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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Áudio: Pode a mente ficar livre da atividade egocêntrica?


Áudio da reunião de estudos deste tema, pelo Paltalk, na noite de 14/08/2012.
Para saber como participar, clique aqui.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Áudio: A Imensidão não pode ser pensada e "experimentada" pela mente


Áudio da reunião de estudos deste tema, pelo Paltalk, na noite de 13/08/2012.
Para saber como participar, clique aqui.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Áudio: Examinando a questão do conflito


Áudio da reunião pelo Paltalk na noite de 11/08/2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Áudio: Um caminho sem caminho para uma alquimia psíquica

Reunião pelo Paltalk na noite de 09/08/2012

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Um caminho sem caminho para uma alquimia psíquica

Quem responderá, totalmente liberto de mecanismos defesa, de forma minuciosa e destemida, as 35 perguntas que constam de nossa experiência sobre o limitante, fragmentador e separatista processo do pensar condicionado? Quem demonstrará um real interesse em meditar com seriedade sobre a natureza dos passos que foram dados ao ponto de se relacionar estas questões?
Antes de tudo é preciso tempo e, pode alguém que é prisioneiro do tempo, ter tempo para questionar o que está fazendo com a qualidade do seu tempo, ao ponto de se interessar pelo revelar de algo que se encontra fora dos limites do tempo?
Para responder essas perguntas é preciso observar o que busca o ser humano, que de humano, nada tem e, que, em sua grande maioria, vive confinado num processo inconsciente de descontentamento o qual não consegue perceber  por causa dos vários mecanismos de fuga; como nas palavras de Gui Tesla, "enquanto nossas verdadeiras necessidades afundam no mar do esquecimento, o povo se mantêm firme, sustentando seus próprios meios de alienação". Por estar sempre insatisfeito e descontente, sem se aperceber que isso é um movimento interno, vive o homem numa inconsequente busca externa por aquilo que denomina como "bens de consumo", com os quais acredita conseguir satisfazer sua não questionada necessidade de segurança psicológica, respeitabilidade social e senso de pertencer. Por nunca em sua vida ter se deparado com um processo de genuína educação psíquica, profundamente libertária e, portanto, potencializadora de sua inteligência original, muito ao contrário, ter sido sistematicamente exposto a um processo de formatação em série, sustentado por antigas crenças e tradições, nunca se questiona o homem quanto a realidade daquilo que lhe foi ensinado a ver como sendo um "bem" duradouro. Mas, o que é um "bem"? Segundo o dicionário, "bem" é a qualidade atribuída a ações e obras humanas, e que lhes confere um caráter moral. Mas, austeridade, virtude, felicidade e ventura, podem ser conseguidas quando se busca ser favorecido, beneficiado, obter vantagens e proveitos pessoais, sem levar em conta o bem-estar comum do coletivo? Em geral, o que se vê em nosso acelerado e mecânico cotidiano — tido por quase todos como normal, como uma vida de sucesso — é a conquista e manutenção de privilégios pessoais, profundamente separatistas, os quais superam em muito aquilo que deveria ser de direito comum. E, enquanto acredita o homem que pode saciar através de valores finitos sua perene insatisfação criada pelo seu mental condicionado — por mentes dele totalmente desconhecidas —,  como pode ele, diante de tamanho desconforto gerado por tais ânsias, despertar para a observação de valores perenes? E, é nessa inversão de valores que, progressivamente — e por vezes de forma totalmente irreparável —, desvaloriza o homem, em grande parte de forma inconsciente e inconsequente, sua saúde psíquica, emocional, física e consciencial.
Para que o homem possa, com autêntica seriedade — esta expressa pela capacidade de uma escuta atenta, isenta de qualquer tipo de comparação ou medição —, se deparar com o novo paradigma que se apresenta no conteúdo dos textos, áudios e vídeos que através deste blog procuramos compartilhar, antes de tudo, precisa ele ter vivenciado o deserto do real no que diz respeito a sua busca de satisfação interna através de acúmulo de descartáveis "bens de consumo", em "bens de transitório valor econômico", valor esse que, por não estar em seu controle, torna-se fonte de constante insegurança. Sem que ocorra um primeiro "choque psíquico" que aponte para esse primeiro despertar referente a ilusão da identificação com os falsos e transitórios valores da matéria, torna-se impossível o contato com o "a-b-c psíquico", torna-se impossível a iniciação de uma psíquica educação.
Uma vez tido o homem esse primeiro e estruturante choque psíquico, inicialmente, começa ele a buscar — ainda na ilusão do externo, através de consolidados sistemas de crença organizadas locais, erroneamente tidos por religião — respostas para seu constante estado de insatisfação, tédio e falta de sentido existencial. Inicia então, através do acolhimento de bom grado à novos e momentaneamente necessários condicionamentos, uma peregrinação desilusória — isto desde que não aborte seu processo de recentramento através da droga da "respeitabilidade da autoridade espiritual"; onde há "autoridade", inevitavelmente haverá o exercício do orgulho, da falta de modéstia e do abuso do poder. Essa respeitabilidade adquirida pela auto-aceitação da postura de autoridade espiritual, mostra-se uma grande pedra de tropeço no caminho da descoberta daquele "anônimo algo mais" que possa por fim a eterna busca do homem; busca essa que, em última análise, tem por essência, a descoberta do que costumamos chamar de "a verdadeira liberdade do espírito humano", ou se preferir, a descoberta de um estado de satisfação infinita, dotado de felicidade, liberdade e senso de comunhão consigo mesmo, com os demais seres humanos e com a natureza da qual é parte integrante. Caso consiga ele, superar a mórbida tendência à estagnação resultante da "venda" da respeitabilidade espiritual — venda esta que impede a visão de novos paradigmas que apontam para um estado de consciência mais "madura", um novo choquepsíquico se apresenta diante do estado de solidão psicológica que esse novo poder de visão lhe faculta, o qual chamamos de "a experiência do desertodo real".
Diante da instalação desse deserto, começa o homem a caminhar pelo que convencionou-se chamar de a trilha menos percorrida, o caminho do herói, a jornada do peregrino, caminhar este a qual costumamos chamar de o ingresso numa "carreira solo psíquica". Aqui, passa o homem a ser um grande frequentador das megalivrarias e sebos, numa constante busca pelas estantes de autoajuda, espiritualidade, filosofia e esoterismo, atrás das obras literárias daqueles homens e mulheres que ousaram abrir mão do respeito à tradição em nome da busca do amor pela verdade, pelo inusitado e que, nessa ousadia, acabaram "se deparando com o certo" e, para nossa sorte — desde que vistos tão somente como setas orientadoras a serem deixadas pelo caminho —, nos brindando com suas observações referentes a busca de respostas pelo sentido da existência humana. Este é, sem dúvida alguma, um momento extremamente fecundo, pois, o subir nos ombros desses homens e mulheres que "se depararam com o certo", acaba nos brindando com um olhar de longo alcance, infinitamente superior ao limitadíssimo olhar da inconsciência coletiva. Aqui, o grande perigo se encontra numa outra forma mórbida de tendência estagnante, a qual se caracteriza pelo exercício de um "ácido, amargo e preconceituoso" olhar separatista, sempre exteriorizado para o sonâmbulo e decadente comportamento social, olhar este que acaba se mostrando como outra grande pedra de tropeço, a qual impede o alcance do reconhecimento do único inimigo oculto a ser enfrentado: seu próprio poderoso, orgulhoso e imodesto ego, o qual lhe impede a percepção da presença, da consciência real do que é. Esse separatista, ácido e amargo olhar, resultante do acúmulo de conhecimento de segunda mão, colhido ao longo de décadas pela filiação em várias instituições e no conhecimento livresco, mantém o homem estagnado em outra forma de respeitabilidade autoritária, esta, formada pelo enorme "currículo de suas experiências passadas" mais  o acúmulo de suas incertas certezas emprestadas.
Há também aquele que, em meio de sua bem disfarçada confusão — esta causada pelo exercício de uma mente hermeticamente fechada —, deixa-se afundar nas areias movediças do escapismo místico estratosférico de "mil e uma dimensões", escapismo esse que lhe impede de fazer frente à única coisa necessária: a compreensão de seu sofrimento resultante de sua identificação mental, a qual lhe impede de saber o que é o genuíno amor e compaixão, aqui e agora, nesta dimensão, pela qual perambula — visivelmente para aqueles que se encontram um pouco mais despertos —, de forma mecanicamente, totalmente alienado de sua natureza real, ao longo de uma existência sem vida. No entanto, — talvez por uma ação da graça — uma vez compreendido o que estes homens e mulheres que se depararam com o certo, tentaram deixar nas entrelinhas de seus textos; se compreendido que tudo que nos deixaram aponta tão somente para o "autoconhecimento" e para o "autoenfrentamento" — sem qualquer tipo de escolha ou fuga —, inevitavelmente, se depara o homem com um enorme e fecundo deserto existencial, onde se dá a amarga, porém libertária consciência de que todo seu conhecimento, seja ele proveniente de suas próprias experiências passadas ou do acúmulo da indevida apropriação do conhecimento alheio, não lhe é capaz de brindar com a sabedoria que aponta para o frescor da descoberta da "verdadeira natureza humana", natureza esta, dotada com liberdade, felicidade, integridade e unidade com tudo aquilo que é.
De fato, não é nada fácil fazer frente à este doloroso deserto existencial e, não raro, muitos são aqueles que, em momentos de delírio, resultante de inconfessáveis ansiedades, medos e desejos não reorientados, decidem optar pelo isolamento neurótico ou pela fuga ao ajustamento servil ao que lhe é conhecido, mesmo que já devidamente visto como sendo algo profundamente insatisfatório. Poucos são aqueles que conseguem ser fiéis e fazer frente às "dores de parto de um novo homem", dores estas que se fazem sentir através do tédio, da insatisfação e do total descontentamento diante da idéia de possibilidade de um ajustamento forçado ao antigo e desinteligente modo de existir baseado na sustentação de um mundo de imagens que não traduzem o frescor do real. Os que são fiéis às "dores de parto" — sem recorrer aos antigos ou novos sistemas de fuga — em seu devido tempo, vivenciam aquilo que podemos chamar de uma genuína, poderosa e intransferível "experiência religiosa", experiência essa através da qual, as sementes de sua integridade pessoal, até então adormecidas, encontram o terreno fértil da "prontificação", onde são capazes de lançar seus frutos, entre eles, a manifestação de um estado de unidade entre mente e coração, estes, agora guiados por uma consciência dotada de uma inefável inteligência amorosa, profundamente criativa, abarcante e dotada de genuína compaixão. Podemos afirmar sem a menor sombra de dúvida que, a capacidade de fazer frente às dores resultantes da experiência deserto, funciona como um portal que leva o homem do irreal ao Real, portal este que, em última análise, separa os psicologicamente adultos, dos adolescentes. Só aquele que consegue atravessar esse portal é capaz descobrir uma nova maneira de estar na vida de relação, com uma nova e atenta maneira de escutar, a qual lhe brinda com um novo e contagiante som em sua fala, uma inefável e poderosa presença em sua presença, quando diante de outros, presente.
Parece ser somente quando, diante desta poderosa experiência do deserto, que o homem consegue se aperceber da natureza exata, do "fator X" de toda forma de manifestação de padrões de comportamento obsessivo compulsivo que, uma vez com eles plenamente identificado, alimenta toda forma reativa produtora de seu conflito e sofrimento; só aqui se faz presente a "manifestação relâmpago" de um estado de consciência diante do incessante, mecânico, acelerado e autômato fluxo do pensamento, com sua cadeia de imagens e diálogos na ponte do tempo psicológico — passado e futuro — ponte esta que lhe impede o desfrute de uma vivência holística e qualitativa do Agora. No deserto do real, começa o homem, pelo estado de presença, a meditar, a perceber, a observar e a discernir sua impotência diante de seu herdado e nefasto mecânico processo de pensar, o qual lhe mantém numa constante produção de medos, desejos e ansiedades que, uma vez com eles identificados, resultam sempre num agravante estado de insatisfação diante dos resultados que se apresentam, resultados estes que sustentam um enclausurante círculo vicioso que impossibilita a manifestação de um estado de ser dotado de genuína inteligência criativa, amorosidade e compaixão, os quais apontam para a verdadeira responsabilidade social, manifesta pelo desinteressado compartilhar de um processo de educação psíquica e consciencial, qualitativa e visivelmente, libertária.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Áudio: A importância de ser uma luz para si mesmo

Áudio da reunião de estudos feita pelo Paltalk na noite de 06/08/2012.
Para ler o texto que deu origem à reunião, clique aqui.

sábado, 4 de agosto de 2012

Sobre o contemplar e a dissolução do Ego


Em última análise, a coisa que chamamos “eu”, o “ego”, é a entidade que está acumulando experiência. É essa a entidade que luta incessantemente? (…) Se você escutar devidamente, verá como, em presença da Verdade, acontece uma coisa extraordinária, a desintegração do “eu” e, em conseqüência, a possibilidade de uma mente nova, mente que estará de fato experimentando o que é verdadeiro, sendo ela própria, por conseguinte, a Verdade. (1)

A mente que compreende, que percebe a verdade relativa ao “vir-a-ser”, ao ser, a verdade relativa ao acumular - essa é uma mente tranqüila; e a mente tranqüila pode experimentar sem se corromper. E pode então, nessa tranqüilidade, penetrar mais fundo, (…) naquele estado maravilhoso que nenhuma mente consciente ou disciplinada (…) pode atingir. Deus, a Verdade, não pode ser acumulado - Ele é de momento a momento. (2)

(…) Todavia, esse “eu” está constantemente se afirmando, traduzindo toda experiência, (…) reação, (…) movimento do pensar em conformidade com seu próprio centro. O “eu”, o “ego” é fonte de conflito e dor, de luta perene por vir a ser, realizar, alcançar; e, enquanto não percebermos esse fato, a nossa mente, por mais hábil, sutil e ilustrada que seja, só haverá de criar mais problemas e (…) sofrimentos. Assim, pois, aqueles dentre nós que tiverem intenções realmente sérias, devem evidentemente orientar a sua indagação no sentido de descobrir se esse “eu” pode chegar a um fim. (3)

Uma vez cônscia da totalidade desse processo do “eu”, na sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação (…), a revolução - não pela evolução, ou pelo “vir-a-ser” do “eu”, mas pela completa extinção do “eu” - só assim o novo se apresenta. O processo do tempo não pode trazer-nos o novo, pois o tempo não é o caminho da criação. (4)

Porque, o que constitui o tempo é a ocupação da nossa mente com a memória, e a capacidade de distinguir diferentes lembranças. E é possível à mente permanecer fora do tempo, fora do conhecimento, que é memória, que é experiência, palavra, símbolo? Pode a mente estar livre de tudo isso e, por conseguinte, fora do tempo? Não há então, no centro, uma revolução, uma transformação fundamental? Porque então a mente já não está lutando por alcançar um resultado, acumular, chegar a um fim. Então não há mais temor. A mente, em si mesma, é o desconhecido; (…) é o novo, “o não-contaminado”. Por conseguinte, é o Real, o incorruptível independente do tempo. (5)

(…) Mas, por certo, o que muito nos interessa é descobrir a verdade acerca dessa coisa que chamamos de “eu”, desse centro que é a causa do conflito, bem como averiguar se existe a possibilidade de dissolver esse centro. (…) Mas podemos, de certo, averiguar se a mente pode ser livre, se pode achar-se naquele estado de “não saber”, em que não esteja preocupada com acumulações e “projeções” do seu próprio saber. (…) O que se precisa fazer é só vigiar a si mesmo, penetrar nos arcanos da mente, observar as tendências do “eu”, em sua atividade de acumulação e projeção. (6)

Pergunta: Como pode deter-se a ação do “eu”?

Krishnamurti: Só poderá deter-se se o virdes em atividade. Se o virdes em ação, ou seja, no estado de relação, esse ver será o fim do “eu”. Esse ver, não só é uma ação não condicionada, mas também atua no condicionamento. (7)

Como poderá o “eu”, o “ego” - que constitui todo o processo do nosso pensar - terminar, cessar? (…) Nessas condições, enquanto cada um de nós - pela compreensão do processo integral das relações, que nos são como um espelho - não descobrir a si mesmo (…); enquanto não estiver cônscio de todo o processo do “eu” - o que é autoconhecimento - tem muito pouca significação a nossa luta. (8)

(…) Devemos pôr de lado todas essas coisas e chegar-nos ao problema central, que é: “Como dissolver o “eu”, que nos prende ao tempo, e no qual não existe nem amor nem compaixão? Só é possível passarmos além, depois que a nossa mente não mais se dividir em pensador e pensamento. Quando pensador e pensamento são uma só unidade, só então há silêncio (…) em que não há fabricação de imagens, nem a expectativa de “mais” experiência. Nesse silêncio (…) há uma revolução psicológica criadora. (9)

Pode o “eu”, em algum tempo, libertar-se da auto-escravização e suas ilusões? Não deve o “eu” deixar de existir, para que tenha existência o “sem nome”? E esse lutar constante pelo alvo final não tem apenas o efeito de dar mais força ao “eu” (…)? Vós lutais pelo alvo final, outro anda atrás das coisas mundanas; (10)

(…) O homem que está observando o perpassar das suas experiências, lembranças, conhecimentos, sem a eles se prender, esse homem não aspira à virtude; não está acumulando. E quando a mente já não está acumulando, quando a mente está desperta para todo o processo da consciência, com todas as suas lembranças e seus motivos inconscientes, todos os impulsos de gerações, de séculos, deixando tudo isso passar por ela sem a prender - não se acha então a mente fora do tempo? A mente que, embora consciente das experiências, não se prende a nenhuma delas, já não está livre da rede do tempo? (11)

Nada dissolverá o “eu” enquanto a mente estiver diligenciando dissolvê-lo, uma vez que a mente é incapaz de arrasar as barreiras, as muralhas que ela própria criou. Mas, quando estou cônscio de toda essa complexa estrutura do “eu , que é o passado em cada movimento, através do presente, para o futuro; quando estou cônscio de tudo que se passa tanto interior como exteriormente, tanto oculta como abertamente - quando estou de todo cônscio de tudo isso, então, a mente, que criou as barreiras, no seu desejo de sentir-se segura, permanente, no seu desejo de continuidade, se torna extraordinariamente tranqüila, inativa; e só então apresenta-se a possibilidade de dissolução do “eu”. (12)

Assim, o que importa não é como ficar livre do orgulho, mas sim compreender o “eu”; e o “eu” é muito insidioso. (…) Portanto, enquanto existir esse centro do “eu”, o fato de uma pessoa ser orgulhosa ou reputadamente humilde será de pequeníssima significação. Serão apenas diferentes casacos para vestir. Quando um dado casaco me atrai, visto-o; e no ano seguinte, de acordo com minhas fantasias, desejos, visto outro. (13)

O que vocês têm de entender é como esse “eu” aparece. O “eu” surge por meio das várias formas da sensação de realização. Isso não quer dizer que vocês não devam agir; mas a sensação de que vocês estão agindo, (…) realizando, de que (…) precisam abandonar o orgulho, precisa ser entendida (14)

Vocês precisam compreender a estrutura do “eu”. Precisam tomar consciência de seu próprio pensar (…) observar como tratam o criado, os pais, o professor; (…) como consideram os que estão acima de vocês e os que estão abaixo de vocês, aqueles que vocês respeitam e aqueles que vocês desprezam. Tudo isso revela os processos do “eu”. Entendendo os processos do “eu”, há a libertação do “eu”. (…) (15)
(…) Mas será tão difícil assim o estudo do “eu”? Será necessária a ajuda de outra pessoa, por mais adiantado, elevado que seja o nível (…)? Ninguém, por certo, pode ensinar-nos a compreender o “eu”. Cabe-nos descobrir o processo total do “eu”; mas para isso requer-se espontaneidade. Não podemos impor-nos uma disciplina, um modo de operar; só podemos estar cônscios de instante a instante, de cada movimento do pensamento, de cada sentimento, na vida de relação (16) 

Enquanto houver um padrão de pensamento, a contradição continuará a existir; e, para eliminar o padrão e, assim, a contradição, torna-se necessário o autoconhecimento. (…) O “eu” precisa ser compreendido, na nossa linguagem diária, na maneira como pensamos e como consideramos o nosso semelhante. Se pudermos estar cônscios de cada pensamento, de cada sentimento, momento a momento, veremos que, na vida de relação, compreenderemos as peculiaridades e tendências do “eu”. Só então podemos ter aquela tranqüilidade da mente, (…) ver surgir a realidade final. (17)

Há compreensão do “eu”, e liberdade, só quando posso olhá-lo completa e integralmente, como um todo; e isso só posso fazer quando, sem justificar, sem condenar, sem reprimir, compreendo na íntegra o processo de toda a atividade do desejo, (…) porque o pensamento não é diferente do desejo. Se posso assim compreender, terei a possibilidade de transcender as restrições do “eu”.(18)

Assim sendo, o que me parece importante é essa investigação do “eu” de “mim”, para se conhecer o “eu” tal qual é, com suas ambições, invejas, exigências agressivas, falácias, divisão em “superior” e “inferior” - de tal maneira que não só seja revelada a mente consciente, mas também a inconsciente (…); o conhecimento da totalidade do “eu” significa o seu fim. (19)

Se houver correta compreensão do fato de que não pode existir verdadeiro discernimento enquanto persistir a vontade de desejo, essa mesma compreensão faz com que o processo do “eu” chegue a ser destruído. Não existe outro ou mais alto “eu” que destrua o processo do “eu”; nenhum ambiente e nenhuma divindade pode acabar com esse processo. Porém, a própria percepção do processo do “eu”, o discernimento de sua insensatez, de sua natureza transitória, é que o destrói. (20)

(…) Há uma atividade diferente que não procede do “ego” e que cumpre ser encontrada. Uma inteligência diferente é necessária para compreender o Atemporal, pois é só este que nos pode libertar de nossas lutas e sofrimentos (…) A inteligência que agora possuímos é produto do desejo de satisfação e segurança, material ou espiritual; é resultado da cupidez; (…) da auto-identificação. Tal inteligência é incapaz de compreender o Real. (21)

(…) Só depois de cessar a atividade do “ego”, da memória, apresenta-se uma consciência totalmente diferente, a respeito da qual toda especulação é somente estorvo. O esforço que visa à expansão é sempre atividade do “ego”, cuja consciência quer crescer, “vir a ser”. Essa consciência prende-se ao tempo e por isso não se encontra, nela, o Atemporal. (22)

O que podemos perceber é, somente, que estamos fechados, que a atividade da vontade é resistência e que o próprio desejo de alcançar vigilância passiva é um obstáculo a mais. (…) Estar atento para as atividades egocêntricas é anulá-las; (…) A vigilância passiva só nos vem quando tranqüila a mente-coração. Nessa tranqüilidade, vem o Real à existência. (23)

(…) O problema, pois, é este: pode a mente, que é resultado do tempo, a mente que é o “eu”, o “ego”, ainda que muito lhe agrade dividir-se em “eu” superior e “eu” inferior, observador e coisa observada - pode o “eu”, cuja consciência, no seu todo, é resultado da acumulação de experiência, de memória, de conhecimentos, findar sem o desejarmos? (24)

E pode essa mente, que pertence ao tempo e não tem relação nenhuma com a Verdade (…) deter-se instantaneamente, para que possa existir a outra mente, o outro “estado de ser”, a mente que experimenta a Realidade e é, por conseguinte, ela própria o Real? (25)

Em momentos de intensa criação, de grande beleza, há uma tranqüilidade absoluta; em tais momentos verifica-se uma ausência completa do “ego” e de todos os seus conflitos; é essa negação - a forma suprema do pensar-sentir - que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. (26)

(1) O Problema da Revolução Total, pág. 120
(2) O Problema da Revolução Total, pág. 121
(3) Percepção Criadora, pág. 54
(4) A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125
(5) Poder e Realização, pág. 73)
(6) A Renovação da Mente, pág. 25
(7) A Luz que não se Apaga, pág. 131
(8) O Problema da Revolução Total, pág. 25-26)
(9) Claridade na Ação, pág. 145
(10) Reflexões sobre a Vida, 1ª ed., pág. 128
(11) Poder e Realização, pág. 72
(12) Claridade na Ação, pág. 90-91
(13) O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 88
(14) O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 88
(15) O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 88
(16) Viver sem Confusão, pág. 35-36
(17) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 40
(18) Quando o Pensamento Cessa, pág. 64-65
(19) Transformação Fundamental, p .60
(20) Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 56)
(21) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 215-216)
(22) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 200)
(23) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 214
(24) Poder e Realização, pág. 71
(25) Poder e Realização, pág. 71
(26) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 88)

Arrancar máscaras e abandonar papéis

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Reunião: Admitindo a impotência perante o fluxo do pensamento condicionado

Parte 1
Por problemas com o microfone, a gravação da parte 2 saiu baixa, com ruído e num
só canal, no entanto, a qualidade do conteúdo, supera em muito a qualidade do som.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Do respeito à tradição ao amor pela Verdade

sábado, 28 de julho de 2012

Inconscientite crônica e agúda

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A involuntariedade do pensamento e suas emoções reativas

Áudio da reunião pelo Paltalk na noite de 26/07/2012
 
No caso da maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser involuntários, automáticos e repetitivos. Não são mais do que uma espécie de estática mental e não satisfazem nenhum propósito verdadeiro. Num sentido estrito, não pensamos - o pensamento acontece em nós. A afirmação "Eu penso" implica volição. Ou seja, podemos nos pronunciar sobre o assunto, podemos fazer uma escolha. Mas isso ainda não é percebido pela maior parte das pessoas. "Eu penso" é uma afirmação simplesmente tão falsa quanto "eu faço a digestão" ou "eu faço meu sangue circular". A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.

A voz na nossa cabeça tem vida própria. A maioria de nós está à mercê dela; as pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar. O termo oriental para isso é carma. Quando nos identificamos com essa voz, ignoramos isso. Se soubéssemos, não seríamos mais possuídos por ela, porque a possessão só acontece de verdade quando confundimos a entidade que nos domina com quem nós somos, isto é, quando nos tornamos essa entidade.

Ao longo de milhares de anos, a mente vem intensificando seu domínio sobre a humanidade, que deixou de ser capaz de reconhecer a entidade que se apossa de nós como o "não-eu". Por causa dessa completa identificação com a mente, uma falsa percepção do eu passa a existir - o ego. A densidade dele depende do grau em que nós - a consciência - nos identificamos com a mente, com o pensamento. Pensar não é mais do que um minúsculo aspecto da totalidade da consciência, de quem somos.

O grau de identificação com a mente difere de indivíduo para indivíduo. Algumas pessoas desfrutam de períodos em que se encontram libertas do domínio da mente, ainda que brevemente. A paz, a alegria e o ânimo que elas experimentam nesses momentos fazem a vida valer a pena. Essas também são as ocasiões em que a criatividade, o amor e a compaixão se manifestam. Outras pessoas se mantêm presas ao estado egóico de modo contínuo. Permanecem alienadas de si mesmas, assim como dos demais e do mundo ao redor. Quando as observamos, conseguimos ver a tensão na sua face, talvez a testa franzida ou um olhar vago e distante. A maior parte da sua atenção está sendo absorvida pelo pensamento, por isso não nos vêem nem nos escutam.

Elas não estão presentes em nenhuma situação - sua atenção está ou no passado ou no futuro, que, é claro, são formas de pensamento que existem apenas na mente. Ou, se estabelecem um relacionamento conosco, fazem isso por meio de algum tipo de papel que interpretam e, assim, não são elas mesmas. As pessoas, em sua maioria, vivem alienadas de quem elas são. Às vezes esse estado chega a tal ponto que a maneira como se comportam e se relacionam é reconhecida como "falsa" por quase todo mundo, a não ser por aqueles que também são falsos e igualmente alienados de quem são.

Alienação quer dizer que não nos sentimos à vontade em nenhuma situação, em nenhum lugar nem com ninguém, nem mesmo conosco. Estamos sempre tentando nos sentir "em casa", mas isso nunca acontece. Alguns dos maiores escritores do século XX, como Franz Kafka, Albert Carnus, T. S. Eliot e James Joyce, não só reconheceram a alienação como o dilema universal da existência humana como é provável que a tenham sentido em si mesmos de modo profundo e, assim, foram capazes de expressá-la excepcionalmente em suas obras. Eles não ofereceram uma solução. Sua contribuição foi nos proporcionar uma reflexão sobre essa dificuldade humana, para que pudéssemos vê-la com mais clareza. Ter uma visão mais nítida de uma situação complicada em que nos encontramos é o primeiro passo no sentido de superá-la.

(...)


AS EMOÇÕES E O EGO

O ego não é apenas a mente não observada, a voz na cabeça que finge ser nós, mas também as emoções não observadas que constituem as reações do corpo ao que essa voz diz.

Já vimos que espécie de pensamento a voz egóica atrai na maior parte do tempo e a disfunção inerente à estrutura dos seus processos de pensamento, independentemente do conteúdo. Esse pensamento desajustado é aquilo a que o corpo reage com emoções negativas.

A voz na cabeça conta ao corpo uma história em que ele acredita e à qual reage. Essas reações são as emoções. Estas últimas, por sua vez, devolvem energia para os pensamentos que as criaram originalmente. Esse é o círculo vicioso entre emoções e pensamentos não questionados que suscita o pensamento emocional e a invenção de histórias emocionais.

O componente emocional do ego difere de pessoa para pessoa. Em alguns casos, é maior do que em outros. Os pensamentos que fazem o corpo disparar reações emocionais algumas vezes aparecem tão rápido que, antes de a mente ter tempo de expressá-los, o corpo reage com uma emoção, e esta é convertida numa reação. Esses pensamentos existem num estágio pré-verbal e podem ser chamados pressupostos não expressos, inconscientes. Eles se originam num condicionamento pessoal do passado, normalmente ocorrido na tenra infância. "Não se pode confiar nas pessoas" leria um exemplo desse pressuposto inconsciente numa pessoa cujos relacionamentos primordiais, isto é, com os pais ou irmãos, não foram de solidariedade e não inspiraram confiança. Mais alguns deles: "Ninguém me respeita nem me valoriza. Preciso lutar para sobreviver. O dinheiro nunca é suficiente. A vida sempre nos decepciona. Não mereço a prosperidade. Não sou digno do amor." Essas suposições inconscientes criam emoções no corpo que, por sua vez, geram atividade mental e/ou reações instantâneas. Dessa maneira, elas criam sua realidade pessoal.

A voz do ego perturba continuamente o estado natural de bem-estar do ser. Quase todo corpo humano se encontra sob grande tensão e estresse, mas não porque esteja sendo ameaçado por algum fator externo - a ameaça vem da mente. Há um ego vinculado ao corpo, que não pode fazer nada a não ser reagir a todos os padrões desajustados de pensamento que constituem o ego. Assim, um fluxo de emoções negativas acompanha o fluxo de pensamento incessante e compulsivo.

O que é uma emoção negativa? É aquela que é tóxica para o corpo e interfere no seu equilíbrio e funcionamento harmonioso. Medo, ansiedade, raiva, ressentimento, tristeza, rancor ou desgosto intenso, ciúme, inveja - tudo isso perturba o fluxo da energia pelo corpo, afeta o coração, o sistema imunológico, a digestão, a produção de hormônios, e assim por diante. Até mesmo a medicina tradicional, que ainda sabe muito pouco sobre como o ego funciona, está começando a reconhecer a ligação entre os estados emocionais negativos e as doenças físicas. Uma emoção que prejudica nosso corpo também contamina as pessoas com quem temos contato e, indiretamente, por um processo de reação em cadeia, um incontável número de indivíduos com quem nunca nos encontramos. Existe um termo genérico para todas as emoções negativas: infelicidade.

Será que as emoções positivas têm o efeito oposto sobre o corpo físico? Será que fortalecem o sistema imunológico, revigoram e curam o corpo? Sim, com certeza, mas precisamos diferenciar as emoções positivas que são produzidas pelo ego das emoções mais profundas que emanam do nosso estado natural de ligação com o Ser.

As emoções positivas geradas pelo ego já contêm seu próprio oposto no qual podem rapidamente se converter. Alguns exemplos: o que o ego chama de amor é possessividade e apego dependente, que podem se transformar em ódio em questão de segundos. A expectativa em relação a um acontecimento, que é a supervalorização do futuro por parte do ego, transforma-se no oposto - abatimento ou decepção - quando aquilo termina ou não satisfaz as expectativas do ego. Sermos elogiados e reconhecidos nos faz sentir vivos e felizes num dia, enquanto sermos criticados ou ignorados nos faz sentir rejeitados e infelizes no dia seguinte. O prazer de uma festa animada transforma-se em ressaca e em algo desinteressante na manhã seguinte. Não existe bom sem mau nem alto sem baixo.

As emoções produzidas pelo ego decorrem da identificação da mente com fatores externos que são, é claro, instáveis e sujeitos a mudanças a qualquer momento. As emoções mais profundas não são emoções de maneira nenhuma, e sim estados do Ser. Elas existem dentro do âmbito dos opostos. Os estados do Ser podem ser obscurecidos, porém não têm opostos. Eles emanam de dentro de nós, como o amor, a alegria e a paz, que são aspectos da nossa verdadeira natureza.

Livro: O despertar de uma nova consciência - Eckhart Tolle

quarta-feira, 25 de julho de 2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

O bem-aventurado estado de insatisfação e saturação com o que é


"Se você tomar em suas próprias mãos esse processo natural do seu amadurecimento espiritual, ele será acelerado e ficará mais próximo a cada passo que você der no Caminho espinhoso". — Mouni Sadhu

É comum, algumas poucas pessoas que se aproximam de nós, aqui chegarem nos relatando um profundo estado de insatisfação e de saturação total com tudo que se apresenta de conhecido. Segundo nossa vivência, isso é ótimo e ESSENCIAL, chamamos isso de "Ponto X", essa saturação, o fator determinante, o "Fator X" que abre um portal para nosso coração sutil. No início a coisa acontece mesmo pelo mental; é um "verbo", que leva um certo tempo para que o mesmo "vire carne e habite em nós", passando a fazer parte integrada de uma inteligência amorosa e criativa. A chave é a SATURAÇÃO, inclusive com tudo que colhemos na assim chamada "busca espiritual". Quando chegamos neste momento de saturação, nada daquilo que antes nos nutria, nos brinda com frescor ou nutrição. Há um sentimento de ausência, de falta de paz e, o que mais se apresenta é a solidão e o sentimento de não pertencer. Isso é o que convencionamos chamar de "Deserto do Real". Nesse período, é como se ninguém falasse a nossa língua, como bem diz o poeta, parece que ninguém está falando o que queremos escutar e ninguém está escutando o que queremos dizer. Mas, por mais doloroso que esse momento se apresente, o mesmo se faz profundamente essencial para o alcance de um estado de autonomia e autossuficiência psicológica. Os que se deparam com esse doloroso e fecundo período, são aqueles que, de forma arquetípica, já se encontram com mais de 40 anos no deserto do real. Já falamos aqui sobre isso, num áudio que se encontra em nosso blog, cujo título é: "40 anos no deserto — novas moradas de consciência". Se você é um daqueles que se identifica com isto que estamos falando, antes de mais nada, tenha em mente e coração o seguinte: nós lhe compreendemos, pois já vivemos isso e sabemos muito bem o quanto que esse momento é profundamente doloroso. No entanto, saiba você que, por detrás desse período doloroso é que se encontram as sementes de sua integridade emocional psíquica, bem como da descoberta de sua real vocação a qual aponta para um novo sentido e direção existencial, consciencial.
Caro confrade — poeta quase morto ressuscitado para o desfrute da realidade da vida — quando nos abrimos, quando nos prontificamos para uma escuta atenta dessa solidão, dessa insatisfação, para esse necessário processo de desilusão, nos permitimos o movimento interno de "desentulhar", movimento esse que nos prepara para a manifestação de um estado de ser cuja mente é "inocente", não condicionada, não maculada pelos limites do pensamento. Aqui já não há mais espaço para aquela doentia e tão incentivada busca pelo ajustamento ao que é tido como "normal"; isso já não faz o menor sentindo; só há espaço e energia para a entrega a algo que transcenda os limites do conhecido. É natural aqui que, muito daquilo que achávamos ser essencial, se mostrar como cinzas em nossas bocas: relacionamentos, profissões, instituições, tudo parece perder sentido; há uma imperiosa necessidade de algo mais, algo esse que, no mais intimo de nós, sabemos não se encontrar em nenhuma situação externa, nem mesmo, na antiga e tão alimentada idéia de consolo em alguma forma de um deus externo preconcebido segundo a nossa imagem e semelhança. É natural um forte impulso para abrir mão de várias situações externas, como se elas fossem a natureza exata de nossa angústia e insatisfação. No entanto, podemos afirmar que essa é mais uma das armadilhas de nossa mente condicionada. Não estamos querendo afirmar com isso que não existam situações que realmente se mostram prejudiciais e das quais talvez seja necessário nos distanciarmos. No entanto, podemos afirmar que, poucos são aqueles que conseguem perceber o que realmente precisa ser tocado; a mente, com sua sagacidade, disso que precisa ser tocado — que é ela mesma — nos mantém distanciados e inconscientes. Podemos alterar tudo em nossa volta, mas, se permanecemos presos na identificação mental, não há a menor possibilidade de conhecer o que vem a ser um estado de ser, cuja base está numa amorosa inteligência integrada, a qual é capaz de tornar nova todas as coisas, a qual é capaz de trazer um novo olhar em nossa vida de relação. Isso que torna nova todas as coisas é a essência de nossa natureza real, nossa natureza não condicionada, não contaminada pelo campo do pensamento, a qual nos brinda com a manifestação de nosso real local de ação neste espaço tempo, com uma mensagem "impessoal", da qual somos tão somente os mensageiros e não a mensagem, o que podemos também chamar de real vocação.
Caro confrade, esse período de solidão, esse período de insatisfação e descontentamento, o qual é profundamente essencial e evolutivo, funciona como uma espécie de portal que separa os adultos dos adolescentes espirituais. Em nossa adolescência espiritual é que nos permitimos ao ajustamento servil, o qual é motivado pelo medo do abandono e da solidão, pela necessidade de aceitação parental/social, a qual nos impele ao insano comportamento de autoboicote em nome de tentar atender essas inumeráveis e descabidas — quase sempre não atendidas exigências parentais/sociais. Esse período doloroso de desconstrução, aponta para uma nova maneira de ver a tudo, uma nova maneira de estar na vida de relação, nunca se quer imaginada. É natural, nesta faze de transcendência entre a adolescência e a maturidade do espírito humano, vivenciarmos um período de rebeldia — não inteligente — dotada de uma "visão ácida" e, não raro, "muito amarga", onde toda forma de relação se apresenta muito pesada, destituída de um estado de compaixão com o momento psíquico do "outro". Sem dúvida, aqui, é um momento de muita angústia e solidão que, apesar de se mostrar por vezes um tanto terrível, com o passar do tempo, se mostra profundamente fundamental... Funda novas bases para a faculdade do uso do mental de forma consciente e não, como outrora, de forma automaticamente inconsciente e reativa. Quando atravessamos este portal que nos direciona para o contato consciente com o ser que somos, em nossa real natureza, a qual nada tem em comum com essa persona, com essa imagem, com esse feixe de memórias que até então pensávamos ser, se manifesta em nós, tanto uma enorme e profunda compreensão de nós mesmos como do "outro" que pensávamos ser "outro". Portanto, caro confrade, essa capacidade de ficar com a solidão, sem anestesiá-la de nenhuma forma — mesmo com materiais espirituais livrescos ou institucionalizados — se faz PROFUNDAMENTE NEFCESSÁRIA —; é ela que nos prepara para a limpeza de nosso antigo vício de ser psicologicamente influenciados e que, sem a manifestação, de boa vontade à tal limpeza, não há como se instalar em nós um estado de genuína autonomia psíquica, a qual nos brinda com a capacidade de saber o que é a felicidade e a liberdade de estar consigo mesmo, seja em momentos de silêncio e de ócio criativo, seja em momentos de relação social ou de momentos de desfrute com a natureza que nos cerca e da qual, agora, somos parte responsavelmente integrantes. Quando atingimos este portal do ser que somos, um profundo movimento "criativo" começa a se instalar e, desse criativo, o despertar de nossos talentos adormecidos, tão essenciais para a ocorrência de nosso transbordamento vocacional que, em última análise, é o fundamento e o sentido de nossa encarnação neste espaço tempo.
Portanto, à você caro confrade que, por ventura, neste momento se depara com este fecundo período de descontentamento, de insatisfação, de angústia e solidão, o qual chamamos de "ponto de saturação", é com grande alegria que lhe incentivamos: ouse se abrir e abraçar com zelo este fecundo momento de gestação de um novo homem profundamente integrado com a essência de tudo que é. Saiba que, neste período, muito de nós vivenciamos na pele, dores corporais, as quais são bem naturais e que nada tem a ver com o que nossa mente condicionada tende a rotular como sendo somatizações emocionais. Aqui não tem nada de místico ou esotérico, no que lhe dizemos; se não bastasse a nossa própria vivência, saiba que acompanhamos muitas pessoas no mesmo processo, lemos muitas biografias que apontam para o mesmo. Aqui, trata-se de um descondicionamento, uma espécie de realinhamento corporal, um realinhamento de nossa energia vital, a qual vai trabalhando de forma sutil, a dissolução de nossos condicionamentos, sejam estes conscientes ou inconscientes. Se você quiser um exemplo, poderá recorrer a vivência do próprio Jiddu Krishnamurti, que teve essas dores por mais de 40 anos, relatando-as em alguns poucos livros. Não podemos afirmar isso, mas, nossa intuição nos diz que Krishnamurti procurava não falar muito sobre isso, ou mesmo sobre "Deus", para não acrescentar a possibilidade de mais condicionamentos aos seus ouvintes e leitores. No entanto, nunca ocultou isso daqueles que lhe estavam mais próximos. Na maioria dos casos, essa dor começa na região lombar, ciática, depois subindo para a região do pescoço, próximo as costas, bem na base do pescoço. Depois, num estado mais a frente, é comum senti-la próxima a região do omoplata e, mais adiante, não raro, no centro coronário. É comum a mente querer nos distrair com idéias de possíveis e sérios "problemas físicos". Quando essa dor começa a se manifestar nesse ponto coronário, a mesma vem acompanhada de uma espécie de "quentura", muito benfazeja, algo parecido como uma "chama", uma energia de sagrada presença. Krishnamurti, em seu diário escrito por volta de 1961, denominava essa energia de "a coisa" ou então, de "o processo". Esse é um momento em que, pelo constante processo de desidentificação com o antigo estado de mente, a dimensão de nosso "coração sutil" começa a se manifestar. Há uma percepção de que "algo" superior a nossa vontade nos prepara para o alcance de novos "estados de retomada consciencial". Nesses momentos, ficamos em silêncio, prestando atenção no "sopro" que nos habita e no qual somos; nessa percepção, "instala-se" uma "PRESENÇA" que transcende os limites do pensamento. Isso precisa ser uma vivência direta e não apenas mais uma idéia condicionante. Nossa vivência apresenta uma mescla entre fortes dores musculares e essas "invasões de quente presença", onde se dá também, uma "observação sem resistência" com relação a essas dores; por não ter espaço para qualquer forma de resistência, não ocorre a ampliação dessas dores; uma vez que há uma percepção real de que se trata de um necessário processo de "realinhamento energético", o que ocorre é uma total entrega a este fecundo processo consciencial.
Caro confrade, se, por acaso, você estiver vivenciando algo parecido ao que acima relatamos, sugerimos que você procure pelo livro de título, "DIÁRIO DE KRISHNAMURTI", o qual para nós, se mostrou profundamente revelador nesse momento. Portanto, se esse for o seu caso, se essa saturação e essa sensação de solidão estiverem fazendo parte de sua "estruturante desestruturação" das artimanhas do pensamento, a qual vive sempre criando conflitos, lhe sugerimos que você ouse dar as boas vindas à toda manifestação mental emocional, abraçando-a sem qualquer tipo de resistência ou justificação. Para nós, segundo nossa vivencia, de fato, esse é o um momento de parto de um novo estado de consciência; é como um estado fetal. Você pode abortar esse processo através da busca de entretenimento, de distração, ou então, pode dar a devida atenção ao sopro que anima a batida cardíaca desse SER que é você, e que agora se encontra saindo da identificação com os limites da dimensão mental para a infinitas possibilidades quânticas da dimensão sensitiva intuitiva, amorosamente criativa, a qual se manifesta na região sutil do coração, não no coração no sentido "carne, físico", mas num coração sutil de ENERGIA PURA.  De coração e mente aberta é que lhe afirmamos não haver nada de misticismo nisso, mas sim, algo realmente qualitativamente prático. Foi aqui que muitos de nós passamos a compreender — limpos de qualquer ranço de crença religiosa organizada — o porque de vários quadros antigos com a imagem de Jesus aparecendo com um coração pegando fogo, totalmente cercado de espinhos. Você consegue se lembrar de alguma imagem como esta? Aqueles espinhos, são arquétipos da solidão e da insatisfação das quais agora você se ressente; a insatisfação, o deserto... Nesses quadros, a imagem de Jesus sempre apontava para o coração? Você se recorda? Isso é um arquétipo do que agora você vivencia; sua coroa de espinhos criada pelos violentos ataques dos pensamentos mentais já cravou em sua mente; já fez sangrar o que precisava sangrar; agora é momento de renascimento, de ressurreição da consciência que você é, em seu devido lugar, outrora ocupado por uma imagem, por um ego. Caro confrade, você agora vive dores de parto, um parto delicado, que requer cuidados, zelo, silêncio, carinho, colo e, só você é que pode dá-lo. Isso é o que chamamos de momento de "prontificação", ou seja, estar pronto, mental, emocional e fisicamente para o "derrame dessa Inteligência Integrada", a qual se fez presente em vários homens e mulheres, entre eles, Krishnamurti. Isso é o que tentamos relatar em nosso 11º Passo: "Procuramos, através da percepção intensa do momento presente e do contato com a energia de nosso corpo interior sutil, abrir um canal conducente para um acesso consciente com o Não Manifesto, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade."... Percepção intensa do movimento presente, sem qualquer forma de resistência... Sem fugir, sem brigar, sem retalhar, sem comparar, sem justificar... Só observar, em silêncio e em entrega. Se isso ocorre, essa energia calorosa aumenta, consumindo condicionamentos, medos, angústias, ansiedades, isolamento, incapacidade de amar, instalando assim, uma profunda necessidade de entrar em contato com os outros, em querer "VÊ-LOS" pela primeira vez de forma incondicionada, com uma profunda capacidade amorosa de perceber e aceitar o momento psíquico daquele ainda plenamente identificado com a limitante e fragmentadora dimensão mental. Aqui, a vida de relação ganha uma nova dimensão, dimensão esta dotada de possibilidades de qualidade quânticas nunca antes sequer imaginadas. Portanto, PRONTIFICAÇÃO é a palavra; percepção do sopro que lhe habita, retomar seu ritmo no sopro que é você, percepção dessa energia vital bem ai no centro cardíaco, aceitação das dores corporais como parte de um processo de realinhamento energético e de descondicionamento celular.
Caro confrade, outra coisa que se fez muito importante e da qual já íamos esquecendo; sugerimos que você passe a observar seu condicionamento alimentar. Isso se mostrou também fundamental neste processo de retomada da consciência real que somos. Há uma lógica nisso; percebemos que era preciso nos manter o mais ociosamente possível, nos desgastar menos possível, nos dedicar à momentos de repouso observador, diminuir as atividades externas, nos recolhendo o máximo possível, algo como que um retiro sabático e, nesse retiro, tomar a consciência da necessidade de alimentos leves afim de NÃO TER QUE GASTAR MUITA ENERGIA ATRAVÉS DO PROCESO DE DIGESTÃO; passamos a ingerir muita água e nos alimentar com mais frutas e legumes; diminuímos muito a quantidade de carne — não a deixamos de comer — mas percebemos que a mesma demora e exige muito mais ENERGIA VITAL PARA SER PROCESSADA. Percebemos que as frutas e água nos deixavam mais "leves" e com o espaço entre os pensamentos bem mais fluído. Passamos a evitar ao máximo a gordura, não por questão de estética corporal, mas sim, pela consciência de que a mesma embotava as nossas células corporais, requisitando das mesmas, uma maior quantidade de energia vital. Caminhadas passaram a fazer parte do nosso dia e vimos que isso também fazia parte de um processo também feito por Krishnamurti. Um maior centramento e acúmulo de energia vital foi se instalando, uma clareza mental foi se instalando, um estado de presença consciente foi se instalando, uma nova fala foi se instalando, em outras palavras: CONSCIÊNCIA tornando-se consciente de si mesma.
Caro confrade, você está no lugar certo e no momento certo! Só é preciso abrir mão de qualquer forma de resistência, não pelo esforço, mas pela consciência... Não é o eu quem faz as obras, mas o pai — o princípio amoroso inteligente — no qual somos, quem faz a obra. Você nos parece estar num momento muito fecundo; parece ser um "defunto bom!", parece estar no ponto, pronto para morrer antes de morrer! Você parece estar farto para tudo isso que é ilusório e pronto para o conhecimento do REAL. Se é isso que você busca, tão somente o conhecimento da verdade que é você, estamos juntos para trocar figurinhas sem colar. Estamos juntos para trocar experiência quanto a este caminhar por esta terra sem caminho. Sugerimos que, quanto antes possível, busque pelo seu ritmo, pela observação do sopro no qual você é, sentando-se em silêncio contemplativo... Retomar o ritmo, oxigenar a mente e, o mais importante: DESENTULHAR!... Você já tem tudo o que precisa ai com você, nesse agora que é você, então, mãos no colo e coração na massa! Descanse no ser que é você! Pegue-se no colo e encontre ai, aquilo que busca! Você e o mundo merecem isso!
Um fraterabraço e que haja excelência no AGORA QUE É VOCÊ!
Outsider44

Sobre a dissolução do observador e a coisa observada


Antes de mais nada, é preciso ressaltar aqui, nossa profunda gratidão ao ABC espiritual inicial com o qual nos deparamos em nossas "irmandades mães", que nos acolheram após um doloroso período de "choque psíquico", através do qual a acabamos conhecendo essa benção que são os Doze Passos, esses princípios aí. Então, já não dava mais para ficar trabalhando só a questão da dependência do padrão de comportamento de ativa, isso já não estava mais nos nutrindo, ficar passando uma mensagem do passado, quando o sofrimento presente, ainda estava aqui: essa questão do pensamento. Dentro da Irmandade de N/A - Neuróticos Anônimos — da qual eu fazia parte — seus membros batiam muito na tecla das emoções, mas, eu vejo que a "doença", ela é mental, ela começa no pensamento! Então, foi ai que a gente iniciou esse grupo de pensadores compulsivos e já são sete anos que estamos mantendo reuniões presenciais  — que é um grupo bem pequeno mas que tem trazido qualidade e transformação que tem nos brindado com uma qualidade de autonomia psicológica nunca antes imaginada e, passamos a sentir a necessidade de tentar compartilhar desta vivência com talvez outros membros que, dentro de suas "irmandades mães", se ressentem com os mesmos sentimentos de insatisfação diante da limitada e repetitiva fala da consciência coletiva dos grupos em que fazem parte, hoje, psicologicamente distantes.
Hoje, para mim, está bem claro que a "doença" tem sua origem no pensamento condicionado, nessa mente que não para e que vive criando imagens, separações e conflitos. Durante anos, fui um membro muito participativo em alguns dos grupos anônimos, principalmente nos Neuróticos Anônimos. Em São Paulo, participei da iniciação dos primeiros grupos de DASA - Dependentes de Amor e Sexo Anônimos; principalmente em N/A, prestei serviço por muitos anos — foram dezessete anos com os anônimos — e, quando comecei a falar sobre essa questão do pensamento como sendo a natureza exata, o fator X de toda forma de conflito ou de comportamento obsessivo compulsivo, acabei batendo de frente com o que estava sendo falado, principalmente em muitas palestras feitas em N/A, por uma líder que é quase um mito dentro dessa irmandade, onde ela, apoiada num livro de fora desta irmandade, o livro de David Viscott, cujo título é A linguagem dos Sentimentos, afirmava que a doença eram as emoções e os sentimentos. No entanto, se você parar para observar a própria palavra "sentimento", verá que ela aponta para o "sentir do mental"; então, é uma coisa ilógica, se a própria literatura desta Irmandade, em seu principal livro, intitulado "As Leis da Doença Mental e Emocional" — mais conhecido como o Livro Vermelho — o qual logo em seu título deixa claro que a doença não parte do emocional, mas sim, do mental; o emocional é só um derivativo do processo do desequilíbrio do pensamento acelerado, esse fluxo que sempre funciona na linha do tempo: passado e futuro... Sempre trazendo aquelas lembranças, memórias eufóricas ou depressivas, criando em cima disso, projeções, conjecturas, imaginações, imagens; e ficamos presos nesse movimento na ponte do tempo psicológico, passado e futuro, sem conseguir viver com toda a plenitude de nosso ser, com todas as células de nosso organismo, aquilo que convencionei chamar de a "Excelência do Agora". Não há nada de novo nisso que estou relatando; os anônimos, em seu lema "Só Por Hoje", pela grande maioria, compreendido de maneira muito limitada, já tenta expressar essa importância de cortar a vida em pedacinhos mastigáveis. Digo que a compreensão deste lema é limitada, porque sua própria concepção alimenta a continuidade da indevida importância dada ao tempo, ainda que sustentada apenas em 24 horas. Para uma mente viciada no tempo, até mesmo 24 horas se assemelha a uma overdose emocional, para a qual, um excelente antídoto se encontra no "só por agora". Quando comecei a falar sobre isso, é lógico que comecei a enfrentar sérios problemas nas salas; literalmente fui convidado a estar me retirando dos grupos, com a alegação de que estava causando confusão na mente de seus membros em geral, o que não era de forma alguma, uma realidade constatada. Boa parte dos membros mais novos, por ainda não estarem profundamente condicionados aos condicionamentos perpetrados nessa irmandade, aceitavam de bom grado o conteúdo de nossas falas; somente os mais antigos não conseguiam assimilar do frescor revitalizante do mesmo e, por não aceitarem — talvez por medo — levantaram a bandeira da proteção à estagnante tradição comportamental a que estavam acometidos, e que nada tem em comum com a essência dos princípios espirituais contidos em suas chamadas "Doze Tradições". Em vista disso, percebemos ser necessário nos afastarmos dessas irmandades e nos entregarmos para uma "carreira espiritual solo" onde poderíamos ir mais a fundo no estudo daquilo que se encontra devidamente apontado no princípio do 5º Passo de todo grupo anônimo: a descoberta da "natureza exata" de todo conflito humano. Inicialmente, em todos os grupos anônimos, a admissão do primeiro passo — admissão à impotência diante de algum padrão comportamental obsessivo compulsivo — é o preço de entrada para a participação em tal grupo. Os que forem sérios na observância e prática dos demais passos propostos nestes grupos, em determinado momento de consciência, se depararão com a questão: "o que os mais antigos quiseram alegar com a expressão 'natureza exata' de nossas imperfeições? Qual é a essência, qual é o conteúdo, qual é a natureza dessa natureza exata? Do que é composta? Será ainda um droga ou um comportamento específico?" Os que se abrirem de forma minuciosa e destemida para questões parecidas com essas, fatalmente se depararão com a percepção de que, a natureza exata, o fator X de todo conflito humano está numa mente completamente acelerada, disfuncional, cheia de conceitos, de crenças, de condicionamentos, de achismos, manias e tendências, os quais impedem de ela ter um estado de unidade interna entre mente, coração e energia vital; então, o conflito que impede a presença de um estado de bem-estar comum é justamente a questão de a mente pensar uma coisa e o coração sentir outra, ou vice-versa. É aí que moram os nossos conflitos que nos fragmentam e nos distanciam do desfrute da vida de relação autêntica, nos impedindo de estar na vida de relação de forma inteira, holística, se a presença de qualquer tipo de resistência protecionista; estamos sempre com um pé atrás, e o que é o medo? O medo é pensamento. Você não pode ter medo sem ter um pensamento; veja bem que, mesmo quando você tem uma situação que ocorre sem você esperar, naquele momento, você não pensa em nada, não é assim? Agora, o medo existe quando a mente começa a criar situações, imagens do que poderia ser, do que poderia ter ocorrido e ali ficamos presos naquele movimento interno, aparentemente sem saída.
É ai que hoje vejo a importância da meditação, da observação do que passa na mente sem estar fazendo qualquer tipo de julgamento; observando mesmo, isso que é meditar! A reparação do 8º Passo não é mais, para mim, uma questão de reparação de ter que ir ter com alguém quando piso na bola; não! Reparar, olhar, perceber o fluxo que passa na mente sem me identificar com esse fluxo, uma vez que ficou claro que não sou o pensamento! Se estou observando o pensamento, eu não sou o pensamento! Então, não é preciso mais me identificar com eles, porque, era através dessas identificações com esse material que se passava na mente que eu me descontrolava por completo, uma vez que acreditava ser aquilo que via na mente. Por meio disso, começou a se instalar um "observador"; quando se instalou esse observador, começou a terminar o processo de identificação mecânica/reativa; começou a se mostrar difícil a identificação e a consequente alimentação de antigos padrões comportamentais e, o melhor de tudo, isso ocorrendo sem a presença do antigo esforço que demandada tamanha perda de energia vital. No entanto, mesmo com a presença do observador, ainda se apresenta o conflito, muito menor, mas ainda, conflito. É comum em nossas conversas de grupo presencial, brincarmos entre nós mediante a questão se a instalação desse "observador" seria um mal ou uma benção, porque, quando se instala esse observador, fica por vezes, bastante difícil de viver porque, num mundo onde ninguém quer  ver, num mundo onde ninguém está vendo nada — ou se está vendo, prefere fingir que não vê —  se você começa a observar... Você começa a ter dificuldades! Aqui é preciso muito cuidado para não nos tornamos "ácidos ou amargos" diante da qualidade daquilo que observamos. Aqui é preciso muita paciência, tanto com o observador, quanto com a coisa observada. Hoje fica muito claro que, sem a experiência direta de um estado de ser que transcenda os limites do pensamento — algo que é expresso no princípio do 12º Passo dos anônimos — torna-se impossível a dissolução do espaço existente entre observador e coisa observada e, consequentemente, a instalação de um estado de ser dotado de unidade interna, bem estar comum, autonomia psicológica e transbordamento ético amoroso, criativo, vocacionado.  
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill