Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

domingo, 10 de junho de 2012

As sementes de uma rebeldia inteligente


D
esde a mais tenra idade, ele se mostrava avesso a qualquer tipo de amoldamento. Somente nos seus primeiros quatro anos de escola, sentado nas primeiras carteiras, não apresentou problemas com suas notas. As únicas reclamações ouvidas por sua mãe nas reuniões de pais e mestres, — as quais deveriam ter seu nome alterado para “Reunião de mães e débeis” — visto que a maioria dos homens sempre dão uma desculpa para delas estarem ausentes, é que o garotinho de pernas tortas, botas ortopédicas, com seu cabelinho preso ao lado por um pouco de brilhantina, falava demais. No quarto ano é que passaria a se sentar nas últimas carteiras da sala, junto a outras crianças, que pelos professores destituídos de inteligência amorosa, eram chamadas de "problemáticas". Ao lado delas, ele começaria a colecionar além de uma série de notas vermelhas, numa amassada carteirinha escolar, uma série de atos de violência física e psicológica por parte de alunos mais velhos que ali cursavam o ginasial. E foi assim que anos mais tarde conseguiria a façanha de repetir o primeiro ano ginasial por três vezes, sendo que a última repetição não se deu por causa de suas notas, as quais agora, em azul, se mostravam excelentes, mas sim, devido o grande número de faltas. O fato mais curiosamente doloroso nisso tudo: nenhum dos chamados "mestres" foi capaz de interpretar os tais "problemas" como um saudável pedido de ajuda contra um sistema educacional orientado para a compulsão ao ajustamento, a padronização e a especialização, assim como para a violência física e emocional de um lar profundamente disfuncional. 

O jovem nunca quis saber de seguir cronogramas e horários, por causa disso, quase nunca sabia qual seria sua próxima aula. Ficava em pé na beira da porta da sala de aula para ver a qual cabeça dura de jaleco branco teria que dedicar 50 minutos de seu cérebro e coração. Quando via que o grau de chatice do assim erroneamente chamado “mestre” era muito intenso, escapava rapidamente pelas escadarias de cerâmica vermelha, cercada de verdes paredes riscadas, para se juntar ao fundo do colégio, atrás das úmidas paredes do teatro, à um pequeno grupo de músicos apreciadores de garrafas de vinho barato, que entravam pela porta da frente da escola, escondidas sob o suado sovaco de algum deles, com ajuda de um sujo avental branco. Junto à eles cantava canções e recitava suas primeiras poesias, as quais eram por ele assinadas com o pseudônimo de "Petty Poeta" (em sinal de rebeldia as chatas aulas de francês). Intercalava música, poesia, beijos, rápidas apalpadas em pequenos seios e pelos pubianos em desenvolvimento, e também seus esportes preferidos: vôlei e futebol. 

Olhava seus professores, a grande maioria com a inteligência mediana do velho e ranzinza Dr. Smith, sempre perdidos no espaço vocacional, destituídos de verdadeira sabedoria e psicologia, perpetuando um planejado e arcáico calendário escolar, cujo ofuscado brilho e cheiro de mofo, em absolutamente nada atraiam seu ser. Deparava-se com disaborosas matérias que o forçavam (não só ele como aos demais alunos) a uma ridícula decoreba tendo em vista a futura conquista de uma nota média, com promessas de um futuro brilhante, com o qual agradariam pais, professores e diretores escolares (os quais através da conquista do ano letivo por um determinado número de alunos, conseguiriam o coeficiente necessário para garantir do Estado uma significativa verba para o ano seguinte). 

Nunca houve por parte de seus professores uma real preocupação por aquilo que naquela época, o jovem já desconfiava ser o sentido de uma Verdadeira Educação. Naquela escola não se ousava falar sobre emoções e sentimentos. Não se falava de observar a Grande Mestra Natureza. Não se ensinava a leitura da voz do coração. Não se ensinava poesia, nem as maravilhas dos contos e lendas. Nunca falaram que corrupção é muito mais do que aceitar dinheiro por debaixo da mesa, mas sim, aceitar ser conivente com aquilo que vai contra a própria consciência e coração. Suas salas eram como um velho teatro destituído da verdadeira alma que o movimenta: a paixão. Ali só se falava de tabelas periódicas, nomes de reis, rainhas, rios, capitais, gametas, esporângios, siglas constitucionais, decorados 2x2= 4 elavado a 5ª potência decorativa do certo, errado. Ali, não havia a possibilidade de se assinalar outra alternativa correta... Tudo isso vindo da raiz quadrada das mentes de professores notoriamente entediados. Ali faltava paixão, faltava poesia e, portanto, essência, Vida. Em conseqüência, dali saiam bem letrados ajustados alunos, condecorados com diploma, medalha e cartas de motoristas, pagas pelos seus papais. Estes, completamente destituídos das vogais que fazem o coração vibrar e sentir e que nos brindam com a capacidade de nos dirigirmos de forma assertiva pelas sinuosas estradas da Vida. Dali saiam jovens com almas embrutecidas, com aptos currículos em consonância a insensibilidade de um sistema altamente corruptível. Uma verdadeira fábrica de "adolescentes adultos crianças", totalmente destituídos de som próprio, articulando decorados ruídos de terceiros, que para orgulho de seus pais, saiam dali com seus canudos embaixo do braço, onde dentro dele, folhas de papel com estampilhas douradas a serem emoldurada e penduradas nas paredes igualmente tortas de uma futura sala qualquer, onde a qualidade do ar em seus cérebros, seria tão natural quanto a de um aparelho de ar condicionado. Ou então, numa segunda opção, cujo número era bem menor, jovens como ele, que por não permitirem o embrutecimento de suas almas, eram por todos tidos como desonrados rebeldes iletrados, a serem ainda mais castigados, numa vã tentativa de amoldamento, pelos adultos seguidores de um velado lema: "Há que se endurecer, mesmo que estes percam a inteligência da ternura". O jovem se ressentia pelo arcaico  tipo de sistema de educação, o qual era destituído de um “método” capaz de fazer com que todos os envolvidos, professores e alunos, se tornassem seres humanos amadurecidos, capazes de pensar nos problemas por si mesmos, livres do medo que faz com que, quando adultos, se agarrem na pseuda-segurança de emprestadas certezas, estas sempre em acordo com alguma estupidez tradicional, que remete a todos à estagnação da verdadeira liberdade do espírito humano. Um sistema que condena aos seus alunos a serem verdadeiros "caçadores de profissão, ou melhor de uma limitante especialidade desde que seja lucrativa, ao invés de uma vocação que faça com que os mesmos, por causa de seu encantamento, fiquem tão maravilhados ao ponto de com bom grado, perderem horas e mais horas de seu precioso sono. Que os incentive, se preciso for, a passar fome ou quem sabe, até morrer, mas nunca se dedicar a uma atividade comercial estúpida que os fará infelizes para o resto de suas vidas. Ele se ressentia do tipo de educação que forçava a todos ao ajustamento e não ao salutar questionamento social, ajustamento esse que faz com que, ao passar dos anos, todos tenham o adormecimento da capacidade de se sensibilizar.

Diante dessa triste realidade, ele corajosamente escolheria, ao invés de sair pelas ruas com camisetas estampadas com frases do tipo "Chê vive", (como assim faziam alguns poucos destituídos de uma rebeldia inteligente), de forma anônima e silenciosa iniciar sua própria rebelião para quem sabe um dia pudesse gritar ao mundo em forma de poesia, com a mesma energia dos heróis capitães e piratas feirantes:
"Che:
Sabes o que é Vida?
então, rebela-te!"

Anos mais tarde, já na faze adulta, escreveria em seu livro a seguinte constatação:

Foram tantos anos inconscientes em Exatas
Que precisei de um profundo mergulho em Biomédicas
Para tomar consciência do pouco que em mim ainda restava de 
Humanas.

Outsider44
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill