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quarta-feira, 4 de abril de 2018

A totalidade da nossa consciência está condicionada


A totalidade da nossa consciência está condicionada

PERGUNTA: Que é o inconsciente, e está ele condicionado? Se está, de que maneira devemos começar, para ficarmos livres desse condicionamento?

KRISHNAMURTI: Em primeiro lugar, a nossa consciência, a consciência que está desperta, não é condicionada? Compreendeis o que significa esta palavra “condicionado”? Sois educados de uma certa maneira. Aqui, neste país, sois condicionados para serdes americanos — o que quer que isso signifique — sois criados na “maneira de vida” americana, e na Rússia é-se educado na “maneira de vida” russa. Na Itália, os católicos educam as crianças para pensarem de certa maneira, o que é outra forma de condicionamento, enquanto na índia, na Ásia, nos países budistas, elas são condicionadas de outras maneiras ainda.

Por todo o mundo se vê esse mecanismo deliberado de condicionar a mente pela educação, pelo ambiente social, pelo medo, pela ocupação, pela família — enfim por todas as maneiras de influenciar a mente superficial, a consciência desperta.

Depois, temos o inconsciente, isto é, aquela camada da mente que está abaixo da superficial, e o interrogante deseja saber se ela também está condicionada. Não está condicionada, condicionada por todos os pensamentos raciais, por “motivos” e desejos ocultos, reações instintivas de uma dada civilização? Suponha-se que eu sou um hindu, nascido na Índia e educado no estrangeiro, etc. Enquanto eu não penetrar e compreender o meu inconsciente, continuarei a ser hindu, com todas as reações simbólicas, culturais, religiosas, supersticiosas, próprias do Bramanismo — todas lá estão, adormecidas, podendo ser despertadas a qualquer momento, e dando avisos e sugestões por meio de sonhos ou nos momentos em que a mente consciente não se acha completamente ocupada. O inconsciente, pois, é também condicionado.

É perfeitamente evidente, portanto, se examinardes bem isso, que a totalidade da nossa consciência está condicionada. Não há nenhuma parte de vós, nenhum “eu superior”, em estado não condicionado. O vosso próprio pensar é produto da memória, consciente ou inconsciente, e, portanto, resultado de condicionamento. Vós pensais como comunista, socialista, capitalista, americano, hinduísta, católico, protestante ou seja o que for, porque estais assim condicionado. Estais condicionado para crerdes em Deus, se acreditais, e o comunista não está e se ri de vós, dizendo: “Estais condicionado!” — mas ele também está condicionado, porque foi educado pela sua sociedade, pelo partido a que pertence, pela sua literatura, para não crer. Assim, todos nós estamos condicionados, e nunca perguntamos: “É possível ficarmos totalmente livres de condicionamento?”. O que conhecemos é só um processo de aperfeiçoamento no condicionamento, que é “aperfeiçoamento no sofrer”.

Pois bem. Se percebo isso, não apenas verbalmente, mas com toda atenção, então não há mais conflito. Compreendeis o que quero dizer? Quando vos entregais a alguma coisa com todo o vosso ser, isto é, quando entregais completamente vossa mente à compreensão de alguma coisa, não existe conflito. Só aparece conflito quando estais em parte interessado e em parte com a atenção noutra coisa; e quando desejais dominar esse conflito, começais a concentrar-vos, o que não é atenção. Na atenção não há divisão, não há distração e, por conseguinte, não há esforço nem conflito; e é só com esta atenção que pode vir o autoconhecimento, que não se faz por acumulações. Tende a bondade de prestar atenção. Autoconhecimento não é uma coisa que se acumula; tem de ser descoberto momento por momento, e no descobrir não pode haver acumulação, nem ponto de referência. Se acumulais autoconhecimento, então toda a compreensão futura será ditada por essa acumulação; por conseguinte, não haverá compreensão.

Assim, a mente só pode transcender todo condicionamento na vigilância, com atenção total. Nesta atenção total não há “modificador”, censor, nenhuma entidade que diz: “Devo transformar-me”, o que significa que deixa de existir, de todo, o “experimentador”. Não há mais “experimentador”, “acumulador”. Vede, por favor, que é importante compreender isto. Porque, afinal de contas, quando experimentamos qualquer coisa bela — um pôr de sol, uma simples folha dançando ao vento, o luar espelhado nas águas, um sorriso, uma visão, ou o que quiserdes — a mente logo quer apoderar-se dessa experiência, guardá-la, adorá-la, e isso significa que deseja a repetição da experiência, e quando há desejo de repetição, tem de haver sofrimento.

É possível, pois, estar-se num “estado de experimentar” sem haver “experimentador”? Compreendeis? Pode a mente “experimentar” o feio, o belo, ou o que quer que seja, sem haver aquela entidade que diz: “experimentei”? Porque, aquilo que é a Verdade, Deus, o Imensurável, nunca poderá ser “experimentado” enquanto existir um “experimentador”. O “experimentador” é a entidade que reconhece; e se sou capaz de reconhecer a Verdade, então já a experimentei antes, já a conheci antes, e nesse caso não é a Verdade. Esta é a beleza da Verdade. Ela permanece eternamente “desconhecida”, e a mente, resultado do conhecido, nunca poderá apossar-se dela.

PERGUNTA: Dizeis que todos os impulsos são essencialmente idênticos. Quereis dizer que o impulso do homem que busca a Deus não difere do impulso do homem que anda atrás de mulheres ou se entrega ao vício de beber?

KRISHNAMURTI: Nem todos os impulsos são semelhantes entre si, mas todos são impulsos. Podeis ter um impulso para Deus, e eu posso ter um impulso para me embebedar; somos, todos dois, compelidos, vós numa direção e eu noutra direção. Vossa direção é respeitável, a minha não é; pelo contrário, sou um elemento anti-social. Mas o eremita, o monge, o chamado religioso, cuja mente está ocupada com a virtude, com Deus, é essencialmente idêntico ao homem cuja mente está ocupada com os negócios, as mulheres, ou a bebida, porque todos dois estão ocupados. Compreendeis? Um tem valor social, enquanto o outro, o homem cuja mente está ocupada com o beber, é, socialmente, um inadaptado. Portanto, estais julgando do ponto de vista social, não é verdade? O homem que se retira para um mosteiro e reza da manha à noite, fazendo um pouquinho de jardinagem a uma certa hora do dia, cuja mente está toda ocupada com Deus, com automortificações, autodisciplinas, autocontrole, esse homem vós considerais como uma pessoa santa, um homem extraordinário. Ao passo que o homem que se ocupa com negócios, que especula na bolsa, e está a todas as horas ocupado em ganhar dinheiro, desse homem dizeis: “É um homem comum, como nós outros”. Mas, todos dois estão ocupados. Para mim, não importa o com que a mente está ocupada. O homem ocupado com Deus nunca achará Deus, porque Deus não é uma coisa com que possamos ocupar-nos. Ele é o desconhecido, o imensurável. Ninguém pode ocupar-se com Deus. É uma maneira muito vulgar de pensar em Deus.

O que deve ter importância para nós não é o com que a mente está ocupada, mas, sim, o fato de existir essa ocupação, seja com a cozinha, com os filhos, com divertimentos, com a qualidade de comida que ides comer, seja com a virtude, com Deus. E deve a mente estar ocupada? Compreendeis? Pode a mente que está ocupada perceber, em algum tempo, “o novo”, perceber qualquer coisa que não seja sua própria ocupação? E que acontece à mente, se não está ocupada? Compreendeis? Existe alguma mente se não há ocupação? O cientista está ocupado com seus problemas técnicos, sua mecânica, suas matemáticas, assim como a dona de casa está ocupada com a cozinha ou o seu bebê. Temos um medo enorme de não estarmos ocupados, um medo enorme das consequências sociais. Se não estou ocupado, posso descobrir a mim mesmo, como sou, e minha ocupação, pois, é uma fuga àquilo que sou.

Mas, deve a mente estar sempre ocupada? E é possível manter a mente sem ocupação? Notai que estou fazendo uma pergunta que não é para ser respondida, porque vós tendes de descobrir; e quando descobrirdes, vereis que coisa extraordinária acontece.

É muito interessante quando uma pessoa descobre por si mesma como sua mente está ocupada. O artista está ocupado a respeito de sua arte, seu nome, seu progresso, a combinação das cores, a fama, a notoriedade; o homem, de ciência ocupa-se de sua ciência; e aquele que quer alcançar o autoconhecimento está ocupado com o conhecimento de si mesmo, esforçando-se, como uma formiguinha, para estar cônscio de cada pensamento, cada movimento. Todos eles são idênticos. É só a mente desocupada, completamente vazia, é só essa mente que pode receber algo novo, o que não é ocupação alguma. Mas essa coisa nova não poderá vir à existência, enquanto a mente se achar ocupada.

PERGUNTA: Dizeis que uma mente ocupada não pode receber aquilo que é a Verdade ou Deus. Mas, de que jeito posso ganhar a vida, a menos que esteja ocupado com meu trabalho? E vós, não estais ocupado com estas palestras, que são o vosso particular meio de ganhar a vida?

KRISHNAMURTI: Deus me livre de estar ocupado com minhas palestras! Não estou. E elas não constituem meu meio de vida. Se eu estivesse ocupado, não existiria nenhum intervalo entre pensamentos, aquele silêncio que é essencial para se ver qualquer coisa nova. Em tal caso, o falar me seria a coisa mais aborrecida do mundo. Não quero aborrecer com minhas palestras, e por esta razão não falo de memória. O que faço é uma coisa completamente diferente. Mas, isso não tem importância, e podemos conversar a seu respeito, noutra ocasião.

O interrogante pergunta como poderá ganhar o seu sustento, se não se ocupar com seu trabalho. Vós vos ocupais com vosso trabalho? Escutai bem isto: Se vos ocupais com vosso trabalho, então não amais o vosso trabalho. Compreendeis a diferença? Se amo o que estou fazendo, não estou ocupado com isso, meu trabalho não está separado de mim. Porém, neste país, somos exercitados — e infelizmente este mesmo hábito se está generalizando no mundo inteiro — para adquirirmos eficiência num trabalho que não amamos. Pode haver uns poucos cientistas, uns poucos técnicos especialistas, uns poucos engenheiros que realmente amam o que fazem, no sentido total da palavra, o que explicarei mais adiante. Mas, em geral, não gostamos do que estamos fazendo, e por esta razão é que andamos ocupados com nosso meio de vida. Acho que se pode perceber uma diferença entre as duas coisas, se se examinar bem isso. Como posso amar o que estou fazendo, se estou sendo impelido, a todas as horas, pela ambição, se quero, com meu trabalho, alcançar um fim, tornar-me pessoa importante, ter êxitos felizes? O artista que está interessado no seu nome, sua grandeza, na comparação, na realização de suas ambições, deixou de ser artista, sendo meramente um técnico como outro qualquer. E isso significa, realmente, que para se amar uma coisa, faz-se necessária a cessação completa de toda ambição, todo desejo de reconhecimento por parte da sociedade, que afinal está podre (risos). Senhores, por favor, não façais isso! Mas, nós não somos preparados para isso, não somos educados para isso; temos de adaptar-nos a uma certa rotina que a sociedade ou a família nos deu. Porque os meus antepassados foram médicos, advogados, ou engenheiros, tenho de ser médico, advogado ou engenheiro. E atualmente há necessidade de mais e mais engenheiros, porque a sociedade o está exigindo. E, assim, perdemos o amor à coisa em si — se alguma vez o tivemos, do que duvido muito. E, quando amais uma coisa, não há nenhuma ocupação com ela. O espírito não está pretendendo alcançar alguma coisa ou procurando ser melhor do que outro; toda comparação, toda competição, todo desejo de sucesso, de preenchimento, desapareceu totalmente. É só a mente ambiciosa que anda ocupada.

De modo idêntico, a mente que está ocupada a respeito de Deus, da verdade, nunca o descobrirá, porque se a mente está ocupada com uma coisa, já a conhece. Se já conheceis o imensurável, o que conheceis é produto do passado, e, por conseguinte, não é o imensurável. A Realidade não pode ser medida, e por conseguinte não pode haver ocupação com ela; o que deve haver é só uma serenidade da mente, um vazio, em que nenhum movimento existe, e é só então que pode despontar na existência o Desconhecido.

Krishnamurti, 14 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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O real é uma descoberta da paciência


O real é uma descoberta da paciência

TEMOS um grande número de graves problemas, no mundo inteiro, e ainda que venham a criar-se “Estados de Bem-Estar” e os políticos consigam estabelecer uma paz superficial de coexistência, com prosperidade econômica, num país como este, onde o contínuo desenvolvimento da produção industrial promete um futuro feliz, não creio que os nossos problemas possam ser resolvidos com tanta facilidade. Nós desejamos que eles sejam resolvidos, mas esperamos que outros os resolvam: os instrutores religiosos, psicoanalistas, os guias ou líderes; e também confiamos na tradição ou apelamos para os livros e filosofias. E parece-me que é por esta razão que vos achais aqui: para que vos indiquem o que deveis fazer. Ou supondes que, ouvindo explicações, ficareis aptos a compreender os problemas que desafiam a cada um de nós. Mas eu penso que estais cometendo um grave erro, se esperais que, pelo simples fato de ouvirdes uma ou duas palestras, sem prestardes muita atenção, sereis guiados à compreensão dos nossos múltiplos problemas. Não é, em absoluto, minha intenção explicar-vos de maneira simplesmente verbal ou intelectual, os problemas que se nos apresentam; antes, pelo contrário, o que vamos tentar, durante estas palestras, é penetrar muito mais fundo na causa fundamental que torna todos esses problemas tão complicados e tão infinitamente dolorosos e aflitivos.

Peço-vos tenhais paciência para escutar, sem vos deixardes levar por palavras e sem objetardes a esta ou àquela frase ou ideia. Necessita-se de infinita paciência para se descobrir o que é verdadeiro. Os mais de nós temos pressa, queremos um resultado, queremos bom êxito, um objetivo, um certo estado de felicidade, ou experimentar algo a que a mente possa prender-se, apegar-se. Mas o que se necessita, penso eu, é de paciência e perseverança no buscar, sem se ter nenhum fim em vista. Quase todos nós buscamos alguma coisa, e por isso vos achais aqui; em nossa busca, porém, queremos achar algo, um resultado, um alvo, um “estado de ser” de felicidade e paz; nossa busca, por conseguinte, já está determinada, não é assim? Quando buscamos, estamos a demandar algo que desejamos e, assim, nossa busca já está predeterminada e, portanto, deixa de ser uma verdadeira busca. Acho de muita importância compreender-se isto. Quando a mente busca um determinado estado, a solução de um problema, quando busca a Deus, a Verdade, ou deseja uma certa experiência, mística ou de outra ordem, ela já concebeu, já formulou a coisa que deseja; e, visto que já a concebeu e formulou, é infinitamente vã a sua busca. E uma das coisas mais difíceis é o libertarmos a mente desse desejo de resultado.

A meu ver, os nossos incontáveis problemas só podem ser resolvidos quando ocorrer uma revolução fundamental da mente, porque só uma revolução dessa ordem pode proporcionar a compreensão do Verdadeiro. Nessas condições, importa compreendermos o funcionamento de nossa própria mente, não por um processo de auto-análise ou introspecção e, sim, pelo percebimento claro do seu mecanismo total; e é este mecanismo total que desejo investigar nestas palestras. Se não nos vemos como somos, se não compreendemos o “pensador” — a entidade que busca, que está perpetuamente a exigir, a interrogar, a querer descobrir, a entidade que está criando o problema, isto é, o “eu”, o “ego” — então o nosso pensar, a nossa busca, não terá significação alguma. Enquanto o nosso “instrumento de pensar” não for lúcido, enquanto estiver pervertido, condicionado, tudo o que pensarmos há de ser, inevitavelmente, limitado, estreito.

Nosso problema, pois, é de como libertarmos a mente de todos os condicionamentos, e não “de que maneira condicioná-la melhor”. Compreendeis, senhores? Quase todos nós estamos em busca de um condicionamento melhor. Os comunistas, os católicos, os protestantes e as demais seitas, por todo o mundo, inclusive hinduístas e budistas — todos visam a condicionar a mente de acordo com um padrão mais nobre, mais virtuoso, mais abnegado, ou um padrão religioso. Cada indivíduo, no mundo inteiro, está interessado em condicionar sua mente de uma maneira melhor, e nunca se levanta a questão do libertar a mente de todo e qualquer condicionamento. Mas quer-me parecer que, enquanto a mente não estiver livre de todo o seu condicionamento, isto é, enquanto estivermos condicionados como cristãos, budistas, hinduístas, comunistas, etc., não pode deixar de haver problemas.

Sem dúvida, só é possível descobrir o que é real ou se existe Deus, quando a mente está livre de todo condicionamento. A mera ocupação da mente a respeito de Deus, da Verdade, do Amor, não tem realmente nenhuma significação, porquanto essa mente só pode funcionar dentro da esfera de seu condicionamento. O comunista que não crê em Deus, pensa de um modo, e o homem, que crê em Deus, que está ocupado com um dogma, pensa de outro modo; mas a mente de todos os dois está condicionada e, portanto, nem um nem outro é capaz de pensar livremente, e todos os seus protestos, suas teorias e crenças muito pouco significam. Religião, pois, não é frequentar a igreja, ter certos dogmas e crenças. A religião deve ser uma coisa de todo diversa, pode significar a total libertação da mente de toda esta vasta e secular tradição; porque só a mente livre é que pode achar a verdade, a realidade, aquilo que transcende todas as projeções mentais.

Pode-se ver que isto não é uma teoria pessoal, minha, se observarmos o que está acontecendo no mundo. Os comunistas pretendem solucionar os problemas da vida de uma maneira, os hinduístas de outra maneira, os cristãos ainda de outra maneira; a mente de todos eles, por consequência, está condicionada. Vossa mente está condicionada como cristã, quer o admitais, quer não. Podeis libertar-vos superficialmente da tradição cristã, mas as camadas profundas do vosso inconsciente estão cheias dessa tradição, condicionadas por séculos de educação segundo um determinado padrão; e, por certo, a mente que deseja achar algo mais além, — se tal coisa existe — essa mente tem de libertar-se, em primeiro lugar, de todo condicionamento.

Fica entendido, pois, que nestas palestras não vamos de modo nenhum tratar da questão do aperfeiçoamento pessoal, nem tampouco nos interessa o aperfeiçoamento de nenhum padrão; não pretendemos condicionar a mente segundo um padrão mais nobre, ou um padrão de maior alcance social. Pelo contrário, o que pretendemos é descobrir como libertar a mente, a consciência total, de todo condicionamento, porque, a menos que isso aconteça, nunca haverá o experimentar da realidade. Podeis falar sobre a realidade, ler inúmeros volumes a seu respeito, ter todos os livros sagrados do Oriente e do Ocidente, mas se vossa mente não estiver apercebida de seus próprios mecanismos, não perceber que ela própria está funcionando dentro de um determinado padrão, e não for capaz de libertar-se desse condicionamento, é bem de ver que sua busca será sempre vã.

Nessas condições, parece-me da maior importância comecemos por nós mesmos, comecemos por estar cônscios de nosso próprio condicionamento. E como é difícil uma pessoa saber que está condicionada! Superficialmente, nas camadas conscientes da mente, podemos perceber que estamos condicionados; podemos libertar-nos de um padrão e adotar outro, abandonar o Cristianismo e nos tornarmos comunistas, deixar o Catolicismo e aderir a outro grupo igualmente tirânico, e, assim fazendo, pensar que estamos evolvendo para a Realidade. Mas isso, pelo contrário, é mera troca de prisões.

Todavia, é isto o que quase todos queremos: encontrar um lugar seguro, no nosso pensar. Queremos seguir um padrão fixo e não ser perturbados em nossos pensamentos, em nossas ações. Mas só a mente capaz de observar com paciência o seu condicionamento, e dele libertar-se, só essa mente é capaz de uma revolução, uma transformação radical, e descobrir, assim, o que se acha infinitamente além da mente, além de todos os nossos desejos, nossas vaidades e paixões. Sem o autoconhecimento, sem nos conhecermos exatamente como somos — e não como gostaríamos de ser, que é simples ilusão, fuga idealística — sem conhecermos os movimentos do nosso pensar, todos os nossos “motivos”, nossos pensamentos, nossas inumeráveis reações, não haverá possibilidade de compreendermos e ultrapassarmos o mecanismo do pensar.

Tivestes o trabalho e o incômodo de vir aqui, nesta tarde quente, para ouvir esta palestra. Mas eu estou a me perguntar se realmente a estais escutando. Que é escutar? Acho importante examinarmos isso um pouquinho, se não vos desagradar. Estais realmente escutando, ou apenas interpretando segundo o vosso próprio entender? Sois capazes de escutar a alguém? Ou dar-se-á que, no processo de escutar, estão surgindo pensamentos e opiniões vários, e por conseguinte os vossos conhecimentos e experiência própria estão intervindo, pondo-se de permeio entre o que se está dizendo e a vossa compreensão?

Acho importante se compreenda a diferença entre “atenção” e “concentração”. A concentração implica escolha, não é verdade? Estais procurando concentrar-vos no que estou dizendo e, por conseguinte, a vossa mente está focada, estreitada, e outros pensamentos estão intervindo; assim sendo, não há um verdadeiro escutar, mas, sim, uma batalha que se está travando na mente, um conflito entre o que estais escutando é o vosso desejo de traduzi-lo, de aplicar o que estou dizendo, etc. Mas, por outro lado, a atenção é uma coisa completamente diferente. Na atenção não há enfocamento, não há escolha; há percebimento completo, sem interpretação. E, se somos capazes de ouvir tão atenta e completamente o que se está dizendo, esta mesma atenção produzirá o milagre da transformação, na própria mente.

Estamos falando a respeito de algo de imensa importância, porque, se não houver uma revolução fundamental em cada um de nós, não percebo como será possível, operarmos uma vasta e radical transformação no mundo. E esta transformação radical, decerto, é sumamente relevante. A mera revolução econômica, de caráter comunista ou socialista, é destituída de qualquer importância. Só pode haver revolução de natureza religiosa; e a revolução religiosa não será possível se a mente está apenas ajustada ao padrão de um condicionamento anterior. Enquanto uma pessoa for cristã ou hinduísta, não poderá haver revolução fundamental, no sentido verdadeiramente religioso da palavra. E nós temos real necessidade desta revolução. Quando a mente estiver livre de todo condicionamento, ver-se-á surgir a ação criadora da Realidade, de Deus, ou o nome que preferirdes; e só a mente que se acha nesse estado, a mente que está a experimentar constantemente essa criação, só ela poderá criar uma perspectiva nova, valores diferentes, um mundo diferente.

É, pois, importante compreendermos a nós mesmos, pois não? O autoconhecimento é o começo da sabedoria. O autoconhecimento não se consegue de acordo com algum psicólogo, livro ou filósofo; ele consiste em conhecermos a nós mesmos tais como somos, de momento a momento. Compreendeis isso? Conhecer a si mesmo é cada um observar o que pensa, o que sente, não; apenas; superficialmente, pois devemos estar profundamente apercebidos do que é, sem condenação, sem julgamento, sem avaliação ou comparação. Experimentai-o, e vereis como é difícil a uma mente que foi exercitada durante séculos para condenar, julgar e avaliar, deter todo esse mecanismo e ficar simplesmente a observar o que é. Entretanto, se não se fizer esta observação, não apenas no nível superficial, mas em todo conteúdo da consciência, nunca será possível penetrarmos as profundezas da mente.

Vede, por favor, se aqui estais realmente com o fim de compreender o que se está dizendo, que é isto que deve interessar-nos, e nada mais. Vosso problema não é o de saber a que sociedade pertencer, a que gênero de atividades entregar-vos, que livros ler, e outras superficialidades dessa ordem, mas, sim, de saber como libertar a mente do condicionamento. A mente não é apenas a consciência desperta, ocupada com as atividades diárias, mas é também as camadas profundas do inconsciente, onde se encontra todo o resíduo do passado, da tradição, dos instintos raciais. Tudo isso é a mente, e a menos que essa consciência total seja livre, de ponta a ponta, a nossa busca, nossa investigação, nosso descobrimento, será limitado, estreito, insignificante.

A mente está toda condicionada. Não há uma só parte da mente que não esteja condicionada. Nosso problema, portanto, é este: Pode a mente, assim condicionada, libertar-se? E quem é a entidade que poderá libertá-la? Compreendeis o problema? A mente é a consciência total, com todas as suas camadas de conhecimentos, aquisições, tradições, instintos raciais, memórias. Esta mente pode libertar-se? Ou só pode libertar-se ao perceber que está condicionada e que todo movimento que faça para sair de seu condicionamento é outra forma de condicionamento? Espero que estejais compreendendo. Se não, continuaremos a examinar este ponto nos dias vindouros.

A mente está toda condicionada, o que é um fato evidente, se refletimos a tal respeito. Isso não é invenção minha, é um fato. Pertencemos a uma dada sociedade, fomos educados de acordo com determinada ideologia, certos dogmas, tradições, e a vasta influência da civilização, da sociedade, condiciona-nos incessantemente o espírito. Como pode esse espírito ser livre, se todo movimento para libertar-se resulta de seu condicionamento e, por conseguinte, produzirá, forçosamente, mais condicionamento? Só há uma resposta: A mente só pode ser livre quando está completamente tranquila. Embora tenha problemas e inúmeros impulsos, conflitos, ambições, se — mercê de autoconhecimento, da autovigilância sem aceitação ou condenação — ela estiver apercebida, imparcialmente, do seu próprio mecanismo, então, desse percebimento há de resultar um silêncio extraordinário, uma tranquilidade de espírito em que não se observa movimento de espécie alguma. É só então que a mente é livre, porquanto nada mais deseja, nada mais busca, não visa a nenhum objetivo ou ideal — que são as projeções de toda mente condicionada. E se logrardes alcançar essa compreensão em que não há automistificação, encontrareis a possibilidade de ver surgiu aquela coisa extraordinária que se chama criação. Só então está a mente apta a compreender aquela imensidade que se pode chamar Deus, a Verdade, ou como quiserdes a palavra tem muito pouca importância. Podeis ser prósperos, socialmente, possuir muitos bens — automóveis, casas, geladeiras — ter paz superficial, mas, sem o surgimento daquilo que é imensurável, encontrareis sempre aflições. A libertação da mente de seu condicionamento é o fim do sofrimento.

Tenho aqui muitas perguntas. Que função tem o fazer-se uma pergunta e receber-se uma resposta? Resolve-se algum problema, fazendo-se uma pergunta? Que é um problema? Tende a bondade de seguir o que estou dizendo, pensando junto comigo. Que é um problema? Só pode nascer um problema quando a mente está ocupada com alguma coisa, não é verdade? Se tenho um problema, que significa isso? Suponhamos que minha mente está ocupada, da manhã à noite, com a inveja, o ciúme, o sexo, o que quer que seja. A ocupação da mente com um objeto é que cria o problema. A inveja pode ser um fato, mas é a ocupação da mente com o fato, que cria o problema, o conflito. Não é exato isso?

Suponhamos que eu sou invejoso ou tenho uma paixão violenta, desta ou daquela natureza. A minha inveja se torna manifesta, e a mente fica então ocupada com o conflito por ela gerado. Como libertar-me dela, como dissolvê-la, que fazer com relação a ela? É a ocupação da mente com a inveja que cria o problema, e não a pró­pria inveja; examinaremos mais adiante este ponto, quando apreciarmos o verdadeiro significado da inveja. Nosso problema, por conseguinte, não é o fato, mas a ocupação com o fato. E pode a mente libertar-se dessa ocupação? É ela capaz de atender ao fato, sem dele se ocupar? Examinaremos esta questão relativa à ocupação, no curso destas palestras. É com efeito interessantíssimo observar a própria mente em operação.

Assim, no estudo destas perguntas, vamos tentar libertar a mente da ocupação, e isso significa considerar cada fato sem se ficar ocupado com ele. Isto é, se sou atuado por determinada compulsão, posso dar atenção a essa compulsão, sem dela me ocupar? Por favor, observai o vosso caso peculiar, vossa irritabilidade ou o que quer que seja. Podeis observar essa compulsão sem que vossa mente fique ocupada com ela? A ocupação implica que estais fazendo esforço para resolver a compulsão, não é exato? Estais a condená-la, a compará-la com outra coisa, desejando alterá-la, dominá-la. Por outras palavras, tentar fazer alguma coisa com relação à compulsão, é uma ocupação, pois não? Mas, podeis dar atenção ao fato de que estais sob determinada compulsão, uma paixão, um desejo, dar-lhe atenção, sem comparar, sem julgar e, por conseguinte, sem pordes a funcionar o mecanismo da ocupação?

Psicologicamente, é muito interessante observar como a mente é incapaz de dar atenção a um fato, tal seja a inveja, sem colocar em jogo todo o vasto complexo de opiniões, juízos, avaliações, com que a mente está ocupada; desse modo, nunca resolvemos o fato, e só multiplicamos os problemas. Espero que me esteja fazendo claro. E acho importante compreender o mecanismo da ocupação, porque atrás dele está em ação um fator muito mais profundo; o medo de não se estar ocupado. Se a mente está ocupada com Deus, com a Verdade, ou se está ocupada com o sexo ou com o vício de beber, sua qualidade é essencialmente a mesma. O homem que medita sobre Deus e se torna eremita poderá socialmente ter mais importância, ser de mais valor para a sociedade do que o beberrão; mas os dois se acham ocupados, e a mente que está ocupada nunca será livre para descobrir o que é a Verdade.

Por favor, não aceiteis nem rejeiteis o que estou dizendo; prestai-lhe atenção, investigai. Se cada um de nós puder realmente dar atenção a essa simples coisa, prestar toda a atenção ao mecanismo da ocupação da mente a respeito de qualquer problema, sem procurar livrar a mente dessa ocupação, o que não passa de outra maneira de se estar ocupado — se pudermos compreender esse mecanismo completamente, totalmente, acho que então o próprio problema se tornará sem importância. Quando a mente se vê livre da ocupação com um problema, livre para observa-lo, estar apercebida de todas as suas particularidades, o problema pode então ser resolvido com relativa facilidade.

Krishnamurti, 6 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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domingo, 5 de outubro de 2014

Por que estamos sempre na "correria"?

Como estamos ligados ao passado! Mas não estamos ligados ao passado: nós somos o passado. E que coisa complicada é o passado, camada sobre camada de memórias não digeridas, tanto as queridas como as tristes. Ele nos persegue dia e noite e de vez em quando há uma brecha em que uma luz clara se revela. O passado é como uma sombra, tornando as coisas embotadas e aborrecidas; nessa sombra o presente perde sua clareza, seu frescor, e o amanhã é a continuação da sombra. O passado, o presente e o futuro estão amarrados juntos pelo longo fio da memória; o feixe inteiro é a memória, com pouca fragrância. O pensamento se move pelo presente em direção ao futuro, e retorna; como um animal inquieto amarrado a um poste, ele se move em seu próprio raio de ação, pequeno ou amplo, mas jamais está livre de sua própria sombra. Esse movimento é a ocupação da mente com o passado, o presente e o futuro. A mente é a ocupação. Se a mente não estiver ocupada, ela cessa de existir; sua própria ocupação é a sua existência. A ocupação com insultos e elogios, com Deus e bebidas, com virtude e paixão, com trabalho e expressão, com acumulação e doação, é tudo igual; ainda é ocupação, preocupação, inquietação. Estar ocupado com algo, quer seja a mobília ou Deus, é um estado de pequenez, de superficialidade. 

A ocupação dá à mente o sentimento de atividade, de estar viva. É por isso que a mente armazena ou renuncia; ela se sustenta com ocupações. A mente deve estar ocupada com alguma coisa. Aquilo com o que se ocupa é de pouca importância; o importante é que esteja ocupada, e as melhores ocupações têm importância social. Estar ocupada com algo é da natureza da mente, e sua atividade provém disso. Estar ocupada com Deus, com o Estado, com o conhecimento, é a atividade de uma mente mesquinha. Ocupação com alguma coisa sugere limitação, e o Deus da mente é um deus mesquinho, por mais alto que ela possa colocá-lo. Sem ocupação, a mente não existe; e o medo de não ser torna a mente inquieta e ativa. Essa atividade inquieta tem a aparência de vida, mas não é vida; isso leva sempre à morte — uma morte que é a mesma atividade em outra forma. 

O sonho é outra ocupação da mente, um símbolo de sua inquietação. Sonhar é a continuação do estado consciente, a extensão do que não está ativo durante as horas acordadas. A atividade de ambas as mentes, a superficial e a profunda, é ocupacional. Essa mente só pode perceber um fim como um início continuado; ela jamais pode perceber o fim, mas somente o resultado, e este é sempre contínuo. A busca por um resultado é a busca por continuidade. A mente, a ocupação, não tem fim; e somente  para aquilo que tem fim pode haver o novo, somente para aquilo que morre pode haver vida. A morte da ocupação, da mente, é o início do silêncio, do silêncio total. Não relacionamento entre esse silêncio imponderável e a atividade da mente. Para haver relacionamento, deve haver contato, comunhão; mas não há contato entre silêncio e a mente. A mente não pode comungar com o silêncio; ela pode ter contato apenas com o próprio estado projetado que chama de silêncio. Mas esse silêncio não é silêncio, é meramente outra forma de ocupação. A ocupação não é silêncio. Só existe silêncio com a morte da ocupação da mente com o silêncio. 

O silêncio está além do sonho, além da ocupação da mente mais profunda. Essa mente é um resíduo, o resíduo do passado, aberto ou oculto. Esse passado residual não pode experienciar o silêncio; pode sonhar com ele, como geralmente o faz, mas o sonho não é o real. O sonho é geralmente tomado pelo real, mas sonho e sonhador são ocupações da mente. A mente é um processo total, não há uma parte exclusiva. O processo total da atividade, residual ou adquirida, não pode comungar com aquele silêncio que é inexaurível.

Krishnamurti em, Comentários sobre o viver
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill