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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Há momentos em que a linguagem é impotente

Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto.

Buda esfregou o local e perguntou ao homem:

— E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.

Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:

— Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.

— Fique quieto — interveio Buda — Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma ideia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa ideia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma ideia. Ele bateu nessa ideia.

Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.

Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:

— Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.

Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:

— E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos, Buda falou:

— Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.

O homem olhou para Buda e disse:

— Perdoe-me pelo que fiz ontem.

— Perdoar? — exclamou Buda. — Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.

E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.

Osho; Intimidade Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A dificuldade de levar alguém além das palavras

Embora eu fale, através de palavras, continuo sustentando que nada pode ser transmitido através delas. Para aqueles que querem falar, não há nenhum outro jeito que não seja usar as palavras. Geralmente, posso expressar-me apenas por palavras, mas também é verdade que o que precisa ser dito não pode ser transmitido por palavras. As duas coisas estão certas. Nossa situação é tal que só falamos com palavras. Não existe outra maneira de dialogar. 

Deveríamos tentar mudar de situação. Para aqueles que podem entrar em profunda meditação, o diálogo é possível mesmo sem palavras. Mas para levá-los à meditação profunda, primeiro terei de usar as palavras. Chegará a hora, após um longo e contínuo esforço, em que a comunicação será possível sem palavras. Mas até que essa hora chegue, terei de me expressar através delas. 

Para levá-lo ao mundo silencioso terei de usar as palavras: a situação é esta. Mas é perigosa. Eu terei de usar as palavras, sabendo perfeitamente que se você se prender a elas, se acreditar nelas COMO ELAS SÃO, então todo o esforço será inútil. Estamos tentando chegar ao silêncio, mas temos de falar com as palavras. A impossibilidade é absoluta; não há outra alternativa. Se você se prender a elas, todo o esforço se tornará inútil porque o propósito é levá-lo ao silêncio. Enquanto estivermos falando apenas através de palavras, teremos de falar contra elas, e para "falar contra" teremos de usar palavras também. Não há outro jeito. 

Uma pessoa pode tornar-se silenciosa; não é difícil. Existem aqueles que se tornaram silenciosos devido a este difícil conjunto de circunstâncias. Eles evitarão complicações, pois sabiam que o que tinham para dizer não poderia ser comunicado. 

Não tenho nenhuma dificuldade em tornar-me silencioso. Posso ficar em silêncio e não seria surpreendente se você também ficasse, porque o que estou tentando fazer parece ser um esforço quase impossível. Estou tentando tornar possível o impossível. Mas por tornar-me silencioso nada se alcançará, nada será comunicado a você. O perigo é o mesmo. 

Se eu falo, você se prende às palavras. O perigo é que se você se prender a elas, o que quero comunicar e conseguir não se realizará. Mas, se eu não falar, a questão de comunicar seja o que for não existirá. Em primeiro lugar, se eu falar, existe a possibilidade de que aquilo que estou dizendo alcance as pessoas. Se falo a cem pessoas, haverá pelo menos uma que talvez possa receber o que eu disse, sem se prender às palavras. Para as outras noventa e nove, o esforço terá sido inútil. Que assim seja! Pelo menos alguma coisa poderá ser comunicada a uma pessoa, mas se eu ficar em silêncio, nem mesmo essa única possibilidade existirá. Por isso, meu esforço continua. 

É interessante notar que quem acredita que as coisas possam ser comunicadas por palavras não fala muito. Fala pouco, e assim tudo está dito. Mas quem acredita que as coisas não podem ser expressas por palavras, fala muito, porque, por mais que fale, sabe que o que tem a dizer ainda não foi comunicado. Então continua falando mais e mais. 

(...) Para levar alguém além das palavras, as palavras terão de ser usadas; não há outro jeito.

(...) Não importa quantas palavras sejam ditas, elas movem-se sempre em círculo. As palavras dão voltas; não podem andar em  linha reta. Se você andar em linha reta, sairá delas e entrará nas não-palavras. Mas por vivermos nas palavras, se eu tenho de dizer alguma coisa contra elas, tenho de usá-las para isso. É um tipo de loucura, mas eu não tenho culpa. Falo sabendo que sem palavras você não poderá entender, e depois falo contra as palavras na esperança de que você não se prenda a elas. Se isso acontecer, só então conseguirei convencê-lo do que quero.

Se você entender apenas as minhas palavras, perderá o que eu digo. Terá de entender as palavras mas, ao mesmo tempo, tudo o que é indicado através delas sobre o mundo das palavras também precisará ser entendido.

O S H O

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A mensagem está além do simbolo fonético

Para mim, a meditação tem dois passos: primeiro, um ativo (que não é, realmente, de modo algum, meditação) e segundo, um completamente não-ativo (a consciência passiva, que é, realmente, meditação). A consciência, ou conhecimento, é sempre passiva, e, no momento em que te tornas ativo perdes teu conhecimento. É possível estar ativo e consciente apenas quando a consciência chegou a um tal ponto que agora já há, necessidade da meditação para conquistá-la, ou conhecê-la, ou senti-la. Quando a meditação se torna inútil, tu, simplesmente, pões de lado a meditação. Agora, estás consciente. Só então podes estar ao mesmo tempo consciente e ativo — de outra maneira não é possível. Enquanto a meditação ainda for necessária, não serás capaz de estar consciente durante a atividade. Mas, quando a meditação já não é necessária...

Se tu te tornaste meditação, já não precisarás dela. Então, podes ser ativo, mas mesmo nessa atividade és sempre o expectador passivo. Agora, jamais és o ator: és, sempre, uma consciência que testemunha. 

A consciência é passiva... e a meditação está fadada a ser passiva porque é apenas uma porta para a consciência — a perfeita consciência. Assim, quando as pessoas falam em meditação "ativa", estão erradas. Meditação é passividade. Podes precisar de alguma atividade, de algum "fazer" para chegar a ela — isso pode ser compreendido — mas isso não se dá porque a meditação seja, em si, ativa. Isso, antes, se dá, porque estiveste ativo em tantas e tantas vidas — a atividade tornou-se de tal forma parte e parcela de tua mente — que precisas até mesmo da atividade para alcançar a não-atividade. 

Estivestes tão envolvido em atividade que não podes abandoná-la. Assim, pessoas como Krishnamurti podem continuar a dizer: "Abandone isso", mas continuarás a perguntar como abandonar isso. Krishnamurti dirá: "Não perguntes como. Estou dizendo que abandones isso! Não há um 'como' para tanto. Não há necessidade de nenhum 'como'."

De certa forma ele está certo. Consciência passiva ou meditação passiva não têm um "como". Não podem ter, porque se houver um "como" então não pode ser passiva. Mas está certo, também, porque não leva em conta seu ouvinte. Ele está falando de si próprio. 

A meditação se faz sem "como", sem tecnologia, sem qualquer técnica. Assim, Krishnamurti está totalmente correto, mas o ouvinte não foi levado em conta. O ouvinte nada mais tem senão atividade; para ele, tudo é atividade. Assim, quando dizes "A meditação é passiva, não-ativa, sem escolha. Podes apenas estar nela. Não há necessidade de esforço, de nenhum esforço, ela é sem esforço", estás falando uma linguagem que o ouvinte é capaz de entender. Ele entende a parte linguística do que dizes — e isso é que torna tudo tão difícil. Ele diz: "Intelectualmente, compreendo tudo. Tudo o que o senhor está dizendo está sendo inteiramente compreendido", mas ele é incapaz de compreender o significado. 

Não há nada de misterioso nos ensinamentos de Krishnamurti. Ele é o menos místico dos mestres. Nada há de misterioso! Tudo é obviamente claro, exato, analisado, lógico, racional, de forma que todos podem entender. E isso tornou-se uma das grande barreiras, porque o ouvinte pensa que compreendeu. Compreendeu a parte linguística, mas não compreende a linguagem da passividade. 

