haja uma crise? Estamos investigando. Você sabe o que significa “investigar”? Significa “seguir a pista”. Por conseguinte, estamos seguindo a pista. Não dizemos isto, aquilo ou o outro. Seguimos a pista disto, e eu pergunto: Por que espero uma crise? Um gesto, um pensamento, uma palavra, um olhar, um murmúrio... qualquer coisa destas é um desafio.

NM: Eu não busco a crise. Do único que me dou conta é de que o medo surge e caio paralisada.

K: Cai paralisada, por quê? Isso indica que, para você, é necessário um desafio. Por que não entra em contato com o medo antes do desafio? Disse que uma crise desperta o medo. Uma crise inclui um pensamento, um gesto, uma palavra, um murmúrio, um olhar, uma carta... É um desafio que faz que se desperte o medo? Eu me pergunto: Por que não deveria se estar desperto ao medo sem que haja um desafio? Se o medo está aí, deve achar-se desperto; ou está dormindo? E se está dormindo, por que o está? A mente consciente teme que o medo possa despertar? O adormeci ao negar observá-lo?

Vamos devagar, estamos seguindo o rastro de um cometa espacial. Por acaso a mente consciente tem temido observar o medo e, portanto, o tem mantido quieto? Ou o medo está aí, desperto, mas a mente consciente não quer deixá-lo florescer? Você admite que o medo forma parte da vida humana, da existência?

PJ: Senhor, o medo não tem uma existência aparte, independente da experiência exterior e de seus estímulos.

K: Espere, eu questiono isso, não o aceito. Você disse que sem os estímulos externos, o medo não existe. Se isso é certo para você, deve sê-lo para mim, porque sou um ser humano.

PJ: Incluo tanto os estímulos externos como os internos.

K: Eu não divido o externo do interno; é tudo um só movimento.

PJ: O medo não tem uma existência aparte dos estímulos.

K: Você se afasta do tema, Pupul.

PJ: Você pergunta: Por que não olhar o medo, por que não enfrentar a ele?

K: Eu me pergunto: Devo esperar uma crise para que este medo se desperte? Isso é tudo o quanto pergunto. Se o medo está aí, quem o fez adormecer? Isso ocorre porque a mente consciente não pode resolvê-lo? A mente consciente se preocupa por resolver o medo e, ao não ser capaz de fazê-lo, o adormece, o sufoca, E, quando ocorre uma crise, a mente consciente se vê sacudida e o medo aparece. De modo que me pergunto: Por que deve a mente consciente reprimir o medo?

SP: Senhor, o instrumento da mente consciente é a análise, a capacidade de reconhecer. Com isto ela não pode enfrentar-se adequadamente com o medo.

K: Não, não pode. Mas o que se requer é a verdadeira sensibilidade, não análise. A mente consciente não pode lidar com o medo; portanto, diz: “Quero afastá-lo, não posso olhá-lo”. Veja o que você faz. Espera que venha uma crise para que o medo se desperte, e a mente consciente está todo o tempo evitando a crise. A evita raciocinando, racionalizando. Somos mestres nesse jogo. Digo-me, pois, que se o medo está aí, se acha desperto. Você não pode adormecer algo que forma parte de nossa herança. A mente consciente só supõe que tenha adormecido ao medo. E se vê sacudida quando ocorre uma crise. Em consequência, aborda o medo de uma maneira diferente. Esse é o meu levantamento. Isso é correto? O medo básico é o medo da não existência, uma sensação de completo temor, de incerteza; medo de não ser, de morrer. Por que a mente não traz à luz esse medo e se move com ele? Por que deve esperar por uma crise? É por que são preguiçosos e, por isso, não possuem a energia necessária para chegar até a raiz do medo? É irracional o que estou dizendo?

PJ: Não é irracional. Estou tratando de ver se é válido.

K: Dissemos que toda criatura vivente tem medo de não ser, de não sobreviver. O medo forma parte de nossas células sanguíneas. Todo nosso ser experimenta o medo à não existência, ao medo de morrer, de ser destruído. Assim, pois, o medo ao não ser forma parte tanto de nossa estrutura psicológica como da biológica, e me pergunto por que é necessária uma crise, por que deve adquirir importância o desafio. Eu me oponho ao desafio. Quero estar à frente do desafio, não atrás.

PJ: Não se pode participar do que você está dizendo.

K: Por que não pode? Vou mostrar-lhe. Sei que vou morrer, mas tenho intelectualizado, racionalizado a morte. Portanto, quando digo que minha mente está muito mais adiante que a morte, não o está. Só o está com o pensamento, e isso não é estar muito mais adiante.

PJ: Tratemos de captar a realidade disto. Se se enfrenta a morte e sente que está um passo adiante dela; mas se se move e, subitamente, se dá conta de que não se adiantou à morte.

K: Entendo isso. Tudo é resultado de um desafio, seja que tenha tido lugar ontem ou a um ano atrás.

PJ: Então, a pergunta é, Com que instrumento, com que energia, de que dimensão se vê? E, o que é o que se vê?

K: Quero ser claro. O medo forma parte de nossa estrutura, de nossa herança. Biologicamente, psicologicamente, as células cerebrais têm medo de não ser. E o pensamento diz: “Não vou olhar esta coisa”. E quando aparece o desafio, o pensamento não pode terminar com ele.

PJ: O que significa para você: “O pensamento disse: ‘Não quero olhar o medo?’”?

NM: Senhor, quer olhar-se a si mesmo.

K: O pensamento não pode observar sua própria terminação. Só pode racionalizar a respeito. Eu lhe pergunto: Por que a mente espera um desafio? É necessário? Se você disse que é necessário, então o está esperando.

PJ: Eu digo que não o sei. Só sei que se apresenta um desafio e surge o medo.

K: Não, um desafio desperta o medo. Atenhamo-nos a isso. E eu lhe pergunto: Por que esperar por um desafio para que o medo se desperte?

PJ: Sua pergunta é um paradoxo. Você diria que não espera um desafio que o evoca?

K: Não me oponho completamente ao desafio. Você não entendeu meu levantamento. Minha mente não aceitará um desafio em nenhum momento. Dizer que estou dormindo e que é necessário um desafio para despertar-me, é uma afirmação errônea.

PJ: Não, senhor, isso não é o que eu digo.

K: Em consequência, o medo está desperto. O que é que dorme, então? A mente consciente? Ou o que está adormecida é a mente inconsciente? E, há certas partes da mente que estão despertas?

PJ: Quando estou desperta, estou desperta.

NM: Você convida o medo?

K: Se você está desperto, nenhum desafio é necessário. De modo que se recusa o desafio. Sim, como dissemos, faz parte de nossa vida que devamos morrer, então, se está desperto todo tempo.

PJ: Não todo o tempo. Não se está consciente do medo todo o tempo. Este se encontra aí todo o tempo debaixo do tapete, mas não se o observa.

K: Eu digo: Levante o tape e observe. Está aí. Isso é o que levanto. Está aí e se acha desperto. De modo que não é necessário um desafio que o desperte. Todo o tempo tenho medo de não ser, de morrer, de não triunfar. Esse é o medo básico de nossa vida; está aí, em nosso sangue, sempre vigilante, montando guarda, protegendo-se. Mas está totalmente desperto. Jamais dorme, nem sequer por um momento. Assim que ao se necessita de um desafio. O que você faz com respeito ao medo e o modo como o aborda, isso vem depois.

PJ: Esse é o fato.

Achyut Patwardhan (AP): Ao ver tudo isto, você não aceita o fator da desatenção?

K: Disse que o medo está desperto, não estou falando de atenção.

AP: O medo está ativo, opera.

K: É como uma serpente na residência, está sempre aí. À mente consciente lhe preocupa o modo de lidar com o medo, e como não pode fazê-lo, se afasta. A mente consciente recebe, então, um desafio e trata de enfrentar-se a ele. Pode enfrentar-se a uma criatura vivente? Isso não necessita de um desafio. Mas, devido a que a mente consciente cegou-se contra o medo, o desafio se torna necessário. Correto, Pupul?

NM: Quando se pensa no medo isso é tão só um pensamento; essa sombra segue estando na mente.

K: Siga-lhe o rastro, não salte para conclusões. Você tem saltado para conclusões. Minha mente recusa o desafio. A mente consciente não permitirá que a despertem os desafios. Está desperta. Mas você admite o desafio. Eu não o admito. Não se encontra dentro de minha experiência. O próximo passo é: Quando a mente consciente se acha desperta ao medo, não pode evitar algo que está ali. Vejamos passo a passo, não pulemos para conclusões a cada segundo. De modo que a mente consciente sabe que o medo está aí, plenamente desperto. Então, o que é o próximo que faremos?

PJ: É aí onde radica nossa insuficiência.

NM: Eu estou desperta.

K: Você confunde toda a questão. É a mente consciente quem teme a isto. Quando se acha desperta, não está amedrontada. Em si mesma, não está amedrontada. A formiga não está amedrontada. Se a esmagam, a esmagam. É a mente consciente que diz: “Tenho medo disto — de não ser”. Mas quando topo com um acidente, quando se explode um avião, não há medo. No instante da morte, digo: “Sim, agora sei o que significa morrer”. Mas a mente consciente, com seus pensamentos, diz: “Meu Deus, vou morrer, não quero morrer, não devo morrer, me protegerei”; essa é a coisa que tem medo. Nunca obervaram uma formiga? Jamais está assustada; se alguém a mata, morre. Agora você vê algo.

NM: Senhor, já viu alguma vez uma formiga? Se se põe um pedaço de papel na frente da formiga, esta se esquiva.

K: Quer sobreviver, mas não está “pensando” a respeito da sobrevivência. Assim que voltamos a isso. O pensamento cria o medo; só o pensamento diz: “Morrerei, estou só, não me realizei”. Veja-o: isso é a eternidade atemporal, é a verdadeira eternidade. Veja o quão extraordinário é. Por que devo estar amedrontado, se o medo é uma parte de meu ser? Só quando o pensamento diz que a vida deve ser diferente, há medo. Pode a mente permanecer completamente imóvel? Pode ser completamente estável? Então surge essa coisa. Quando essa coisa está desperta, qual é, então, a raiz central do medo?

PJ: Senhor, isso alguma vez lhe ocorreu?

K: Várias vezes, muitas vezes, quando a mente está completamente estável e não retrocede diante nada, quando não aceita nem recusa, quando não racionaliza, nem foge, quando não há movimento de nenhum tipo. Chegamos até a raiz disso, verdade?

Nova Delhi
13 de novembro de 1972

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill