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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Seleta sobre mediocridade

É sempre difícil manter-me simples e claro. O mundo adora o sucesso, quanto maior, melhor; quanto maior a audiência, maior o orador; os edifícios colossais, os carros, os aviões, e as pessoas. A simplicidade se perdeu. As pessoas de sucesso não são as que estão construindo um mundo novo. Ser um revolucionário real requer uma mudança completa de coração e mente, e tão poucos querem se libertar. A pessoa corta as raízes superficiais; mas para cortar as profundas raízes que alimentam a mediocridade, o sucesso, é preciso algo mais que palavras, métodos, compulsões. Parece que esses revolucionários são poucos, mas eles são os construtores reais - o resto trabalha em vão.(1) 

A padronização do homem conduz à mediocridade. Ser diferente do grupo ou resistir ao ambiente não é fácil, e não raro é arriscado.... Com o avançar da idade, a mente e o coração vão se embotando cada vez mais... este medo da vida, este medo à luta e à experiência nova, mata em nós o espírito de aventura; por causa de nossa criação e educação, temos medo de ser diferentes do nosso próximo, tememos pensar em desacordo com o padrão social vigente, num falso respeito à autoridade e à tradição... A grande maioria dentre nós não tem o verdadeiro espírito de descontentamento, de revolta.(2)

A maioria dos mestres não ama a matéria que ensina; ela se lhes torna coisa aborrecida, rotina que têm de cumprir para ganhar a vida. Se vossos mestres gostassem realmente de ensinar, sabeis o que sucederia? Seríeis entes humanos extraordinários. Não só amaríeis vossos jogos e vossos estudos, mas também as flôres, o rio, as aves, a terra, porque teríeis "aquela coisa" vibrando com vossos corações; aprenderíeis com muito mais rapidez e vossa mente seria superior em vez de medíocre.(3)

Os políticos, os governos, as religiões organizadas querem que tenhais uma única maneira de pensar, porque, se podem fazer de vós um comunista completo, um católico completo - o que quer que seja - não sois então um problema para eles, porque credes e funcionais tal qual uma máquina; nesse caso, não há contradição, porque estais seguindo. Mas o seguir é sempre destrutivo, já que é mecânico, mero ajustamento, sem nenhum surto criador.(4) 

Aceitar a maneira tradicional invariavelmente degenera em mediocridade. A simples aceitação da tradição é uma coisa estúpida. Ainda que dez mil pessoas afirmem que uma coisa é verdadeira, isso não significa que ela têm razão.(5) 

Todos os sistemas e métodos geram tradições, produtivas de mediocridade mental; e uma mente medíocre, em face de um problema importante, inevitavelmente o traduzirá em conformidade com seu condicionamento...se estamos realmente atentos, percebemos que no próprio praticar de um sistema a mente se deixa por ele prender e, por conseguinte, não pode libertar-se, expurgar-se, purificar-se. Dependente do sistema, a mente traduz o desafio ou a ele corresponde em conformidade com esse condicionamento...É óbvio, portanto, que os sistemas não libertam a mente, e, penso que esse fato deve ser compreendido perfeitamente.(6)

O seguir a autoridade gera temor; e o temor gera a mediocridade da mente superficial. Somos criados com base nessa idéia de que o exemplo, o herói, o santo, o guia, o guru, é necessário; e tornamo-nos, assim, seguidores, sem iniciativa própria, discos de gramofone, a repetir o mesmo velho padrão. Quando nos limitamos a seguir, perdemos todo o sentimento de individualidade, a plenitude da compreensão individual, e isso, muito evidentemente, não resolve os nossos problemas...E quando submetidos à tirania do exemplo, nossa mente está apenas a ajustar-se a um padrão. O padrão pode ser amplo ou estreito, mas é sempre padrão, molde, e a mente que segue um padrão é, sem dúvida, muito superficial.(7)

