Os conceitos, a princípio, são fluídos e flexíveis, mas vão-se tornando mais fixos, à medida que amadurecemos. Quando aprendemos pela primeira vez um conceito — como, por exemplo, "espaço" ou "consciência" — somos muito receptivos às nuances que o cercam; podemos brincar com ele por um período, questioná-lo e explorar suas possibilidades. Assim que sentimos que o "conhecemos", tendemos a perder o interesse. Nossa disposição para reexaminar, descartar ou expandir a abrangência do conceito diminui; a palavra já não está mais viva, sujeita a modificações à luz de novos conhecimentos, mas sim, congelada como um dado ou informação que possuímos. Lançamos mão dela automaticamente em nosso processo mental, que passa a ser mais uma questão de rememorar do que uma atividade criativa.
Ao recorrer exclusivamente às nossas estruturas e padrões conceituais, vamos lentamente contraindo a abertura natural da mente. Fica difícil percebermos as nuances sutis do momento, que se refaz constantemente. No ato da percepção, nossa mente apreende e interpreta as informações sensoriais, e nos devolve conceitos pré-fabricados que possuem associações e cores emocionais específicas, baseadas em nossa experiência passada. Estas associações emergem simultaneamente com o conceito, projetando uma situação passada sobre o presente, e condicionando a forma como enxergamos uma dada experiência. Não respondemos necessariamente à experiência imediata mas, sim, à experiência tal como filtrada através dos nossos conceitos, lembranças, imagens e associações.
Ao identificar uma situação no presente como semelhante a uma outra no passado, tendemos a reagir automaticamente, reduzindo nossa capacidade de avaliar a situação presente de forma espontânea. Vinculados deste modo ao passado, não conseguimos perceber a ampla gama de alternativas que estão disponíveis no presente, diminuindo assim nossas opções de ação. Esta tendência obscurece nossa visão; ao perdermos contato com a dinâmica aberta do momento vivo, passamos a viver dentro de um mundo amortecido.
Quando os conceitos se tornam assim fixos em nossa consciência, não somos capazes de perceber nada de novo. Impossibilitados de notar as sutilezas de cada situação, à medida que ela vai se modificando, chegamos a repetir os mesmos gestos e os mesmos comentários em situações que parecem iguais. Quando nossa mente se acostuma a estas reações automáticas, ela se torna preguiçosa e desatenta, especialmente em ambientes que lhe são familiares. Nossos pontos de vista fixos nos dão uma sensação de segurança. Sentimos que "conhecemos" os objetos do nosso mundo; sentimos que "conhecemos" as pessoas e os demais seres vivos. Esperamos que as coisas permaneçam as mesmas e que preencham as nossas expectativas do que achamos que elas devam ser e fazer.
Quanto mais reforçamos essa passividade e recorremos a conceitos amortecidos, mais a nossa mente resiste a qualquer tentativa de reexaminar aquilo que sabemos. À medida que tentamos, à força, encaixar nossa experiência em moldes rígidos, nosso mundo interior vai-se tornando cada vez menor e mais limitado, em vez de enriquecer-se com as nossas experiências do dia a dia. Confinados a conceitos que limitam os sentimentos e as compreensões que podemos expressar conseguimos apenas reeditar os padrões que prendemos, tal como os nossos pais, nossos avós, os pais dos nossos avós, etc. É possível que todo o conhecimento que adquirimos com a nossa educação formal e com as nossas experiências, represente apenas associações cada vez mais complexas de conceitos que pouco significado têm para uma vida humana. Tais conceitos são muito congelados, muito particularizados, muito distantes do mundo das coisas vivas para expressar nossos níveis mais profundos de experiência.
Até que questionemos, analisemos e reavaliemos os conceitos que utilizamos para nos expressar, ficamos restritos a apenas um conjunto de interpretações sobre as nossas experiências. Quer elas se ajustem à realidade do que está acontecendo, quer nos tragam sofrimento desnecessário, não nos permitimos outra escolha a não ser viver neste mundo limitado. Mesmo que o nosso mundo mental seja solitário e que tenhamos pouco prazer com as nossas experiências, os nossos pensamentos nos são familiares e nos proporcionam uma ilusão de segurança e controle, que nos conserva presos a eles. É possível que não vejamos nenhuma alternativa para este modo de entender a nós mesmos e ao nosso mundo. Porém, quando até mesmo pensamentos como este dependem de conceitos que nunca examinamos em profundidade, como podemos saber que não existem outra possibilidades?