Pode a mente esvaziar-se do passado
e atingir aquela área de si mesma ainda não tocada pelo pensamento? Vejam, até
agora só operamos dentro das áreas do pensamento, como o conhecimento. Existirá
alguma outra parte, alguma outra área da mente, que inclui o cérebro, que não se
encontre tocada pela luta, pela dor, pela ansiedade, pelo medo humanos, e por
toda a violência, por tudo quanto o homem produzir através do pensamento? Meditar
significa encontrar essa área. Isso implica não só descobrir se o pensamento
pode cessar, mas também se o pensamento pode agir, quando necessário, no campo
do conhecimento. O conhecimento nos é indispensável; sem ele não poderíamos funcionar, não poderíamos falar, não poderíamos
escrever, etc. O conhecimento é
necessário para podermos funcionar, mas esse funcionamento se torna neurótico
quando o status adquire muita importância: é o surgimento do pensamento como
"eu", como status. O conhecimento, portanto, é necessário e, no
entanto, meditar significa encontrar, ou atingir, ou observar uma área na qual não
exista movimento do pensamento. Podem esses dois movimentos viver juntos, em
harmonia, no dia a dia? Este é o problema; não o respirar, não o sentar-se
corretamente, não a repetição de mantras, ou pagar cem dólares para aprender
algumas palavras feias e insignificantes, e repetir isso até você acreditar que
está no céu — isto é uma tolice transcendental!
Krishnamurti – Sobre a mente e o
pensamento - Saanen, 28 de julho de 1974