O homem que quer arvorar-se em exemplo cria conflitos, torna mais forte o medo e faz nascer várias formas de tirania.(8)

É muito estranha esta nossa adoração dos exemplos, modelos, dos ídolos. Não queremos o que é puro, verdadeiro em si mesmo; queremos intérpretes, exemplos, mestres, gurus, para, por seu intermédio, alcançarmos alguma coisa - e tudo isso é puro absurdo, um meio de explorar a outros. Se cada um de nós fosse capaz de pensar claramente desde o começo, ou de reeducar-se para pensar claramente, todos esses exemplos, mestres, gurus, sistemas, se tornariam completamente desnecessários, como realmente são.(9)

Temos exemplos, disciplinas, técnicas maravilhosas e, no entanto, os nossos corações estão vazios, porque repletos das coisas da mente. E quando vazios os nossos corações, as nossas soluções para tantos problemas são também vazias. Só a mente capaz de atenção completa sabe amar, porque esta atenção é ausência do "eu".(10)

Quanto mais antiga a civilização, tanto mais destrutiva, porque a tradição gera sempre mediocridade.(11) 

Sabe o que a palavra medíocre significa? O significado da raiz da palavra é ir até a metade da montanha, nunca atingindo o topo. Isso é mediocridade: nunca exigir a excelência, o ponto mais alto de si mesmo.(12)

(1) Krishnamurti - Cartas a uma jovem amiga, pela editora Terra sem Caminho
(2) Krishnamurti - A Educação e o significado da vida
(3) Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix
(4) Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix
(5) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(6) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(7) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(8) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(9) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(10) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(11) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(12) Krishnamurti - A Arte de Aprender - Terra Sem Caminho - Pág 215

O que é uma mente medíocre?

PERGUNTA: A tradição, os ideais e um certo senso de moralidade social mantinham as pessoas medíocres como eu ocupadas de maneira virtuosa; mas essas coisas já perderam para a maioria de nós toda a significação. Como podemos libertar-nos de nossa mediocridade?

KRISHNAMURTI: Senhores, que é uma mente medíocre? Não a definais - uma definição pode achar-se facilmente num dicionário -, mas observai vossa mente e tratai de descobrir por que é ela vulgar, medíocre. Diz o interrogante que a tradição, os ideais e um certo senso de moralidade social mantinham ocupadas, de maneira virtuosa, as pessoas medíocres como ele. Ora, isso não era uma "maneira virtuosa", mas uma maneira tradicional. Fazer o que a sociedade manda não é virtude; é meramente atuar como gramofone, e isso nada tem em comum com a virtude. Virtude implica liberação da avidez, da inveja, da ambição de poder, e que a pessoa fique só. Somente então pode-se falar em virtude. Atuar mecanicamente, porque durante séculos fostes educados para pensar de uma certa maneira e ajustar-vos a um certo padrão, isso não é virtude.

Que é então mediocridade? Não o sabeis? Não sabeis o que é uma mente medíocre? Ora, isso é muito simples. A mente ocupada é uma mente medíocre. Com o que quer que esteja ocupada - Deus, bebidas, sexo, poder - ela é uma mente medíocre. Compreendeis, senhores? A mente que pratica virtude de manhã à noite é uma mente ocupada, e portanto, medíocre já que está interessada em si própria. Podeis dizer: "Não estou interessado em mim mesmo; estou interessado na Índia"; mas isso é apenas transferir a própria identidade pra a uma coisa e ficar ocupado com essa coisa. Toda ocupação - com um livro, um pensamento, com qualquer uma dúzia de coisas - denota mediocridade, porque a mente ocupada não é uma mente livre. Só a mente livre pode dar atenção a uma coisa e depois "soltá-la" - e isso é bem diferente de ficar ocupado com ela. A mente ocupada jamais pode ser livre. Examinai vossa mente, para verdes quanto ela está ocupada com vossos interesses, com vossa família, vosso emprego; da manhã à noite, nunca há um momento em que esteja vazia - o que não significa um estado de apatia, de vegetação, ou de devaneio. Isso não é vazio. Quando a mente está ocupada, cansa-se e opõe-se a pensar vagamente noutra coisa - e isso é apenas outra forma de ocupação. Não é disso que estou falando. A mente não ocupada acha-se em extremo vigilante, mas não em relação a alguma coisa. Seu estado é de atenção completa; e no momento em que existe esse estado, há criação. Essa mente deixa de ser medíocre; quer viva na aldeia, quer na capital, já não está dominada pelos ditames da sociedade. Mas isso requer laboriosa investigação de si mesmo, e não complacência dos pequenos êxitos; é resultado de um trabalho realmente penoso para descobrir o motivo da ocupação mental.

Não estais vendo, senhores, que andais ocupados com os assuntos de outras pessoas porque vós sois as outras pessoas, não sois vós mesmos. Não vos conheceis. Estais ocupados com coisas que vos disseram serem importantes, mas, se tiverdes um sentimento real a respeito de uma dada coisa, vereis que já não haverá ocupação. O homem dotado de profunda sensibilidade não é uma pessoa medíocre; porém, quando procura expressar essa sensibilidade em palavras e faz muito "barulho" em torno dela, quando com essas palavras busca a fama, a notoriedade, dinheiro ou o que quer que seja, então ele se torna medíocre. Assim, a investigação da mediocridade é uma investigação de vossa própria mente, e com ela descobrireis que a mente ocupada permanece sempre medíocre.

Krishnamurti - Madrasta - 23 de dezembro de 1956
Do livro: O homem livre - Ed. Cultrix

Pode a mente medíocre “realizar” Deus?

Pode a mente medíocre “realizar” Deus? Não é isso, Senhor? Podeis usar as palavras “realizar o seu preenchimento” — o que quer que elas signifiquem. Pode a mente ser libertada, pode a mente achar a Verdade, Deus? Senhor, tende a bondade de escutar. Pode a mente medíocre, pequena, perturbada, a mente mesquinha, dividida, vulgar, achar a Realidade? A Realidade é coisa totalmente desconhecida. É uma coisa que só pode existir momento por momento, e não uma coisa fixa num ponto, onde eu possa ir apanhá-la. Se ela está fixa num ponto para eu alcançá-la, ela é uma invenção da mente. Criamos Deus à nossa imagem, não é verdade? Todos os livros, todos os templos estão cheios dos produtos da nossa mão — a palavra, a imagem ou o símbolo, que a mente considera muito importante, porque tem medo de descobrir por si mesma Pode uma tal mentalidade descobrir a Verdade ou “realizar o seu preenchimento” o que quer que signifique “seu preenchimento”? Pode a mente pequenina, que só pensa em termos de “adquirir mais”, em termos de tempo — fazer algo amanhã, alcançar alguma coisa na próxima vida pode uma tal mente compreender o que é atemporal, aquilo que está além das exigências psicológicas temporais, oriundas do desejo? Não pode, evidentemente.

Senhores, Deus não é uma coisa que se pode adquirir como se adquire um terno de roupa ou uma virtude. É algo incomparável, atemporal, inimaginável, inefável: não podeis ir a Ele. Ele deve vir a vós, e tão-somente quando o vosso espírito não mais está buscando. Porque estais buscando, agora, com o fito de adquirir, de ter conforto, com o fito de vos tornardes algo; porque só pensais em termos de tempo, de desenvolvimento, obtenção de resultados — não podeis nunca saber o que é a Realidade. Mente assim, é mente medíocre. Ela é capaz de inventar frases, de falar a respeito de Deus, a respeito da Verdade. Essa mente, porém, não pode ter a experiência da Realidade. Quando a mente já não compara, não adquire — só a essa mente que está tranqüila, pode a Realidade manifestar-se; e essa Realidade não é contínua, ela existe de momento a momento. O que foi, não é, e o que é não será. Senhores, isto não são meras palavras. Quando examinardes realmente o problema relativo a tudo o que acabo de dizer, descobrireis por vós mesmos o que é ser criador. Tereis, vós mesmos, a mente que já não compara, já não adquire, a mente que ingressou num “estado de ser” — e nesse ser a Realidade penetra. A Realidade não é sempre a mesma. Por conseguinte, a mente não pode escrever ou falar sobre a Realidade, descrever a Realidade. A Realidade não tem nenhuma atração. Não posso dizer que ela me atrai. Por conseguinte, é fútil e tolo falar a esse respeito.

Só quando a mente já não está buscando, já não está exigindo, procurando, desejando tornar-se alguma coisa só então a mente está tranqüila; e esta tranqüilidade não é consciente; esta tranqüilidade varia de momento a momento. A mente que só conhece a continuidade não é tranqüila. Tudo isso exige muita paciência, percebimento e autoconhecimento Esse autoconhecimento não é o conhecimento de um certo “ego”, de que ouvistes falar nos livros e dentro do qual fostes condicionado e educado; mas do vosso “ego” de todos os dias, o “ego” que procura, busca, deseja, adquire, que está descontente, que corrompe, que é ávido em vão, e inventa a hierarquia com o um de firmar cada vez mais o seu poderio. Tal é a mente, que cumpre ser compreendida. E ela só pode ser compreendida momento por momento, quando andais, quando falais. Vereis, se observardes a linguagem com que falais ao vosso criado, quanto está condicionada a vossa mente, inutilizada pela tradição; esta mente nunca há de achar a Realidade. É necessária uma revolução total do nosso pensar, para que o atemporal possa acontecer.

Krishnamurti - 12 de dezembro de 1953 -
Do Livro: O Problema da Revolução Total - ICK

A questão da mediocridade

Um dos nossos problemas assim me parece — é a questão da mediocridade. Não estou empregando esta palavra em sentido condenatório, mas é fato óbvio que a grande maioria de nós é medíocre. Poderá alguma técnica, religiosa ou mecânica, libertar nos dessa mediocridade? Ou não deve, antes, haver uma revolta contra toda técnica? Porque, parece-me, mais observamos e menos e mais raros se vão tornando os indivíduos criadores. Não estou empregando a palavra “criador” para designar o homem que pinta, que escreve poesias ou produz invenções, o gênio. Veremos, no prosseguimento desta palestra, o que significa ser criador.

Antes de descobrirmos, porém, o que é “ser criador”, não devemos investigar por que é que quase todos nos deixamos influenciar tão facilmente? Por que é que tantos de nós permitimos a ingerência de outros nas nossas vidas? Por que gostamos, também, de ingerir-nos na vida dos outros e somos tão eficientes no julgar os outros? E talvez descubramos, nesta investigação, a possibilidade de que, justamente nas coisas tão carinhosamente cultivadas por nós — o julgamento, a capacidade de desenvolver unia técnica, mecânica ou dita espiritual — se a as raízes da mediocridade e que enquanto não houver uma revolta contra a técnica, haverá imitação, autoridade, o desenvolvimento da capacidade, o seguimento de certas idéias, no espírito consistente indicando tudo isso a estrutura de uma mentalidade medíocre.

Tende a bondade de escutar; não tomeis notas. Não estamos em aula. Não sou um professor a prelecionar-vos para tomardes notas, a fim de as estudardes posteriormente. Vamos andando e pensando juntos. Estou apenas dizendo uma coisa que é muito evidente ou suficientemente evidente; e se não escutardes, talvez não possais experimentar diretamente aquele “estado de criação” que temos a possibilidade de descobrir juntos pelo compreender, isto é, pelo ouvir diretamente o que é que constitui a mediocridade.

A criação é um “estado de solidão”. Se a mente não está completamente só, não há criação. Só quando a mente é capaz de sacudir de si todas as influências, todas as interferências quando é capaz de estar completamente só, independente, desacompanhada, livre de toda influência modeladora e do julgamento, só nesse estado de solidão há criação. Entretanto, esse estado de solidão não é compreensível ao espírito medíocre, a mente que se exercita numa atividade, na técnica, na maneira de fazer qualquer coisa.

Hoje em dia se estão desenvolvendo técnicas e mais técnicas - a técnica de influenciar pessoas, por meio da propaganda, da compulsão, da imitação, dos exemplos, da idolatria, do culto do herói. Têm-se escrito livros inumeráveis sobre como fazer uma coisa, como pensar eficientemente, como construir uma casa, como montar maquinismos; e, desse modo, estamos perdendo pouco a pouco a iniciativa, a iniciativa para acharmos qualquer coisa original, por nós mesmos. Na nossa educação, em nossas relações com o Governo, estamos sendo influenciados por diferentes maneiras, para nos ajustarmos, para imitarmos. E quando nos deixamos persuadir por uma dada influência a adotar determinada atitude ou ação, criamos naturalmente a resistência e outras influências. No processo, justamente, de criarmos resistência a outra in fluência, não estamos sucumbindo a essa influência, negativamente?

Não somos o resultado de inumeráveis influências? Nossa mente, nossa estrutura, nosso ser não é uma contextura de influências — influências econômicas, climáticas, sociais, culturais, religiosas? Nossa mente é composta de partes, e com essa mente queremos descobrir, queremos criar. Essa mentalidade, porém, é tão somente capaz de imitar, de ajustar outras coisas entre si, e esta é a razão do crescente desenvolvimento tecnológico quê se observa no mundo. Um homem tecnologicamente eficiente nunca pode ser um ente humano criador. Poderá construir uma casa maravilhosa, montar um aeroplano; mas não é uma entidade criadora. Porque sua mente é constituída de partes; sua mente não é inteiriça, “integrada”.

Como pode haver uma mente integrada, se somos segmentos de várias formas de influências? Nossa mentalidade é o resultado dessas influências; ela está condicionada por todas essas influências, como hinduísta, como muçulmana, como cristã. E condicionados que estamos e sujeitos a influências várias, dizemos: “Escolherei uma determinada influência, um guru, escolherei o que é bom, o que é nobre; e cultivarei por meio de vários exercícios, de vários métodos, tal excelência”. Todavia, não obstante isso, nossa mente continua a ser uma mente influenciada, controlada, moldada, mente que luta para alcançar um fim predeterminado; e essa mente jamais pode achar-se em revolta, pode? Pois, no mesmo instante em que se revolta, essa mente se vê num estado de caos. A mente medíocre, pois, nunca pode estar revoltada, sendo capaz unicamente de passar de um estado condicionado para outro, de uma influência para outra.

Não deveria a mente estar sempre revoltada, para compreender as influências que a assaltam incessantemente, interferindo, controlando, moldando? Um dos fatores da mente medíocre não é o medo constante que a domina e, também, o estado de confusão em que se acha, em virtude do qual ela deseja ordem, consistência, deseja urna fórmula, um modelo pelo qual possa ser guiada, controlada; e, entretanto essas fórmulas, essas várias influências geram contradições no individuo, geram confusão no indivíduo. Estais condicionado como hinduísta ou como muçulmano; outro está condicionado pela idéia de “ser nobre” ou por idéias econômicas ou religiosas. Qualquer escolha entre diferentes influências denota sempre um estado de mediocridade. A mente que escolhe entre duas influências e começa a viver em conformidade com a influência preferida, continua a ser medíocre não é verdade? Pois essa mente nunca se acha num estado de revolta, e a revolta é essencial para que se possa descobrir algo.

Se a mente nunca está só, pode ser criadora? Se examinardes a vossa mente, vereis como tem ela medo de desviar-se, de errar. A mente está de contínuo em busca de segurança, de certeza, de uma garantia, em determinado padrão consistente de pensamento; e pode essa mente que nunca está só, ser criadora? Quando digo “só” não me refiro àquela solidão em que há desespero; refiro-me à solidão em que não há dependência de coisa alguma, em que não dependemos de nenhuma tradição, nenhum costume, nenhum companheiro. E não deve a mente achar-se num tal estado de isenção de qualquer espécie de temor? Porque, no momento em que começo a depender, nasce o temor; e perde-se toda a iniciativa, toda a originalidade — “originalidade” não no sentido de “excentricidade”, mas de “capacidade para pensar e descobrir.” Não deve a mente ter a capacidade de investigar, de não imitar, de não deixar-se moldar, e ser sem medo? Não deve a mente ser “só”, e, portanto, criadora? Esse poder de criar não é coisa vossa nem minha; é anônimo.

Prestai toda a atenção a isto, já que quase todos nós somos medíocres. Existe a possibilidade de uma transformação imediata e completa que nos ponha nesse estado criador? Porque é disso que se necessita na hora atual, no mundo; não precisamos de reformadores, ideólogos ou filósofos, mas, sim, que vós e eu, compreendendo a nossa mediocridade, façamos surgir imediatamente aquele estado de solidão em que não há dependência nem temor; em que nos achamos completamente sós, livres de influências; e onde não há interferências, nem imitação, nem desejo de seguir. Podemos, vós e eu, produzir imediatamente essa mentalidade? Porque, se assim não for a nossa mente, tudo o que fizermos, todas as nossas reformas apenas produzirão mais sofrimentos e mais caos.

É possível à mente que sempre foi medíocre, que sempre sofreu interferências, que foi ajustada, moldada, controlada, que precisa de arrimo, é possível a essa mente realizar, de pronto, aquele estado de solidão? Não digais “talvez seja possível, mas não a mim; outro talvez o consiga” — mas escutai, simplesmente, não as palavras, mas o significado das palavras. Pode um espírito que sofreu interferências, que é o resulta do dessas interferências, que é resultado do tempo, da influência — pode um tal espírito lançar tudo fora e ficar só? Porque, nessa solidão há criação. Não importam quais sejam as palavras que empregais. Aquela criação não é coisa do tempo, não é coisa vossa nem minha; é completamente anônima. E enquanto estiverdes cultivando uma técnica, não há anonimato, porque a mente de quase todos nós só está interessada em aprender “como fazer isto”, “como deixar de ser influenciada”, “como libertar-se do condicionamento” Quando uma pessoa diz: “Vou exercitar-me em tal coisa, para adquiri-la”, “Vou disciplinar-me, para não ser mais influenciado”, ou “edificarei em torno de mim uma muralha contra todas as influências” — isso indica que sua mente está procurando o método, a técnica. Essa mente é capaz, em algum tempo, de ser livre, de estar revoltada? E não é medíocre essa mente? Ela, por conseguinte, jamais pode estar só. Se se deseja criar um novo mundo, uma nova civilização, uma nova arte, tudo novo, não contaminado pela tradição, pelo temor, pelas ambições; se se deseja criar algo que seja anônimo, que seja vosso e meu, uma nova sociedade; se desejamos criar isso juntos — no que não há vós e eu, mas, sim, nós-juntos, não se faz necessário um espírito que seja completamente anônimo, e por conseguinte esteja só? Isso implica, não é certo? - na necessidade de uma revolta contra o ajustamento, contra a respeitabilidade, pois o homem respeitável e o homem medíocre, visto desejar alguma coisa, visto depender de alguma influência para sua felicidade; depende do que pensa a seu respeito o seu vizinho, do que pensa o guru, do que diz o Bhagavad Gita, ou os Upanishads, ou a Bíblia, ou Cristo. Sua mente nunca está sozinha. Nunca anda só esse homem, por que esta sempre em companhia de suas idéias.

Não é importante que se descubra, que se perceba de maneira completa a significação da interferência, da influência, da confirmação do “eu”, que é a contradição do anonimato? Percebendo-se bem isso, não surge invariavelmente a questão: é possível fazer surgir imediatamente aquela mentalidade livre de influências; a mente não influenciável nem pela própria experiência nem pela experiência de outros; a mente incorruptível, independente? Só então se tem a possibilidade de criar um mundo diferente, uma civilização diferente, uma sociedade diversa, em que será possível a felicidade.

Krishnamurti – 1 de março de 1953 – 7ª Conferência em Bombaim
Do livro: Autoconhecimento- Base da sabedoria - ICK

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Existe pensamento profundo?


A mente é um instrumento maravilhoso; não há mecanismo feito pelo homem que se lhe compare em complexidade e sutileza, e com tão infinitas possibilidades. Só temos percebimento — se alguma vez estamos vigilantes — dos níveis superficiais da mente e satisfazemo-nos com viver e agir na sua periferia. Consideramos o pensamento como sendo a função da mente: o pensamento do general que planeja a morte por atacado, o pensamento do político sagaz, o do professor erudito e do carpinteiro. Mas existe pensamento profundo? O pensar não é sempre uma atividade superficial da mente? Com o pensamento, a mente é profunda? Pode a mente, uma coisa composta, resultado do tempo, da memória, da experiência, tornar-se cônscia de algo que não faz parte dela própria? A mente está sempre lutando, em busca de algo existente fora do âmbito de suas atividades egocêntricas, mas o centro de onde parte a busca permanece sempre o mesmo.
A mente não é apenas atividade superficial, mas é constituída, também, de movimentos ocultos, multisseculares. Esses movimentos modificam e controlam as atividades exteriores e, assim, a mente cria o seu próprio conflito dualístico. Não existe mente integral, total, pois a mente é fracionada em partes numerosas, opostas umas às outras. A mente que procura integrar-se, coordenar-se, não pode estabelecer a paz entre os seus múltiplos fragmentos; mas a reunião de numerosas partes não produz integração e nem tem muita importância, quando existe harmonia entre as diferentes partes. A mente que se torna integral mediante o pensamento, o conhecimento, a experiência, continua sendo o resultado do tempo e do sofrimento; ao ser integrada, ainda é produto das circunstâncias. 
Estamos considerando de maneira errada este problema da integração. A parte jamais poderá constituir o todo. Pela parte o todo não pode realizar-se, mas não percebemos isto. O que percebemos é uma dada parte a distender-se para conter as demais; porém a reunião dessas partes não produz a integração, nem é de grande significação quando existe harmonia entre elas. Não é a harmonia ou a integração o que mais importa, pois isso é praticável, com um pouco de inteligência e atenção, e adequada educação; mas o que tem a máxima importância é que se deixe surgir na existência o "desconhecido". O conhecido não pode, em tempo algum, receber o desconhecido. A mente procura, cem cessar, viver feliz na estagnação da integração por ela própria produzida, mas nesta estagnação não pode surgir a ação criadora do "desconhecido".
Essencialmente, auto-aperfeiçoamento é indício de mediocridade. Auto-aperfeiçoamento, pela virtude, pela identificação com certas capacidades, pela segurança em qualquer forma positiva ou negativa, é um processo egocêntrico, ainda que seja muito amplo. A ambição gera mediocridade, porque ambição é preenchimento do "eu", pela ação, por meio do grupo, da idéia. O "eu" é o centro de tudo o que é conhecido, o passado atravessando o presente para o futuro, e toda atividade que se verifica na esfera do conhecido leva à superficialidade mental. A mente não pode ser grande em tempo algum, porque o que é grande é imensurável. O "conhecido" é comparável, e todas as atividades do conhecido só podem produzir sofrimentos.
Krishnamurti - Reflexões sobre a vida, pág. 261 à 263
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill