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sábado, 18 de março de 2017

Por que exercitar a arte da escuta atenta?


Vá a um templo JAINA e você verá vinte e quatro estátuas dos TIRTÂNKARAS JAINAS — as pessoas que são como Jesus, Buda, Zarathustra — e você se surpreenderá: eles parecem ser exatamente o mesmo. Não é possível: você não pode encontrar vinte e quatro pessoas exatamente iguais. Nem JAINAS podem fazer a distinção de quem é quem. Eles não podem dizer quem é Mahavira e quem é Neminath e quem é Parshwanath e quem é o primeiro e quem é o último, porque eles parecem absolutamente iguais — os mesmos rostos, os mesmos narizes, os mesmos olhos, os mesmos corpos, a mesma posição. Para distinguir que eles são pessoas diferentes, os JAINAS descobriram os símbolos: o símbolo mostra um leão ou algo assim, que mostra de quem é a estátua. 

Por que eles a fizeram iguais? Certamente elas não são históricas. Elas são iguais porque os escultores jainas não estavam interessados na História, eles estavam interessados no FENÔMENO INTERIOR. Aqueles homens tinham atingido à MESMA EXPERIÊNCIA... — como representar isso? E como representá-lo em mármore? Eles atingiram à mesma IMOBILIDADE, ao mesmo CENTRAMENTO, ao mesmo FUNDAMENTO, à mesma CRISTALIZAÇÃO. Daí, as estátuas iguais — a mesma posição, o mesmo corpo representando algo do MUNDO INTERIOR — o mesmo estado espiritual, o mesmo SAMADHI. 

Você se surpreenderá sobre muitas coisas, ao olhar aquelas vinte e quatro tirtânkaras e suas estátuas. Você verá que suas orelhas são muito grandes, seus lóbulos encostam-se nos ombros. Você não encontrará orelhas assim. Isso representa algo: diz que aquelas pessoas atingiram seu supremo estado de consciência PELO OUVIR ABSOLUTO — ouvir as canções dos pássaros, ouvir o vento passando entre os pinheiros, ouvir o som das águas, ouvir silenciosamente TUDO QUE VAI ACONTECENDO AO SEU REDOR. 

Ouvir era o método deles. Assim como o método budista é o de observar a respiração, o método JAINA é o de ouvir os sons. Ouvir corretamente é o suficiente. Se a pessoa puder ouvir SEM O TAGARELAR INTERIOR DA MENTE, se a mente tornar-se completamente calma... este cão latindo lá longe, ou o pássaro piando. Se você puder apenas ouvir SEM PENSAR, sem pensar nem que "o cão está latindo", "os passarinhos estão piando", APENAS OUVIR SEM NENHUM PENSAMENTO, SEM QUALQUER INTERPRETAÇÃO, você atingirá cada vez mais e mais profundos reinos de silêncio: atingirá à suprema consciência. 

Qualquer espécie de consciência alerta conduz ao Supremo. Ora, a consciência alerta pode vir dos sentidos, de qualquer um dos cinco. Você poderá ouvir música e funcionará... pode ouvir qualquer coisa e funcionará. Pode olhar as nuvens e o pôr-do-sol e os pássaros voando no espaço e, ao ver, funcionará. O único ponto a ser lembrado é este: SUA MENTE NÃO PODE FUNCIONAR — seus sentidos não podem ficar anuviados pela mente. 

Para representar isso, as longas orelhas. Ora, como representar em mármore o método de ouvir? Esta é uma bela representação. Mas há tolos eruditos jainas, tão tolos quanto os cristãos, que pensam que todo tirtânkara tem aquelas longas orelhas — sem as tais longas orelhas, não pode ser um tirtânkara. Tirtânkara quer dizer exatamente o mesmo que Buda, ou Cristo — essa é a terminologia jaina. Isso é estupidez, falta de compreensão, abordagem nada compreensiva. E depois, isso pode ser cristalizado muito facilmente. 

OSHO

sábado, 22 de agosto de 2015

Aos adictos de atenção

O desejo de se exibir é o desejo de uma mente ignorante. Por que você quer se exibir? Por que você quer que as outras pessoas conheçam você? Qual é a razão disso? E por que você faz disso algo tão importante na sua vida, a exposição? Que as pessoas saibam que você é alguém muito importante, significativo, extraordinário? Por que? Porque você não tem um eu. Você só tem um ego — um substituto para o eu. 

O ego não é substancial. O eu é substancial, mas isso é algo que você não sabe — e uma pessoa não pode viver sem o sentimento de "eu". É difícil viver sem o sentimento de "eu". Afinal, a partir de que centro você vai trabalhar e funcionar? Você precisa de um "eu". Mesmo que seja falso, ele vai servir. Sem um "eu", você vai simplesmente se desintegrar! Quem será o integrador, o agente dentro de você? Quem vai integrar você? A partir de que centro você vai funcionar? 

A menos que conheça o eu, você vai ter que viver com um ego. Ego significa um substituto, um falso eu; você não conhece a si mesmo, então você mesmo cria um eu. É uma criação mental. E para tudo o que é falso, você tem que encontrar apoios. A exposição lhe dá apoio. 

Se alguém diz: "Você é uma pessoa linda", você começa a sentir que é lindo. Se ninguém diz isso, vai ser difícil para você sentir que você é uma pessoa bonita, você vai começar a suspeitar, duvidar. Se você diz continuamente até mesmo a uma pessoa feia "Você é linda", a feiura vai desaparecer da mente dela, e ela vai começar a sentir que é bonita — porque a mente depende da opinião dos outros, ela acumula opiniões, depende delas. 

O ego depende do que as pessoas dizem sobre você: o ego se sente bem se as pessoas se sentem bem com relação a você;  se elas se sentem mal, o ego se sente mal. Se elas não dão a você toda a atenção, os apoios são retirados; se muitas pessoas lhe dão atenção, elas alimentam o seu ego — é por isso que a atenção é solicitada continuamente. 

Até mesmo uma criança pequena pede atenção. Ela pode continuar brincando em silêncio, mas quando chega uma visita... e a mãe disse ao filho que, quando a visita chegasse, ela teria que ficar em silêncio: "Não faça barulho, e não faça bagunça", mas, quando a visita chega, a criança tem que fazer alguma cosia, porque ela também quer atenção. E ela quer mais, porque está acumulando um ego — ela só está crescendo. Ela precisa de mais alimento e disseram para ela fazer silêncio — isso é impossível! Ela vai ter que fazer alguma coisa. Mesmo se ela tiver que machucar a si mesma, ela vai cair. O machucado pode ser tolerado, mas ela precisa receber atenção. Todo mundo precisa prestar atenção, ela precisa se tornar o centro das atenções!

[...] Desde a infância até o final, no dia da sua morte , você vai pedir atenção. Quando uma pessoa está morrendo, a única ideia que está em sua mente, quase sempre é: "O que as pessoas vão dizer quando eu estiver morto? Quantas pessoas virão me dar o último adeus? O que será publicado nos jornais? Algum jornal vai escrever um editorial?" Esses são os pensamentos. Desde o primeiro até o último instante olhamos para ver o que os outros dizem. Deve ser uma necessidade profunda. 

Atenção é alimento para o ego; apenas uma pessoa que atingido o eu abre mão dessa necessidade. Quando você tem um centro, o seu próprio centro, você não precisa pedir atenção aos outros. Então você pode viver sozinho. Mesmo no meio da multidão, você vai estar sozinho, mesmo no mundo você vai estar sozinho, você vai passar no meio da multidão, mas sozinho. 

Neste momento você não pode ficar sozinho. Neste momento, se você for para o Himalaia e entrar numa densa floresta, se sentar sob uma árvore, você vai esperar que alguém passe, pelo menos alguém que possa levar uma mensagem ao mundo de que você se tornou um grande eremita. Você vai esperar, vai abrir os olhos muitas vezes para ver — se tem alguém vindo ou não... Porque você já ouviu historias de que, quando alguém renuncia ao mundo, o mundo inteiro vem a seus pés, e até agora ninguém apareceu — nenhum jornalista, nenhum repórter, nenhum cinegrafista, nada, ninguém! Você não pode ir para o Himalaia. Quando a necessidade de atenção se for, você vai estar no Himalaia aonde quer que esteja.

Osho

sábado, 20 de junho de 2015

A importância da atenção

Você não é honesto nem desonesto; dar nome a estados mentais só serve para expressar sua aprovação ou desaprovação. O problema não é seu, é só de sua mente. Comece por dissociar-se de sua mente. Recorde-se absolutamente que você não é a mente, e que os problemas da mente não são seus. [...] Seja consciente de si mesmo, vigie sua mente, dê a ela toda sua atenção. Não busque resultados rápidos; pode ser que não note nenhum. Sem que você saiba, sua psique mudará, haverá mais claridade em seu pensamento, mais claridade em seus sentimentos, mais pureza em sua conduta. Não tem que trata de consegui-lo, ainda assim você testemunhará a mudança. Porque o que você é agora é a falta de atenção, e o que virá será o fruto da atenção.[...] Até agora sua vida foi obscura e inquieta. A atenção, o estado de alerta, a Consciência, a claridade, a vivacidade, a vitalidade, todas são manifestações de integridade, de unidade com sua verdadeira natureza. A verdadeira natureza é neutralizar a obscuridade e a inquietação e reconstruir a personalidade de acordo com a verdadeira natureza do Ser. A unidade com a verdadeira natureza é o servente fiel do ser, sempre atento e obediente. [...] A atenção quer dizer interesse e amor. Para conhecer, fazer, descobrir, ou criar, você deve dar o seu coração a ela o que significa atenção. Todas as bençãos fluem dela.[...] Dedique toda sua atenção ao mais importante de sua vida, você mesmo. De seu universo pessoal você é o centro; sem conhecer o centro, o que pode conhecer?

[...] O problema da humanidade não é outro senão o mau uso da mente. Todos os tesouros da natureza e do espírito estão abertos para o homem que utiliza a mente de forma correta. 

Nisargadatta Maharaj

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Sobre a necessidade da mente ser purgada e purificada

Observando-se os fatos de cada dia, torna-se bem evidente que, com o próprio esforço para resolvermos os numerosos problemas que nos assediam, só produzimos mais problema; e parece-me, também, que enquanto não compreendermos os processos do pensamento e, por conseguinte estivermos impossibilitados de purificar a mente, nossos problemas irão inevitavelmente crescendo e se multiplicando. Embora cada um possa dizê-lo de modo diferente, toda pessoa inteligente está bem cônscia de que a mente tem de ser purificada; e, para o expressarmos com toda a simplicidade, o que daí decorre é que, enquanto o instrumento com que o homem opera — a mente — não estiver esclarecido, desapaixonado, livre do "eu" com seus inumeráveis preconceitos e temores, tanto conscientes como inconscientes — enquanto a mente não for expurgada de tudo isso, nossos problemas aumentarão sempre. Todos sabemos disso, e toda religião de certa importância o afirma, de diferentes maneiras. Entretanto, porque razão nunca parecemos capazes de purificar a nossa mente? É porque não existem sistemas suficientes, ou porque o verdadeiro sistema ainda não foi inventado ou colocado em prática? Ou é porque nem método nem sistema algum pode produzir essa purificação? Cero, todos os sistemas e métodos geram tradições, produtivas ou mediocridade mental; e uma mente medíocre, em face de um problema importante, inevitavelmente o traduzirá em conformidade com seu condicionamento. 

Isto é, para lidar com qualquer problema importante, humano, percebemos a necessidade de uma mente que esteja esclarecida, purificada de todos os seus preconceitos e dizemos que, para purificarmos a mente, necessitamos de um sistema, um método, uma prática; mas se estamos realmente atentos, percebemos que no próprio praticar de um sistema a mente se deixa prender por ele e, por conseguinte, não pode libertar-se, expurgar-se, purificar-se. Dependente do sistema, a mente traduz o desafio ou a ele corresponde em conformidade com esse condicionamento. Isto também é bastante óbvio, se o examinar. 

Temos muitos problemas, em todos os níveis de nossa existência e, para corresponder a esses problemas, a mente tem de ser nova, ardorosa, vigilante. Para produzir essa mente esclarecida, nova, purificada, dizemos ser necessária a prática de um sistema; mas sabemos que no próprio praticar de um sistema, a mente se torna tortuosa, limitada e pervertida. É óbvio, portanto, que os sistemas não libertam a mente, e penso que esse fato deve ser compreendido perfeitamente, antes de podermos entrar mais fundo na questão que desejo apreciar nesta tarde. 

