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quarta-feira, 4 de abril de 2018

A totalidade da nossa consciência está condicionada


A totalidade da nossa consciência está condicionada

PERGUNTA: Que é o inconsciente, e está ele condicionado? Se está, de que maneira devemos começar, para ficarmos livres desse condicionamento?

KRISHNAMURTI: Em primeiro lugar, a nossa consciência, a consciência que está desperta, não é condicionada? Compreendeis o que significa esta palavra “condicionado”? Sois educados de uma certa maneira. Aqui, neste país, sois condicionados para serdes americanos — o que quer que isso signifique — sois criados na “maneira de vida” americana, e na Rússia é-se educado na “maneira de vida” russa. Na Itália, os católicos educam as crianças para pensarem de certa maneira, o que é outra forma de condicionamento, enquanto na índia, na Ásia, nos países budistas, elas são condicionadas de outras maneiras ainda.

Por todo o mundo se vê esse mecanismo deliberado de condicionar a mente pela educação, pelo ambiente social, pelo medo, pela ocupação, pela família — enfim por todas as maneiras de influenciar a mente superficial, a consciência desperta.

Depois, temos o inconsciente, isto é, aquela camada da mente que está abaixo da superficial, e o interrogante deseja saber se ela também está condicionada. Não está condicionada, condicionada por todos os pensamentos raciais, por “motivos” e desejos ocultos, reações instintivas de uma dada civilização? Suponha-se que eu sou um hindu, nascido na Índia e educado no estrangeiro, etc. Enquanto eu não penetrar e compreender o meu inconsciente, continuarei a ser hindu, com todas as reações simbólicas, culturais, religiosas, supersticiosas, próprias do Bramanismo — todas lá estão, adormecidas, podendo ser despertadas a qualquer momento, e dando avisos e sugestões por meio de sonhos ou nos momentos em que a mente consciente não se acha completamente ocupada. O inconsciente, pois, é também condicionado.

É perfeitamente evidente, portanto, se examinardes bem isso, que a totalidade da nossa consciência está condicionada. Não há nenhuma parte de vós, nenhum “eu superior”, em estado não condicionado. O vosso próprio pensar é produto da memória, consciente ou inconsciente, e, portanto, resultado de condicionamento. Vós pensais como comunista, socialista, capitalista, americano, hinduísta, católico, protestante ou seja o que for, porque estais assim condicionado. Estais condicionado para crerdes em Deus, se acreditais, e o comunista não está e se ri de vós, dizendo: “Estais condicionado!” — mas ele também está condicionado, porque foi educado pela sua sociedade, pelo partido a que pertence, pela sua literatura, para não crer. Assim, todos nós estamos condicionados, e nunca perguntamos: “É possível ficarmos totalmente livres de condicionamento?”. O que conhecemos é só um processo de aperfeiçoamento no condicionamento, que é “aperfeiçoamento no sofrer”.

Pois bem. Se percebo isso, não apenas verbalmente, mas com toda atenção, então não há mais conflito. Compreendeis o que quero dizer? Quando vos entregais a alguma coisa com todo o vosso ser, isto é, quando entregais completamente vossa mente à compreensão de alguma coisa, não existe conflito. Só aparece conflito quando estais em parte interessado e em parte com a atenção noutra coisa; e quando desejais dominar esse conflito, começais a concentrar-vos, o que não é atenção. Na atenção não há divisão, não há distração e, por conseguinte, não há esforço nem conflito; e é só com esta atenção que pode vir o autoconhecimento, que não se faz por acumulações. Tende a bondade de prestar atenção. Autoconhecimento não é uma coisa que se acumula; tem de ser descoberto momento por momento, e no descobrir não pode haver acumulação, nem ponto de referência. Se acumulais autoconhecimento, então toda a compreensão futura será ditada por essa acumulação; por conseguinte, não haverá compreensão.

Assim, a mente só pode transcender todo condicionamento na vigilância, com atenção total. Nesta atenção total não há “modificador”, censor, nenhuma entidade que diz: “Devo transformar-me”, o que significa que deixa de existir, de todo, o “experimentador”. Não há mais “experimentador”, “acumulador”. Vede, por favor, que é importante compreender isto. Porque, afinal de contas, quando experimentamos qualquer coisa bela — um pôr de sol, uma simples folha dançando ao vento, o luar espelhado nas águas, um sorriso, uma visão, ou o que quiserdes — a mente logo quer apoderar-se dessa experiência, guardá-la, adorá-la, e isso significa que deseja a repetição da experiência, e quando há desejo de repetição, tem de haver sofrimento.

É possível, pois, estar-se num “estado de experimentar” sem haver “experimentador”? Compreendeis? Pode a mente “experimentar” o feio, o belo, ou o que quer que seja, sem haver aquela entidade que diz: “experimentei”? Porque, aquilo que é a Verdade, Deus, o Imensurável, nunca poderá ser “experimentado” enquanto existir um “experimentador”. O “experimentador” é a entidade que reconhece; e se sou capaz de reconhecer a Verdade, então já a experimentei antes, já a conheci antes, e nesse caso não é a Verdade. Esta é a beleza da Verdade. Ela permanece eternamente “desconhecida”, e a mente, resultado do conhecido, nunca poderá apossar-se dela.

PERGUNTA: Dizeis que todos os impulsos são essencialmente idênticos. Quereis dizer que o impulso do homem que busca a Deus não difere do impulso do homem que anda atrás de mulheres ou se entrega ao vício de beber?

KRISHNAMURTI: Nem todos os impulsos são semelhantes entre si, mas todos são impulsos. Podeis ter um impulso para Deus, e eu posso ter um impulso para me embebedar; somos, todos dois, compelidos, vós numa direção e eu noutra direção. Vossa direção é respeitável, a minha não é; pelo contrário, sou um elemento anti-social. Mas o eremita, o monge, o chamado religioso, cuja mente está ocupada com a virtude, com Deus, é essencialmente idêntico ao homem cuja mente está ocupada com os negócios, as mulheres, ou a bebida, porque todos dois estão ocupados. Compreendeis? Um tem valor social, enquanto o outro, o homem cuja mente está ocupada com o beber, é, socialmente, um inadaptado. Portanto, estais julgando do ponto de vista social, não é verdade? O homem que se retira para um mosteiro e reza da manha à noite, fazendo um pouquinho de jardinagem a uma certa hora do dia, cuja mente está toda ocupada com Deus, com automortificações, autodisciplinas, autocontrole, esse homem vós considerais como uma pessoa santa, um homem extraordinário. Ao passo que o homem que se ocupa com negócios, que especula na bolsa, e está a todas as horas ocupado em ganhar dinheiro, desse homem dizeis: “É um homem comum, como nós outros”. Mas, todos dois estão ocupados. Para mim, não importa o com que a mente está ocupada. O homem ocupado com Deus nunca achará Deus, porque Deus não é uma coisa com que possamos ocupar-nos. Ele é o desconhecido, o imensurável. Ninguém pode ocupar-se com Deus. É uma maneira muito vulgar de pensar em Deus.

O que deve ter importância para nós não é o com que a mente está ocupada, mas, sim, o fato de existir essa ocupação, seja com a cozinha, com os filhos, com divertimentos, com a qualidade de comida que ides comer, seja com a virtude, com Deus. E deve a mente estar ocupada? Compreendeis? Pode a mente que está ocupada perceber, em algum tempo, “o novo”, perceber qualquer coisa que não seja sua própria ocupação? E que acontece à mente, se não está ocupada? Compreendeis? Existe alguma mente se não há ocupação? O cientista está ocupado com seus problemas técnicos, sua mecânica, suas matemáticas, assim como a dona de casa está ocupada com a cozinha ou o seu bebê. Temos um medo enorme de não estarmos ocupados, um medo enorme das consequências sociais. Se não estou ocupado, posso descobrir a mim mesmo, como sou, e minha ocupação, pois, é uma fuga àquilo que sou.

Mas, deve a mente estar sempre ocupada? E é possível manter a mente sem ocupação? Notai que estou fazendo uma pergunta que não é para ser respondida, porque vós tendes de descobrir; e quando descobrirdes, vereis que coisa extraordinária acontece.

É muito interessante quando uma pessoa descobre por si mesma como sua mente está ocupada. O artista está ocupado a respeito de sua arte, seu nome, seu progresso, a combinação das cores, a fama, a notoriedade; o homem, de ciência ocupa-se de sua ciência; e aquele que quer alcançar o autoconhecimento está ocupado com o conhecimento de si mesmo, esforçando-se, como uma formiguinha, para estar cônscio de cada pensamento, cada movimento. Todos eles são idênticos. É só a mente desocupada, completamente vazia, é só essa mente que pode receber algo novo, o que não é ocupação alguma. Mas essa coisa nova não poderá vir à existência, enquanto a mente se achar ocupada.

PERGUNTA: Dizeis que uma mente ocupada não pode receber aquilo que é a Verdade ou Deus. Mas, de que jeito posso ganhar a vida, a menos que esteja ocupado com meu trabalho? E vós, não estais ocupado com estas palestras, que são o vosso particular meio de ganhar a vida?

KRISHNAMURTI: Deus me livre de estar ocupado com minhas palestras! Não estou. E elas não constituem meu meio de vida. Se eu estivesse ocupado, não existiria nenhum intervalo entre pensamentos, aquele silêncio que é essencial para se ver qualquer coisa nova. Em tal caso, o falar me seria a coisa mais aborrecida do mundo. Não quero aborrecer com minhas palestras, e por esta razão não falo de memória. O que faço é uma coisa completamente diferente. Mas, isso não tem importância, e podemos conversar a seu respeito, noutra ocasião.

O interrogante pergunta como poderá ganhar o seu sustento, se não se ocupar com seu trabalho. Vós vos ocupais com vosso trabalho? Escutai bem isto: Se vos ocupais com vosso trabalho, então não amais o vosso trabalho. Compreendeis a diferença? Se amo o que estou fazendo, não estou ocupado com isso, meu trabalho não está separado de mim. Porém, neste país, somos exercitados — e infelizmente este mesmo hábito se está generalizando no mundo inteiro — para adquirirmos eficiência num trabalho que não amamos. Pode haver uns poucos cientistas, uns poucos técnicos especialistas, uns poucos engenheiros que realmente amam o que fazem, no sentido total da palavra, o que explicarei mais adiante. Mas, em geral, não gostamos do que estamos fazendo, e por esta razão é que andamos ocupados com nosso meio de vida. Acho que se pode perceber uma diferença entre as duas coisas, se se examinar bem isso. Como posso amar o que estou fazendo, se estou sendo impelido, a todas as horas, pela ambição, se quero, com meu trabalho, alcançar um fim, tornar-me pessoa importante, ter êxitos felizes? O artista que está interessado no seu nome, sua grandeza, na comparação, na realização de suas ambições, deixou de ser artista, sendo meramente um técnico como outro qualquer. E isso significa, realmente, que para se amar uma coisa, faz-se necessária a cessação completa de toda ambição, todo desejo de reconhecimento por parte da sociedade, que afinal está podre (risos). Senhores, por favor, não façais isso! Mas, nós não somos preparados para isso, não somos educados para isso; temos de adaptar-nos a uma certa rotina que a sociedade ou a família nos deu. Porque os meus antepassados foram médicos, advogados, ou engenheiros, tenho de ser médico, advogado ou engenheiro. E atualmente há necessidade de mais e mais engenheiros, porque a sociedade o está exigindo. E, assim, perdemos o amor à coisa em si — se alguma vez o tivemos, do que duvido muito. E, quando amais uma coisa, não há nenhuma ocupação com ela. O espírito não está pretendendo alcançar alguma coisa ou procurando ser melhor do que outro; toda comparação, toda competição, todo desejo de sucesso, de preenchimento, desapareceu totalmente. É só a mente ambiciosa que anda ocupada.

De modo idêntico, a mente que está ocupada a respeito de Deus, da verdade, nunca o descobrirá, porque se a mente está ocupada com uma coisa, já a conhece. Se já conheceis o imensurável, o que conheceis é produto do passado, e, por conseguinte, não é o imensurável. A Realidade não pode ser medida, e por conseguinte não pode haver ocupação com ela; o que deve haver é só uma serenidade da mente, um vazio, em que nenhum movimento existe, e é só então que pode despontar na existência o Desconhecido.

Krishnamurti, 14 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill