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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Com a palavra o ego se faz presente




O poder do silêncio

Certa vez, o guerreiro Ki Siao-Tzu foi encarregado de adestrar um galo de briga para o rei. Uma semana depois, o monarca perguntou: ‘Meu galo está pronto para o combate?’. Siao-Tzu respondeu: "Ainda não, ele é vaidoso e arrogante". Mais uma semana passou, o rei repetiu a pergunta e ouviu a resposta: "Ainda não, ele reage a cada sombra ou ruído como se fosse uma provocação pessoal". Um tempo depois, a questão voltou à tona. "Nada ainda. Ele ainda tem o olhar irritado e um ar de triunfo", informou Siao-Tzu. Ao fim de três meses, quando o governante reiterou seu interesse em saber se o galo estava pronto para a briga, ouviu a seguinte notícia do treinador: "Ele está quase pronto. Quando os outros galos cantam, isso não o incomoda em nada. Quando se olha para ele, parece que se vê um galo de madeira. Seu chi é perfeito, ou seja, sua força interior é perfeita". Quando, finalmente, foi colocado em uma rinha, os outros galos não ousavam sequer aproximar-se dele.

Chang Sang Feng

Observando a natureza exata por trás dos fatos




quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ausência de ego

Justamente porque o ego, a alma e o Eu (Self) podem estar presentes ao mesmo tempo, não será difícil entender o sentido verdadeiro de “ausência do ego”[1] – expressão que tem causado imensa confusão. Ausência do ego não significa a ausência de um eu (self) funcional (o que seria próprio de um psicótico e não de um sábio); significa que não estamos mais exclusivamente identificados com aquele eu.

Um dos muitos motivos de não sabermos lidar com a noção de “ausência do ego” é que desejamos que nossos “sábios sem ego” satisfaçam às nossas fantasias relativas a “santidade” ou “espiritualidade”, o que, habitualmente, significa que essas pessoas estejam mortas do pescoço para baixo, livres das vontades ou desejos da carne, eternamente sorridentes. Desejamos que esses santos não passem por todas as coisas que nos incomodam – dinheiro, comida, sexo, relacionamentos, desejos. “Sábios sem ego” estão “acima de tudo isso” – assim desejamos. Queremos cabeças que falem. Acreditamos que a religião bastará para livrá-los de todos os instintos básicos, de todas as formas de relacionamento, considerando a religião, não como orientação para viver a vida com entusiasmo, mas, sim, como guia para evitá-la, reprimi-la, negá-la, fugir dela.

Em outras palavras, o homem típico espera que o sábio espiritual seja “menos que uma pessoa”, de alguma forma liberto dos impulsos confusos, difusos, complexos, pulsantes, compulsivos, que guiam a maior parte dos seres humanos. Esperamos que nossos sábios sejam a ausência de tudo o que nos impulsiona. Queremos que não sejam sequer tocados por todas as coisas que nos atemorizam, que nos confundem, que nos atormentam, que nos atordoam. É a essa ausência, a essa falta, a esse “menos que uma pessoa” que, frequentemente, chamamos “sem ego”.

Entretanto, “sem ego” não significa “menos que uma pessoa”; significa “mais que uma pessoa”. Não pessoa menos, mas pessoa mais – isto é, todas as qualidades normais da pessoa mais algumas transpessoais. Pensemos nos grandes iogues, santos e sábios – de Moisés a Cristo, a Padmasambhava. Não foram desfibrados maneirosos, mas dinâmicos e instigantes – desde o episódio dos vendilhões do Templo até a imposição de novos rumos a nações inteiras. Lidaram com o mundo em seus próprios termos, não em termos de uma piedade melosa; muitos deles provocaram revoluções sociais significativas, que se estenderam por milhares de anos. E assim fizeram, não porque tivessem evitado as dimensões físicas, emocionais e mentais da humanidade, e o ego, que é o veículo de todas elas, mas porque as assumiram com tal garra e intensidade que sacudiram as próprias fundações do mundo. Indiscutivelmente, estavam também intimamente ligados com a alma (o psiquismo mais profundo) e o espírito (o Eu informe) – fonte última de sua força – mas expressaram essa força e tiraram dela resultados concretos, exatamente porque assumiram, decididamente, as dimensões menores através das quais ela poderia expressar-se de modo a ser sentida por todas as pessoas.

Esses grandes mobilizadores e agentes de mudança não foram egos pequenos; foram, na mais completa acepção do termo, grandes egos, justamente porque o ego (veículo funcional do domínio da mente) pode existir e de fato existe com a alma (veículo do sutil) e o Eu (veículo do causal). Na mesma medida em que esses grandes mestres mobilizaram o domínio da mente, eles mobilizaram o próprio ego, porque o ego é o veículo desse reino. Entretanto, não se identificavam meramente com seu ego (isso seria narcisismo); simplesmente perceberam seu ego conectado a uma fonte Kósmica[2] radiante. Os grandes iogues, santos e sábios conseguiram tanto, exatamente porque não foram tímidos bajuladores, mas grandes egos ligados ao seu Eu superior, animados pelo puro Atman (o puro Eu – eu[3]) que é um com Brahman; abriram a boca e o mundo estremeceu, caiu de joelhos e pôde ver face a face o Deus radioso.

Santa Teresa não foi uma grande contemplativa? Sim, e Santa Teresa foi a única mulher que reformou uma tradição monástica inteira (pensemos nisso). Gautama Buda sacudiu a Índia nos seus fundamentos. Rumi, Plotino, Bodhidharma, Lady Tsogyal, Lao Tsé, Platão, o Baal Shem Tov – estes homens e mulheres deram início a revoluções no mundo que duraram centenas, às vezes milhares de anos – coisa que nem Marx, nem Lenin, nem Locke, nem Jefferson, poderiam afirmar ter conseguido. E não agiram assim porque estivessem mortos do pescoço para baixo. Não, eles eram fantasticamente, divinamente grandes egos, ligados profundamente ao psíquico, que estava diretamente ligado a Deus.

Existe certa verdade na noção do transcender o ego: não significa destruir o ego, mas, sim, conectá-lo a alguma coisa maior. Como afirma Nagarjuna[4], no mundo relativo, atman[5] é real; no absoluto nem atman nem anatman[6] são reais. Assim, em nenhum caso annatta[7] corresponde a uma descrição correta da realidade. O pequeno ego não se evapora; permanece como o centro funcional da atividade no domínio convencional. Como eu disse, perder esse ego significa tornar-se um psicótico, não um sábio.

“Transcender o ego”, significa, pois, em verdade, transcender mas incluir o ego num envolvimento mais profundo e mais elevado, primeiro na alma ou psiquismo mais profundo, depois na Testemunha ou Eu superior e, então, após a absorção nos níveis precedentes, envolver-se, incluir-se e abraçar-se na radiância do Um Sabor.[8] E isto não significa, portanto, “livrar-se” do pequeno ego, mas, ao contrário, habitar nele plenamente, vivê-lo com entusiasmo, usá-lo como veículo necessário, através do qual as grandes verdades podem ser transmitidas. Alma e espírito incluem o corpo, as emoções e a mente; não os eliminam.

Grosseiramente, podemos dizer que o ego não é uma obstrução ao Espírito, mas uma radiosa manifestação do Espírito. Todas as Formas não são senão o Vazio, inclusive a forma do próprio ego. Não é necessário livrar-se do ego, mas, simplesmente, vivê-lo com certa intensidade. Quando a identificação transborda do ego no Kosmos em geral, o ego descobre que o Atman individual é, de fato, da mesma espécie de Brahman. O Eu superior não é, em verdade, um pequeno ego, e, assim, no caso de estarmos presos ao nosso pequeno ego, a morte e a transcendência são necessárias. Os narcisistas são, simplesmente, pessoas cujos egos não são ainda suficientemente grandes para abraçar o Kosmos inteiro e, para compensar, tentam tornar-se o próprio centro do Kosmos.

Não queremos que nossos sábios tenham grandes egos; sequer desejamos que exibam qualquer característica evidente. Sempre que um sábio se mostra humano – a respeito de dinheiro, comida, sexo, relacionamentos – sentimo-nos chocados, porque estamos planejando fugir inteiramente da vida, e o sábio que vive a vida nos ofende. Queremos estar fora, queremos ascender, queremos escapar, e o sábio que assume a vida com prazer, vive-a totalmente, pega cada onda da vida e surfa nela até o fim – nos perturba e nos assusta intensamente, profundamente, porque significa que nós, também, deveríamos assumir a vida com prazer, em todos os níveis, e não simplesmente fugir dela numa nuvem etérea, luminosa. Não queremos que nossos sábios tenham corpo, ego, impulsos, vitalidade, sexo, dinheiro, relacionamentos ou vida, porque essas são coisas que habitualmente nos torturam e queremos vê-las longe de nós. Não queremos surfar as ondas da vida, queremos que as ondas desapareçam. Queremos uma espiritualidade feita de fumaça.

O sábio completo, o sábio não-dual está aqui para mostrar-nos o contrário. Geralmente conhecidos como “tântricos”, estes sábios insistem em transcender a vida, vivendo-a. Insistem em procurar libertação no envolvimento, encontrando o nirvana no meio do samsara[9], encontrando a liberação total pela completa imersão. Passam com consciência pelos nove círculos do inferno, certos de que em nenhum outro lugar encontrarão os nove círculos do céu. Nada lhes é estranho porque nada existe que não seja Um Sabor.

Na verdade, o segredo consiste em estar inteiramente à vontade no corpo e com seus desejos, com a mente e suas idéias, com o espírito e sua luz. Assumi-los inteiramente, plenamente, simultaneamente, uma vez que todos são igualmente manifestações do Um e Único Sabor. Vivenciar a paixão e vê-la funcionar; penetrar nas idéias e acompanhar seu brilho; ser absorvido pelo Espírito e despertar para a glória que o tempo esqueceu de nomear. Corpo, mente e espírito, totalmente contidos, igualmente contidos, na consciência eterna que é a essência de todo o espetáculo.

Na quietude da noite, a Deusa sussurra. Na luminosidade do dia, Deus amado brada. A vida pulsa, a mente imagina, as emoções ondulam, os pensamentos vagam. O que são todas estas coisas senão movimentos sem fim do Um Sabor, eternamente jogando com suas próprias manifestações, sussurrando mansamente a quem quiser ouvir: isto não é você mesmo? Quando o trovão ruge, você não ouve o seu Eu? Quando irrompe o raio, você não vê o seu Eu? Quando as nuvens deslizam mansamente no céu, não é o seu próprio Ser ilimitado que está acena. 

Do livro One Taste de Ken Wilber

Tradução de Ari Raynsford



[1] No original egolessness. (N. T.)
[2] Kósmica – de Kosmos. Wilber reapresenta esta palavra em seu livro Sex, Ecology, Spirituality com a seguinte observação: “Os Pitagóricos introduziram a palavra Kosmos que, normalmente, traduzimos como ‘cosmos’. Mas o significado original de Kosmos era a natureza de padrões ou de processos de todos os domínios da existência, da matéria para a matemática para o divino, e não simplesmente o universo físico, que é o significado usual das palavras ‘cosmos’ e ‘universo’ hoje... O Kosmos contém o cosmos (ou fisiosfera), bio (ou biosfera), noo (ou noosfera) e teo (teosfera ou domínio divino)...” (N. T.)
[3] Sri Ramana Maharshi frequentemente refere-se ao Self pelo nome “Eu – eu”, uma vez que o Self é a autêntica Testemunha do eu. (N. T.)
[4] Filósofo budista do Sec. II D.C., criador do Escola Madhyamika. (N. T.)
[5] No Advaita Vedanta, atman é o princípio interior de todos os seres, idêntico a Brahman, o Ser Universal que se desdobra em infinitas individualidades, as quais aparecem e desaparecem no plano dos fenômenos (ou maya), sob o ciclo do samsara (reencarnações), que, por sua vez, é efeito do karma (ação e reação). A identidade Atman/Brahman é expressa nos Upanishads na famosa expressão Tat Tvam Asi - Vós sois Isso. (N. T.)
[6] No Budismo, anatman é a negação de qualquer substrato último ou permanente no Universo. (N. T.)
[7] A polaridade atman/anatman. (N. T.)
[8] No original, One Taste  – o estado de visão não-dual ou consciência da unidade. (N. T.)
[9] O ciclo contínuo de nascimento e morte. (N. T.)

Ser consciente, primeiro que tudo

Ser consciente, primeiro que tudo. Somos conscientes apenas de uma insignificante porção de nosso ser, pois da maior parte somos inconscientes. É esta inconsciência que nos mantém sujeitos à nossa natureza irregenerada e impede a sua mudança e transformação. É através da inconsciência que a s forças não divinas entram em nós e nos fazem seus escravos. Você deve ser consciente de si mesmo, você deve despertar para a natureza e seus movimentos, você deve saber como e por que faz ou sente as coisas ou pensa nelas; você deve entender seus motivos e impulsos, as forças escondidas ou aparentes que o movem; na verdade, você deve, por assim dizer, desmontar em pequenos pedaços o mecanismo inteiro de seu ser. Somente quando você se torna consciente é que você pode distinguir e peneirar as coisas, você pode ver quais as forças que o puxam para baixo e quais as que o ajudam. E quando você distinguir o certo do errado, o verdadeiro do falso, o divino do não-divino, você deve agir estritamente segundo o seu conhecimento; quer dizer, resolutamente rejeitar um e aceitar o outro. A dualidade se apresentará a cada passo você terá que fazer a sua escolha. Você terá que ser paciente e persistente e vigilante — "acordado", como dizem os adeptos; você deve sempre recusar a dar ao não-divino qualquer oportunidade que seja contra o divino.

Conversas com a Mãe

Entrevista com Rafael Lage

Um Outsider por excelência...


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Há necessidade de "tempo" para a ocorrência do despertar?



[...] Boa parte dos membros chegam aos nossos grupos de apoio num nível de consciência a qual denomino de “compuesfera”; uma esfera de consciência presa a um ou mais tipos de padrões de comportamentos compulsivos. Esta é a fase progressiva e de determinação fatal que pode levar a pessoa à loucura ou morte prematura. Ela pode ser tanto um ponto inicial na evolução da consciência, ou então um ponto de estagnação e deterioração do potencial humano, uma vez que seu movimento natural é sempre descendente.

A fase seguinte é a que denomino de “normoesfera”; uma fase um tanto ilusória, onde muitos buscam por segurança devido o fator de ser este o nível de consciência onde se situa a maioria da humanidade. Nesta faixa de consciência não é raro a presença de constantes “recaídas” para a “compuesfera”. Os mais sensíveis conseguem dar um salto consciêncial para a próxima esfera, onde a consciência do ego se torna maior: a “egoesfera”.

A “egoesfera” é uma fase bastante crítica no processo de desenvolvimento, uma vez que somos constantemente bombardeados pela nossa tendência para a busca de segurança no que é normal, tradicional. É uma fase em que cobramos por demais perfeição de nós mesmos, o que não deixa de ser uma manifestação do nosso ego, que agora entra pela porta dos fundos. Como a dor aqui é muito forte, muitos acabam recaindo feio para a fase da “compuesfera” e por já terem conhecido algo de superior não conseguem ficar muito tempo neste nível de consciência e acabam entrando numa espécie de “CICLO VICIOSO” entre a compuesfera e a egoesfera.

No entanto, todo este movimento começa a apurar a consciência da própria “consciência” e acaba nos levando para um outro nível, a qual denomino de “conscioesfera”. Esta fase é um verdadeiro fio de navalha”, o buraco da agulha, ou se preferir, “a porta estreita” pela qual apenas os que forem “pobres” de condicionamentos, apegos, distrações e fugas, podem atravessar, ou melhor fazer o movimento para abrir a porta. Mas, não somos nós que abrimos a porta. Aqui é somente o ABERTO que pode se manifestar; cabe aqui por nossa parte somente a boa vontade – fruto de um total descontentamento e desilusão com relação a tudo que é conhecido, que é produto do pensamento humano.

É extremamente difícil manter-se neste caminhar durante esta fase, uma vez que a pessoa não encontra por outras pessoas que também estão trilhando esse caminho. Outra característica marcante está na dificuldade de transmitir ao outro aquilo que estamos vivenciando. Não raro, a pessoa que atravessa este momento é mal interpretada e na maioria das vezes acaba sofrendo com o ostracismo coletivo. O ego então, aproveita a situação para lançar na mente a dúvida de que a pessoa esteja ficando louca por estar falando uma linguagem completamente diferente do condicionamento coletivo...

Não há como mensurar, como falar sobre o ABERTO para as demais pessoas, uma vez que o ABERTO é uma experiência única, singular e pessoal que pode ser comparado com o paladar. Se você não provou o mel, não há maneiras de explicar para você qual é o seu sabor. Uma vez que você o provou, não há mais como esquecer o sabor do mel. E se você o provou, não existem maneiras de você explicá-lo para alguém que ainda não o tenha experimentado por experiência própria. Como explicar o sabor do mel para alguém que nunca o tenha experimentado? O que podemos fazer é tentar transmitir da melhor maneira possível que encontrarmos, através da limitação das nossas palavras, de uma forma que as mesmas possam aguçar no outro a vontade de também conhecer por si mesmo este nível de consciência. Mas, o mais triste é constatar que ninguém está buscando pelo ABERTO, pois ele é o desconhecido e no desconhecido a respeitabilidade do ego não pode encontrar segurança e continuidade. Esta é uma fase bastante delicada, pois o sentimento de solidão é tão grande que não raro surgem a mente as idéias de suicídio como forma de escape para o vazio da solidão. O medo entra em cena, e o ego tenta atacar por todos os lados para manter seu domínio. O que se faz necessário aqui é um “egocídio” consciente e não um suicídio inconseqüente. Mas são poucos os que se aventuram neste caminhar solitário e que possuem a perseverança necessária para “carregar sua cruz” até o final, conseqüentemente, são poucos os que podem “ressuscitar” da neurose para a experiência da grande Vida, no Aberto em si mesmo.

Outsider

O Despertar não é no futuro - ET

O despertar do fogo da paixão pelo autoconhecimento



Há necessidade de "tempo" para a ocorrência do despertar?

Só faltou a foto do Ramana ou do Osho
Uma pergunta corrente nas redes sociais é se há ou não a necessidade de "tempo", se há ou não a necessidade de um "processo" para a ocorrência do despertar.

Penso que, sem que se tenha vivenciado um "processo de despertamento", de "percebimento daquilo que se pensa ser", de "relembramento" Daquilo que se É, não haveria se quer o interesse por esse tipo de material, quanto mais a capacidade de entendimento do mesmo. De fato, o processo de despertar, não é uma ocorrência no futuro, mas sim, um PROCESSO, onde se vai despertando — de momento a momento —, até, quem sabe, estejamos PLENAMENTE despertos. 

Pegue por exemplo, o seu processo de despertar matinal... ele não é instantâneo... Você vai acordando durante a manhã e, geralmente, nesse processo, ocorrem variações de humor, oscilações... Isso é muito simples e natural!

O interessante é notar que alguns dos que afirmam que o despertar é instantâneo, geralmente nem se quer despertaram quanto a codependência de sua relação com um determinado "guru", ou a uma determinada "metodologia" ou "linhagem espiritual"; o que se apresenta é só um joguinho de novas palavras e sorrisos momentâneos. É só no "longo processo" do rala rala do dia a dia, que a falsa consistência disso que pensam ser um "estado desperto no agora", se apresenta. 

É como uma droga: inicialmente dá um imenso "barato" (apesar de ela não ser barata, não vir de graça - tem sempre um traficante da Graça). Só depois de muito tempo de exposição e uso (e de ter sido usado) é que os nefastos sintomas reais dessa irrealidade começam a bater de frente e a afetar todas as atividades. 

É claro que um traficante vai sempre afirmar as "qualidades da droga que vende" (e que "venda" os olhos espirituais do usuário), tentando manter a sedução inicial daqueles a quem mantém cativo; assim como, do mesmo modo, o usuário irá defender as qualidades de tal droga, bem como difundir o local e o nome de quem a trafica.

E, desse modo, dá-se a continuidade do inconsciente e narcotizado baile de máscaras dos despertos sonâmbulos da pura luz

Outsider


É possível observar sem palavras?




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O objeto obscuro de nosso desejo

[...] Só se pode renunciar àquilo que anteriormente se conheceu: conhecer certos males nos permitirá apreciar melhor quando ficarmos livres deles.
Sabemos que a palavra pecado, em grego hamartia, quer dizer “errar o alvo”, visar algo e não atingi-lo. Assim o pecado é antes de tudo uma doença do desejo, uma desorientação ou uma perversão de sua “mira”. O primeiro efeito terapêutico do ensinamentos dos Terapeutas do Deserto será dizer de novo ao homem e o fim e a finalidade de seu desejo, porque, tendo se tornado máquina desejante, joguete de múltiplas pulsões, seu drama e sofrimento são não saber mais para o que, para quem dirige-se a multidão de seus desejos amiúde contrários ou opostos. Para os Terapeutas “o objeto obscuro de nosso desejo” seria o próprio Ser, O On; sem esta mira última ele se perde, se dispersa e sofre. A infelicidade do homem, a causa de todas as doenças, dirão mais tarde os Padres do Deserto, é esquecer o Ser. O sofrimento é recalcar esse desejo essencial do Ser. “Tu nos fizeste para ti, Senhor, e nosso coração não descansará até que repouse em ti”. Reorientar o desejo, torna-lo “a memória bem-aventurada do Ser”, fazê-lo voltar do “esquecimento”, é dar-lhe o sabor do Real Absoluto, presente em todas as realidades relativas, o que lhe permitirá não adorar e não desprezar nenhuma. Não adorar nada, pois toda realidade, relativa por definição, não é absoluta; não desprezar nada, pois toda realidade, relativa pelo próprio fato de sua existência, participa da Única Fonte de todo Real. Nem desprezo nem idolatria, este seria o começo de uma atitude justa com respeito ao mundo e ao que nele habita, quando o desejo é “orientado” ou “polarizado” para a própria Fonte de tudo o que vive e respira.

Assim, para os Terapeutas, a cura psíquica está ligada ao conhecimento metafísico. Nada é grave se não se perde a consciência do “Ser que É”. Hoje em dia a doença mental não é ainda a perda do Real? O fechamento em “representações” ou reflexos do real que tomamos como a própria Realidade?

O apego ao prazer

A primeira perturbação que ameaça desequilibrar a harmonia de uma pessoa e acorrentar a sua liberdade é para Fílon de Alexandria “o apego ao prazer”. O prazer em si mesmo não é uma coisa má; é até o sinal de que uma coisa está bem feita. “O prazer é para o ator virtuoso aquilo que é o fruto para a flor”, sinal de que um ato chegou a bom termo. Mas o prazer é fugaz, e há quem gostaria de fazê-lo durar! Querer fazer durar aquilo que não é feito para durar só pode ser causa de dor. O apego ao prazer implica a dor; neste sentido é que é preciso curar-se do apego, acolhê-lo quando vem coroar um mato bem feito, mas não chorar por causa da coroa quando murcha; não ficar segurando-a, não se apegar a ela. Mais que no prazer, a fonte do sofrimento estaria no apego ao prazer ou na busca do prazer pelo prazer. Fazer do prazer um fim é falhar no único fim que pode saciar-nos plenamente: o Ser.

Assim, a busca do prazer nos faz desviar-nos da meta, ela é fonte de ilusão. Nós nos apegamos ao reflexo e perdemos a luz. A terapia proposta por Fílon para tratar aquilo que ele considera como “patologia” vai começar pelo “domínio dos sentidos”, porque “os sentidos geram prazer”, e o prazer é um dos grandes fatores de alienação da criatura humana. Todas as realidades exteriores podem exercer decisiva ascendência sobre o ser humano e reduzi-lo à escravidão, os amigos do dinheiro procuram dinheiro, e os amigos da consideração procuram consideração, e é isto que os caracteriza. Pois entregaram o melhor ao pior, a alma às realidades inanimadas. Não se trata, para Fílon de Alexandria, de mutilar-se, nem de renunciar ao uso dos sentidos, mas de aprender a moderação. O que o aflige intensamente, nos banquetes pagãos, que denuncia vigorosamente, é a falta de medida, a devassidão que tira do ser humano os seus traços humanos. Não é mais senhor dos próprios sentidos e dos prazeres que os alimentam; está subjugado pelos sentidos. Aí só existe a loucura, ou no mínimo uma “desordem”: o animal tornou-se senhor daquele a quem deveria servir. 

[...] O desejo é uma potência do exílio; rouba-nos o instante[...] O drama do ser humano é desejar realidades relativamente reais e pedir a essas realidades transitórias que sejam "a" Realidade e permaneçam imutáveis. Só poderá decepcionar-se. A conversão do desejo consiste em considerar tudo o que existe não como sendo o Ser, mas como a sua expressão ou Sua manifestação. O desejo idolatra os seus objetos, esta é a sua enfermidade ou a sua perversão: pedir o Infinito a seres finitos, pedir o Absoluto a seres relativos. A cura do desejo, para os Terapeutas do Deserto, consistirá portanto, num primeiro momento, em reorientar o desejo para aquilo que É, ou mais exatamente, para "aquele que É", o Ser. 

Jean-Yves Leloup - Cuidar do Ser: Fílon e os Terapeutas de Alexandria

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Tirando os entulhos dos condicionamentos

Uma luz sobre a dependência de sexo e relacionamento

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Observando o pensamento sem escolha

Lidando com os demônios do intelecto

Percebendo a falácia das crenças

Na São Silvestre do Ser que somos


O que seria de cada competidor, se, durante o percurso, se distraí-se com cada imagem exposta nas bancas de jornais ou nos coloridos anúncios de promoções estampados diante das mais variadas lojas?... Manter o foco; esta me parece a grande dificuldade do ser que ainda nem se fez humano, que dirá, Deus em si realizado...

sábado, 11 de janeiro de 2014

Em busca de nossa vocação única



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O que conta é a linguagem do coração




Reverberando sobre Vocação




A loucura está em querer ser normal



Provando o banquete do Ser que somos

Abrindo mão da neurose de boazinha

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A importância da devoção e da paixão em observar

Uma mudança radical de toda a natureza humana

Para estabelecer-se permanentemente, esta nova ordem de existência requer uma mudança radical de toda a natureza humana. Nesta transformação há três fases.

Ela deve tornar-se a natureza normal de um novo tipo de ser; assim como a mente está estabelecida aqui em uma base de Ignorância que busca Conhecimento e cresce tornando-se Conhecimento, assim também a supramente deve ser estabelecida aqui em uma base de Conhecimento tornando-se sua própria Luz maior. Mais isto não pode acontecer enquanto o ser espiritual-mental não se elevar plenamente à supramente e não trouxer seus poderes para baixo, para dentro da existência terrestre. Pois é necessário estender uma ponte sobre o golfo entre a mente e a supramente, as passagens fechadas têm que ser abertas e vias de ascensão e descida criadas onde agora há vazio e silêncio... Deve haver primeiro a mudança psíquica, a conversão de toda a nossa presente natureza numa instrumentação da alma; a partir disso, ou justamente com isto, deve haver a mudança espiritual, a descida de uma Liz, Conhecimento, Poder, Força, Beatitude, Pureza mais alta, para dentro do ser inteiro, mesmo para dentro dos recessos mais baixos da vida e do corpo, mesmo para dentro da escuridão de nossa subconsciência; por último, deve sobrevir a transmutação supramental — como movimento coroador deve ter lugar a ascensão para dentro da supramente e a descida transformadora da Consciência supramental para dentro de nosso ser e natureza inteiros.

Sri Aurobindo

O que é meditação? - ET

Sobre as críticas ao misticismo e a espiritualidade - Parte 1

O misticismo e a espiritualidade têm sido criticados sob dois pontos de vista. Devemos examinar estas críticas antes de prosseguir:

1. O místico dá as costas à vida

...O místico, nesta concepção, é o homem que se desvia para o irreal, para as regiões ocultas de uma terra de quimeras autoconstruída, e lá perde seu caminho... O místico ou se desprende da vida, como o asceta de um outro mundo ou o visionário distante, e por isso não pode ajudar a vida, ou então não traz nenhuma solução ou resultado melhor do que o do homem prático ou o homem de intelecto e razão.

[A esta espécie de crítica pode-se replicar que a verdadeira tarefa da espiritualidade] não é solucionar problemas humanos na base mental do passado ou do presente, mas criar um novo fundamento de nosso ser e de nossa vida e conhecimento. A tendência do místico para a ascese ou para um outro mundo é uma afirmação extrema de sua recusa em aceitar as limitações impostas pela Natureza material: pois sua verdadeira razão de ser é ir além dela; se ele não pode transformá-la, deve deixá-la. Ao mesmo tempo, o homem espiritual absolutamente não se colocou fora da vida da humanidade; pois o sentido de unidade com todos os seres, a insistência em um amor e compaixão universais, a vontade de gastar as energias para o bem de todas as criaturas, são centrais para o florescimento dinâmico do espírito: ele buscou ajuda, portanto; ele foi guia, como os antigos RISHIS ou como os profetas, ou baixou-se para criar, e sempre que o fez, tendo em si algo do poder direto do Espírito, os resultados foram prodigiosos. Mas a solução do problema oferecido pela espiritualidade não é uma solução alcançável por meios externos, embora estes também tenham de ser usados; só se chega a ela por via de uma mudança interior, de uma transformação de consciência e da natureza.

Conquanto não tenha sido resultado decisivo mas apenas adicional, um acréscimo de alguns novos elementos mais refinados à soma da consciência tem sido a consequência geral, e se não houve transformação vital, tal se deu porque o homem da massa sempre desviou o impulso espiritual, por afastado do ideal espiritual ou por adotá-lo apenas como forma, rejeitando a mudança interior. Não se pode recorrer à espiritualidade, para haver-se com a vida, por um método não espiritual, ou tentar curar-lhe os males com panacéias — os remédios políticos, sociais ou mecânicos que a mente está sempre tentando usar e que sempre malograram e continuarão a malograr na solução do que quer que seja. As mudanças mais drásticas efetuadas por tais meios não mudam coisa nenhuma, pois os velhos males continuam a existir sob nova forma: o aspecto do ambiente exterior se altera, mas o homem permanece o que é: um ser mental ainda ignorante, usando mal e de maneira não eficaz o próprio conhecimento; um ser acionado pelo ego e dirigido pelas paixões, desejos vitais e necessidades do corpo; um ser sem espiritualidade e de visão superficial, ignorante de si mesmo e das forças que o impelem e que dele se valem. Suas construções vitais têm valor como expressões de seu ser individual e coletivo no estágio a que chegou, ou como maquinaria para a conveniência e bem-estar de seus órgãos vitais e físicos e como campo e meio para o desenvolvimento mental; todavia, nada disso pode levá-lo para além do seu ser atual ou servir como maquinaria para transformá-lo; a perfeição do homem e dessas construções pode vir apenas pela maior evolução do próprio homem. Somente uma mudança espiritual, uma evolução de seu ser, do mental superficial rumo à consciência espiritual mais funda, pode produzir uma diferença   real e efetiva. Descobrir o ser espiritual em si mesmo é o empenho principal do homem espiritual, e ajudar outros no sentido da mesma evolução é seu serviço real à espécie; até que isto seja feito, uma ajuda exterior pode socorrer e aliviar, mas nada ou muito pouco mais que isso é possível.

É verdade que a tendência espiritual tem sido olhar antes para além da vida do que para a vida. É verdade também que a mudança espiritual tem sido individual, e não coletiva; seu resultado foi bem sucedido no homem, mas foi mal sucedido ou apenas indiretamente operativo na massa humana. A evolução espiritual da Natureza ainda está em processo e incompleta — pode-se quase dizer, ainda apenas no começo — e sua preocupação principal tem sido afirmar e desenvolver uma base de consciência e conhecimento espiritual e criar mais e mais um fundamento ou formação para a visão daquilo que é eterno na verdade do espírito.

Sri Aurobindo - The Life Divine

Sobre a importância da reorientação dos sentidos

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Esvaziando a mente através da Auto observação

Consciência, Tempo & Espaço

Para frutificar há que se arar o terreno que somos

O rebelde não se apega ao conhecimento

Do egoconhecimento a vivência do Eu Sou

Abrindo mão do materialismo intelecto-espiritual

Só pelo coração é que as palavras geram comunhão

Tateando no insano labirinto social do vir a ter para vir a ser

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Em busca do conhecimento pleno de si mesmo

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Sem idiotas, não existe o sábio

O homem, desde os primórdios, tem vivido uma vida muito esquisita. Esquisita no sentido de necessitar de idiotas. Se você não tiver idiotas, não terá o sábio. Se você não tiver os idiotas, não terá os assim considerados gigantes do intelecto. É praticamente uma necessidade que a categoria dos idiotas permaneça...

Os idiotas têm sido absolutamente necessários para que algumas pessoas proclamassem seus egos. Para algumas pessoas, subir na vida e ganhar Prêmio Nobel... e pense apenas por um momento, se todos estivessem vivendo de acordo com a própria natureza e não tentando ser uma outra pessoa... uma tremenda inteligência explodiria dentro de cada um. Trata-se de uma lei básica da vida e da existência. Ainda bem que as flores não escutam seus professores, seus líderes, seus políticos. Senão, eles diriam para as rosas: "O que estão fazendo? Tornem-se uma flor-de-lótus!" Mas as rosas não são tolas. Mas se, apenas para argumentar, as rosas começassem a tentar ser flores de lótus, o que aconteceria? Duas coisas com certeza: não haveria nenhuma rosa, porque toda a energia estaria envolvida em tornar-se um lótus; em segundo lugar, uma roseira não pode produzir uma flor-de-lótus. Isso não está no programa interno da semente.

Toda a estrutura da sociedade foi construída de maneira que algumas poucas pessoas explorem milhões de outras. E foram dados consolos àqueles que têm sido explorados: sua condição é causada por atos perversos em sua vida passada. Você não sabe nada sobre sua vida passada. Ora, esse é um ótimo consolo, por que o que se pode fazer? Ou lhe é dito que essa é uma prova de fogo para a sua fé em Deus. Esteja satisfeito como você é. E você será recompensado mil vezes mais, depois da morte. As religiões ou se refugiaram no passado, como o jainismo, o budismo, o hinduísmo, todas orientadas para o passado, ou se refugiaram além da morte, como outras três religiões, o cristianismo, o islamismo, o judaísmo. Não há muita diferença. Tudo o que está acontecendo, está acontecendo nesta vida, mas as religiões estão transferindo tudo para antes do nascimento ou para depois da morte. A estratégia é a mesma. O ponto fundamental é que você deve permitir que as pessoas o explorem. Você deve permitir que as pessoas bebam o seu sangue, com profundo contentamento, pois as coisas são como são. Eu quero dizer-lhes, enfaticamente, que todas as religiões estão sendo manipuladas pelos interesses do sistema. Todos os seus sacerdotes estão simplesmente a serviço dos seus políticos.

Na sociedade é muito difícil encontrar seres humanos que lhe deem liberdade para ser você mesmo. Isso criou um mundo de retardados. As nações necessitam de idiotas. Senão, quem vai lutar nas guerras? O mundo necessita de idiotas, do contrário, como algumas pessoas vão se tornar mais e mais ricas à custa do trabalho e do sangue de outras? Esta civilização necessita do maior número possível de pessoas estúpidas porque senão quem vai ser um católico, quem vai ser um protestante, quem vai ser um hindu, quem vai ser um muçulmano?

OSHO — A nova criança

Volte a ser criança e você será criativo

Volte a ser criança e você será criativo. Toda criança é criativa. A criatividade precisa de libertação - libertação do grilhões da mente, do conhecimento, dos preconceitos.

A pessoa criativa é aquela que consegue experimentar o novo. A pessoa criativa não é um robô. Os robôs jamais são criativos; eles são repetitivos.

Portanto, volte a ser criança - e ficará surpreso ao ver que toda criança é criativa.

Toda criança nasce criativa - mas não aprovamos sua criatividade. Sufocamos e matamos sua criatividade, saltamos sobre ela; começamos a ensiná-las a maneira “correta” de fazer as coisas.

Guarde isto: a pessoa criativa nunca deixa de tentar fazer as coisas da maneira “incorreta”. Se você sempre procurar fazer as coisas da maneira “correta”, jamais será criativo, pois a “maneira correta” de fazer algo significa a maneira estabelecida pelos outros.

Logicamente, com “fazer algo da maneira correta”, quero dizer que você será capaz de fazê-lo; você será um produtor, um manufator, um técnico, mas jamais um criador.

Qual a diferença entre produtor e criador?

O produtor conhece a forma correta de fazer as coisas, o meio mais econômico de fazer algo; com o mínimo de esforço, ele consegue produzir mais resultados. Ele é produtor.

O criador se perde no que procura fazer. Ele ignora a forma correta de fazer as coisas. Assim, ele continua a procurar e a buscar sem parar, em várias direções. Muitas são as vezes em que ele segue o caminho errado - mas toda vez que ele se mobiliza, ele aprende; ele vai se tornando cada vez mais rico de experiências. Ele faz algo que ninguém antes havia feito.

Se ele tivesse seguido a forma correta de fazer as coisas, ele não teria sido capaz de fazê-lo.

Osho, em "Criatividade - Liberando sua Força Interior

domingo, 5 de janeiro de 2014

O testemunho de um Outsider

A Sabedoria do Silêncio Interno

Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (energia). Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi.

Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada. Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem condições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas.

Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fracasso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.

Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranquilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando reações emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera e fluida.

Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra superior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima. Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinivel, insondável como o TAO.

Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessário. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar. O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.

Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só então tome uma decisão. Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabedoria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite o fato. Não saber é muito incómodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo, ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.

Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga alguém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias fraquezas.

O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é uma projeção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo, não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.

Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.

Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado, em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personalidade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do silêncio.

Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria realização e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio. Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o envenenará rapidamente.

Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a vida de tudo o que existe no mundo. Não force, manipule ou controle o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os demais serem o que têm a capacidade de ser. Por outras palavras, viva seguindo a via sagrada do TAO.

(Texto Taoísta)

sábado, 4 de janeiro de 2014

Auto ilusão: nossa constante trave de tropeço

Sobre o desenvolvimento do sentido transpessoal

Auto-ilusão: nossa constante trave de tropeço

A auto-ilusão é um perigo constante à medida que avançamos por um caminho espiritual. O ego está sempre tentando alcançar a espiritualidade. É como se quiséssemos assistir o nosso próprio enterro. No começo, por exemplo, podemos nos aproximar de nosso amigo espiritual com a esperança de conseguir dele alguma coisa maravilhosa. A esta aproximação dá-se o nome de "caça ao guru", tradicionalmente comparada à caça do veado almiscareiro. O caçador persegue o veado, mata-o e dele retira o almíscar. Poderíamos adotar essa atitude para com o guru e a espiritualidade, mas isso não passaria de auto-ilusão. Nada teria a ver com uma abertura ou entrega verdadeira. 

Podemos também supor erroneamente que a iniciação significa transplante, a transplantação do poder espiritual dos ensinamentos, do coração do guru para o nosso. Esta mentalidade encara os ensinamentos como algo estranho a nós;[...] Essa atitude para com o processo de iniciação é muito sonhadora e não tem nada de válido. Por isso necessitamos de alguém que esteja pessoalmente interessado em nós como realmente somos, necessitamos de uma pessoa que represente o papel de espelho. Toda vez que estivermos envolvidos com algum tipo de auto-ilusão, é preciso que o processo todo seja revelado. Qualquer atitude de apego deve ser exposta. 

A verdadeira iniciação dá-se pelo "encontro de duas mentes". É uma questão de sermos o que efetivamente somos e de nos relacionarmos com o amigo ou amiga espiritual tal como ele ou ela é. Esta é a verdadeira situação em que a iniciação pode ocorrer, porque a ideia de nos submetermos a uma operação e de nos modificarmos de maneira fundamental é completamente irreal. Ninguém pode, na verdade, modificar, de maneira absoluta, nossa personalidade. Ninguém pode virar-nos completamente de ponta-cabeça ou pelo avesso. Temos que usar o material existente, o que já está aí. Precisamos aceitar-nos como somos e não como gostaríamos de ser, o que significa renunciar a auto-ilusão e o faz-de-conta. Toda a nossa constituição as características de nossa personalidade precisam ser reconhecidas, aceitas; depois talvez possamos encontrar alguma inspiração. 

Nesse momento, se manifestamos a disposição para trabalhar com nosso médico, internando-nos num hospital, o médico, de sua parte, colocará à nossa disposição um quarto e tudo o mais que se fizer necessário. Assim, ambos os lados estão criando uma situação de comunicação aberta, que é o significado fundamental do "encontro das duas mentes"Este é o verdadeiro modo de unir a benção, a essência espiritual do guru, à nossa própria essência. O mestre exterior, o guru, abre-se, e, porque o discípulo também está aberto, porque está "desperto", verifica-se o encontro dos dois elementos, que são idênticos. Este é o verdadeiro significado da iniciação. Não se trata de entrarmos para um clube ou fazermos parte de um rebanho: sermos uma ovelha com as iniciais do dono marcadas no traseiro. 

[...] Com a experiência do encontro das duas mentes, estabelecemos uma comunicação verdadeira com nosso amigo espiritual. Não só nos abrimos como também vivenciamos — como um clarão — uma súbita intuição, um entendimento instantâneo de parte dos ensinamentos. O mestre criou a situação, nós experimentamos o clarão, e tudo parece muito bem. 

[...] Falando de modo geral, o que sucede é que, depois que nos abrimos, que temos um "clarão", num segundo momento, percebemos que estamos abertos e a ideia de avaliação aparece subitamente. "Oba! Fantástico! Tenho que pegar uma coisa destas, tenho que capturá-la e conservá-la, porque é uma experiência muito rara e valiosa."Assim, procuramos agarrar-nos à experiência e aí começam todos os problemas — com a consideração de que a experiência verdadeira da abertura é algo valioso. Tão logo tentamos capturar a experiência, toda uma série de reações em cadeia se inicia. 

[...] Auto-ilusão significa tentar recriar reiteradamente uma experiência passada, em vez de vivenciar o fato a experiência no momento presente. Para viver a experiência agora, teríamos de desistir da avaliação, da maravilha que foi o clarão, pois é esta lembrança que a mantém à distância. Se tivéssemos a experiência continuamente, ela pareceria bastante corriqueira, e é esta fato que não podemos aceitar. "Se ao menos eu pudesse ter outra vez aquela experiência de abertura!" É assim que nos conservamos ocupados em não ter a experiência: recordando-a. Este é o jogo da auto-ilusão. 

[...] Enquanto você olha para si mesmo ou para qualquer parte de sua experiência como o "sonho que virou realidade", estará envolvido com auto-ilusão. A auto-ilusão parece depender sempre do mundo dos sonhos, porque você preferiria ver o que ainda não viu a ver o que está vendo agora. Não aceita que o que está aqui agora seja o que é, nem está disposto a continuar com a situação tal qual ela é. Assim, a auto-ilusão sempre se manifesta sob a forma de tentativas de criar ou recriar um mundo sonhado, a nostalgia da experiência de sonhar. E o oposto da auto-ilusão é simplesmente trabalhar com os fatos da vida. 

Se procurarmos qualquer tipo de alegria ou felicidade plena, a realização de nossa imaginação e de nossos sonhos, então ficaremos, igualmente, sujeitos a insucesso e depressão. Tudo se resumo nisto: o medo da separação, a esperança de alcançar a união, não são simplesmente manifestações ou ações do ego ou da auto-ilusão, como se o ego fosse, de algum modo, uma coisa real que praticasse determinadas ações. O ego são as ações, os eventos mentais. 

[...] Portanto, a verdadeira experiência, que está além do mundo dos sonhos, é a beleza, as cores e o entusiasmo da experiência real do agora na vida cotidiana. Quando enfrentamos as coisas tais como são, abandonamos a esperança de algo melhor. Não há mágica alguma, porque não podemos mandar que saiamos da nossa depressão. Depressão e ignorância, seja qual for a emoção que experimentamos, todas são reais e contém verdades extraordinárias. Se quisermos, de fato, aprender a ver a experiência da verdade, teremos de estar onde estamos. Tudo é apenas uma questão de ser um grão de areia. 

Chögyam Trungpa — Além do materialismo espiritual - Cultrix

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A revolução real nunca foi tentada

Noutro dia, eu lhes disse que todas as revoluções fracassaram, todas, exceto uma. Mas essa jamais foi tentada, trata-se da religião, a revolução não tentada.

Por que ela ainda não foi tentada? E ela é a única revolução real possível, então, por que ainda não foi tentada? Ela é real e pode de fato mudar o mundo inteiro, por isso não foi tentada. As pessoas desejam falar sobre mudança e revolução, desejam brincar com essas palavras e adoram filosofar, mas não querem realmente penetrar na revolução; elas não são muito corajosas e se apegam a seus passados. É seguro falar, mas penetrar na revolução é muito arriscado.

Por isso o real foi evitado até agora e os irreais foram tentados. A política, a social, a econômica — essas revoluções foram tentadas, pois no fundo as pessoas sabem que elas estão destinadas a fracassar. Elas podem ter a alegria de ser revolucionárias e ainda poder continuar apegadas ao passado. Não há risco envolvido.

As chamadas revoluções tentadas e que fracassaram, todas são fugas da revolução real. Soará muito estranho a você, mas o que estou dizendo é isto: todos os seus chamados revolucionários são escapistas. Para evitar o real, eles criam o falso, o pseudo.

A sociedade não pode ser mudada a menos que as pessoas também mudem — essa é uma verdade fundamental, não há como evitar, esquivar-se ou fugir dela. A sociedade é uma abstração; ela não existe. O que existe é o indivíduo, não a sociedade. O ser humano existe e a sociedade é apenas uma abstração, um conceito, uma ideia.

Você já encontrou a sociedade? Você já encontrou a nação? Sempre que você se depara com algo, você se depara com um indivíduo concreto, vivo e respirando. "Sociedade" é uma palavra morta. Ela tem utilidade, mas é apenas um símbolo. Ao mudar o símbolo você não estará absolutamente mudando coisa alguma. Você precisa mudar a matéria real, e a sociedade é feita da matéria chamada ser humano, o qual é o tijolo da sociedade. A menos que o ser humano seja mudado, nada é mudado; você pode apenas fingir, acreditar, esperar, imaginar e continuar a viver em sua miséria.

Você pode sonhar, e esses sonhos são confortantes e confortáveis; eles o mantêm dormindo. Na verdade, as pesquisas modernas sobre os sonhos dizem que é assim, exatamente assim — esta é a função dos sonhos: eles o mantêm dormindo.

Você está sentindo fome à noite e então sonha que se dirige à geladeira, e em seu sonho você começa a comer e o sono permanece tranqüilo. Se o sonho não acontecer, então a fome será demasiada e não permitirá que você continue a dormir; a fome o acordará.

Sua bexiga está cheia e apertada e você começa a sonhar que foi ao banheiro. Se você não sonhar com o banheiro, a pressão será muito grande e você terá de acordar. A função do sonho é ajudá-lo a permanecer dormindo.

E esta é a função de todos os outros sonhos — o sonho de que a sociedade um dia não terá classes, que a utopia virá, que um dia não haverá miséria, que um dia a terra se tornará o paraíso. Esses são sonhos, e são muito consoladores e confortantes. Eles são como unguento sobre feridas, mas o unguento é falso.

Por cinco mil anos o ser humano tem sonhado desta maneira — que a sociedade mudará, que mais cedo ou mais tarde as coisas serão boas, que a noite logo terminará. Mas a noite continua, o sono continua. A sociedade continua mudando, mas nada realmente muda, somente as formas. Uma escravidão torna-se outra escravidão, um tipo de opressão transforma-se em outro tipo de opressão, um tipo de governante é substituído por outros tipos de governantes, mas a opressão, a exploração e a miséria continuam.

Afirmo que a religião é a única revolução, pois ela muda as pessoas, a consciência e o coração delas. Depende do indivíduo, pois o indivíduo é real e concreto. A religião não se importa com a sociedade. Se o indivíduo for diferente, automaticamente a sociedade e o mundo serão diferentes.

E não se pode mudar o interior ao mudar o exterior, pois o exterior está na periferia. Mas se pode mudar o exterior ao mudar o centro, o interior, pois o interior está no seu próprio âmago. Ao mudar os sintomas não se mudará a doença.

É preciso penetrar fundo no ser humano. De onde vem essa violência, essa exploração, todas as artimanhas do ego? De onde? Todos eles vêm da inconsciência. O ser humano vive dormindo, mecanicamente. Esse mecanismo precisa ser quebrado e o ser humano, refeito. Esta é a revolução religiosa que não foi tentada.

Você dirá: "Então o que dizer de todas essas religiões? — cristianismo, hinduísmo, islamismo?" Elas também são fugas do real.

Quando um Jesus vem ao mundo, ele traz o real; ele deseja mudar o indivíduo. Jesus insiste que o Reino de Deus está dentro de você: "Não estou falando sobre o reino deste mundo, mas do além. A menos que você renasça, nada acontecerá". Ele fica dizendo às pessoas que o interior de sua existência precisa ser mudado e transformado e que ele pode ser transformado se você for mais atento e amoroso. Estas duas coisas, amor e consciência, podem transformar totalmente sua alquimia interior.

Jesus é crucificado porque não podemos permitir pessoas tão perigosas sobre a terra. Elas não nos permitem dormir; elas nos sacodem, chocam e tentam nos despertar. Estamos sonhando tantos sonhos, belos e doces, e elas ficam gritando. A presença delas torna-se um incômodo muito grande.

Jesus deve ter sido um incômodo, Sócrates, idem. Sócrates deve ter ofendido e aborrecido as pessoas. Ele estava continuamente colocando o seu nariz nos assuntos dos outros, tentando provocar e seduzir, e encontrando oportunidades para sacudi-los até levá-los a um estado de vigília. Ele precisou ser envenenado.

Mas crucificar Jesus, envenenar Sócrates ou venerar Buda, é a mesma coisa. Venerar é também uma maneira de fugir, e muito mais refinada. Se Jesus tivesse nascido na índia, uma país muitíssimo velho, ele não teria sido crucificado. Os indianos conhecem melhores maneiras de destruir — eles o teriam venerado! Eles teriam dito: "Você é um avatar, é Deus vindo à terra. Nós o adoraremos para sempre, mas jamais o seguiremos. Como poderíamos segui-lo? Somos simples mortais, e você vem do além. No máximo podemos tocar os seus pés e venerá-lo. E sempre veneraremos — prometemos! Mas não nos diga para mudar; isso não é possível. Somos simples seres humanos e você é super-humano".

Este é o significado de avatar. Quando você chama uma pessoa de avatar — um Buda, um Krishna — está dizendo: "Está perfeitamente bem para você falar sobre revolução e mudança radical e viver em amor e consciência, mas somos pessoas comuns. Você não nos pertence, você vem de Deus. Nós surgimos da terra e você veio do céu. Podemos apenas venerá-lo; através dos tempos, admiraremos, louvaremos e cantaremos canções sobre você. Faremos qualquer coisa, mas não nos diga para nos transformarmos. Isso não é possível".

Este é o significado quando você chama alguém de avatar; você está dizendo: "Você não nos pertence. Naturalmente, você vem de Deus, então você pode ser bom. Como podemos ser bons? Não viemos de Deus e somos pecadores. Você tem uma bondade que lhe é intrínseca; não podemos ter essa bondade intrínseca, mas tentaremos". E adiamos e nunca tentamos e continuamos a adiar.

Essa novamente é uma maneira de crucificar — mais sutil, esperta, astuta e sofisticada, mas ainda a mesma. O resultado, a conseqüência, é a mesma. Os cristãos não são o que Cristo queria que eles fossem; os hindus não são o que Krishna queria que eles fossem; os budistas não são o que Buda queria que eles fossem. Eles são exatamente opostos.

A religião nunca foi tentada. De vez em quando houve pessoas religiosas, mas a religião jamais foi tentada. Nunca foi dada uma oportunidade para transformar a mente inconsciente que existe sobre a terra e que cria todos os tipos de problemas.

Reformas políticas, econômicas, sociais e as chamadas religiões — todas elas são fugas da revolução real.

A revolução real foi comentada, somente comentada. Jesus diz: "Peça e lhe será dado. Procure e encontrará. Bata e a porta lhe será aberta".

Alguém perguntou a Meister Eckhart — uma pessoa realmente religiosa: "Quando Jesus diz Teça e lhe será dado', por que as pessoas não pedem? Se for apenas uma questão de pedir, por que as pessoas não pedem? Se ele diz, 'Procure e encontrará, bata simplesmente e as portas serão abertas para você', então, por que as pessoas não batem?" Eckhart riu e disse: "Por duas razões, primeiro, você pode pedir e não lhe ser dado, assim, as pessoas não desejam ficar frustradas, e segundo, e a razão mais profunda, você pode pedir e lhe ser dado. Isso é mais amedrontador."

Por isso as pessoas não tentam; elas simplesmente prestam louvor da boca para fora. E você sabe, de uma certa maneira o mundo inteiro parece ser religioso. As pessoas vão ao templo, às mesquitas, às igrejas, lêem a Bíblia, o Alcorão, o Gita, recitam os Vedas, entoam mantras, mas ainda assim parece não haver absolutamente consciência religiosa. A terra está envolta por uma nuvem muitíssimo escura de inconsciência. Parece não haver luz; a noite parece completamente escura, sem ao menos uma única estrela.

Você precisa estar muito, muito consciente disso, pois você pode fazer o mesmo que as pessoas vêm fazendo através dos tempos.

Cristianismo, hinduísmo, islamismo, budismo, jainismo — elas não são religiões verdadeiras, e sim pseudo, simulações.

Cristo é verdadeiro, o cristianismo é falso. Buda é verdadeiro, o budismo é falso. O budismo é criado por nós, Buda não é criado por nós; mas criamos o budismo de acordo com as nossas necessidades, idéias e preconceitos. Nós criamos Buda, o budismo, um mito de Buda. O Buda real não é criado por nós; ele vem à existência apesar de nós. Ele precisa lutar para ser! Ele precisa encontrar maneiras e meios para existir, encontrar um modo de sair da prisão que chamamos sociedade.

Mas quando alguém se torna desperto, nos juntamos a ele e começamos a fiar e a tecer um sistema à sua volta, todo feito por nós mesmos. Ele não tem absolutamente nada a ver com a pessoa. As histórias contadas sobre Buda não são verdadeiras; o mesmo acontece com as histórias sobre Cristo; a pessoa real é perdida. Criamos tal névoa e poeira à volta que ninguém pode ver a pessoa real. Esse é o trabalho dos teólogos.

Por dois mil anos os teólogos cristãos têm criado tamanha poeira que é impossível ver Jesus. Ele está completamente perdido em suas grandes lógicas, teorias, filosofias e especulações. Palavras, palavras e palavras; eles criaram Himalaias de palavras. Ninguém está preocupado sobre quem realmente é este homem, sobre qual é a sua mensagem.

A mensagem é muito simples; ela não é complicada. A mensagem não é que você deveria venerar Jesus ou Buda, e sim que você deveria se tornar um Cristo ou um Buda — menos que isso não vai adiantar.

Não se torne um cristão, torne-se um Cristo. Se você tiver algum respeito por você mesmo, torne-se um Cristo, não um cristão; tome-se um Buda, não um budista.

Nenhum "ismo" pode conter Buda, nenhuma igreja pode conter Cristo. Mas o coração humano pode conter Buda, somente o coração humano pode contê-lo, pois o coração humano é tão infinito como a própria existência. Não o venere fora.

Se você compreendeu Buda, respeite a si mesmo! Sinta reverência pelo seu próprio ser; isso será reverência para com Buda. Se você compreendeu Cristo, comece a olhar para dentro — você o achará ali. Ele não está fora, não está nas igrejas, mas no âmago mais íntimo de seu ser.

Osho, em "A Sabedoria das Areias - Discursos Sobre o Sufismo"

Seja qual for o seu caminho

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O processo transformativo para a Existência Incondicionada

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O homem de terno branco

Este filme mostra um homem em busca do inominado, do não manifesto, do não condicionado. Mostra as limitações do conhecimento, da lógica e da razão para a descoberta do não condicionado. Mostra que o não manifesto é que precisa se apresentar e, que o mesmo se manifesta, quando se depara com a seriedade de propósito. Mostra também a incapacidade de percepção de tal experiência por parte daqueles que ainda são vítimas do medo e das influências condicionantes externas. Vale conferir antes que o Youtube bloqueie.

O processo transformativo para a Existência Incondicionada

O relato verdadeiro e não enfeitado de uma vida normal desdobrado nestas páginas, antes do repentino desabrochamento da extraordinária condição mental e nervosa já descrita, suponho seja suficiente para fornecer a ampla corroboração para o fato de que inicialmente, como ser humano, eu não era nem melhor nem pior do que os demais e que não possuía quaisquer características totalmente incomuns, tais como as que estão comumente associadas com os homens de visão, habilitados por favores por um favor divino especial. E também que o atual e excepcional estado de consciência que contínuo possuindo até agora, também não apareceu de repente, mas simplesmente representou a culminância de um contínuo processo de reconstrução biológica, abrangendo não menos de quinze anos antes de que se desse o inconfundível sinal do novo desabrochamento. Este fenômeno continua processando-se em mim, mas mesmo após a experiência de mais de vinte e cinco anos, continuo perdendo-me no assombroso feitiço da misteriosa energia, responsável pelas maravilhas que eu testemunho dia após dia em minha própria constituição mortal. Encaro a manifestação com o mesmo sentimento de respeito, adoração e surpresa com que a observei na primeira ocasião. Meus sentimentos só tem aumentado em intensidade e não diminuído, como acontece geralmente com os fenômenos da esfera material. 

Contrariamente à crença que diz que os atributos espirituais vão crescendo simplesmente graças a causas psíquicas, como por exemplo uma renunciação extrema e autonegação, ou graças a um elevado grau de fervor religioso, constatei que um homem pode elevar-se a um nível de consciência superior, graças a um processo biológico contínuo, tão regular como qualquer outra atividade do corpo, e que em nenhum estágio é necessário ou mesmo desejável para ele que negligencie sua carne ou negue seus sentimentos humanos em seu coração. Um estado mais elevado de consciência, capaz de liberá-lo da escravidão dos sentidos, afigurar-se-ia incompatível, só se levássemos em consideração o prevalecimento de certos fatores biológicos, com uma existência física em que as paixões, os desejos e as necessidades animais do corpo, mesmo que restritas, existem lado a lado. Todavia, confidencialmente, posso dizer que um pouco de controle razoável sobre os apetites, associado com algum conhecimento do poderoso mecanismo e constituição própria, provaram ser um meio mais seguro e certo para o desenvolvimento espiritual do que qualquer tipo de automortificação ou fervor religioso anormal possa fazer.

Tenho todas as razões para crer que a vivência mística e o conhecimento transcendental podem vir ao homem tão naturalmente como a fluidez do gênio, e que para esta façanha não se precisa, salvo para os esforços bem dirigidos como o auto-enobrecimento e a regulação dos apetites, sair excentricamente do curso normal da conduta humana. Mesmo que o processo transformativo seja posto em movimento por esforços voluntários ou espontâneos, pureza de pensamento e conduta disciplinada são essenciais para minimizar a resistência à ação depuradora e remodeladora da poderosa força no organismo. O sujeito tem que emergir da grande provação metamorfoseado apenas mentalmente, e de qualquer maneira normal, sadio com um incomparável intelecto e emoção capazes de avaliar e experimentar por completo a felicidade suprema de uma união arrebatadora e ocasional com o indescritível oceano da consciência no estado transcendente, a fim de distinguir nele próprio a diferença entre o frágil elemento humano, de uma parte, e o espírito imortal, de outra. É somente desta maneira que a incomparável bem-aventurança da libertação pode ser realizada, posto que a Existência Incondicionada, estando além do pálido gozo e seu oposto, em realidade, o verdadeiro desfrutador atual na criatura humana condicionada e limitado pelo ego é o real vedor e ninguém mais.  

Gopi Krishna —Kundalini - A energia evolutiva no homem     

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill