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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A Tradição e a Autoridade como pedras de tropeço

Ao ouvir estas palestras, não vos apegueis, por favor, a uma única frase, imaginando haver compreendido o todo. Eu posso, por infortúnio, usar palavras que deixem de transmitir o que tenho em vista , ou usar um exemplo que não expresse o significado pleno do meu entendimento. Portanto, eu vos concitaria a não vos dardes por satisfeitos com o sentido literal das palavras, porém antes, buscar-lhes o integral significado. Vossos pensamentos acham-se tão condicionados por preconceitos e tradições que estais habilitados a perverter o entendimento. Se sois cristãos, tendeis a colorir as novas com a visão tradicional, não as podeis examinar livremente. Se fordes comunista, dar-lhe-eis uma interpretação comunista. Assim, pois, vosso pensamento está sendo continuamente condicionado pelas tradições, pelas vossas opiniões e ideias preconcebidas. Enquanto vossa mente não estiver liberta de todos os preconceitos, jamais compreendereis o verdadeiro significado da vida.

Tendes que por de lado vosso Cristianismo, vosso Budismo, vossa Teosofia. Isto é coisa muito difícil de fazer, como bem o sabeis. Educado como hindu, que sou, tive que libertar minha mente de todos os hábitos tradicionais do pensamento hindu e, mais tarde, das ideias teosóficas. Tive que abandonar todas as minhas ideias preconcebidas e encarar as coisas sob o ponto de vista de seu valor intrínseco, não do ponto de vista imbuído da tradicional irreflexão. A tradição e a autoridade são compulsões que violam a completude intrínseca.

A maioria das pessoas no mundo não se libertam porque desejam conforto e consolação; vivem na ilusão porque querem contentamento e satisfação. Não ousam desnudar-se, temem esvaziar suas mentes. Se contemplardes vossa própria mente verificareis estar ela cheia de teorias herdadas a respeito do mal e do bem, do que é espiritual e do que não o é.

Ocasionalmente, em meio desta luta de tristeza e alegrias alternadas, alcançais um vislumbre de algo que vos dá êxtase e buscais tornar isto permanente evitando o conflito. Percebeis este êxtase à distância, ao passo que estais ainda rodeados por todas as vossas lutas, por vossas tristezas, por vossos prazeres e dores. Ele parece distante e ansiais por escapar a todos esses torvelinhos para ingressar nesse êxtase; no entanto, é por meio deles e neles que se acha este êxtase da liberdade e não na evasão.

Pelo fato de evitardes o conflito e a luta, o medo é criado e por causa do medo estabeleceis ilusões que vos proporcionam consolo, conforto. Por causa deste medo aderis às tradições e vos tornais um imitador. Confiais na compulsão e por isso não há entendimento. Por causa deste medo estabeleceis autoridades espirituais e vós próprios vos erigis em autoridade. Assim nasce a religião do temor e desse medo surge a exploração espiritual.

O mesmo se dá em relação com as coisas físicas. O homem que necessita de haveres para sua felicidade, cria a exploração material. O explorador não vem à existência de súbito, ele não é um exotismo da natureza; é o resultado de vossas exigências espirituais e econômicas. Portanto, vós sois os responsáveis.

Se estiverdes colhidos pela ilusão proveniente do medo, da tradição, da imitação, vossas ações hão de levar à estagnação. No vos esforçardes por escapar ao conflito, vossas ações conduzirão a ilusões inconscientes e à dependência da autoridade, na qual vos tornais cada vez mais embaraçados. O homem viola sua própria e intrínseca completude pela sujeição à autoridade espiritual. Sua disciplina não é disciplina, mas unicamente uma sutileza de egoísmo que lhe proporciona animação para beneficiar levado pelo seu desejo. Toda a sua concepção de vida está baseada sobre o egoísmo, com todas as suas ramificações, suas ilusões, temores e consolos. Pelo fato de sua ação, por causa do medo, ser inconsciente, ela conduz à irresponsabilidade e, portanto, ao caos.

Ajustamento é apercebimento continuado, o auto-recolhimento, a concentração que sabe que, onde quer que haja egoísmo, há irresponsabilidade de ação e, por conseguinte, caos. O homem que conhece o verdadeiro significado do ajustamento, está continuamente buscando preservar em sua ação, a qual inclui pensamento e emoção, o límpido êxtase do entendimento, e por isso não cria exploração, seja ela espiritual ou física. Sendo a sua ação consciente, conduz à ação pura, sendo pura ação na qual não mais exista egoísmo, personalidade, na qual a individualidade cessou por completo.
Tornando-vos plenamente consciente, responsáveis, baseareis vossa ação nessa responsabilidade consciente e não no temor e na compulsão. Verdadeira ação é o consciente ajustamento de si próprio, sem coação nem temor, sem estímulo de recompensa. É alegria agir sob este ponto de vista; porém, quando imitais a alguém ou vos disciplinais de acordo com um sistema dado, nada mais será que conformar-vos, coisa que representa a lenta decadência. Não vos enganeis a vós mesmo dizendo: “É este o meu mais alto ideal, portanto, a este ideal me estou adaptando”. Não vos podeis adaptar a um ideal. Haveis apenas estabelecido uma imagem para vosso culto, que nada mais é que egoísmo. Por outras palavras, mais não estais fazendo que glorificar o vosso próprio ego, vossa própria personalidade. A realidade não é um ideal; é a própria vida, e o vosso ajustamento a essa vida é a verdadeira ação.

Se pretendeis buscar o entendimento, libertai-vos de todas as vossas imitações, de vossos cultos, de vossas reclusões, de vossas igrejas e templos. Eles são a origem da exploração, cuja fonte está dentro de vós mesmos.

Em primeiro lugar temos, pois, a irresponsabilidade da ação; a obediência, em vossa vida espiritual e moral, e, como consequência dela, a exploração e a desgraça. Isto é, primeiro vos é estatuída uma lei e vós a seguis sem pensar; depois, por meio do sofrimento, por meio da alegria, chegais a vos tornar responsáveis, plenamente conscientes e através dessa chama da eu-consciência vos libertais de ação irresponsável. E assim vos tornais a vossa própria lei.

O trabalho deve ser organizado, planejado, porém o esforço individual para a compreensão jamais pode estar sujeito a um sistema. No trabalho tem que haver autoridade, porém o pensamento e emoção individual, a luta e ajustamento individual na vida, não podem ser organizados nem disciplinados por autoridades.

Nos antigos tempos as comunidades eram ilhas de refúgio baseadas na ideia de salvação comum; pensamento e emoção eram guiados pela autoridade. Os indivíduos somavam suas capacidades e combinavam entre si a partilha do trabalho da comunidade, visto sustentarem uma crença comum. Reuniam-se sob a égide de uma autoridade aceita.

Ora, como disse, não vos é licito sistematizar o pensamento e emoção individuais; o indivíduo tem que ser livre. Porém, com esta liberdade, advém a organização natural do trabalho para benefício do conjunto, sem sacrifícios individuais. A ideia de que mediante uma autoridade espiritual pode ser criada uma moral que influencie a economia da vida, é uma utopia, pois a moral somente pode ser firmada para o indivíduo por meio de seu próprio esforço desperto. Por esta maneira, o trabalho torna-se nada mais nada menos que um incidente necessário e o indivíduo não confia somente no trabalho para a realização da verdade.

Não podeis realizar o êxtase da verdade unicamente por meio de mera perfeição da técnica, de um talento particular, ou do trabalho ou do serviço. Pensais que, a não ser que acentueis vossa particular capacidade, não podeis ser indivíduos, ficareis submersos na coletividade, no grupo anônimo. Ora, eu encaro as coisas por modo diferente. Pelo fato de serdes parte da comunidade, a comunidade organiza vosso trabalho; porém, quanto ao pensamento e emoção ficais inteiramente livres e é esta a verdadeira liberdade individual. Portanto, não acentueis coisa alguma de pequena importância.

Eu sustento que a realização da verdade, do êxtase, reside unicamente em vossa auto-completude. É então que conheceis plena, a consciente responsabilidade e sereis mantidos na solidão pela vossa própria integridade. Por meio da chama da eu-consciência, chegais à plena responsabilidade; estabeleceis vossa própria lei e isto é liberdade plena. Esta solidão não é uma fuga, uma evasão; é a cessação gradual da ação inconsciente, que não leva senão à desgraça, e que é começo da verdadeira ação.

Não sei quantos de vós tomarão o que eu digo meramente como uma teoria filosófica, como um discurso que se pode repetir aos outros, ou quantos de vós o tomarão com sinceridade. Se o tomardes como um discurso filosófico ou se meramente repetirdes as minhas palavras, será isso coisa difícil. É apenas pelo mudar fundamentalmente, com uma orientação diferente do pensamento, uma modificação básica da mente, que podeis achar esta completude, que podeis realizar este êxtase da vida. Para mudar fundamentalmente, tendes que proceder a um começo consciente. Tornai-vos plenamente responsáveis para convosco próprios, desde o próprio início; pensai continuamente no que estais fazendo. Podeis conhecer a felicidade perdurável apenas se, verificando o peso morto e a tirania dos anos passados, mantiverdes a grade resolução de a vós próprios modificar no presente.          

Krishnamurti, Palestra em Ommen, Reunião de Verão de 1931
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill