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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Há momentos em que a linguagem é impotente

Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto.

Buda esfregou o local e perguntou ao homem:

— E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.

Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:

— Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.

— Fique quieto — interveio Buda — Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma ideia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa ideia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma ideia. Ele bateu nessa ideia.

Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.

Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:

— Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.

Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:

— E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos, Buda falou:

— Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.

O homem olhou para Buda e disse:

— Perdoe-me pelo que fiz ontem.

— Perdoar? — exclamou Buda. — Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.

E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.

Osho; Intimidade Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sobre a questão do ódio, raiva e ressentimento

Pergunta: Para ser perfeitamente sincero, devo admitir que sinto ressentimento e, às vezes, ódio, contra quase todo o mundo. Isto me torna a vida muito infeliz e dolorosa. Compreendo intelectualmente que sou o ressentimento, o ódio; mas sou incapaz de reagir contra ele. Pode indicar-me uma forma de proceder?

Krishnamurti: Que se entende por “intelectualmente?” Quando dizemos que compreendemos uma coisa intelectualmente, que queremos dizer? Existe essa coisa que você denomina compreensão intelectual? Ou será que a mente apenas compreende palavras, visto que elas são o único meio de nos comunicarmos uns com os outros? Podemos compreender, em realidade, uma coisa, só verbalmente, mentalmente? É sobre isto que devemos esclarecer-nos em primeiro lugar: se a chamada compreensão intelectual não é um empecilho à compreensão. A compreensão, por certo, é integral, não dividida, não parcial. Ou compreendo uma coisa, ou não a compreendo. Dizermos para nós mesmos: “compreendo intelectualmente” é, sem dúvida, erguer uma barreira à compreensão. Trata-se de um processo parcial e por conseguinte não há, absolutamente, compreensão.

A questão é esta: “Como posso eu, que estou cheio de ressentimentos, de ódios, como posso livrar-me deste problema ou enfrenta-lo?” Como é que enfrentamos um problema? Que é um problema? Sem dúvida, um problema é uma coisa que causa perturbação.

Tenho ressentimentos, tenho ódio; odeio pessoas, e esse ódio me faz sofrer. Estou cônscio disso. Que devo fazer? É um fator muito perturbador, na minha vida. Que devo fazer, como pode ficar de todo livre dele, não desembaraçar-me dele apenas por alguns minutos, mas ficar por completo livre? Como consegui-lo?

 Isso representa um problema para mim, porque me perturba. Se não fosse perturbador, não seria problema algum, não é exato? Porque essa coisa me causa dor, perturbação, ansiedade, porque acho que ela é feia, quero livrar-me dela. Por conseguinte, o que me desagrada é a perturbação, não é? Dou-lhe nomes diferentes, em ocasiões diferentes e em diferentes estados de espírito; um dia o chamo por um nome, outro dia por outro, mas, basicamente, meu desejo é de não ser perturbado. Não é assim? Porque o prazer não causa perturbação, aceito-o. Não quero livrar-me do prazer, porque ele não traz perturbação — pelo menos por enquanto — mas o ódio, o ressentimento, são elementos perturbadores, na minha vida, e desejo livrar-me deles.

Meu único interesse é de não ser perturbado, e estou procurando uma forma de nunca ser perturbado. Por que não devo estar perturbado? Tenho de estar perturbado, para poder descobrir alguma coisa, não acham? Tenho de passar por tremendas comoções, agitações, ansiedades, para descobrir, não acham? Se não sou perturbado, fico dormindo; e talvez seja isso o que quase todos nós desejamos: ser acalmados, postos a dormir, afastar-nos de toda perturbação, buscar o isolamento, a reclusão, a segurança. Se não me oponho à ser perturbação, de fato e não superficialmente — se não me oponho a ser perturbado, porque desejo descobrir, então minha atitude em relação ao ódio, ao ressentimento, sofre uma transformação. Se não me oponho a ser perturbado, então o nome já não tem importância, não é? A palavra “ódio” já não é importante, é? Ou o ressentimento contra outras pessoas é sem importância, não acham? Porque estou experimentando diretamente o estado que chamo ressentimento, sem verbalizar essa experiência.

A cólera é um sentimento muito perturbador, como o são o ódio e o ressentimento; e bem poucos de nós experimentamos a cólera diretamente, sem a verbalizarmos. Se não a verbalizamos, se não a chamamos cólera, há então sem dúvida uma experiência diferente, não é verdade? Aplicando um termo a uma experiência nova, reduzimo-la ou fixamo-la no quadro do velho, ao passo que, se não lhe damos nome, há uma experiência que é compreendida diretamente, e esta compreensão produz uma transformação nesse experimentar.

(...) Tenham a bondade de experimentar. Primeiro, temos de estar perturbados; e é bem evidente que a maioria de nós não gosta de ser perturbada. Pensamos ter encontrado um padrão de vida — o Mestre, a crença, o que quer que seja — e nele nos instalamos. É como ocupar um bom cargo burocrático e nele ficar funcionando o resto da vida. Com a mesma mentalidade queremos lidar com certas qualidades de que desejamos livrar-nos. Não percebemos a importância de sermos perturbados, de estarmos inseguros interiormente, de não sermos dependentes. Por certo, só na insegurança se pode descobrir, se pode ver, se pode compreender. Queremos viver como um homem endinheirado: folgadamente; ele não será perturbado, não quer ser perturbado.

A perturbação é essencial à compreensão, e toda tentativa de encontrar a segurança constitui obstáculo à compreensão. Quando queremos livrar-nos de uma coisa que nos perturba, criamos um obstáculo. Se pudermos experimentar um sentimento diretamente, sem lhe dar nome, creio que descobriremos nele muita coisa. Então não há mais batalha com esse sentimento, porque o experimentador e a coisa experimentada são um só, o que é essencial. Enquanto o experimentador verbalizar o sentimento, a experiência, estar-se-á separado dela, para atuar sobre ela; tal ação é artificial, ilusória. Mas, se não há verbalização, o experimentador e a coisa experimentada são uma só coisa. Essa integração é necessária, e tem de ser encarada radicalmente.

Jiddu Krishnamurti — A primeira e última liberdade




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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill