Em outras palavras, para atingir os limites da consciência cósmica, é necessário reviver os grandes conflitos da vida, reagir a eles, mantê-los no campo da consciência. Não se trata portanto, como se poderia acreditar, de obter estados transitórios ou fugazes de "paz interior", o que seria uma espécie de fuga aos nossos conflitos deixando-os sem solução; isto redundaria consequentemente ou na impossibilidade de se chegar ao estado de consciência cósmica, ou em se chegar cedo demais a isso e de não poder mais voltar. Não se trata, também, de se fazer acreditar que exista uma vida sem conflito; sendo o conflito próprio da energia, é, por consequência, próprio do homem. Trata-se, em Psicanálise, de aprender a vê-lo, a tomar uma certa distãncia para administrá-lo. Uma vez que a paz interior é uma resultante deste poder administrativo do ego é este poder por sua vez o início da experiência cósmica. A Psicanálise constitui, assim, uma das vias iniciais da experiência transpessoal. Tanto no plano teórico quanto no prático, Pasicanálise e Psicoterapia Transpessoal não poderão nunca — ou pelo menos não deveriam — se separar. Sem o preparao psicanalitico, a experiência transpessoal corre o risco de não se dar; sem a experiência transpessoal, numerosas psicanálises correm o risco de se tornarem intermináveis.
Aspectos epistemológicos: Finalmente, no plano epsitemológico, trabalhos como o que acabo de apresentar, mostram-nos que é possível aceder a uma visão da realidade do vazio, da energia, do átomo, da célula e dos universos, sem o intermédio da ciência; existe, em nós mesmos, um poder de percepção direta desta realidade além do pensmento.
"Quando penso, não existo": O "Penso, logo existo" de Descartes se transforma em "Quando penso, não existo", ou ainda, "Para existir, tenho que parar de pensar". Isto não invalida, absolutamente, o pensamento científico; ao contrário, as linhas que acabamos de escrever, confirmam mais uma vez o que eu já afirmava no meu livro a Esfinge: É possível uma abordagem científica da experiência mística. Mas o que a experiência cósmica nos mostra é que a ciência não é a única via de acesso ao conhecimento. Ela coloca também em relevo a relatividade do conhecimento objetivo; não há nada de objetivo; tudo é subjetivo, mesmo a ciência, uma vez que é feita na escala de nossos cinco sentidos e, por conseguinte, de um nível muito limitado de consciência. A experiência cósmica consiste, justamente, no alargamento do campo da consciência.
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Morte e renascimento: Assim, a "noite", a morte do ego, as crises pelas quais passa a maioria dos grandes místicos são, na realidade, fases regressivas necessárias; é preciso que haja uma morte do ego para chegar a um renascimento numa outra dimensão, fora do tempo e do espaço; esta dimensão se encontra, acabamos de vê-lo, antes do nível energético.
Pierre Weil em, As Fronteiras da Regressão - Editora Vozes