Em geral, pensamos que um sistema ou um método, uma prática, libertará a mente ou a ajudará a pensar com clareza. Mas pode qualquer espécie de sistema ajudar a mente a pensar com toda a clareza, sem tendências, livre do centro do "eu", do "ego"? A prática de um sistema não robustece o "eu"? Embora se suponha que o sistema lhe ajudará a libertar-se do "eu", do "ego", ou qualquer termos que você preferir, para designar essa atividade egocêntrica da mente, a própria prática de um sistema não acentua o egocentrismo, embora num plano diferente? 

Está visto, pois, que a mente nunca pode ser libertada por um sistema. Entretanto a nossa mente em geral, está enredada em algum sistema, que é a rotina tradicional, e isso invariavelmente gera mediocridade. É o que aconteceu a quase todos nós, não? A mente que funciona pela rotina dos hábitos, da tradição, antiga ou moderna, — e a isso chamamos conhecimento — defronta-se com um problema imenso, um problema em constante mutação. Pessoal ou impessoal, coletivo ou individual, não há problema estático. Mas a mente é estática, porque presa numa rotina de tradição e de hábitos, apegada a uma certa maneira de pensar; assim sendo, observa-se sempre uma contradição entre a condição estática da mente e o problema em constante mutação, em movimento constante. Essa mente é incapaz de fazer frente ao problema e resolvê-lo. 

Afinal de contas, você está atendendo os problemas como hinduísta, isto é, com a tradição da cultura hindu, exatamente como o católico ou o comunista atende a qualquer problema em conformidade com seu especial condicionamento. Entretanto, a maioria de nós concorda que a mente tem de ser purgada, purificada, para que possa enfrentar a vida, achar Deus, a Verdade, ou como você quiser chamá-lo.

(...) O problema é criado pela falta de atenção. A atenção é "o bom", mas "o bom" não pode ser cultivado pela mente — a mente condicionada pela tradição, pelo ambiente, por influências de toda ordem. O importante é possuir a capacidade de atenção, sem nada interpretar ou avaliar; mas não há possibilidade de se praticar essa atenção. Se você o fizer, irá reduzi-la ao nível da mediocridade e ela se tornará mera tradição. Mas se a mente puder enfrentar o problema com atenção completa, o problema desaparecerá, porque ela será então uma entidade totalmente diferente, não mais um produto do tempo. E está é a mente capaz de receber o Eterno. 

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA


segunda-feira, 4 de março de 2013

De que maneira podemos aquietar os pensamentos?

Será que poderemos renunciar a todas as ideias, conceitos e teorias e descobrir por nós mesmos se existe alguma coisa sagrada — não a palavra, porque a palavra não é a coisa, como a descrição não é o descrito —, ver se existe alguma coisa real, não imaginária, ilusória ou fantástica; não um mito, mas uma realidade que não pode jamais ser destruída, uma verdade permanente?

Para descobrirmos, para reconhecermos isso, toda a autoridade, de qualquer espécie, principalmente a espiritual, tem de ser posta de lado, porque a autoridade implica conformismo, obediência e aceitação de determinados padrões. A mente precisa ser capaz de manter-se sozinha, ser sua própria luz. Seguir os outros, pertencer a grupos, seguir métodos de meditação ditados por uma autoridade ou pela tradição é totalmente irrelevante para aquele que investiga o fato de haver ou não a eternidade, algo que não é mensurável pelo pensamento, que opera em nossa vida diária. Se não faz parte de nossa vida diária, então a meditação é uma fuga, e absolutamente inútil. Isto tudo significa que temos de nos manter sozinhos. Existe uma diferença entre isolamento e solidão, entre estar só e ser capaz de ficar consigo mesmo, na mais absoluta clareza, sem qualquer contaminação.

Estamos relacionados com todos os aspectos da vida, não com um segmento, com apenas um fragmento dela, mas com tudo o que fazemos, pensamos, sentimos e como atuamos. E como estamos relacionados com todos os aspectos da vida, não podemos de maneira alguma pegar um fragmento, que é um pensamento, e por meio dele resolver todos os nossos problemas. O pensamento pode dar autoridade a si mesmo, a fim de reunir todos os outros fragmentos, mas foi o pensamento que criou os fragmentos. Estamos condicionados a pensar em termos de progresso, de realizações gradativas. As pessoas pensam em desenvolvimento psicológico, mas será que existe algo como psicologicamente "eu", realizando qualquer coisa que não seja a projeção de um pensamento?

Para descobrirmos se existe algo que não seja projetado pelo pensamento, que não seja uma ilusão ou um mito, devemos nos perguntar se o pensamento pode ser controlado, mantido em suspenso, ser suprimido de tal forma que a mente possa permanecer imóvel. O controle compõe-se de um controlador e um controlado, certo? Quem é o controlador? Não será ele também uma criação do pensamento, um dos fragmentos do pensamento que assumiu a condição de controlador? Se achar que isto é verdade, então o controlador é o controlado, a experiência é o experimentador, o pensador é o pensamento. Não são entidades separadas. Se compreender isto, então não há necessidade de controle.

Se não há controlador, porque ele é o controlado, então, o que acontece? Se existe uma divisão entre o controlador e o controlado, significa que existe conflito e, portanto, desperdício de energia. Há acúmulo de energia, de toda aquela energia que foi dissipada na supressão e na resistência ocasionadas pela separação entre controlador e controlado. Deve ficar claro, na meditação, que não existe nenhum controle, nenhuma disciplina de pensamento, pois aquele que disciplinar o pensamento é um fragmento do pensamento. Se você achar que isto é verdade, então obterá toda a energia que foi desperdiçada por meio da comparação, do controle e da supressão, para ir além do ponto em que se encontra hoje.

Nossa pergunta é se a mente pode permanecer absolutamente imóvel, porque aquilo que está imobilizado contém mais energia. Poderá a mente — que está o tempo todo tagarelando, sempre em movimento, com os pensamentos sempre voltados para trás, relembrando, acumulando conhecimentos, constantemente se modificando — permanecer totalmente quieta? Alguma vez você tentou descobrir se o pensamento pode ficar parado? Como descobrir de que maneira podemos aquietar os pensamentos? Bem, pensamento é tempo, tempo é movimento, e o tempo é mensurável. Diariamente medimos e comparamos, tanto física como psicologicamente. Isto é medição, comparar significa medir. Será que podemos viver o dia-a-dia sem fazer comparações? Podemos parar de comparar, de modo geral, não na meditação, mas no nosso cotidiano? Comparamos quando escolhemos entre dois materiais, entre este e aquele tecido, este e aquele carro. Quando comparamos partes do conhecimento, porém, psicológica e interiormente, nos comparamos com os outros. Quando cessar definitivamente essa comparação estaremos de fato sozinhos? Isto acontecerá quando deixarmos de lado as comparações — o que não significa vegetar. Então, na vida diária, poderemos viver sem comparações? Experimente uma vez, e verá o que isso implica. Você estará se livrando de uma tremenda carga; e quando nos livramos de uma carga não precisamos mais de energia.

Você já prestou atenção em alguma coisa? Você presta atenção quando alguém está lhe falando? Ou está ouvindo com a mente comparativa que já adquiriu certos conhecimentos e está comparando o que está sendo dito com o que você já sabe? Não estará interpretando o que está sendo dito de acordo com seus prévios conhecimentos, suas próprias inclinações, seus próprios julgamentos? Isto não é atenção, certo? Se prestar total atenção com seu corpo, seus nervos, olhos, ouvidos, sua mente, com todo o seu ser, não haverá nenhum centro por meio do qual você estará observando; só a atenção está presente. Esta atenção é o silêncio completo.

Por favor, ouça isto. Infelizmente, ninguém lhe dirá essas coisas, portanto, ouça com atenção o que está sendo dito, pois o simples ato de ouvir é o milagre da atenção; não existem limites nem fronteiras e, por conseguinte, não há direções. Só há atenção, e quando ela está presente, não existe mais eu e você, não existe mais dualidade, não há mais o observador e o observado. E isto não é possível quando a mente está se movimentando em determinada direção.