Compreende o que lhe está sendo dito — as palavras. Ouve-as, compreende-as, conhece o sentido daquelas palavras. Faz correlações. Um quadro inteiramente correlato vem à sua mente. O que está sendo dito é compreendido, há uma comunicação intelectual. Mas ele não compreende a linguagem da passividade. Não pode compreender. Só pode compreender a linguagem da ação — da atividade.

Osho em, Meditação: a arte do êxtase

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Indo além do entrave das palavras

Devemos ser cautelosos para não ficar aprisionados pelas palavras que usamos. Quando falo do psíquico ou do espiritual, quero me referir a coisas muito profundas e reais que estão por trás da superfície plana das palavras e mesmo intimamente ligadas em suas diferenças. Definições e distinções intelectuais são muito superficiais e rígidas para alcançar a verdade verdadeira das coisas. E contudo, a não ser que você esteja muito habituado a falar um com o outro, existe quase uma necessidade de definir o sentido de suas palavras — se é que você quer compreender o outro. A condição ideal para uma conversa é quando as mentes estão tão bem sintonizadas que as palavras servem apenas de suporte para uma compreensão mútua espontânea, e você não precisa explicar a cada passo o que você quer dizer. Esta é a vantagem quando se fala sempre com as mesmas pessoas; a harmonia sintonizada é estabelecida entre suas mentes e o significado das coisas faladas penetra nelas imediatamente.

Existe um mundo de ideias sem forma e é lá que você deve entrar, se quiser captar o sentido do que está por detrás das palavras. Enquanto tiver que extrair a sua compreensão das formas das palavras, é provável que você fique muito confuso sobre seu verdadeiro sentido. Mas se no silêncio da mente você puder se elevar até o mundo de onde descem as ideias para tomar forma, imediatamente a real compreensão vem. Se você quiser ter certeza de compreender o outro, deve ser capaz de compreender em silêncio. Existe uma condição na qual suas mentes estão tão bem afinadas e harmonizadas em conjunto que se percebe o pensamento do outro sem nenhuma necessidade de palavras. Mas se não existir esta sintonia, haverá sempre alguma deformação no sentido porque, para aquilo que você fala, a outra mente fornece seu próprio significado. Por exemplo, eu uso uma palavra num certo sentido ou nuança de seu sentido; você está costumado a colocá-la em outro sentido ou nuança. Então, evidentemente você compreenderá, não o meu exato significado dela, mas o que a palavra significa para você. Isso é verdade, não apenas no falar, mas também no ler. Se quiser entender um livro que contenha um profundo ensinamento, você deve ser capaz de o ler no silêncio da mente; deve esperar e deixar que a expressão se aprofunde dentro de você, na região onde não há mais palavras, e de lá voltar vagarosamente para a sua consciência exterior e seu entendimento superficial. Porém, se você deixar as palavras pularem para a sua mente externa e tentar adaptar e ajustar as duas, terá perdido completamente seu real sentido e poder. Não pode haver perfeito entendimento a não ser que você esteja em união com a mente não expressa, que está por trás do centro de expressão.

Falamos uma vez de mentes individuais que são como mundos distintos e separados uns dos outros; cada um está fechado em si e quase não tem ponto direto de contato com nenhum outro. Mas isso é na região da MENTE INFERIOR; nela, suas próprias formações o aprisionam; você não pode desembaraçar-se delas ou de si mesmo; você apenas se compreende e às suas próprias reflexões nas coisas. Contudo, nesta região mais alta da MENTE INEXPRESSA e suas altitudes mais puras, você está livre; quando entra lá, você sai de si e penetra dentro de um plano mental universal, no qual cada mundo mental dentro de um plano mental universal está como dentro de um imenso mar. Aí você pode compreender inteiramente o que está acontecendo ao outro e ler a mente dele como se fosse a sua própria, pois nenhum separação divide mente de mente. É apenas quando você se une com os outros nesta região que pode compreendê-los; de outro modo, VOCÊ NÃO ESTÁ SINTONIZADO, NÃO ESTÁ EM CONTATO, NÃO TEM MEIOS DE SABER PRECISAMENTE O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA OUTRA MENTE QUE NÃO A SUA. Muito frequentemente, quando está na presença de outrem, você está totalmente ignorante do que ele pensa ou sente; mas se você for capaz de ir além e acima deste plano externo de expressão, se você puder entrar dentro de um plano onde uma COMUNHÃO SILENCIOSA é possível, então você pode ler nesta outra mente como se fosse na sua. Então as palavras que você usa para sua expressão são de pouca importância porque a compreensão plena está situada além delas, em alguma outra coisa, e um mínimo de palavras é suficiente para atingir a finalidade. Aí longas explicações não são necessárias; você não precisa que um pensamento seja completamente expresso porque a visão direta do que ele significa está em você. 

A Mãe

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

É possível observar sem a palavra?

A revolução interior ou psicológica implica uma transformação completa, não só da mente consciente mas também da inconsciente. Pode-se facilmente modificar o padrão externo da sua existência, ou da sua maneira de pensar. Você pode deixar de pertencer a qualquer igreja que seja, ou pode abandonar uma igreja para ingressar noutra. Pode pertencer ou não pertencer a determinado partido político ou grupo religioso. Tudo isso pode facilmente ser modificado pelas circunstâncias, por seu medo, por seu desejo de maior recompensa, etc. A mente superficial pode ser facilmente modificada, porém, muito mais difícil é efetuar uma alteração no inconsciente — e é aí que se encontra o nosso problema. E o inconsciente não pode ser alterado pelo anseio, pelo desejo, pela vontade. Temos de abeirar-nos dele negativamente.

O examinar negativamente a totalidade da consciência implica o ato de escutar; implica perceber os fatos sem interferência de opiniões, juízos, condenação. Por outras palavras, requer pensar negativo. A maioria de nós, por educação e experiência,, está acostumada a ajustar-se, a obedecer, a seguir autoridades estabelecidas — autoridades morais, éticas, ideológicas. Mas o que aqui estamos examinando exige que não haja autoridade de espécie alguma; porque, assim que o indivíduo começa a INVESTIGAR, já nenhuma autoridade existe. Cada momento é um descobrimento. E como é possível a mente descobrir quando está sujeita à autoridade. A suas anteriores experiências? Assim, pois, o pensar negativo significa devassar nossas crenças assertivas, dogmáticas, nossas experiências, ansiedades, esperanças e temores; significa ver tudo isso negativamente, isto é, sem o desejo de alterá-lo ou transcende-lo, porém, observando-o simplesmente, sem avaliação.

Observar sem avaliação significa observar sem a palavra. Não sei se você já tentou alguma vez olhar uma coisa sem a palavra, o símbolo. A relação das palavras com aquilo que elas descrevem constitui o pensamento, o qual é reação da memória; e olhar um fato, SEM palavras, é olhá-lo sem a intervenção do pensamento.

Experimente-o, uma vez. Ao sair daqui, nesta manhã, olhe para as montanhas com seus capuzes de neve, ou ESCUTE aquele rio, sem nenhum pensamento — o que não significa estar dormindo. Não significa olhar com a mente “em branco”. Ao contrário, olhar uma coisa sem a intervenção do pensamento requer que você esteja totalmente desperto. E esta é uma tarefa árdua, porquanto você está condicionado, desde a infância, para julgar, para avaliar. Estamos condicionados pelas palavras... através dessa cortina de palavras olhamos e escutamos; por isso, nunca vemos, nunca ouvimos.

Eis porque é tão importante libertarmo-nos da escravidão às palavras. Tome-se a palavra “Deus”. Temos de ficar completamente livres dessa palavra, principalmente se nos considerarmos pessoas religiosas ou espirituais; porque a palavra não é a coisa. A palavra “Deus” evidentemente não é Deus; e para se compreender o que seja essa extraordinária entidade, temos de ficar livres da palavra — o que significa ficar interiormente livre de todas as influências e associações decorrentes dessa palavra. Isso, por sua vez, não implica crer ou descrer; implica que não se deve pertencer a nenhuma religião, nenhum sistema organizado de pensamento. Só então temos a possibilidade de descobrir por nós mesmos se algo existe além das palavras, além das medidas da mente.


Jiddu Krishnamurti — O homem e seus desejos em conflito 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

É possível observação sem palavra?

Krishnamurti: O observador é o passado; ele é o passado, a lembrança, a experiência, o conhecimento armazenado na memória. O passado é o observador, e eu observo o presente, que é o meu ciúme, a minha reação. E uso a palavra "ciúme" para esse sentimento porque o reconheço como tendo acontecido no passado. É uma lembrança do ciúme através da palavra, que faz parte do passado. Portanto, posso observar sem a palavra e sem o observador que é o passado? A palavra traz este sentimento ou há sentimento sem a palavra? Tudo isso faz parte do autoconhecimento.

Pupul: Como alguém pode observar sem a palavra?

K: Sem o observador, sem nenhuma lembrança. Isso é muito importante .

P: Como se pode resolver o problema do observador?

A: Posso dizer que na observação do observador há também a desaprovação ou a aprovação do observador a respeito dele mesmo.

K: Isso é o passado. Isso é o seu condicionamento. Esse é todo o movimento do passado, que está contido no observador.

A: Essa reprovação é a barreira.

K: Isso é o que Pupul está perguntando. Ela diz: Como eu observo o observador? Qual é o processo de observar o observador? Ouço K dizer que o observador é o passado. É isso mesmo?

P: Ao fazer essa pergunta, outro observador é criado.

K: Não, eu não crio nada. Estou simplesmente observando. A pergunta é: o que é o observador? Quem é o observador? Como observo este microfone? Eu o observo através de uma palavra que usamos para indicar que isto é um microfone; ela está registrada no cérebro como microfone, como uma lembrança; eu uso essa palavra para expressar a realidade do microfone. Isso é bastante simples.

P: Alguém observa o observador?

K: Já vou falar sobre isso. Como alguém observa o observador? Vocês não o fazem.

P: É a incapacidade de observar o observador o que dá a alguém a compreensão da natureza do observador?

K: Não. Você não observa o observador. Você só observa "o que é", e a interferência do observador. Você diz que reconhece o observador. Percebe a diferença? Vá devagar. O ciúme existe. O observador entre e diz: "Eu tive ciúme no passado. Eu conheço esse sentimento." Portanto, eu o reconheço e ele é o observador. Você não pode observar o observador por si mesmo. A observação do observador existe apenas em na sua relação com o observado. Quando o observador para a observação, então há a consciência do observador. Você não pode observar o observador. Você só pode observar o observador em relação a algo. Isso está razoavelmente claro. No momento do sentimento, não há nem o observador nem o observado; há só aquele estado. Então, o observador chega e diz que se trata de ciúme e continua a interferir naquilo que existe, evita o ciúme, reprime, racionaliza, justifica-o ou foge dele. Esses movimentos indicam o observador em relação àquilo que é.

FW: No momento em que o observador existe, existe a possibilidade de observar o observador?

K: É isso que nós estamos dizendo. Eu estou zangado ou violento. No momento da violência nada existe. Não existe você, nem observador, nem o observado. Há só o estado de violência. Então, o observador chega ao que é o movimento do pensamento. O pensamento é passado — não existe pensamento novo — e esse movimento do pensamento interfere no presente. Essa interferência é o observador, e você estuda o observador só através dessa interferência. Ele tenta fugir do que é irracional na violência, para justificá-la e assim por diante, e todas essas são abordagens tradicionais ao presente. A Abordagem tradicional é o observador.

P: Desse certo modo, portanto, o observador só se manifesta em termos de fuga ao presente.

K: Fugas ou racionalizações.

D: Ou interferências.

K: Qualquer forma de interferência no presente é a ação do observador. Não admita isso. Acabe com ela, descubra essa ação.

Par: Se não há passado não há interferência?

K: Não, não é essa a questão. O que é o passado?

P: O conteúdo acumulado e armazenado das minhas experiências.

K: E isso é o que é? Suas experiências, suas tendências e motivos, tudo isso é atividade do passado, do conhecimento. A atividade do passado só pode acontecer através do conhecimento, que é o passado. Portanto, o passado interfere no presente; o observador começa a agir. Se não há interferência, não há observador, há apenas observação.

Na observação, não há nem o observador nem a ideia de observação. É muito importante que se entenda isso. Não há nem observador nem ideia de não ter um observador; o que significa que há só observação pura, sem a palavra, sem a lembrança, sem relação com o passado. Não há nada senão a observação.

FW: Dessa forma, é possível a observação do observador?

K: Não, eu digo: A observação do observador só acontece quando o passado interfere no presente e o observador entra em ação. É só então que você toma consciência de que existe um observador. Agora, quando você percebe isso, quando tem um vislumbre disso, então, não há observador; há apenas observação.


Jiddu Krishnamurti — Diálogos sobre a visão intuitiva

P - Pupul
A- Achyut
FW - Fritz Wilhelm



domingo, 30 de dezembro de 2012

Compreendendo o vício da verbalização da existência

Meditação não é um método hindu; não é simplesmente uma técnica. Você não pode aprende-la. É um crescimento: um crescimento de sua vivência total, a partir da sua vivência total. Meditação não é algo que pode ser acrescentado a você tal como você está. Ela pode vir para você somente através de uma transformação básica, uma mutação. É um florescimento, um crescimento. O crescimento é sempre a partir do todo; não é uma adição. Você deve crescer em direção à meditação.

Este florescimento total da personalidade deve ser entendido corretamente. De outra forma, o indivíduo pode fazer jogos consigo mesmo, por ocupar-se com truques mentais. E há tantos truques! Não apenas você pode ser enganado por eles, não apenas não ganhará nada, como também num sentido real, você será prejudicado. A própria atitude de que há um truque na meditação — conceber a meditação em termos de método — é basicamente errada. E quando o indivíduo começa a brincar com truques mentais, a própria qualidade da mente começa a deteriorar.

Tal qual existe, a mente não é meditativa. Toda mente precisa mudar antes que a meditação possa acontecer. Então, o que é a mente tal qual existe agora? Como funciona?

A mente está sempre verbalizando. Você pode conhecer palavras, você pode saber línguas, você pode conhecer a estrutura conceitual do pensamento, mas isso não é o pensar. Ao contrário, é uma fuga do pensar. Você vê uma flor e você a verbaliza; você vê um homem atravessando a rua e você o verbaliza. A mente pode transformar cada coisa existencial em palavras. Então as palavras se tornam uma barreira, um aprisionamento. Esta constante transformação das coisas em palavras, da existência em palavras, é o obstáculo à mente meditativa.

Assim, a primeira exigência em direção à mente meditativa é tornar-se consciente de sua constante verbalização e ser capaz de pará-la. Apenas veja as coisas; não verbalize. Seja consciente da presença delas, mas não as transforme em palavras. Deixe as coisas serem, sem linguagem; deixe as pessoas serem, sem linguagem; deixe as situações serem, sem linguagem. Não é impossível; é natural. É a situação tal qual existe agora, que é artificial, mas nós nos tornamos habituados a isto, ela tornou-se tão mecânica, que nós nem mesmo temos consciência de que estamos constantemente transformando a experiência em palavras.

O nascer do sol está ali. Você nunca está consciente do vazio entre vê-lo e verbalizá-lo. Você vê o sol, você o sente e imediatamente você o verbaliza. A distância entre o ver e o verbalizar se perde. O indivíduo deve estar consciente do fato de que o nascer do sol não é uma palavra. É um fato, uma presença. A mente automaticamente transforma experiências em palavras. Estas palavras então surgem entre você e a experiência.

Meditação significa viver sem palavras, viver não linguisticamente. às vezes acontece espontaneamente. Quando você está apaixonado, a presença é sentida, não a linguagem. Quando dois amantes estão intimamente um com o outro, tornam-se silenciosos. Não que não haja nada para expressar. Ao contrário, há uma aflitiva quantidade de coisas a serem expressas. Mas as palavras nunca estão lá; não podem estar. Elas veem somente quando o amor se foi.

Se dois amantes nunca estão em silêncio, é uma indicação de que o amor morreu. Agora eles estão enchendo o vazio com palavras. Quando o amor está vivo, as palavras não estão lá, porque a própria existência do amor é tão dominadora, tão penetrante, que a barreira das palavras e da linguagem é ultrapassada. E comumente é somente ultrapassada no amor.

A meditação é a culminação do amor; amor não por uma pessoa em particular, mas pela existência total. Para mim, meditação é um relacionamento vivo com a existência que o cerca. Se você pode estar apaixonado com qualquer situação, então você está em meditação.

E isto não é um truque mental. Não é um método de imobilização da mente. Ao contrário, requer um profundo entendimento do mecanismo da mente. No momento em que você entende seu hábito mecânico da verbalização, de transformar a existência em palavras, um vazio é criado. Vem espontaneamente. Segue ao entendimento como uma sombra.

O problema real não é como estar em meditação, mas saber porque você não está em meditação. O próprio processo da meditação é negativo. Não está acrescentando algo a você; está negando alguma coisa que já foi acrescida.

A sociedade não pode existir sem linguagem; ela precisa da linguagem. Mas a existência não a necessita. Não estou dizendo que você deveria existir sem linguagem. Você terá que usá-la. Mas você deve ser capaz de ligar e desligar o mecanismo da verbalização. Quando você está existindo como um ser social, o mecanismo da linguagem é necessário; mas quando você está sozinho com a existência, você deve ser capaz de desligá-la. Se você não pode desligá-la se ela continua e continua e você é incapaz de pará-la — então você é um escravo dela. A mente deve ser um instrumento, não o mestre.
Quando a mente é o mestre, um estado não meditativo existe. Quando você é o mestre, sua consciência é o mestre, um estado meditativo existe. Assim, meditação significa tornar-se um mestre do mecanismo da mente.

A mente, e o mecanismo linguístico da mente, não é o supremo. Você está além dela; a existência está além dela. A consciência está além da linguística; a existência está além da linguística. Quando a consciência e a existência tornam-se uma, elas estão em comunhão. Esta comunhão é meditação.

A linguagem deve ser abandonada. Não estou dizendo que você tem de reprimí-la ou eliminá-la. Eu apenas quero dizer que ela não tem de ser um hábito de vinte e quatro horas por dia, para você. Quando você caminha, você tem de mover as pernas; mas se elas continuam a se mover quando você está sentado, então você está louco. Você deve ser capaz de desligá-las. Da mesma forma, quando você não está falando com ninguém, a linguagem não deve estar ali. É uma técnica para comunicar. Quando você não está se comunicando com ninguém, ela não deve estar ali.

Se você é capaz de fazer isto, você pode crescer para dentro da meditação. Meditação é um processo de crescimento, não uma técnica. Uma técnica é sempre morta, assim ela pode ser acrescentada a você, mas um processo é sempre vivo. Ele cresce, expande-se

A linguagem é necessária, mas você não deve sempre permanecer nela. Deve haver momentos em que não haja verbalização, quando você apenas existe. Não é que você esteja apenas vegetando. A consciência está lá. E é mais aguda, mais viva, porque a linguagem a obscurece. A linguagem limita-se a ser repetitiva, assim ela cria tédio. Quanto mais a linguagem é importante para você mais tedioso você será.

A existência nunca é repetitiva. Cada rosa é uma nova rosa, completamente nova. Nunca foi e nunca será de novo. Mas quando nós a chamamos rosa, a palavra "rosa" é uma repetição. Ela sempre esteve lá; sempre estará. Você matou o novo com uma palavra velha.

A existência é sempre jovem e a linguagem é sempre velha. Mediante a linguagem você foge da existência, você foge da vida, porque a linguagem é morta. Quanto mais envolvido você está com a linguagem, mais desvigorado você será por ela.

(...) Nós vivemos em palavras. Isto é, nós não vivemos. No fim há somente uma série de palavras acumuladas e nada mais. As palavras são como fotografias. Você vê algo que está vivo e tira uma foto. A foto está morta. Então você faz um álbum de fotografias mortas. Uma pessoa que não vive em meditação é como um álbum morto. Somente fotografias verbais lá estão, somente memórias. Não está vivo, tudo foi apenas verbalizado.

Meditação significa viver totalmente, mas você pode viver totalmente apenas quando está em silêncio. Por estar em silêncio não quero dizer inconsciente. Você pode estar silencioso e inconsciente, mas não é um silêncio vivo.  De novo você se engana.

Através de mantras você pode auto-hipnotizar-se. Por simples repetição de uma palavra, você pode criar tamanho tédio na mente, que a mente dormirá. Você cai no sono, cai na inconsciência. Se você continuar entoando "Ram-Ram-Ram", a mente adormecerá. Então a barreira da linguagem não está lá, mas você está inconsciente.

Meditação significa que a linguagem não deve estar lá, mas você deve estar consciente. De outra forma, não há comunhão com a existência, com tudo o que é. Auto-hipnose não é meditação. Nenhum mantra pode ajudar, nenhuma entoação pode ajudar. Ao contrário, estar em estado hipnótico é uma regressão. Não é ir além da linguagem, é cair abaixo dela.

Assim, abandone todos os mantras, abandone todas as técnicas. Deixe os momentos existirem onde as palavras não estejam. Você não pode livrar-se das palavras com um mantra, porque o próprio processo usa palavras. Você não pode eliminar a linguagem com palavras; é impossível.

Assim, o que deve ser feito? Aliás, você não pode fazer absolutamente nada, exceto entender. O que quer que você seja capaz de fazer, pode surgir somente de onde você está. Você está confuso, você não está em meditação, sua mente não está em silêncio, assim qualquer coisa que venha de você, apenas criará mais confusão. Tudo o que pode ser feito exatamente agora é começar a estar consciente de como a mente funciona. Eis tudo — apenas estar consciente. Consciência não tem nada a ver com palavras. É um ato existencial, não um ato mental.

Assim, a primeira coisa é estar consciente. Esteja consciente do seu processo mental, de como sua mente trabalha. No momento em que você se torna consciente do funcionamento de sua mente, você não é a mente. A própria consciência significa que você está além: à parte, uma testemunha. E quanto mais consciente você se tornar, mais você será capaz de ver os vazios entre a experiência e as palavras. Os vazios estão ali; mas você está tão inconsciente, que eles nunca são vistos.

(...) Quanto mais consciente você se torna, mais lenta a mente se torna. É sempre relativo. Quanto menos consciente você é, mais rápida a mente é; e quanto mais consciente você é, mais lento é o processo da mente. Quando você está mais consciente da mente, a mente diminui seu ritmo e os vazios entre os pensamentos se alargam. Então você pode vê-los.

Osho - A psicologia do esotérico
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill