DENISE DESJARDINS
Sétimo dia
Respiro profundamente com todo o meu fôlego. Meu diafragma se abre, se dilata cada vez mais. Aum ao expirar, tat ao inspirar completamente,1 em seguida um tempo de intervalo. Respirando assim, parece-me, com o aum, criar a manifestação, que com o tat retorna a mim e torna-se novamente o não-manifesto, o vazio. Depois é uma passagem de um vazio a um outro vazio, e eu mergulho no interior desse centro, um pouco à direita do peito. E um abismo não delimitado, a tranqüilidade do fundo dos mares, uma noite que nada vem interromper, sem começo e sem fim.
Não há palavras para descrever esta grandeza sem medida, onde não existe mais nem tu nem eu, mas uma ampla plenitude, em mim, que não é mais eu, que não está nem no exterior nem no interior.
Esta respiração continua. Com o aum, sinto-me devolver toda dificuldade, todo pensamento, como a maré que quando se retira varre tudo o que está sobre a praia, conduzindo o mais ao longe. Assim me abandonam meu desespero, Iryamani, meu filho, minha mãe e meu pai.
Tudo se desvanece e se apaga como fantasmas irreais, inúteis e incômodos, sombras sem consistência levadas pelo aum de minha respiração.
Somente permanece este maravilhoso vazio tecido de plenitude. Meu corpo também está fluido, leve, aéreo; apenas fumaça sem densidade, uma sombra que se desloca como uma nuvem no ar. Ele pode-se movimentar sem movimento, em todos os sentidos, levantar-se sem esforço, sem dificuldade. Eu o percebo fora de mim, dentro desta perspectiva informal. Ele é inconsistente, desencarnado. Em que ele me concerne? Ele não tem nada de mim, de eu. Aboliu-se a distinção entre o que está em mim e fora de mim.
Apenas uma ampla vacuidade onde se desloca um fantasma de corpo evanescente, irreal, que se apaga e desaparece.
O Nada que contém todas as coisas.
O Vazio que é plenitude.
Somente É.
Denise Desjardins, De Naissance em naissance - Témoignage sur une vie antérieure, La Table Ronde, Paris, 1977.
______________
1. É o inverso da Respiração que Shariputra realizava habitualmente.
Sétimo dia
Respiro profundamente com todo o meu fôlego. Meu diafragma se abre, se dilata cada vez mais. Aum ao expirar, tat ao inspirar completamente,1 em seguida um tempo de intervalo. Respirando assim, parece-me, com o aum, criar a manifestação, que com o tat retorna a mim e torna-se novamente o não-manifesto, o vazio. Depois é uma passagem de um vazio a um outro vazio, e eu mergulho no interior desse centro, um pouco à direita do peito. E um abismo não delimitado, a tranqüilidade do fundo dos mares, uma noite que nada vem interromper, sem começo e sem fim.
Não há palavras para descrever esta grandeza sem medida, onde não existe mais nem tu nem eu, mas uma ampla plenitude, em mim, que não é mais eu, que não está nem no exterior nem no interior.
Esta respiração continua. Com o aum, sinto-me devolver toda dificuldade, todo pensamento, como a maré que quando se retira varre tudo o que está sobre a praia, conduzindo o mais ao longe. Assim me abandonam meu desespero, Iryamani, meu filho, minha mãe e meu pai.
Tudo se desvanece e se apaga como fantasmas irreais, inúteis e incômodos, sombras sem consistência levadas pelo aum de minha respiração.
Somente permanece este maravilhoso vazio tecido de plenitude. Meu corpo também está fluido, leve, aéreo; apenas fumaça sem densidade, uma sombra que se desloca como uma nuvem no ar. Ele pode-se movimentar sem movimento, em todos os sentidos, levantar-se sem esforço, sem dificuldade. Eu o percebo fora de mim, dentro desta perspectiva informal. Ele é inconsistente, desencarnado. Em que ele me concerne? Ele não tem nada de mim, de eu. Aboliu-se a distinção entre o que está em mim e fora de mim.
Apenas uma ampla vacuidade onde se desloca um fantasma de corpo evanescente, irreal, que se apaga e desaparece.
O Nada que contém todas as coisas.
O Vazio que é plenitude.
Somente É.
Denise Desjardins, De Naissance em naissance - Témoignage sur une vie antérieure, La Table Ronde, Paris, 1977.
______________