Fomos educados e condicionados a nos mover de acordo com direções, daqui para lá. Temos uma ideia, uma crença, um conceito, uma fórmula que traduz a realidade, a felicidade que existe algo além do pensamento e fixamos isso como uma meta, um ideal, uma direção e, então, caminhamos nessa direção. Quando caminhamos em certa direção não há espaço. Quando nos concentramos, caminhamos ou pensamos em determinada direção, não há espaço em nossa mente. Não há espaço quando nossa mente está lotada de apegos, medos, busca de prazer, desejo de poder e posição. Portanto, se a mente está lotada, não há espaço. O espaço é necessário, e onde há atenção não há direção, apenas espaço.

A meditação não requer movimento algum. Isso quer dizer que a mente está em repouso absoluto e não está se movimentando em nenhuma direção. Não há movimento. Movimento é tempo, é pensamento. Se acharmos que isto é verdade, não sua descrição oral, mas a verdade que não pode ser descrita, então teremos a mente em absoluto repouso. É preciso aquietar a mente, não com o intuito de dormir mais ou de executar melhor seu trabalho ou ganhar mais dinheiro!

A vida da maioria das pessoas é vazia, é pobre. Embora possam ter um cabedal de conhecimentos, sua vida é pobre, é contraditória, incompleta, infeliz. Tudo isso é pobreza, e as pessoas desperdiçam a vida tentando enriquecer interiormente, cultivando diversos tipos de virtude e todo o resto de tolices. Não que a virtude não seja necessária, pois é ordem, e a ordem só pode ser compreendida quando vivemos na desordem. O fato é que conduzimos nossas vidas desordenadamente. Desordem significa contradição, confusão, desejos desencontrados, dizer uma coisa e fazer outra, ter ideais e o desacordo entre você e esses ideais. Tudo isso é desordem, e quando tomamos consciência e colocamos nesse fato toda a atenção, surge a ordem, que é uma virtude — algo vivo, não algo inventado, praticado e feio.

A meditação em nossa vida diária é a transformação da mente, uma revolução psicológica para que possamos viver — não na teoria, como um ideal, mas em cada movimento dessa vida —, na qual existe compaixão, amor e a energia que transcende toda a pequenez, toda a estreiteza e toda a incerteza. Quando a mente está em repouso — em repouso absoluto, aquietada não pelo desejo ou pela vontade — então surgirá uma maneira de ser completamente diversa de movimento, que não implica tempo.

Veja, falar sobre esse estado seria absurdo. Seria uma descrição verbal e, portanto, irreal. O que importa é a arte da meditação. Um dos sentidos da palavra "arte" é colocar tudo em seus devidos lugares, colocar tudo em nossa vida diária no lugar certo, para que não haja nenhuma confusão. E quando existe ordem, lisura de procedimento e uma mente totalmente quieta em nossa vida diária, então a própria mente saberá sozinha se é ou não imensurável. Enquanto não descobrirmos esta mais elevada forma de santidade, nossa vida será insípida e sem sentido. Por isso, a meditação correta é absolutamente necessária, a fim de tornar nossa mente jovem, sadia e pura. Pura quer dizer incapaz de ser contaminada. Isso tudo faz parte da meditação que não está divorciada dos nossos hábitos diários. A meditação é necessária para que compreendamos nossa rotina. Ou seja, ficar atento a tudo o que fazemos — quando falamos com alguém, nosso modo de caminhar, nossa maneira de pensar —, o que pensamos — prestar atenção a essas coisas é parte da meditação.

Meditar não é fugir. Não há mistérios. Da meditação surge uma vida santificada, sagrada. E a partir daí tudo para nós é sagrado.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sem a liberdade do passado não há como existir o amor

O amor pode ser cultivado pelo pensamento — poderá tornar-se um hábito? O amor será prazer? Tal como o conhecemos, ele é essencialmente uma procura de prazer. E se o amor é prazer, então, o amor também é medo — não?

Que é o prazer? Não estamos a negar o prazer; não estamos a dizer que não se deve ter prazer; isso seria absurdo. Que é então o prazer? Ontem à tarde vimos o pôr do Sol; no momento da percepção, não houve nem prazer nem dor, houve apenas um contato imediato com essa realidade. Uns minutos mais tarde, porém, começou-se a pensar nisso: "Foi uma coisa tão bela". Acontece o mesmo com o sexo. Pensa-se nisso, construindo imagens mentais; pensar nisso dá prazer. Do mesmo modo, pensar na perda desse prazer causa medo, tal como pensar em não ter emprego amanhã, em ficar só, em não ser amado, em não ser capaz de autoexpressão, etc. Este maquinismo de "pensar nisso" causa não só prazer como medo.

Dever-se-á cultivar o amor, como se cultiva uma planta? O amor deverá ser cultivado pelo pensamento, sabendo-se que o pensamento gera prazer e medo? Temos de aprender o que é o amor, aprender, e não acumular o que os outros têm dito sobre ele — isto é horrível. Temos de aprender, temos de observar. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento, é uma realidade inteiramente diferente.

A partir da sensibilidade e da inteligência, a partir da ordem que nasce quando a mente compreende como surge toda esta desordem e se liberta dela, a partir da disciplina que vem da compreensão da desordem, é que surge essa realidade chamada amor — que os políticos, os sacerdotes, o marido e a mulher destroem.

Compreender o amor é compreender a morte. Se não se morrer para o passado, como se poderá amar? Se eu não morrer para a imagem de mim mesmo e para a imagem que tenho da minha mulher, como serei capaz de amar?

Tudo isto constitui a maravilha da meditação e a sua beleza. E é em tudo isto que algo surge então: a mente adquire uma qualidade verdadeiramente religiosa, uma qualidade de silêncio. Religião não é a crença organizada, com os seus deuses e os seus sacerdotes. Religião é um estado da mente, uma mente livre e inocente e, portanto, completamente silenciosa. Uma mente assim não tem limite.

Interrogante: Que acontece se as pessoas não têm uma mente desse tipo?

Krishnamurti: Por que é que dizemos "se as pessoas não a têm"? Quem são "as pessoas"? Se "eu" não a tenho — é tudo. E se "eu" não tenho uma mente assim, penetrante, lúcida, que devo fazer? Não será essa a pergunta? As nossas mentes estão confusas, não é verdade? Vivemos em confusão. Que se deve fazer? Se estou mentalmente entorpecido, não serve de nada tentar polir a minha falta de penetração, tentar tornar-me "inteligente". Primeiro tenho de saber que estou mentalmente embotado, entorpecido. A própria tomada de consciência do meu embotamento é libertar-me dele. Se digo "sou insensato", não verbalmente, mas apercebendo-me de fato que o sou, então já estou vigilante, não me comporto mais como um insensato. Mas se se resiste ao que se é, então o embotamento é cada vez maior.

Neste mundo, o que se considera como o apogeu do intelecto é ser mentalmente muito hábil, muito cheio de expediente, muito complicado e erudito. Não sei por que é que as pessoas andam com o cérebro carregado de erudição. Por que não havemos de deixá-la nas prateleiras das bibliotecas? Os computadores são muito eruditos... Erudição não tem nada a ver com inteligência. Ver as coisas como realmente são, em nós próprios, sem criar conflito ao apercebermo-nos daquilo que somos, necessita de tremenda simplicidade da inteligência. Sou insensato, sou mentiroso, estou encolerizado, etc.: observo-o, sem depender de nenhuma autoridade, sem oferecer resistência, sem dizer "devo ser diferente" — aquilo está ali, e aprendo a seu respeito.

Interrogante: Quando tento prestar atenção, dou-me conta de que não sou capaz de estar atento.

Krishnamurti: A atenção nascerá da desatenção?

Interrogante: Não. Que é que a produz? Como é que ela vem?

Krishnamurti: Antes de mais nada, que é atenção? Quando estamos atentos, isto é, quando damos a mente, o coração, os nervos, os olhos, os ouvidos, há atenção completa, ela acontece, não é verdade? A atenção total é isso. Quando não há resistência, quando não há censor, ou seja, nenhum movimento avaliativo, há atenção — conseguimo-la.

Interrogante: Mas isso é tão raro.

Krishnamurti: Ah! Lá voltamos outra vez atrás: "Isso é tão raro acontecer!" Estou apenas a mostrar uma coisa: geralmente está-se desatento. Mas logo que se toma consciência da desatenção, fica-se atento, não é assim? Portanto, tomemos consciência da desatenção. Através da negação atinge-se o positivo. Ao compreender-se que se está desatento, surge a atenção.

Krishnamurti — Conferência na Universidade de Brandeis

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill