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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Há momentos em que a linguagem é impotente

Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto.

Buda esfregou o local e perguntou ao homem:

— E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.

Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:

— Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.

— Fique quieto — interveio Buda — Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma ideia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa ideia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma ideia. Ele bateu nessa ideia.

Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.

Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:

— Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.

Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:

— E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos, Buda falou:

— Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.

O homem olhou para Buda e disse:

— Perdoe-me pelo que fiz ontem.

— Perdoar? — exclamou Buda. — Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.

E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.

Osho; Intimidade Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sobre a questão do ódio, raiva e ressentimento

Pergunta: Para ser perfeitamente sincero, devo admitir que sinto ressentimento e, às vezes, ódio, contra quase todo o mundo. Isto me torna a vida muito infeliz e dolorosa. Compreendo intelectualmente que sou o ressentimento, o ódio; mas sou incapaz de reagir contra ele. Pode indicar-me uma forma de proceder?

Krishnamurti: Que se entende por “intelectualmente?” Quando dizemos que compreendemos uma coisa intelectualmente, que queremos dizer? Existe essa coisa que você denomina compreensão intelectual? Ou será que a mente apenas compreende palavras, visto que elas são o único meio de nos comunicarmos uns com os outros? Podemos compreender, em realidade, uma coisa, só verbalmente, mentalmente? É sobre isto que devemos esclarecer-nos em primeiro lugar: se a chamada compreensão intelectual não é um empecilho à compreensão. A compreensão, por certo, é integral, não dividida, não parcial. Ou compreendo uma coisa, ou não a compreendo. Dizermos para nós mesmos: “compreendo intelectualmente” é, sem dúvida, erguer uma barreira à compreensão. Trata-se de um processo parcial e por conseguinte não há, absolutamente, compreensão.

A questão é esta: “Como posso eu, que estou cheio de ressentimentos, de ódios, como posso livrar-me deste problema ou enfrenta-lo?” Como é que enfrentamos um problema? Que é um problema? Sem dúvida, um problema é uma coisa que causa perturbação.

Tenho ressentimentos, tenho ódio; odeio pessoas, e esse ódio me faz sofrer. Estou cônscio disso. Que devo fazer? É um fator muito perturbador, na minha vida. Que devo fazer, como pode ficar de todo livre dele, não desembaraçar-me dele apenas por alguns minutos, mas ficar por completo livre? Como consegui-lo?

 Isso representa um problema para mim, porque me perturba. Se não fosse perturbador, não seria problema algum, não é exato? Porque essa coisa me causa dor, perturbação, ansiedade, porque acho que ela é feia, quero livrar-me dela. Por conseguinte, o que me desagrada é a perturbação, não é? Dou-lhe nomes diferentes, em ocasiões diferentes e em diferentes estados de espírito; um dia o chamo por um nome, outro dia por outro, mas, basicamente, meu desejo é de não ser perturbado. Não é assim? Porque o prazer não causa perturbação, aceito-o. Não quero livrar-me do prazer, porque ele não traz perturbação — pelo menos por enquanto — mas o ódio, o ressentimento, são elementos perturbadores, na minha vida, e desejo livrar-me deles.

Meu único interesse é de não ser perturbado, e estou procurando uma forma de nunca ser perturbado. Por que não devo estar perturbado? Tenho de estar perturbado, para poder descobrir alguma coisa, não acham? Tenho de passar por tremendas comoções, agitações, ansiedades, para descobrir, não acham? Se não sou perturbado, fico dormindo; e talvez seja isso o que quase todos nós desejamos: ser acalmados, postos a dormir, afastar-nos de toda perturbação, buscar o isolamento, a reclusão, a segurança. Se não me oponho à ser perturbação, de fato e não superficialmente — se não me oponho a ser perturbado, porque desejo descobrir, então minha atitude em relação ao ódio, ao ressentimento, sofre uma transformação. Se não me oponho a ser perturbado, então o nome já não tem importância, não é? A palavra “ódio” já não é importante, é? Ou o ressentimento contra outras pessoas é sem importância, não acham? Porque estou experimentando diretamente o estado que chamo ressentimento, sem verbalizar essa experiência.

A cólera é um sentimento muito perturbador, como o são o ódio e o ressentimento; e bem poucos de nós experimentamos a cólera diretamente, sem a verbalizarmos. Se não a verbalizamos, se não a chamamos cólera, há então sem dúvida uma experiência diferente, não é verdade? Aplicando um termo a uma experiência nova, reduzimo-la ou fixamo-la no quadro do velho, ao passo que, se não lhe damos nome, há uma experiência que é compreendida diretamente, e esta compreensão produz uma transformação nesse experimentar.

(...) Tenham a bondade de experimentar. Primeiro, temos de estar perturbados; e é bem evidente que a maioria de nós não gosta de ser perturbada. Pensamos ter encontrado um padrão de vida — o Mestre, a crença, o que quer que seja — e nele nos instalamos. É como ocupar um bom cargo burocrático e nele ficar funcionando o resto da vida. Com a mesma mentalidade queremos lidar com certas qualidades de que desejamos livrar-nos. Não percebemos a importância de sermos perturbados, de estarmos inseguros interiormente, de não sermos dependentes. Por certo, só na insegurança se pode descobrir, se pode ver, se pode compreender. Queremos viver como um homem endinheirado: folgadamente; ele não será perturbado, não quer ser perturbado.

A perturbação é essencial à compreensão, e toda tentativa de encontrar a segurança constitui obstáculo à compreensão. Quando queremos livrar-nos de uma coisa que nos perturba, criamos um obstáculo. Se pudermos experimentar um sentimento diretamente, sem lhe dar nome, creio que descobriremos nele muita coisa. Então não há mais batalha com esse sentimento, porque o experimentador e a coisa experimentada são um só, o que é essencial. Enquanto o experimentador verbalizar o sentimento, a experiência, estar-se-á separado dela, para atuar sobre ela; tal ação é artificial, ilusória. Mas, se não há verbalização, o experimentador e a coisa experimentada são uma só coisa. Essa integração é necessária, e tem de ser encarada radicalmente.

Jiddu Krishnamurti — A primeira e última liberdade




quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Como é o seu relacionamento com o outro?

Por que sua mente se amolda? Vocês já se fizeram essa pergunta? Vocês acaso se dão conta de que se amoldam a um padrão? Pouco importa qual seja o padrão, se vocês mesmos o estabeleceram para si ou ele foi estabelecido para vocês. Por que estamos sempre nos amoldando? Onde há o amoldar-se não pode haver liberdade, e isto é óbvio. No entanto, a mente está sempre em busca de liberdade — quanto mais inteligente, quanto mais alerta, quanto mais consciente ela é, tanto maior sua exigência de liberdade. A mente se amolda, imita, porque há mais segurança em agir assim, em seguir um padrão. Esse fato é evidente. Vocês sabem tudo o que fazem, socialmente, porque é melhor amoldar-se. Vocês podem ser educados no exterior, ser grandes cientistas, ou políticos, mas têm um temor secreto de que, se não forem ao templo ou não fizerem as coisas usuais que lhes foram ensinadas, algo de ruim possa sobrevir; por isso, vocês se amoldam. O que acontece à mente que se amolda? Queiram por gentileza, examinar essa interrogação. O que acontece com a sua mente quando vocês se amoldam? Antes de tudo, há uma total negação da liberdade, uma total negação do exame independente. Quando vocês se amoldam, há medo. Certo? Desde a infância a mente é treinada para imitar, para amoldar-se ao padrão que a sociedade estabeleceu — ser aprovado em exames, formar-se, se tiver sorte conseguir um emprego, casar-se, e ponto final. Vocês aceitam esse padrão e tremem de medo de não segui-lo. 

Em consequência, vocês negam interiormente a liberdade, vivem interiormente temerosos, têm a sensação interior de não ser livres para descobrir, indagar, pesquisar, questionar. E isso produz desordem nos nossos relacionamentos. Vocês e eu estamos tentando mergulhar profundamente nessa questão, ter dela uma real introvisão, perceber-lhe a verdade. E é a percepção da verdade que liberta a mente; não alguma prática, nem a atividade da indagação, mas a efetiva percepção daquilo "que é". 

Causamos a desordem nos relacionamentos, tanto interior como exteriormente, mediante o medo, o amoldar-se, a avaliação, que é comparação. O nosso relacionamento se acha em desordem, não apenas o relacionamento uns com os outros, por mais íntimo que seja, como também o relacionamento exterior. Se vemos essa desordem com clareza, não lá fora mas aqui dentro, no mais profundo do nosso ser, se vemos todas as implicações disso, a partir dessa percepção vem a ordem. Então não teremos de viver segundo uma ordem imposta. A ordem não tem padrão, ela não é um esquema dado; ela vem da compreensão do que é a desordem. Quanto mais vocês entendem a desordem no relacionamento, tanto maior é a ordem. Logo, temos de descobrir o que é o nosso relacionamento uns com os outros. 

Como é o seu relacionamento com o outro? Você tem algum relacionamento ou seu relacionamento é com o passado? O passado, com suas imagens, sua experiência, seu conhecimento, dá origem ao que vocês denominam relacionamento. Mas o conhecimento no relacionamento gera desordem. Estou em relação com vocês. Sou o seu filho, o seu pai, a sua mulher, o seu marido. Temos vivido juntos; vocês têm me magoado e eu a vocês. Vocês têm me perseguido, têm me importunado, têm me tiranizado, têm dito coisas duras pelas minhas costas e na minha frente. Eu tenho vivido com vocês há dez anos ou há dois dias, e essas lembranças permanecem, lembranças das ofensas, das irritações, do prazer sexual, dos aborrecimentos, das palavras brutais e assim por diante. Tudo isso está registrado nas células do cérebro que contêm a memória. Assim, meu relacionamento com vocês se baseia no passado. O passado é a minha vida. Se atentarem para isso, vocês hão de perceber como a mente, a vida, a atividade de vocês está arraigada no passado. O relacionamento arraigado no passado inevitavelmente gera desordem. Quer dizer, o conhecimento no relacionamento traz desordem. Se vocês me magoaram, eu me lembro disso; vocês me magoaram ontem ou há uma semana e isso permanece na minha mente; é o conhecimento que tenho de vocês. Esse conhecimento impede o relacionamento; esse conhecimento gera desordem. Portanto, a questão é: quando vocês me magoam, me lisonjeiam, quando me escandalizam, pode a mente varrer isso de si no mesmo momento sem registrá-lo? Vocês tentam fazer isso?

(...) Digamos que ontem alguém tenha me tratado com aspereza, fazendo-me acusações inverídicas. Aquilo que foi dito fica registrado, e a mente identifica a pessoa com esse registro, agindo de acordo com ele. Quando a mente está agindo no relacionamento com o conhecimento desses insultos, das palavras ríspidas, das falsas acusações, esse conhecimento no relacionamento traz a desordem. Ficou claro? Ora, como a mente faz para não registrar no momento do insulto, no momento da bajulação? Porque, para mim, o que há de mais importante na vida é o relacionamento. Sem relacionamento, só pode haver desordem. A mente que vive em ordem, numa ordem total, que é a forma mais elevada de ordem matemática, não pode permitir nem por um momento que a sombra da desordem desça sobre ela. E essa desordem vem à existência quando a mente age com base em seu prévio conhecimento no relacionamento. Portanto, como procede a mente para não registrar o insulto, mas saber que o insulto, bem como a bajulação, ocorreram? Pode ela saber que eles ocorreram e ainda assim não registrá-los, de maneira a ser sempre límpida, saudável, íntegra no relacionamento? 

Esse assunto lhes interessa? Veja bem, se isso de fato lhes interessa, trata-se do maior problema da vida: como levar uma vida em relacionamento na qual a mente jamais tenha sido magoada, jamais tenha sido distorcida. Ora, será isso possível? Fizemos uma pergunta impossível. Trata-se de uma pergunta impossível, e temos de descobrira resposta impossível. Porque o possível é medíocre, já está pronto; mas se faz uma pergunta impossível, a mente tem de encontrar a resposta. A mente têm condições de fazê-lo? Isso é amor. A mente que não registra insultos nem bajulações sabe o que é o amor. 

Pode a mente nunca, jamais, absolutamente nunca registrar o insulto ou a bajulação? Isso é possível? Se a mente puder encontrar a resposta para essa pergunta, teremos resolvido o problema do relacionamento. Vivemos em relacionamento. O relacionamento não é uma abstração, mas um fato diário, cotidiano. Quer você vá para o escritório, volte e durma com sua mulher, quer brigue com ela, você está sempre em relacionamento. E se não há ordem nesse relacionamento entre você e outra pessoa, ou entre você e muitas pessoas ou uma única pessoa, você cria uma cultura que vai gerar, em última análise, desordem, como se faz hoje. Portanto, a ordem é absolutamente essencial. Para descobri-lo, pode a mente, embora tenha sido insultada, magoada, pisada, embora tenha ouvido palavras brutais dirigidas a si, nunca, nem mesmo por um segundo, reter essas coisas? Porque assim que essas coisas são retidas, já há o registro, e elas já deixaram uma marca nas células cerebrais. Percebam a dificuldade da questão. Pode a mente fazer isso, de modo a permanecer inteiramente inocente? A mente inocente é a mente que não pode ser magoada. Como não pode ser magoada, ela não vai magoar a outra. Ou, isso é possível? Toda forma de influência, toda forma de incidente, toda forma de dano, de desconfiança, é lançada sobre a mente. Pode a mente nunca registrar e, assim, manter-se muito inocente, muito límpida? Vamos descobri-lo juntos. 

Chegaremos a isso perguntando o que é o amor. Será o amor produto do pensamento? O amor se acha no campo do tempo? O amor é prazer? O amor é algo que se pode ser cultivado, praticado, construído pelo pensamento? Ao averiguar isso, temos de nos aprofundar na pergunta: o amor é prazer — sexual ou de alguma outra espécie? A nossa mente procura o prazer o tempo inteiro: ontem fiz uma boa refeição, o prazer da refeição é registrado e desejo mais, uma refeição ainda melhor ou o mesmo tipo de refeição amanhã. Encantei-me muito com o pôr-do-sol, com a observação da lua por entre as folhas ou com a visão de uma onda lá longe no mar. Essa beleza gera um enorme deleite, e isso é um prazer imenso. A mente o registra e deseja vê-lo repetir-se. O pensamento pensa sobre o sexo, pensa, detém-se longamente nele, deseja vê-lo repetir-se; e a isso vocês dão o nome de amor. Estou certo? Não se embaracem quando falamos de sexo; ele é parte de sua vida. Vocês o tornaram repulsivo porque negaram todos os tipos de liberdade exceto esta.

Então o amor é prazer? Será o amor produto do pensamento, assim como ocorre com o prazer? O amor é inveja? Pode amar aquele que é invejoso, ganancioso, ambicioso, violento, amoldável, submisso, totalmente em desordem? Então, o que é o amor? Ele não é, evidentemente, nada disso. Ele não é prazer. Entendam, por favor, a importância do prazer. O prazer é mantido pelo pensamento; em consequência, o pensamento não é amor. O pensamento não pode cultivar o amor. Ele pode cultivar, e cultiva, a busca do prazer, assim como cultiva o medo, mas não pode criar amor, nem fabricá-lo. Vejam a  verdade. vejam-na e vocês haverão de expulsar de si mesmos, de uma vez por todas, a ambição e a cobiça. Portanto, mediante a negação, vocês chegam à coisa sobremodo extraordinária chamada amor, que é coisa positiva. 

A desordem no relacionamento significa que não há amor, e essa desordem existe quando há o amoldar-se. Assim, a mente que se amolda a um padrão de prazer ou ao que pensa ser o amor jamais pode saber o que é o amor. A mente que compreendeu todo o processo de amadurecimento da desordem alcança uma nova ordem que é virtude e que é, por conseguinte, amor. É a vida de vocês, e não a minha. Se não viverem dessa maneira, você serão muito infelizes, ver-se-ão tomados pela desordem social e levados sempre de roldão por essa correnteza. Só o homem que escapa dessa correnteza sabe o que é o amor, o que é ordem.

Jiddu Krishnamurti — Madras 16/12/1972

 
           

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre a dificuldade de conservar a inocência

Pergunta: Quando amo alguém e essa pessoa se irrita, por que é tão intensa sua cólera?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, você ama alguém? Sabe o que é amar? É dar, completamente, sua mente, seu coração, todo o seu ser, sem pedir retribuição, sem estender a mão para pedir amor. Compreende? Quando existe essa espécie de amor, pode haver cólera? E por que nos encolerizamos ao amarmos alguém com isso que ordinariamente chamamos “amor”? É porque não estamos obtendo o que esperamos da pessoa, não é verdade? Amo minha esposa ou marido, meu filho ou filha, mas, no momento em que fazem algo “errado”, me encolerizo. Por que?

Por que se zanga o pai com o filho ou a filha? Por que quer que o filho seja ou faça alguma coisa, que se ajuste a um certo padrão, e o filho se rebela. Os pais procuram se preencher, se imortalizar em seus bens materiais, em seus filhos, e, quando o filho faz algo que desaprovam, se irritam violentamente. Têm um ideal do que o filho deve ser, e com esse ideal estão preenchendo a si próprios; por isso, se zangam quando o filho não se adapta ao padrão que representa o próprio preenchimento deles. Você já notou quando se zanga, às vezes, com um dos seus amigos? É o mesmo processo que se está verificando. Você está esperando alguma coisa dele e, quando essa expectativa não se preenche, você se sente desapontado; e isso, com efeito, significa que, interiormente, psicologicamente, está dependendo dessa pessoa. Assim, sempre que há dependência psicológica, tem de haver frustração; e a frustração, inevitavelmente, gera cólera, azedume, ciúme, e várias outras formas de conflito. Por isso é muito importante, enquanto ainda é jovem, amar com todo o seu ser — uma árvore, um animal, seu mestre, seu pai — por que então você pode descobrir por si mesmo o que é viver sem conflito, sem medo.

Mas, veja, o educador, em geral, está interessado em si mesmo, em seus problemas pessoais — domésticos, econômicos, profissionais. Não tem amor no coração, e esse é um dos problemas da educação. Você talvez tenha amor no coração, porque amar é coisa natural dos jovens; mas esse amor é depressa destruído pelos pais, pelo educador, pelo ambiente social. Conservar essa inocência, esse amor que é o perfume da vida, é dificílimo, requer muita inteligência, claro discernimento.

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill