Em 1922, aos vinte e oitos anos de idade, Krishnamurti passou por uma experiência espiritual que mudou a sua vida, e a que se seguiram anos de aguda e quase contínua dor de cabeça e na espinha. Revela o manuscrito que o "processo", — como ele denominava essa misteriosa dor — como ele denominava essa misteriosa dor — ainda prosseguira quase quarenta anos depois, embora de forma bem atenuada.
O "processo" era um fenômeno físico, que não se deve confundir com o estado de consciência a que Krishnamurti alude de várias maneiras nos cadernos, como a "benção", a "outra coisa", outra "presença", a "imensidão", "aquela coisa singular", o "incognoscível", etc. Em tempo algum tomou remédios para o "processo". Jamais se utilizou de álcool ou de qualquer espécie de droga. Nunca fumou e durante os últimos trinta anos, aproximadamente, nem mesmo tomou chá ou café. A vida toda vegetariano, esforçou-se por conseguir uma dieta farta e bem equilibrada. No seu modo de ver, o ascetismo, na vida religiosa, é tão destrutivo quanto os excessos. Com efeito, ele cuida do "corpo" (krishnamurti sempre estabeleceu uma separação entre corpo e o ego), tal como um oficial de cavalaria cuidaria de seu cavalo. Nunca sofreu de epilepsia iu de qualquer outro mal que pudesse suscitar visões ou fenômenos idênticos; tampouco pratica algum "sistema" de meditação. Estas afirmativas objetivaram evitar a suposição de que os estados de consciência de Krishnamurti são ou foram praticados por por drogas ou jejuns.
Neste singular "diário" temos o que se poderia denominar o manancial do ensino de Krishnamurti. Toda a sua essência aqui está, brotando de sua fonte nativa. Assim como consta desta páginas, que "cada vez existe nesta benção algo novo", uma qualidade "nova", um "novo" perfume, — mas que, no entanto, é imutável, assim, também o ensinamento que daí emana nunca é exatamente o mesmo, embora muitas vezes repetido. Semelhantemente, árvores, montanhas, rios, nuvens, luz do sol, pássaros e flores, por ele várias vezes descritos, são sempre coisas "novas", porque vistas cada vez com olhos límpidos; cada dia elas são para ele percepções inteiramente novas, e deste modo as vemos nós também.
Mary Lutyens