quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
O pensamento não pode cultivar o amor
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
O ajustamento é a natureza da mente imatura
Pergunta: Como podemos saber o que é justo e o que é injusto, sem mandamentos ou livros?
Krishnamurti: Por que desejais saber o que é justo e o que é injusto? Pode alguém lhe dizer? Pode algum livro, algum instrutor, transmitir-vos o conhecimento do que é justo e do que é injusto? Se seguirdes a autoridade de um livro ou de um instrutor, estareis apenas copiando um padrão de pensamento, não é verdade? E pode-se descobrir alguma coisa pelo copiar e pelo ajustar-se? Seguimos um padrão quando queremos um certo resultado; e esse processo não está baseado no temor? Podemos descobrir o que é justo, sob a influência do temor, ou só podemos descobri-lo pela experiência direta?
Enquanto a mente estiver encerrada no processo dual do justo e do injusto, há de haver, obviamente, conflito incessante. Não é possível, porém, descobrir-se o que é verdadeiro, a todas as horas, sem estarmos envolvidos no conflito do justo e do injusto? Tal é o nosso problema, não é verdade?
O que é justo e o que é injusto há de variar sempre em conformidade com o condicionamento e a experiência de cada pessoa, e tem, por conseguinte, importância muito reduzida; mas saber-se a todas as horas o que é verdadeiro — isso, sem dúvida, é de grande relevância.
Tende a bondade de prestar atenção.
Enquanto estivermos envolvidos no conflito da dualidade — que significa escolhe entre o que é justo e o que é injusto — nunca haveremos de conhecer o que é sempre verdadeiro.
O que é justo e o que é injusto podem constituir simples opinião, um princípio em que se baseou a nossa educação desde a infância, o cunho de certa civilização, de determinada sociedade; e enquanto estivermos empenhados em imitar, no ajustar-nos a algum padrão, por mais nobre que seja, há de haver escolha contínua entre o justo e o injusto, haverá sempre o desejo de fazer o que é correto e, consequentemente, o receio de errar — daí resultando, apenas, respeitabilidade.
Saber, porém, a todas as horas o que é verdadeiro, conhecê-lo inteiramente, profundamente, isso não é nenhuma opinião, nem raciocínio, nem dogma. O que é verdadeiro não depende de crença alguma. Descobrir o que é verdadeiro é compreender o que é, momento por momento — e isso exige muita vigilância, isenta de julgamento ou comparação; exige uma mente aberta, para observar e para sentir.
O que é verdadeiro jamais cria conflito; mas, quando a mente está escolhendo entre o verdadeiro e o falso, essa própria escolha produz conflito.
Em geral, fomos educados para pensar corretamente e nos abstermos de certas coisas tidas por falsas e, por isso, a nossa mente está sempre a buscar uma coisa e a evitar outra; e esse processo de pensar é, em si, um conflito, não achais?
O "correto" pode ser o que diz o sacerdote, o que dizem os vossos vizinhos, os nossos líderes políticos, e, assim, cria-se o padrão a que temos de subordinar-nos; e a mente que se subordina a um padrão nunca pode achar-se em estado de revolta, jamais descobrindo, por conseguinte, aquilo que é eternamente criador.
Nessas condições, pode-se descobrir a todas as horas o que é verdadeiro? Ora, não há possibilidade de descobrimento, enquanto houver o conflito da escolha. Para descobrir, a mente tem de estar basicamente tranquila, sem medo de errar.
Entretanto, nós queremos bom êxito, não é verdade? Educam-nos, desde crianças, para ambicionar o bom êxito, e todo livro, toda revista nos dá exemplos disto: o menino pobre que chega a Presidente, etc.
Buscando a própria segurança no bom êxito, é a mente obrigada a observar o que é correto, e começa assim a batalha entre o que é correto e o que é errado, começa o eterno conflito da dualidade. Nesse conflito nunca se pode descobrir o que é verdadeiro.
O verdadeiro é o que é e a libertação que resulta da compreensão do que é. Tende a bondade de prestar atenção e de refletir a respeito disso; e se compreenderdes o que está realmente acontecendo, momento por momento, vereis como vos libertareis do conflito do justo e do injusto. Não pode manifestar-se essa compreensão, se estais a julgar ou a ordenar o que é, ou a compara-lo com a passada experiência; e quando não há compreensão do que é, não há libertação.
Para compreender o que é, deve a mente estar livre de toda condenação e julgamento; mas isso requer paciência infinita e pode produzir-vos uma extraordinária revolução na vida, coisa de que a mente tem medo. Por essa razão, nunca examinais o que é e vos limitais a dar opiniões a seu respeito. Enquanto a mente estiver toda ocupada com a escolha entre o que é correto e o que é errado, permanecerá imatura; e este é um dos nossos obstáculos, não achais?
Nossas mentes são imaturas; ensinaram-nos o que é correto e o que é errado e, consequentemente, a isso queremos ajustar-nos.
O ajustamento é a própria natureza da mente imatura, ao passo que a compreensão do que é constitui o fator revolucionário, na criação.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
A educação não passa do cultivo e do fortalecimento do medo
(...)
Pergunta: Qual deve ser o sistema de educação para levar a criança a não ter medo?
Krishnamurti: Sistemas ou métodos implicam a ideia de que nos digam o que devemos fazer e como fazê-lo; porventura isso o levará a não ter medo? Pode-se ser educado com inteligência, sem medo, mediante alguma espécie de sistema? Quando jovens, vocês devem ser livres para crescer; mas não existe nenhum sistema para torná-los livres. Um sistema implica a ideia de levar a mente a conformar-se com um modelo, não é verdade? Significa encerrá-lo num molde, não lhes dar liberdade. No momento em que se apoiam num sistema, vocês não ousam mais sair dele e, então, até mesmo o simples pensamento de sair dele provoca medo. Nessas condições, não há realmente nenhum sistema de educação. O que importa é o professor e o aluno, não o sistema. Afinal de contas, se desejo ajudá-los a libertar-se do medo, eu mesmo tenho que me livrar do medo. Devo, pois, estudá-los; devo dar-me ao trabalho de explicar-lhes tudo e dizer-lhes como é o mundo; e para fazer isso eu preciso amá-los. Como professor, devo ter a sensibilidade para fazer com que, quando vocês deixem a escola ou a faculdade, estejam sem medo. Se eu realmente tiver essa sensibilidade, poderei ajudá-los a livrar-se do medo. (2)
(2) Krishnamurti - O verdadeiro objetivo da vida - pág. 156-157
Você não é argila e nem geleia para se ajustar a um molde
terça-feira, 18 de setembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Esteja tão ao longe que nem mesmo você possa achar a si mesmo
A família como fator condicionante e divisor
Deve haver segurança física para todos, e não apenas para uns poucos; mas essa "segurança física para todos" é negada quando se busca a segurança psicológica, nas nações, nas religiões, na família... O ente humano necessita de segurança física, a qual é negada quando ele busca a segurança psicológica. Isto é um fato, e não uma opinião. Quando busco a segurança em minha família, minha mulher, meus filhos, minha casa, tenho de me opor ao mundo; tenho de separar-me das outras famílias, ficar contra o resto do mundo. (3)
No momento que você protege a sua família, sua pátria, um tecido colorido chamado bandeira, uma crença, uma idéia, um dogma, um objeto de desejo ou aquilo a que já tens apego, essa própria proteção anuncia a raiva. (4)
Se lançardes as vistas para o nosso sistema atual, verificareis ser ele nada mais que uma série de explorações astutas do homem pelo homem. A família torna-se o próprio centro de exploração. Peço-vos que não compreendais mal o que entendo por família. Por família entendo o centro que vos faz sentir seguros, que exige a exploração do vosso próximo. A família, que deveria ser a própria expressão do amor e não da exclusividade, torna-se um meio da auto-perpetuação egoísta. Daí desenvolvem-se classes, as superiores e as inferiores; e os meios de adquirir riqueza acumulam-se nas mãos de uns poucos. (6)
Primeiramente, senhores, não achais também necessária uma revolução radical na vida do indivíduo? Ou estais satisfeitos com as coisas tais como são, com vossas idéias de progresso e evolução, vossos desejos de realizações, vossos anseios é vossos prazeres precários? No momento em que começardes a pensar realmente, a sentir realmente, sereis empolgados desse ardente desejo de modificação profunda, revolução radical, completa reorientação do pensar. Pois bem. Se sentirdes necessária tal coisa, então, nem família, nem amigos constituirão empecilhos Porque, nesse caso, não haverá revolução externa nem revolução interna; haverá, simplesmente, revolução, modificação. Mas, se começais a estabelecer restrições, dizendo: "não devo magoar minha família, meus amigos, meu pároco, meu explorador capitalista ou meu explorador político" - não vedes então a necessidade de mudança radical e apeteceis apenas mudança de ambiente. Isso é evidente letargia, a qual criará outro ambiente falso, fazendo continuar o conflito.
Parece-me um tanto falaz o pretexto de não devermos magoar nossas famílias e amigos. Por certo, quando desejais fazer algo de capital importância, vós o fazeis, sem considerações de família nem de amigos, não é verdade? Não receais, então, prejudicá-los. Isso já não está sob vosso controle: sentis tão intensamente, pensais tão completamente, que sois transportados para fora das limitações dos círculos de família, das obrigações de qualquer classe. Mas só começais a levar em conta a família, os amigos, os ideais, as crenças, as tradições, a ordem estabelecida - só começais a tomá-los em consideração quando ainda vos apegais a uma determinada segurança, quando vos falta aquela riqueza interior de que vos falei há pouco, e, em lugar dela, existe apenas a dependência de estímulos exteriores. Assim, pois, se existe plena consciência do sofrimento, despertada pelo conflito, não estais, então, tolhidos pelos vínculos de qualquer ortodoxia, amigos ou família: quereis achar a causa do sofrimento, quereis descobrir o significado do ambiente que recria esse conflito; apagou-se a personalidade, desapareceu a ideia limitada do "eu". É somente quando vos apegais a essa ideia limitada do "eu", que sois obrigados a considerar até onde vos podeis transportar e até onde não deveis ir.
Certo, não se pode encontrar a verdade, ou essa faculdade divina da compreensão, enquanto estivermos apegados à família, à tradição, ou ao hábito. Ela só poderá encontrar-se quando estiverdes em plena nudez, despidos de vossos desejos, esperanças e cautelas. Nessa simplicidade direta está a riqueza da vida. (8)
Todos nós estamos colhidos nas malhas do sofrimento e do conflito, mas a maioria dos indivíduos não está consciente desse conflito porque vive a procurar substituições, soluções e refúgios. Se, entretanto, deixarem de procurar refúgio e começarem a interrogar o ambiente, que é a causa do conflito, tornar-se-á, então, a mente penetrante, ativa, inteligente. Nessa intensidade a mente se torna inteligente e capaz, portanto, de discernir o exato valor e significado do ambiente, causador do conflito... se estiverdes em conflito, é claro que deveis interrogar o ambiente, mas a mente da maioria já de tal modo se desvirtuou que não percebe que está à cata de soluções e meios de fuga, com maravilhosas teorias. É perfeito o seu raciocinar, porém, baseado, embora inconsciente, no desejo de fuga... Se há, pois, conflito e desejais descobrir-lhe a causa, deixai que a mente descubra pela intensidade do pensamento e, interrogando tudo o que o ambiente põe em torno de vós – vossa família, vossos semelhantes, vossas religiões, vossas autoridades políticas; no interrogar haverá ação contra o ambiente. Tendes a família, o semelhante, o Estado, e, interrogando o significado dessas coisas, vereis como é espontânea a inteligência, que ela não é coisa que se adquire ou cultive. Lançada a semente do percebimento, nasce a flor da inteligência. (9)
Com que facilidade destruímos a delicada sensibilidade de nosso ser. A luta e o esforço incessantes, as fugas e os medos ansiosos logo embotam a mente e o coração; e a mente astuta rapidamente encontra substitutos para a sensibilidade da vida. Divertimentos, família, política, crenças e deuses ocupam o lugar da clareza e do amor. A clareza é perdida pelo conhecimento e pela crença, e o amor pelas sensações. (12)
Fizemos da vida um campo de batalha: cada família, cada grupo, cada nação contra as demais. Percebendo bem isso, não como idéia, porém como coisa que se está realmente observando, coisa que está à nossa frente, perguntamos a nós mesmos que sentido pode ter esse estado de coisas. Porque continuarmos a viver dessa maneira, nem vivendo nem amando, cheios de medo, cercado de terrores até à morte?
Se formulardes essa pergunta, que fareis? Ela não pode ser respondida pelos que se acham bem estabilizados em seus ideais familiais, suas casas confortáveis, seu dinheirinho, vivendo como pessoas altamente respeitáveis, burguesamente. Quando fazem perguntas, tais pessoas as traduzem em conformidade com suas necessidades individuais de satisfação. Mas, sendo este um problema muito humano, muito comum, um problema que toca a cada um de nós, ricos e pobres, jovens e velhos - porque é que vivemos esta vida tão monótona e sem significação - freqüentando um escritório ou trabalhando num laboratório ou fábrica por quarenta anos seguidos, gerando filhos educando-os de maneira absurda e, no fim, morrendo? Acho que deveis fazer esta pergunta com todo o vosso ser, a fim de descobrirdes a resposta. E então se pode fazer a pergunta subseqüente: se os entes humanos podem mesmo mudar radicalmente, fundamentalmente, e, assim, olhar o mundo de maneira nova, com olhos diferentes, com um coração novo, não mais repleto de ódio, de antagonismo, de preconceitos raciais; com uma mente perfeitamente clara, dotada de tremenda energia.
Vendo-se tudo isso - as guerras, as absurdas divisões criadas pelas religiões, a separação entre o indivíduo e a comunidade, a família oposta ao resto do mundo, cada (ente humano apegado a seu peculiar ideal, separando-se como "eu" e "vós", "nós" e "eles" - vendo-se tudo isso, tanto objetiva como psicologicamente, resta uma única questão, um único problema fundamental, ou seja se a mente humana, tão fortemente condicionada que está, pode mudar não em alguma encarnação futura, não no fim da vida, porem mudar radicalmente agora mesmo, de modo que se torne nova, revigorada, juvenil, inocente, livre de todas as cargas, e saibamos, assim, o que significa amar e viver em paz. Este me parece ser o único problema. Resolvido ele, todos os outros problemas, econômicos ou sociais, todos os fatores que conduzem à guerra, terminarão e haverá uma diferente estrutura social. (14)
A família é um processo de identificação particularista; e quando a sociedade está baseada nessa ideia da família como unidade exclusiva, em oposição a outras (…), tal sociedade (…) há de produzir violência. (21)
Usamos a família como meio de segurança para nós mesmos. (…) Essa exclusão é chamada “amor”, e, nesse chamado estado de família ou de matrimônio, existe realmente amor? (…) Não estamos considerando o ideal do que ela deveria ser, mas (…) tal como a conhecemos. (22)
Entendeis por “família”, vossa esposa e vossos filhos (…) É uma unidade (…), e nessa unidade sois vós quem tem importância — não a vossa esposa, nem os vossos filhos ou a sociedade — mas somente vós, que estais em busca de segurança, de nome, de posição, de poder, tanto na família como fora dela. (23)
Dominais a vossa esposa, e ela vos é subserviente; vós ganhais e gastais o dinheiro, ela é vossa cozinheira e a progenitora dos vossos filhos. Criais, assim, a família, que é uma unidade exclusiva (…) Por conseguinte, não pode haver reforma do coletivo enquanto vós, como indivíduo, fordes exclusivista e buscardes o auto-isolamento em cada uma de vossas ações, limitando o vosso interesse a vós mesmos. (24)
Ora, esse processo de exclusão não é, por certo, amor. O amor não é criação da mente. O amor não é pessoal (…) O amor é algo que não pode ser compreendido enquanto existir o pensamento, que é exclusivista. O pensamento, que é reação da mente, nunca pode compreender o que é amor; o pensamento é invariavelmente exclusivista, separatista. (25)
A família, como a conhecemos, (…) é exclusivista, é um processo de engrandecimento do “eu”, que é resultado do pensamento; (…) Dizemos que amamos a verdade, (…) a esposa, o esposo, os filhos; mas essa palavra está rodeada pelo fumo do ciúme, da inveja, da opressão, da dominação. (26)
Pergunta: Você é contra a instituição da família?
Krishnamurti: Sou, se a família for o centro de exploração, se estiver baseada na exploração. (Aplauso) Por favor, o que adianta simplesmente concordarem comigo? Têm que agir para alterar isto. Este desejo de perpetuação cria a família que se torna o centro de exploração. Portanto a pergunta é na realidade, pode-se alguma vez viver sem explorar? Não se a vida familiar está certa ou errada, não se ter filhos está certo ou errado, mas se a família, as posses, o poder, não são o resultado do desejo de segurança, de auto-perpetuação. Enquanto existir este desejo, a família torna-se o centro de exploração. Podemos alguma vez viver sem exploração? Eu digo que podemos. Tem que existir exploração enquanto houver esta luta pela auto-proteção; enquanto a mente procurar segurança, conforto, através da família, da religião, da autoridade ou da tradição, tem que existir exploração. E a exploração só cessa quando a mente discernir a falsidade da segurança e já não estiver enredada pelo seu próprio poder de criar ilusões. Se experimentarem com o que digo, compreenderão então que não estou a destruir o desejo, mas que podem viver neste mundo de uma maneira rica e sensata, uma vida sem limitações, sem sofrimento. Só podem descobrir isto experimentando, não negando, não através da resignação nem simplesmente imitando. Onde funciona a inteligência – e a inteligência cessa de funcionar quando há medo e o desejo de segurança – não pode haver exploração. (27)
Sabe, de fato não temos amor – essa é uma coisa terrível de se perceber. De fato não temos amor; temos sentimento; temos emocionalismo, sensualidade, sexualidade, temos lembranças de alguma coisa que pensamos que era amor. Mas de fato, brutalmente, não temos amor. Porque ter amor significa não ter violência, nem medo, nem competição, nem ambição. Se você teve amor, nunca dirá, “Esta é minha família.” Você pode ter uma família e lhe dar o melhor que pode; mas ela não será “sua família” que está em oposição ao mundo. Se você ama, se existe amor, existe paz. Se você amasse, educaria seu filho não para ser nacionalista, não para ter apenas uma profissão técnica e tratar apenas de seus pequenos assuntos; você não teria nacionalidade. Não haveria divisões de religião, se você amasse. Mas como essas coisas de fato existem – não teoricamente, mas brutalmente – este mundo hediondo, mostra que você não tem amor. Mesmo o amor da mãe por seu filho não é amor. Se a mãe realmente amasse seu filho, você acha que o mundo seria assim? Ela cuidaria que ele tivesse o alimento correto, a educação correta, que fosse sensível, que apreciasse a beleza, que não fosse ambicioso, ganancioso, invejoso. Então a mãe, conquanto ela possa pensar que ama seu filho, não ama. Então não temos esse amor. (28)
Pergunta: — Você disse ontem que se a pessoa se pudesse libertar do círculo de que se rodeia a família, aconteceria uma coisa extraordinária. Gostaria muito de compreender isso.
Krishnamurti: — Antes de mais, cada pessoa estará consciente — não verbalmente — de que há um muro à roda de si mesma? Cada um de nós tem um muro à sua volta, um muro de resistência, de medo e ansiedade — é o "eu" construído à minha volta a fazer essa barreira; é este "eu" na família, cada membro da qual está também rodeado pelo seu próprio muro. Depois, é toda a família, com uma parede à sua volta, e o mesmo acontece com a comunidade e a sociedade. Ora, estaremos nós conscientes disso? Não temos nós o sentimento de que, vivendo neste mundo, isso é necessário, de outro modo o "eu" seria destruído, assim como a família? Desse modo, mantemos o muro, como a coisa mais sagrada. Ora, se tomarmos consciência disso, que acontece? Se fizermos desaparecer completamente esse muro à volta de cada um, à volta da família, será que a família acaba? Que acontece então à competição entre o "eu", a família, e o resto do mundo?
Sabemos muito bem o que se passa quando há um muro — há então resistência, conflito, luta e sofrimento constantes, porque qualquer movimento separativo, qualquer atividade egocêntrica, gera de fato conflito e sofrimento. Quando se tem consciência de toda a natureza e estrutura deste círculo, deste muro, e se compreende como ele surge isto é, quando há um percebimento imediato de tudo isto — que sucede então? Quando fazemos desaparecer a divisão entre o "eu" e o "tu" , o "nós" e o "eles" , que acontece? Só então e não antes, se pode talvez usar a palavra amor. E o amor é que é essa coisa absolutamente extraordinária que acontece quando não há "eu", como o seu círculo com o seu muro. (29)
A família não é um grupo autônomo, em oposição à sociedade? Ela não é o centro de irradiação de todas as atividades, não constitui uma relação que exclui e domina todas as outras formas de relação? Não é uma entidade geradora de divisão, de separação, do superior e do inferior, do poderoso e do fraco? A família, como sistema, existe para resistir ao todo; cada família está em oposição às outras famílias, aos outros grupos. A família, com suas propriedades, seus bens, não é uma das causas da guerra?... A família, como hoje existe, é uma unidade, um centro de relações limitadas, egocêntricas e "exclusivas". Muitos reformadores e desses chamados revolucionários têm procurado eliminar esse espírito "exclusivo" da família, gerador de atividades anti-sociais de toda ordem. Entretanto, ela é um centro de estabilidade, em oposição à insegurança, e a presente estrutura social, no mundo inteiro, não pode existir sem essa segurança. A família não é uma mera unidade econômica, e é bem evidente que todo o esforço para resolver o problema desse nível, está fadado a falhar. O desejo de segurança não é apenas de natureza econômica, porém muito mais profundo e complexo. Se o homem destruir a família, encontrará outras formas de segurança, dadas pelo estado, pela coletividade, pela crença, etc. etc.; e qualquer dessas coisas gera, por sua vez, os seus problemas próprios. Temos de compreender o nosso desejo de segurança interior, psicológica, e não cuidar apenas de substituir um padrão de segurança por outro.
O problema, pois, não é a família, mas o desejo de estar em segurança. O desejo de segurança, em qualquer nível que seja, não é "exclusivo"? Esse espírito de exclusão se manifesta na família, na propriedade, no Estado, na religião, etc. Esse desejo de segurança interior não constrói formas exteriores de segurança sempre "exclusivas"? O próprio desejo de estar em segurança, destrói a segurança. A "exclusão", a separação, tem de acarretar, inevitavelmente, a desintegração, o nacionalismo; o antagonismo de classe e a guerra são os seus sintomas. A família como meio de segurança interior é uma fonte de desordens e catástrofes sociais... Compreendei, por favor, a verdade a esse respeito. É só quando não buscamos segurança interior, que podemos viver em segurança, exteriormente. Enquanto a família for um centro de segurança, haverá a desintegração social; enquanto a família servir de meio para um fim autoprotetório, terá de haver conflito e sofrimentos... Enquanto eu faço uso de vós ou de outro, para a minha própria segurança interior, psicológica, tenho de ser "exclusivo"; Eu sou importantíssimo, Eu tenho a máxima significação; esta é minha família, minha propriedade. As relações utilitárias estão baseadas na violência. A família como meio de mútua segurança interior é um fator de conflito e confusão... Fazer uso do outro como meio de satisfação e segurança, não é amor. O amor nunca é segurança; o amor é um estado em que não existe desejo de estar em segurança; é um estado de vulnerabilidade é o único estado em que a "exclusão", a inimizade e o ódio são impossíveis. Nesse estado, uma família pode tornar-se existente, mas não será "exclusiva", egocêntrica.
(...) É bom estarmos cônscios dos movimentos do nosso próprio pensar. O desejo interior de segurança se expressa exteriormente pela "exclusão" e a violência, e enquanto o seu "processo" não for perfeitamente compreendido não poderá haver amor. O amor não é um refúgio diferente, na busca de segurança. O desejo de segurança tem de cessar completamente, para que o amor possa vir. O amor não é uma coisa que possamos fazer surgir mediante compulsão. Qualquer forma de compulsão, em qualquer nível, é a negação mesma do amor. Um revolucionário com uma ideologia, não é revolucionário nenhum apenas oferece um substituto, uma segurança de qualidade diferente, uma nova esperança; e esperança é morte. Só o amor pode promover uma revolução ou uma transformação radical nas relações; e o amor não é produto da mente. O pensamento pode planear e formular as mais estupendas e promissoras estruturas, mas, o pensamento só pode levar a mais conflito, confusão e miséria. O amor existe quando a mente astuciosa, a mente egocêntrica, não mais existe. (30)
Fonte das citações:
(1) Uma Nova Maneira de Agir - Cultrix
(2) A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix
(3) O vôo da águia - ICK - Amsterdã - 3/5/1969
(4) Liberte-se do Passado
(5) O Livro da Vida
(6) Krishnamurti no Chile e no México em 1935 - ICK
(7) Krishnamurti - sem citação da fonte - material da Net
(8) A Luta do Homem - Suas causas seus efeitos seu fim - ICK - Ojaí, Califórnia, USA, 1938
(9) A Luta do Homem
(10) O Livro da Vida
(11) O Livro da Vida
(12) Krishnamurti - sem citação da fonte - material da Net
(13) Uma Nova Maneira de Viver - 23 de novembro de 1947
(14) O vôo da águia - ICK - Amsterdã - 3/5/1969
(15) Novo Acesso à Vida, p. 40-41
(16) Novo Acesso à Vida, p. 41
(17) Novo Acesso à Vida, p. 41
(18) Novo Acesso à vida, p. 42
(19) Novo Acesso à vida, p. 42-43
(20) Novo Acesso à vida, p. 43
(21) Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 248
(22) Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 248
(23) Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 248-249
(24) Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 249
(25) Que Estamos Buscando?, p. 249
(26) Que Estamos Buscando?, p. 249-250
(27) Sobre a ação correta
(28) The Collected Works, Vol. XV Varanasi 5th Public Talk 28th November 1964
(29) O Mundo Somos Nós – Horizonte Pedagógico
(30) Reflexões sobre a vida - pág.124 à 126
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)