Tudo parecia estranho, hostil, absolutamente sem sentido. Senti uma profunda aversão pelo mundo e, principalmente, por mim mesmo. Qual o sentido de continuar a viver, com o peso dessa angústia? Para que prosseguir com essa luta? Um profundo anseio de destruição, de deixar de existir, tinha tomado conta de mim, tornando-se até mais forte do que o desejo instintivo de viver.
"Não posso mais viver comigo", pensei. Então, de repente, tomei consciência de como aquele pensamento era peculiar. "Eu sou um ou sou dois?" Se eu não consigo mais viver comigo, deve haver dois de mim: o 'eu e o 'eu interior', com quem o 'eu' não consegue mais conviver. "Talvez", pensei, "só um dos dois seja real".
Fiquei tão atordoado com essa estranha dedução que a minha mente parou. Eu estava plenamente consciente, mas não tinha mais pensamentos. Fui arrastado para dentro do que parecia um vórtice de energia. No início o movimento foi lento, mas depois acelerou. Fui tomado por um pavor intenso e meu corpo começou a tremer. Ouvi as palavras "não resista", como se viessem de dentro do meu peito. Eu estava sendo sugado para dentro de um vácuo que parecia estar dentro de mim e não do lado de fora. De repente, perdi o medo e me deixei levar. Não me lembro nada do que aconteceu depois.
No dia seguinte, fui acordado por um pássaro cantando o jardim. Nunca tinha ouvido um som tão maravilhoso antes. Meu quarto estava iluminado pelos primeiros raios de sol da manhã. Sem em pensar em nada, eu senti — soube — que existem mais coisas para vir à luz do que percebemos. Aquela luminosidade suave que atravessa as cortinas da janela do meu quarto era o próprio amor. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu percebi que nunca tinha reparado na beleza das pequenas coisas, no milagre da vida. Era como se eu tivesse acabado de nascer de novo.
Durante os cinco meses, vivi em estado permanente de paz e alegria. Depois, essa sensação diminui de intensidade ou talvez tenha simplesmente me acostumado com ela, pois se tornou o meu estado natural. Embora eu continuasse vivendo normalmente, tinha percebido que nada que eu viesse a FAZER poderia mudar realmente minha vida. Eu já tinha tudo que precisava.
Eckhart Tolle — O Poder do Agora