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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Na compreensão da natureza do "eu" está a liberdade

A educação correta não está interessada em ideologia alguma, por mais promissora que seja uma futura Utopia; não se baseia em sistema algum, por mais escrupulosamente que tenha sido concebido; não é, tampouco, um meio de condicionar o indivíduo de determinada maneira. Educação no sentido verdadeiro, é ajudar o indivíduo a tornar-se um ente amadurecido e livre, para "florescer ricamente em amor e bondade". Nisso é que devemos estar interessados, e não, em moldar a criança de acordo com um padrão idealista.

Todo método de classificar as crianças segundo seus temperamentos e aptidões põe em relevo suas diferenças, cria antagonismo, fomenta divisões na sociedade e não ajuda a produzir entes humanos integrados. É bem evidente que nenhum método ou sistema pode promover a educação correta, e a estrita aderência a determinado método denota a indolência da parte do educador. Enquanto a educação se fundar em princípios rígidos, poderá produzir homens e mulheres proficientes, mas nunca formará entes humanos criadores.

Só o amor pode despertar a compreensão para com outrem. Quando há amor, há comunhão instantânea com outra pessoa, no mesmo nível, ao mesmo tempo. Porque somos tão áridos, vazios e sem amor é que deixamos os governos e os sistemas se encarregarem da educação de nossos filhos e da direção de nossas vidas; mas os governos precisam de técnicos eficientes e não de entes humanos, pois que estes se tornam perigosos para os governos — assim como para as religiões organizadas. É por isso que os governos e organizações religiosas têm interesse em controlar a educação.

A vida não pode ser posta em conformidade com um sistema, não podemos metê-la à força num molde, por melhor que este tenha sido concebido; e a mente que só se exercita no saber positivo, é incapaz de compreender a vida na sua variedade e sutilidade, nas suas profundezas e grandes alturas. Quando educamos nossos filhos de acordo com um sistema de pensamento ou uma determinada disciplina, quando os ensinamos a pensar "especializadamente", impedimos que eles se tornem homens e mulheres integrados, e por isso são incapazes de pensar inteligentemente, isto é, de encarar a vida como um todo.

A mais alta função da educação consiste em produzir um indivíduo integrado, capaz de entrar em relação com a vida como um todo. O idealista, tal como o especialista, não está interessado no todo, mas apenas na parte. Não poderá haver integração, enquanto estivermos interessados em algum padrão ideal de ação; e a maioria dos preceptores, que são idealistas, repudiaram o amor; suas mentes são áridas e seus corações insensíveis.

(...) Outra finalidade da educação é a de criar novos valores. Inculcar, simplesmente, na mente da criança os valores prevalescentes, fazê-la ajustar-se a ideais, é condicioná-la, sem despertar-lhe a inteligência. A educação está estreitamente ligada à presente crise mundial, e o educador que percebe as causas deste caos universal deve perguntar a si mesmo como despertar a inteligência do estudante e contribuir, deste modo, para que a geração futura não produza novos conflitos e desastres. Deve consagrar todo o seu pensamento, todo o seu desvê-lo e cuidado à criação do ambiente adequado e ao desenvolvimento da compreensão, para que, atingindo a madureza, a criança seja capaz de atender inteligentemente aos problemas que a vida lhe oferecer. Mas, para fazê-lo, precisa o educador compreender a si mesmo, em vez de confiar em ideologias, sistemas e crença.

Deixemos de lado os princípios e os ideais e interessemo-nos pelas coisas tais como são; o estudo do que é desperta a inteligência, e a inteligência do educador é muito mais importante do que seu conhecimento de um novo método de educação. Quando seguimos um método, ainda que tal método haja sido elaborado por pessoa sensata e inteligente, ele se torna tão importante que as crianças são consideradas importantes apenas quando se ajustam a ele. Tomamos as medidas da criança, classificamo-la e passamos a educá-la de acordo com um gráfico, um plano. Esse processo de educação pode ser muito conveniente para o preceptor, mas nem a prática de um sistema, nem a tirania da opinião e do saber podem produzir um ser humano integrado.

A educação correta consiste em compreender a criança tal como é, sem lhe impor nenhum ideal relativo ao que pensamos que ela "deveria ser". Enquadrá-la em um ideal é induzi-la a adaptar-se, o que gera temor e produz na criança um conflito constante entre o que ela é e o que "deveria ser". E todos os conflitos interiores têm suas manifestações exteriores na sociedade. os ideais constituem verdadeiro obstáculo à nossa compreensão da criança e a compreensão de si própria, pela criança.

O pai, que deseja de verdade compreender o filho, não o olha através da cortina de um ideal. Se ama o filho, observa-o, estuda-lhe as tendências, disposições e peculiaridades. Só quando não temos amor à criança lhe impomos um ideal, porque então pretendemos ver realizadas nela nossas próprias ambições e queremos que ela seja isso ou aquilo. Quem ama não o ideal, mas a criança, tem a possibilidade de ajudá-la a compreender-se a si própria, tal como é.

(...) para ajudar a criança, necessitamos de tempo para estudá-la e observá-la, e isso requer paciência, amor e carinho; mas, quando não temos amor, quando não temos compreensão, forçamos a criança a agir de acordo com um padrão a que chamamos "ideal".

Os ideais constituem escapula muito conveniente, e o preceptor que os segue é incapaz de compreender os seus discípulos e de cuidar deles inteligentemente; para ele o ideal do futuro, "o que deve ser ", é muito mais importante do que a criança atual. A fidelidade a um ideal exclui o amor, e sem amor nenhum problema humano pode ser resolvido.

O bom preceptor não confiará em método algum, estudará cada um dos seus discípulos individualmente. Nas relações que mantemos com as crianças e os adolescentes, não devemos encará-los como máquinas, passiveis de "endireitar" num instante, mas como seres vivos, impressionáveis, volúveis, sensíveis, medrosos, afetivos; e no trato com eles necessitamos de muita compreensão, da força da paciência e do amor. Quando carecemos dessas qualidades, recorremos a remédios prontos e fáceis, esperando resultados automáticos e maravilhosos. Quando somos desatentos, mecânicos em nossas atitudes e ações, eximimo-nos de todo e qualquer mister que nos pareça incômodo e que não possamos executar automaticamente; esta é uma das principais dificuldades na educação.

A criança tanto é resultado do passado como do presente, e como tal já está condicionada. Se lhe transmitimos nossa própria mentalidade, perpetuamos tanto o seu como o nosso condicionamento. Só há transformação radical se compreendemos nosso próprio condicionamento e nos livramos dele. Discutir sobre o deve ser educação correta, enquanto estamos condicionados, é totalmente fútil.

Enquanto as crianças são muito novas, devemos, é claro, protegê-las contra danos físicos e não deixar que se sintam fisicamente inseguras. Mas, infelizmente, não paramos aí; queremos formar suas maneiras de pensar e de sentir, queremos moldá-las de acordo com nossas próprias aspirações e intentos. Queremos preencher-nos em nossos filhos, perpetuar-nos através deles. Erguemos muralhas em redor deles, condicionamo-los a nossas crenças e ideologias, temores e esperanças — e depois choramos e rezamos quando morrem ou ficam mutilados nas guerras, ou quando as experiências da vida lhes infligem sofrimentos.

Essas experiências não trazem liberdade alguma;ao contrário, fortificam a vontade do "eu". O "eu" se constitui de uma série de reações defensivas e expansivas, e seu preenchimento está sempre em suas próprias projeções e agradáveis identificações. Enquanto traduzimos a experiência em termos relativos ao "eu", a "mim", ao "meu"; enquanto o "eu", o "ego", se mantiver por meio de suas reações, a experiência não pode ser livre de conflito, confusão e dor. A liberdade vem quando compreendemos a natureza do "eu", do "experimentador". Só quando o "eu", com suas reações acumuladas, não é mais o "experimentador", a experiência assume um significado inteiramente diferente e se transforma em criação.

Para ajudar a criança a libertar-se dos ditames do "eu", causadores de tantos sofrimentos, cada um de nós deverá modificar profundamente sua atitude e suas relações com a criança. Os pais e os educadores podem, com seu próprio entendimento e conduta, ajudar a criança a ser livre e a florescer em amor e bondade.

A educação, no seu estado atual, não favorece de maneira alguma a compreensão das tendências hereditárias e das influências ambientais, que condicionam a mente e o coração e sustentam o temor; por conseguinte, ela não nos ajuda a romper esses condicionamentos, para produzir um ente humano integrado. Qualquer forma de educação que só atenda a uma parte e não à totalidade do homem, conduz, inevitavelmente, a conflitos e sofrimentos cada vez maiores.

Só na liberdade individual pode florescer o amor e a bondade; e só a educação correta pode oferecer essa liberdade. Nem o ajustamento à sociedade atual nem a promessa de uma futura Utopia pode, em tempo algum, dar ao indivíduo aquele discernimento, sem o qual ele está sempre criando problemas.

O verdadeiro educador, que percebe a natureza intrínseca da liberdade, ajuda cada um dos seus discípulos, individualmente, a observar e compreender os valores e ilusões por ele próprio (discípulo) criados e "projetados"; ajuda-o a se tornar cônscio das influências condicionantes que o cercam, bem como dos seus próprios desejos, que limitam a mente e geram o temor; ajuda-o, no caminho para a virilidade, a observar e a compreender a si próprio em relação a todas as coisas, porque a ânsia de realizar nosso próprio preenchimento é a causadora de conflitos e tribulações infindáveis.

É certo que se pode ajudar o indivíduo a perceber os valores perenes da vida, sem condicioná-lo... A confusão que já existe no mundo surgiu porque o indivíduo não foi educado para compreender a si próprio. Deram-lhe alguma liberdade superficial, mas também lhe ensinaram a ajustar-se, a aceitar valores prevalecentes.

Contra estar "arregimentação", muitos estão insurgindo; esta revolta, infelizmente, é mera reação egoística, que ensombra mais ainda a nossa existência. O verdadeiro educador, cônscio da tendência da mente para a reação, ajuda o discípulo a alterar os valores atuais, não por meio da reação contra eles, mas pela compreensão do processo total da vida. A plena cooperação entre um homem e outro não é possível sem a integração, que a educação correta pode contribuir para o despertar do indivíduo.

Krishnamurti – A educação e o significado da vida

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill