Tudo o que fazemos ou dizemos, tudo o que sentimos ou pensamos, no fundo está relacionado com o ego. Vivemos acorrentados ao seu pilar e movemo-nos num círculo. A busca espiritual é realmente uma tentativa de sairmos desse círculo. De outro ponto de vista, é um longo processo de descoberta do que está profundamente escondido pelo nosso ego, com seus desejos, emoções, paixões, argumentos e atividades. Tomando ainda um outro ponto de vista, é um processo que nos dissocia dessas coisas. Mas é improvável que se possa persuadir o ego a, de boa vontade, deixar de exercer o seu domínio. Seus caminhos ilusórios e seus hábitos enganadores podem levar um aspirante à crença de que esteja alcançando um estágio elevado, quando está simplesmente andando num círculo. A forma de sair desse círculo é, ou procurar a fonte do ego, ou, caso isso seja difícil demais, associar-se bem de perto a um verdadeiro mestre e prestar-lhe completa obediência. O ego, sendo finito, não pode produzir um resultado infinito através de seus próprios esforços. Ele engendra seus pensamentos e emite seus desejos, dia após dia. Ambos podem ser comparados com teias de aranha que são renovadas ou ampliadas e que nunca desaparecem por muito tempo dos cantos escuros de um aposento, não importa com que frequência possam ser eliminadas. Enquanto se permitir que a aranha viva ali, elas reaparecerão. Ir ao encalço do ego em seu covil é exatamente como caçar a aranha e removê-la completamente do aposento. Não há meio mais eficiente ou mais rápido de atingir o objetivo do que trazer à luz a sua verdadeira fonte, oferecer o ego a essa Fonte, e finalmente, através da senda de afirmações e recolhimento, unir-se a ela.
A prática do ponto de vista impessoal sob a orientação do mentalismo conduz, no devido tempo, à descoberta de que o ego é uma imagem formada na mente, uma construção mental, uma imagem com a qual estamos inextricavelmente entrelaçados. Mas essa prática começa a nos desatar e a nos libertar.
Toda a sua reflexão sobre o ego é necessariamente incompleta, pois não inclui o próprio pensamento-do-ego. Tente fazer isso e ele escapa do seu controle. Somente algo que transcende o ego pode compreendê-lo.
Se é para o ego se perpetuar, ele precisa entrar em todas as atividades da mente, e não simplesmente nas mais básicas. Isso é exatamente o que acontece. As aspirações espirituais, os ideais morais, e até as experiências místicas são, elas mesmas, projeções invertidas do ego. Através delas, o "eu" é capaz de expandir-se em um "eu" maior, mais grandioso, mais feliz e mais forte do que antes. Se elas não são as próprias criações do ego, proporcionando-lhe abrigo ou disfarce, então elas são logo infiltradas e traídas, minadas ou permeadas, até que alimentem e nutram o mesmo eu do qual se esperava que se desviassem.
Se o aspirante está disposto a procurá-las, encontrará as atividades secretas do ego nos recantos mais insuspeitados, até mesmo no meio das suas mais grandiosas aspirações espirituais. O ego não quer morrer, e até dará as boas-vindas a essa grande redução de seu campo de ação, se esse for o único meio de escapar da morte. Visto que o ego é necessariamente o agente ativo nessas tentativas de auto-aperfeiçoamento, ele estará na melhor posição de garantir que elas terminem como uma aparente vitória sobre si mesmo, mas não uma vitória real. Esta última só pode ser alcançada confrontando-o diretamente e, sob a aspiração da Graça, matando-o diretamente; isso é completamente diferente de confrontar e matar qualquer das suas bem variadas expressões de fraquezas e faltas. Elas não são, de modo algum, a mesma coisa. São os ramos, mas o ego é a raiz. Por isso, quando o aspirante se cansa dessa interminável batalha do Caminho Longo, batalha essa com sua natureza inferior, que mal é subjugada numa manifestação e já reaparece em outra, quando se enfastia de enganar-se naquilo que imagina serem realizações, muito mais agradáveis, do Caminho Breve, ele está pronto para tentar o último e único recurso. Aqui, depois de longo tempo, o aspirante chega ao próprio ego pela completa rendição deste e não pela preocupação com seus numerosos disfarces — que podem ser feios, como a inveja, ou atraentes, como a virtude.
Nada que a própria vontade do aspirante possa fazer traz como consequência esse destronamento do ego. A vontade divina precisa fazer isso por ele.
A sua desvantagem é o ego forte, o "eu" que intercepta o caminho, e que deve ser subjugado pelo sacrifício emocional no sangue do coração. Mas, uma vez afastado esse "eu", você sentirá tremendo alívio e ganhará paz.
O que ou quem está procurando a iluminação? Não pode ser o eu mais elevado, pois ele é a natureza da Luz. Resta, então, somente o ego! Esse ego, objeto de tantas acusações e desabonos, é o ser que, transformado, conquistará a verdade e achará a Realidade, mesmo que o preço a ser pago seja, no final, a completa rendição.
O egoísmo, que é a limitação da consciência à vida individual vista como separada da vida infinita, é a última barreira para a obtenção da unidade com a vida infinita.
Paul Bruton em, Ideias em Perspectiva
Paul Bruton em, Ideias em Perspectiva