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domingo, 6 de setembro de 2015

O que libertará a mente do temor?

Pergunta: Meu corpo e minha mente parecem constituídos de anseios profundamente arraigados e de temores conscientes e inconscientes; observo a mente, mas muitas vezes esses temores básicos parecem me dominar completamente. Que devo fazer?

Krishnamurti: Senhor, averiguemos o que se entende por "temor". Que é o temor? O temor só existe em relação com alguma coisa. Ele, por si só, não existe. Só existe em relação com alguma coisa. Ele, por si só, não existe. Só existe em relação com alguma coisa — em relação com o que podem dizer a meu respeito, com o que o público pode pensar de mim, com a perda de meu emprego, com a necessidade de segurança, para mim, na velhice — ou há o medo de que morra meu pai, de que morra minha mãe, ou sabe Deus de que mais. O medo de alguma coisa.

Ora, como posso ser livre de temor? A disciplina, de qualquer espécie que seja, pode dissipar o temor? Disciplina é resistência, é o cultivo da resistência ao temor. Ela libertará a mente do temor? Ou a manterá apenas apartada do temor  como uma parede — continuando o temor existindo, do outro lado? É evidente, não há possibilidade de nos libertarmos do temor pela resistência, pelo cultivo da coragem; porque a coragem, pela sua própria natureza, é o oposto do temor, e quando a mente está a se debater entre o medo e a coragem, não há solução nenhuma, mas só cultivo da resistência. Não há, pois, nenhum triunfo sobre o temor, pelo cultivo da coragem. 

Como posso me livrar do temor? Prestem atenção a isto, senhores. Este problema nos interessa, a vocês e a mim, interessa a todos os entes humanos que desejam se livrar do temor, porque, estando livres do temor, o "eu", o "ego", que tantos malefícios e tantas desgraças está causando no mundo, pode desaparecer. Não é o "eu", na sua própria essência, a causa do temor? Porque eu desejo segurança, e se não me vejo seguro economicamente, quero me sentir seguro politicamente, socialmente, no meu nome, na vida futura; quero segurança da parte de Deus, a esperança de "ter melhor sorte na próxima vida". Preciso de alguém que me ensine, que me anime, que me proteja, que me dê refúgio. Assim sendo, uma vez que estou em busca de segurança, sob alguma forma, existe forçosamente temor, do qual resultam todos os meus anseios básicos. Assim, pois, se eu puder compreender o que é o temor, talvez haja a possibilidade de me libertar dessa constante escolha. 

Como posso compreender o que é temor? Como posso — sem me disciplinar, sem resistir, sem fugir do temor, sem criar outras ilusões, outros problemas, outros sistemas de gurus, de filósofos — como posso enfrentar verdadeiramente o temor, me livrar dele e transcendê-lo definitivamente? Só posso compreender o temor quando não fujo dele, quando não lhe resisto. Cabe-nos, pois, averiguar o que é essa entidade que está resistindo. Quem é o "eu" que está resistindo ao temor? Compreendem, Senhores? isto é, sinto medo; sinto medo do que possa ser dito de mim, visto eu desejar ser uma pessoa muito respeitável, bem-sucedida na vida, ter um nome, posição, autoridade. Um lado de mim mesmo, pois, deseja alcançar tal fim; interiormente, porém, eu sei que tudo o que eu fizer há de me levar à frustração, que o que desejo fazer me fechará o caminho. Assim, dois "processos" se operam em mim: um é a entidade desejando alcançar um resultado, se tornar respeitável, conquistar bom êxito; e o outro, a entidade que está sempre com medo de não conseguir o que deseja. 

Vejo, pois, em mim mesmo se operam dois processos, dois desejos — uma entidade que diz "quero ser feliz", e outra que sabe que não pode existir felicidade no mundo. Desejo ser rico, e ao mesmo tempo desejo vejo que há milhões de pessoas pobres; todavia, minha ambição é ser rico. Enquanto estiver na minha frente o desejo de segurança, enquanto for ele a força que me impele, não há possibilidade de libertação; ao mesmo tempo existe em mim a compaixão, amor, sensibilidade. Há uma batalha interminável, e essa batalha cria "projeções", atividades anti-sociais, etc., etc. Que devo fazer então? Como posso ficar livre desta batalha, deste conflito interior? 

Se eu poder observar um único "processo", em vez de cultivar o processo dual, há então a possibilidade de fazer algo com relação a tal processo, Isto é, se eu puder observar o temor, de per si, em vez de cultivar a virtude, a coragem, posso então fazer alguma coisa com relação ao temor. Isto é, se conheço o que é, sem me preocupar com o que deveria ser, posso então modificar o que é. No que diz respeito à maioria de nós, não conhecemos o que é; pois em geral só estamos interessados no que deveria ser. Esse "deveria ser" cria dualidade. O que deveria ser produz sempre conflito, dualidade. 

Posso, então, observar o que é, sem o conflito do oposto, posso observar o que é, sem resistência alguma? Porque, a resistência, justamente, cria o oposto, não é exato? Isto é, quando sinto medo, posso observar esse medo sem criar nenhuma resistência? Porque, no mesmo instante em que crio resistência contra o temor, faço nascer um novo conflito. Posso observar o que é, sem nenhuma resistência? Se posso, estou então apto a fazer algo com relação ao temor. 

Ora, que é o temor? É uma palavra, uma ideia, um pensamento, ou uma coisa real? O temor nasce da palavra "temor", ou é independente da palavra? Pensem bem nisso, senhores, junto comigo. Não se cansem. Não deixem a mente se evadir. Porque se realmente lhes interessa o problema do medo — e ele tem que lhes interessar, como a tido ente humano — medo da morte, medo de que morra o avo, a avó — se lhes oprime essa insólita escuridão, não devem estudar o problema, em vez de apenas o afastarem de vocês? Se examinarem muito atentamente este problema, veremos que, quando criamos resistência contra o temor, em qualquer de suas modalidades, seja fugindo, seja levantando barreiras, essa mesma resistência produz conflito: o conflito dos opostos. E través do conflito dos opostos jamais alcançaremos a compreensão. 

A ideia de que do conflito entre a tese e a antítese resultará uma síntese, é uma ideia falsa. O que produz compreensão é o claro percebimento do que é, como fato, e não a criação do oposto. Posso enfrentar o temor, observar o temor, sem resistir e sem fugir? Ora, quem é a entidade que observa o temor? Quando digo "tenho medo" — qual é o "eu" e qual é o "temor"? Existem aí dois estados diversos, dois diferentes processos? Sou diferente do "temor" que o "eu" sente? Se o sou, posso exercer ação sobre o temor, posso modificá-lo, resistir-lhe, afastá-lo de mim. Se não o sou, porém, não há então uma ação completamente diferente? 

Acham isso um tanto abstrato ou difícil, senhores? Tenham paciência, penetremos o assunto. Escutem, escutem só; não se deem ao trabalho de argumentar, porque, pelo escutar sem opor argumentos, pelo simples escutar, se pode compreender o que estou dizendo. 

Enquanto estou resistindo ao temor, dele não estou livre; há apenas mais conflito e mais sofrimento. Quando não resisto, há só o temor. É ele então distinto do "observador", do "eu" que diz "tenho medo"? Que é este "eu", que diz: tenho medo? O "eu" não é constituído desse sentimento que chamo "medo"? Não é o "eu" o sentimento de temor? Se não houvesse o sentimento de temor, não haveria "eu". Por conseguinte, o "eu" e o temor são uma coisa só. Não há "eu" separado do temor; portanto, o medo sou "eu". Só há, pois, medo. 

[...] Se temos a intenção de ficar completamente livres do temor, devemos reconhecer a verdade de que o "medo" é o "eu", de que não há temor, separado do "eu". Tal é o fato. Quando estamos frente a frente com um fato, há então ação — não produzida pela mente consciente, ação que é a Verdade, independente da escolha ou de resistência. Só aí existe uma possibilidade de se libertar a mente de toda espécie de temor.

krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Como posso vencer o temor?

Conhecemos várias formas de temor — o temor à opinião pública, o temor da morte, temor do que digam os outros, temor de perder um objeto; há inumeráveis formas de temor. Você pergunta: "Como posso vencer o temor?" Pode-se vencer alguma cosia? Sabe o que significa vencer, dominar, "ficar por cima" de alguma coisa, reprimi-la, excedê-la? Quando você domina uma coisa, terá de voltar a dominá-la, não é verdade? Nessas condições, o próprio processo de dominar é uma atividade contínua de constante dominar. Você não pode dominar seu inimigo, porque, justamente ao dominá-lo, você o faz mais forte. Este é um dos fatores. 

Temos interesse em compreender o temor e em procurar as coisas que ele implica. Vamos viajar juntos. Como vem à existência, o temor? Trata-se da palavra "temor", ou do "fato" temor? Compreende? É a palavra que está me causando temor, ou o fato, a existência real de uma coisa em relação com outra? Qual desses dois está causando o temor? Isso não é complexo; é muito simples, se observar bem. 

Tenho medo à palavra "temor"? Averiguemos. Ora, que acontece quando sentimos medo? A reação óbvia, é fugir dele, por muitas maneiras — embriagues, mulheres, templo, mestre, crenças; todas estas coisas estão no mesmo nível; não há melhores e nem piores. O homem que foge ao temor pela embriagues é tão virtuoso como o que foge do medo pela virtude. Socialmente, poderá haver diferença de valores, mas, mentalmente, psicologicamente, é tudo a mesma coisa. 

Qual é nossa reação, diante do temor? Fugir. isto é, nossa reação ao temor é de condenação, — não é verdade? — ou de justificação. Estou realmente com medo? Penso na frase "estou com medo" na hora que estou fugindo? Não penso, certamente. Não posso compreender o temor, se fujo dele, se o justifico ou condeno, ou mesmo, se com ele me identifico ou se digo "estou com medo" e raciocino. Assim, se desejo compreender o temor, não deve haver fuga. Mas nossa mente está constituída de fugas. Por isso não quer enfrentar aquela coisa, compreendê-la, reagir, descobrir o que está causando o temor; por essa razão, fujo ao temor. 

Que é então importante, o temor ou a fuga do temor? Fugir dele, não é verdade? Não a maneira de dissolvê-lo, mas sim a maneira de fugir dele. Estou mais interessado no fugir do que no compreender. E posso compreendê-lo, se estou olhando noutra direção? Só posso vê-lo bem se me concentro em torno dele. Existe a possibilidade de um percebimento completo, de completa concentração em torno do tempo, se estou sempre a correr dele? Não existe, evidentemente. 

Para compreender o temor, não fuja, por meio de repressão, domínio, virtude, etc. Assim você ficará mais perto do fato que está causando o temor. Qual a sua relação com esse fato? É uma relação verbal? — verbal, no sentido de que a mente especula a respeito e teme a especulação; a mente prevê e diz: "Se acontecer isto, acontecerá aquilo; por isso tenho medo". Qual é, pois, a sua relação com aquele fato? Atente bem, pois dessa relação depende a sua solução. Você está em relação com o fato que causa o temor, apenas verbalmente — isto é, especulativamente — ou o está defrontando sem especulação, que significa sem verbalização? Se está em relação com ele verbalmente, não tem então comunhão direta com ele. Se o está olhando de frente, então não está fugindo, não há evasão de sob forma alguma. 

Consideremos agora a relação das palavras e de sua significação. O temor é causado pela palavra ou pelo fato? Visto que a palavra é a mente, a mente está criando uma cortina de proteção, pela verbalização, a fim de não encarar o temor. Será, então, o temor criado pela palavra? — isto é, pela mente, que se põe a pensar a respeito, sendo o pensamento processo de verbalização? Se assim é, pensar a respeito do temor significa fugir dele. Em caso contrário, você está encarando o fato sem verbalização, sem processo de pensamento, sem evasão; você está em relação direta com ele, em comunhão direta com ele. 

Quando você está em comunhão direta com alguma coisa, que acontece? Você já esteve diretamente em comunhão com alguma coisa, sem processo de pensamento? Evidentemente, nunca esteve. Quando você se acha nesta comunhão direta, a coisa a que você deu o nome de temor, deixou de existir. São as cortinas de proteção, as fugas, a verbalização, esse processo mental, que criam o temor, e não o próprio fato. Essas cortinas existentes entre você e o fato, produzem o medo, e não o fato; não existe a necessidade de dominar o fato. Se você percebe o processo na sua inteireza, se o acompanhou, passo a passo, verá que você não tem mais temor. Está, então, observando o fato, e o fato vai operar a modificação, o fato vai encarregar-se da ação, e não você, em seu movimento de fuga. 

Krishnamurti em, Quando o pensamento cessa

sábado, 8 de novembro de 2014

Sobre o medo no início do paradigma holotrópico

Quando alguém penetra profundamente na meditação, o medo o agarra. Algumas vezes alguém encontra a morte, sente que vai morrer. Então a pessoa recua, volta imediatamente à superfície. Isso pode acontecer. Antes que você renasça, você terá que passar pela morte. Mas não tenha medo. Se chegar um momento em sua meditação em que você sinta que é o seu último momento, e que você não será capaz de voltar ao mundo, ao corpo novamente, sinta gratidão, uma profunda gratidão, e dê boas vindas a esse momento. É uma ocasião muito rara que surge quando sua meditação foi bem fundo. É bom sinal; dê-lhe boas vindas. Não tenha medo porque, se tiver, poderá perdê-la; e, uma vez perdida, pode passar muito tempo até surgir de novo uma ocasião como essa... Quando o medo se apodera de você, você se torna profundamente, inconscientemente medroso, e nunca mais voltará ao ponto em que a morte pode ser encontrada de novo.

Lembre-se disso. Muita gente perdeu vários momentos raros. Saiba que a morte estará lá. Não a sua morte, mas a morte do ego. Mas porque você está identificado com o ego, você sente que "Eu vou morrer". Você não vai morrer! Você é imortal. Você é eterno. Não há possibilidade; a morte é a única impossibilidade. Você não pode morrer; portanto, não tenha medo.

Se você sentir medo, pode lembrar de mim; e mesmo nesse momento de morte, eu estarei lá. Você pode ter certeza de que estarei lá e de que você não vai morrer; alguém estará lá para ajudá-lo.

(...) A meditação é caótica porque a catarse é necessária. Será difícil para você; você se sentirá sem jeito, embaraçado. De volta à família e à sua vizinhança, você pode sentir: "Como poderei fazer isso? Como poderei gritar e ficar louco? O que irão pensar de mim?"

Não se importe muito com o que os outros pensam. Se você se importar muito com as outras pessoas e com o que elas irão pensar, nunca poderá transformar a si mesmo. Então você será apenas um escravo das opiniões alheias. Eles podem permitir apenas que você seja como eles, nunca diferentes deles.

Se você quiser transformar a si mesmo, lembre-se, você estará indo além da multidão, além da sociedade. Não há outra maneira. Se você estiver interessado em transformar a si mesmo, estará indo além mente da multidão, além da mente coletiva. Mas isso é um problema apenas no começo.

(...) Não fique muito preocupado com os outros. Você pode se tornar um indivíduo apenas se você for além da opinião alheia, se você seguir o seu próprio caminho, sem ficar aborrecido com que os outros pensam. Só assim você se tornará um indivíduo.

A palavra "indivíduo" é bela. Significa "indivisível". Se você seguir a multidão, será sempre fragmentado, dividido. Você não pode se tornar uma unidade porque a multidão é muito grande.

Osho em, A Nova Alquimia

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não somos indivíduos, porque não estamos livres do temor

Quando temos um problema, desejamos solução imediata; recorremos então a um livro, a um médico, um analista, um especialista; ou ficamos batalhando dentro de nós mesmos para achar a solução. Somos impacientes, queremos resultados imediatos e vivemos por isso em constante conflito. 

(...) Será possível a vocês e a mim, nos libertarmos de todos os nossos problemas, dos nossos sofrimentos, de nossas incontáveis necessidades?

Ser livre implica solidão completa, — o que significa a libertação do medo. É só então que somos indivíduos, não é verdade? Só somos indivíduos quando cessa completamente o temor: o temor da morte, da opinião alheia, o temor que resulta de nossos próprios desejos e ambições, o temor da frustração, o temor do não-ser. O estar só é, sem dúvida, inteiramente diferente do estar em isolamento. 

É o próprio isolamento que cria o temor; e como medida defensiva temos um grande número de barreiras, um grande número de ideias, abrigos, garantias. 

Em geral, não somos verdadeiros indivíduos, não é exato? Somos o resultado de inúmeras influências sociais, das impressões acumuladas, dos problemas interiores que nos oprimem a mente e o coração. Não somos indivíduos, porque não estamos livres do temor; e a mim me parece que, se não estamos livres do temor, nunca encontraremos uma solução verdadeira para qualquer um dos problemas humanos. 

Pois bem. É possível nos libertarmos completamente do temor? E de que temos medo? De estarmos sem segurança, de não termos as coisas de que fisicamente necessitamos, das consequências de não nos subordinarmos a determinado sistema político ou religioso, etc. 

O desejo de segurança implica temor, em nossas relações. Para sermos capazes de expressar a verdade que vemos, independentemente das ameaças que nos rodeiam, requer-se uma grande revolução em nosso pensar, não acham? 

Pode cada um de nós tornar-se completamente livre do desejo de segurança, que gera temor? Se pudermos compreender profundamente esta questão, acredito, muitos dos nossos problemas serão resolvidos. 

Estar liberto do temor é, sem dúvida, a única revolução, porquanto, uma vez livres do temor, já não somos hindus ou americanos, não pertencemos a nenhuma religião organizada, não há mais ambição, desejo de sucesso, de realização, e, por conseguinte, já não estamos empregando a nossa força contra outro. 

A isenção de temor não é uma ideia, nem tampouco um ideal que devemos lutar para alcançar; entretanto, quando nos fazemos esta pergunta: "Pode-se ser livre do temor?" — qual é a nossa reação interior? 

O temor é um empecilho básico, um obstáculo fundamental em todas as nossas relações e em nossa busca da realidade; e podemos nós — vocês e eu — em sucessivos esforços, sem análise, libertar-nos desse contágio gerador de tantos problemas? Pode-se ser totalmente isento de temor? Esta é uma pergunta difícil de respondermos a nós mesmos, não acham? 

Ser livre de temor significa, com efeito, estar isento de todo desejo de segurança econômica ou social, ou do desejo de encontrar segurança em nossa experiência pessoal. 

Esta questão, sem dúvida, é importantíssima, uma vez que toda a nossa perspectiva das coisas é prejudicada pelo temor; nossa educação, religião, estrutura social, nossos esforços em todas as esferas de ação, estão baseadas no temor. 

E pode alguém ficar livre do temor por meio de algum exercício, de alguma espécie de disciplina, pelo auto-esquecimento, pela imolação de si mesmo, pelo cultivo de qualquer crença ou dogma, ou pela identificação com uma nação qualquer? 

É claro que nenhuma dessas coisas pode nos dar a libertação do temor, visto o próprio "processo" de imitação, de submissão, de auto-sacrifício, radicar-se no temor; e ao reconhecermos a inutilidade de tudo isso e percebermos como a mente está ocupada em "projetar" defesas, abrigar-se em crenças e conhecimentos — e em todas essas coisas está sempre emboscado o temor — que devemos fazer? Como pode, então, uma pessoa libertar-se desse estado a que chamamos temor? 

Se temos disposições sérias, não acreditam ser esta uma das perguntas fundamentais que devemos fazer a nós mesmos? Desde crianças somos educados para pensar sempre sob a inspiração do temor; todas as nossas defesas, tanto psicológicas como físicas, se baseiam no temor; e como pode a mente assim educada, condicionada, libertar-se do temor? 

Pode a mente libertar-se do temor? Pode qualquer atividade da mente dar liberdade a ela própria? A própria mente, o próprio pensamento, não representa o autêntico processo do temor? E pode o pensamento anular o temor? 

Senhores, este não é um problema fácil de resolver; o que cada um de nós pode fazer, porém, é tornar-se bem cônscio do temor, sem lutar contra ele, sem analisá-lo, e, portanto, sem levantar defesas. 

E quando a mente se acha de fato muito tranquila, passivamente cônscia de todas as formas de temor que surgem, e sem empreender nenhuma ação contra elas, nessa quietude, existe a possibilidade de se dissolver o temor, sendo esta a única revolução real, fundamental; e, então, há individualidade. Enquanto há temor, não há singularidade, individualidade. 

Atualmente, nós, em geral, somos apenas o resultado de influências várias: sociais, econômicas, políticas, climáticas, etc.; não somos genuínos indivíduos e, por conseguinte, não somos criadores. A ação criadora não representa a expressão de um talento, de um dom; só se manifesta quando não existe temor, isto é, quando o indivíduo é completamente independente. 

Sem dúvida, esta questão de como ser livre é um dos nossos principais problemas, não acham? Talvez, mesmo, seja o nosso único problema; pois é o temor que, dissimulado nos mais íntimos recessos de nossa mente e de nosso coração, nos tolhe o pensar, o ser, o viver. 

Parece-me, portanto, que o que se necessita agora não é de mais filosofias, de sistemas melhores, de mais saber e ilustração, mas, sim, de verdadeiros indivíduos, inteiramente livres de temor. Porque só quando não existe temor, pode existir amor. 

Ora, podemos nós — vocês e eu — empreender a nossa libertação do temor? Podemos rejeitar todas as opiniões, todos os dogmas e crenças, que são meras expressões do temor, e atingir a fonte, o problema fundamental, que é o próprio temor? 

Ora, como já disse, a ação criadora não representa um mero talento, um dom, uma capacidade; ela excede em muito tudo isso. Só pode haver ação criadora quando a mente se acha totalmente tranquila, sem os embargos do temor, do julgamento, da comparação, sem a carga do saber e da ilustração. 

A maioria de nós, porém, anda sempre com a mente agitada, cheia de problemas, numa eterna busca de segurança; e como pode a mente, em tais condições, ser independente, livre de influências e temores? Como pode ela compreender aquela força criadora, aquela realidade — qualquer que ela seja — ou descobrir se ela existe ou não existe? 

Só quando a mente está inteiramente livre do temor há a possibilidade de realizar-se uma revolução fundamental — a qual nada tem em comum com a revolução econômica ou política; e para se ser livre de temor não se requer presteza de raciocínio, mas, vigilância constante, e um considerável percebimento, paciente, persistente, do inteiro processo do pensamento, o qual pode ser observado apenas nas relações, em nossas atividades do dia a dia. 

O autodescobrimento se realiza pela compreensão do que é, e o que é é o processo real do pensamento em qualquer momento que passa. Isso, positivamente, é meditação, e requer uma tranquilidade de espírito em que não haja exigência alguma. 

Somente quando começamos, vocês e eu, a conhecer a nós mesmos, a mente pode estar livre de temores, e só então há possibilidade, não apenas de paz interior, mas de felicidade exterior para o homem.

Krishnamurti em, PERCEPÇÃO CRIADORA


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill