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sábado, 7 de abril de 2018

O mecanismo do nacionalismo


O mecanismo do nacionalismo

PERGUNTA: Pode vir a paz mundial, sem um governo mundial para implantá-la ou mantê-la? E como realizar isso?

KRISHNAMURTI: A paz é exterior ou interior? Pode qualquer governo trazer-nos a paz, ainda que seja um governo mundial? Poderá estabelecer uma ordem exterior, sem constante ameaça de guerra, mas, mesmo isso, só é possível quando não há nacionalismo, quando não há fronteiras políticas ou religiosas. Deve-nos, pois, ficar bem esclarecido o que entendemos por paz.

É a paz uma coisa que deve ser criada pela autoridade de um governo, comunista, imperialista, capitalista, ou como quer que seja? A paz tem de ser implantada pela legislação? Pode-se ver que um governo mundial poderia estabelecer uma certa modalidade de paz. Poderia, talvez, abolir os governos soberanos, com suas forças armadas, e que constituem uma das causas da guerra. Mas não é este, por certo, o inteiro significado da paz. A paz vem da mente. E pode haver uma mente em paz, enquanto ela for ambiciosa, ávida, invejosa? Foi a mente ávida, invejosa, ambiciosa que criou esta sociedade belicosa em que vivemos, não é verdade? Nossa sociedade está baseada na aquisição, na inveja, na avidez, na impetuosa ambição de sermos alguma coisa. E, assim, dentro de nossa sociedade trava-se uma batalha, um conflito incessante.

A paz, pois, vem da mente e não pode ser criada pela mera legislação. A tirania poderá implantar uma ordem de certa espécie, numa sociedade confusa e contraditória, e a ordem pode também ser produzida pela ação do parlamento de um governo democrático. Mas enquanto houver o espírito de nacionalismo a criar governos soberanos, com suas forças armadas, enquanto houver fronteiras e divisões raciais, tem de haver guerras, inevitavelmente. Por conseguinte, o homem que deseja ser pacífico não pode pertencer a nação alguma, não pode pertencer a nenhuma religião porque, presentemente, religião é mero dogmatismo organizado.

Essa coisa que chamamos paz precisa ser compreendida interiormente, e não apenas instituída pela legislação ou pelo encontro de muitas opiniões. Se observardes, vereis com que devoção cultuamos o nacionalismo e erguemos bem alto a bandeira de uma dada nação. Identificamo-nos com o todo que chamamos a Índia porque, sendo pequenos, interiormente vazios e vivendo num lugarejo como Madanapale, o denominarmo-nos indianos confere-nos um certo orgulho, lisonjeia-nos a vaidade. E em defesa desse orgulho e dessa vaidade, estamos prontos a matar ou ser mortos. Este mui complexo problema psicológico, que se mantém vivo em todos os países, precisa ser bem compreendido por cada um de nós, e não apenas coibido pela legislação. E eis porque o homem verdadeiramente religioso é aquele que não pertence a nenhuma religião e a nenhum país.

PERGUNTA: Sois indiano, e Andhra, nascido aqui em Madanapale. Orgulhamo-nos de vós e de vossa benfazeja obra no mundo. Porque não passais mais — tempo em nossa terra natal, em vez de viverdes na América. Sois necessário aqui.


KRISHNAMURTI: É um processo peculiar, esse que se observa no mundo, esta identificação da pessoa com um certo pedaço de terra ou uma suposta religião. Tem tanta importância o lugar em que nascemos, ou a língua que falamos, ou a especial cultura em que fomos criados? Vede o que está acontecendo neste nosso país. Estamos-nos esfacelando, denominando-nos Tamils, Telugus, Maharashtrianos, etc. Este processo de fragmentação, se observa também na Europa — alemães, ingleses, franceses, italianos, etc. Quando um homem rende culto ao particular ou com ele se identifica, suas lutas se tornam muito maiores, seus sofrimentos aumentam. Enquanto eu continuar a ser Andhra, pertencer a uma dada classe ou religião, minha mente continuará limitada, estreita. A mente, por certo, deve quebrar todas estas limitações, para poder encontrar o todo; mas o todo não se constitui de partes. Pelo juntar muitas partes umas às outras, não se encontra o todo. E só quando não nos deixamos senhorear pela parte, que temos a possibilidade de perceber imediatamente o todo.

Krishnamurti, Primeira Conferência em Madanapale
12 de fevereiro de 1956, Da Solidão à Plenitude Humana

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Um diferenciado olhar sobre as manifestações políticas

A luta pela liberdade representa preenchimento do "eu", a pátria com que você se identifica representa um meio de fuga de si mesmo. A luta, a dor, o sofrimento, para criar um mundo novo, uma nova pátria, é um meio artificial de auto-preenchimento. É tudo preenchimento, de diferentes maneiras, do "eu". Essas coisas nos dão uma energia extraordinária e transitória, provocam uma explosão de entusiasmo. Atrás de tudo isso, porém, está sempre o "eu", na sua perpétua busca de plenitude; e o preenchimento, o desejo de se preencher, sempre produz conflito.

Jiddu Krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria

quarta-feira, 24 de julho de 2013

É retrocesso reformar a velha sociedade

Interrogante: Há muitos problemas — sociais, econômicos, nacionais — pelos quais não sou responsável.

Krishnamurti: Está-se morrendo de fome na Ásia; lá há miséria, pobreza, doença, coisas terríveis que vocês desconhecem completamente por aqui. Mas, quem é o responsável? Como sabem, graças à automação, ao aperfeiçoamento do computador, à cibernética, etc., a ciência está hoje em dia apta a libertar o homem das canseiras de certos trabalhos. A ciência tem a possibilidade de fornecer alimentos, roupas e teto a todo o mundo; mas, por que não se faz isso? Não diga que concorda comigo, pelo amor de Deus! Olhe! É porque somos nacionalistas. A glória da França, o estilo de vida dos americanos, o nacionalismo indiano, o nacionalismo africano, o imperialismo dos comunistas, bem como o dos capitalistas — todas essas coisas estão dividindo os homens economicamente. E, religiosamente, os homens estão separados por suas crenças. Aqui, no Ocidente, vocês acreditam no catolicismo, num certo Salvador, e em toda a Ásia, não se acredita em nada disso. Lá eles têm as suas próprias crenças. Estão, pois, os homens separados pelo nacionalismo, pelo racismo, pelas pressões econômicas, pela chamada religião. E todos nós somos responsáveis por isso, não? Vocês são nacionalistas, sentem orgulho de ser inglês, possuem muito orgulho de suas tradições, como francês — e sabe Deus o que mais. É isso o que está separando os homens, não? Por conseguinte, você e eu só deixaremos de ser responsáveis pelas dores do mundo quando estivermos livres no nacionalismo, do racismo, quando dentro de nós houver ordem.

Por outras palavras, nós somos entes humanos e não indivíduos. A individualidade é uma ideia antiquada, uma ideia insensata. Somos seres humanos, carregados dos problemas de todos os outros entes humanos, onde quer que vivam — na Europa, na Ásia ou na América. Mas se, como ente humano, compreendo a integral estrutura de minha sociedade, de minha norma de vida, com seus problemas, etc., estou então livre dessa imagem. Consequentemente, torna-se existente a ordem, e deixo de ser responsável pelas misérias do mundo. Estou fora da sociedade e assim, apto a ajudar a sociedade. Não desejo reforma-la. Compreendem? Devemos desembaraçar-nos, libertar-nos da sociedade, a fim de que surja um novo grupo humano e, por conseguinte, possa ser formada uma nova estrutura social. Não se pode reformar a velha sociedade; isso é retrocesso.

Krishnamurti - O descobrimento do amor

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quando houver inteligência o nacionalismo desaparecerá

Nas várias crises anteriores, tratou-se sempre da exploração das coisas ou da exploração do homem; hoje, cuidamos da exploração das ideias, muito mais perniciosa, muito mais perigosa, uma vez que a exploração de ideias é de efeitos tão devastadores e destrutivos. Conhecemos agora o poder da propaganda, e esta é uma das maiores calamidades que podem acontecer: empregar ideias como meio de transformar o homem. É o que está ocorrendo no mundo de hoje. O homem perdeu toda a importância; os sistemas, as ideias tornaram-se importantes. O homem já não tem nenhuma significação. Pode-se destruir milhões de homens, desde que se produza certo resultado, esse resultado se justifica por meio de ideias. Temos uma soberba estrutura de ideias para justificar o mal, e isso, sem dúvida alguma, é fato inédito. O mal é o mal; nunca pode produzir coisa boa. (...) Quando o intelecto tem primazia, na vida humana, produz-se uma crise sem precedentes. 

Outras causas há, também, indicativas de uma crise sem precedentes. Uma delas é a extraordinária importância que se está atribuindo aos valores dos sentidos, à propriedade, ao nome, à etnia, à nação, à etiqueta que usamos.(...) O nome e a propriedade, a etnia e a nação, tornaram-se predominantemente importantes, vale dizer, o homem está preso ao valor sensorial, ao valor das coisas feitas pela mente e pela mão. Tão importantes se tornaram as coisas fabricadas pela mão ou pela mente, que, por causa delas, estamos matando, destruindo, massacrando, liquidando. Estamos nos abeirando de um precipício; cada uma de nossas ações está nos levando para lá; toda ação política, toda ação econômica, está fatalmente nos conduzindo ao precipício, arrastando-nos para aquele abismo caótico. A crise, por conseguinte, é sem precedentes e requer ação sem precedentes. Para afastar-nos dessa crise, para sairmos dela, é necessária uma ação atemporal, ação não baseada em nenhuma ideia, em nenhum sistema, porque a ação que se baseia em sistema ou ideia levará inevitavelmente à frustração. Uma ação dessa ordem só nos levará de volta ao abismo, por outro caminho. 

(...) O ponto a considerar é que, tratando-se de uma crise de caráter excepcional, faz-se necessária, para enfrentá-la, uma revolução no pensar; e esta revolução não pode realizar-se por meio de outra pessoa, de um livro, de uma organização. Ela tem de vir através de nós, cada um de nós. Só então podemos criar uma nova sociedade, uma nova estrutura, longe de todo esse horror, longe destas forças extraordinariamente destrutivas, que se estão acumulando, empilhando. E essa transformação se realizará quando você, como indivíduo, começar a conhecer-se em cada pensamento, cada ação, cada sentimento.  

Pergunta: O que virá, quando desaparecer o nacionalismo? 

Krishnamurti: A inteligência, sem dúvida. Mas me parece que não é isso que a pergunta está sugerindo. Ela implica: o que é que pode substituir o nacionalismo? — Toda substituição representa uma ato destituído de inteligência. Se abandono uma religião para abraçar outra, se deixo um partido político e mais tarde vou ligar-me a outra coisa qualquer, esta substituição constante denúncia um estado destituído de inteligência. 

Como abolir o nacionalismo? Isso só acontecerá depois de compreendermos todas as suas consequências, de o examinarmos, de nos compenetramos do seu significado nas ações exteriores e interiores. Exteriormente, ele é fator de discórdias, classificações, guerras e destruição, o que é evidente a qualquer observador. Interiormente, psicologicamente, esta identificação com uma coisa maior, com a nação, com uma ideia, constitui, sem dúvida, uma forma de auto-expansão. Se vivo numa aldeia insignificante, numa grande cidade, ou onde quer que seja, não sou ninguém; mas, se me identifico com o que é maior, com a nação, se me intitulo "brasileiro*" isso me envaidece, isso me envaidece, dá-me satisfação, prestígio, um sentimento de bem-estar; e a identificação com uma coisa maior, que é uma necessidade psicológica para aqueles que consideram essencial esta auto-expansão, gera também conflito e luta entre os homens. O nacionalismo, portanto, não só causa conflito exterior, mas também frustrações interiores. Quando compreendemos o nacionalismo, seu processo total, ele se extinguirá por si. A compreensão do nacionalismo resulta da inteligência, da observação atenta, do exame profundo do processo total do nacionalismo, do patriotismo. Desse exame nasce a inteligência, e não há então a substituição do nacionalismo por outra coisa. Se recorremos à religião, como substituo do nacionalismo, a religião torna-se outro meio de auto-expansão, outra fonte de ansiedade psicológica, e um meio de nos nutrirmos numa crença. Assim, toda espécie de substituição, ainda que nobre, é uma forma de ignorância. É o mesmo que mascar goma, ou pastilhas de bétel, ou coisa parecida, para substituir o uso do fumo; mas, se se compreender, na sua inteireza, o problema do fumar, dos hábitos das sensações, das exigências psicológicas, etc., desaparecerá por si o hábito de fumar. Só é possível a compreensão quando há desenvolvimento da inteligência, quando ela está funcionando; e a inteligência não está funcionando quando há substituição. A substituição é apenas uma espécie de auto-suborno, com o qual nos tentamos a deixar de fazer uma coisa, para fazer outra. O nacionalismo, com seu veneno, suas misérias e a luta que provoca no mundo, só desaparecerá quando houver inteligência, que não nasce do simples fato de passarmos em exames e estudarmos livros. A inteligência nasce quando compreendemos os problemas, à medida que surgem. Quando há compreensão do problema, nos seus diferentes níveis, não só no aspecto exterior, mas também nos aspectos interiores, psicológicos, então, nesse processo, surge a inteligência. Assim, quando houver inteligência, não haverá mais substituições; e quando houver inteligência desaparecerá o nacionalismo, o patriotismo, que é uma forma de estupidez.

Krishnamurti — A primeira e última liberdade 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill