Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

Mostrando postagens com marcador ilusão de separatividade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ilusão de separatividade. Mostrar todas as postagens

sábado, 1 de abril de 2017

A formação da limitada e separatista mente dual


Em algum ponto no passado, os seres humanos começaram a reconhecer contrastes de luz e sombra como formas isoladas às quais podiam dar nomes. Contrastando, identificando e nomeando formas, eles criaram um mundo de polaridades interdependentes (dualidade): grande e pequeno, duro e macio, macho e fêmea. Embora todas estas distinções, bem como os rótulos aplicados a elas, foram criação da mente humana e variassem em caráter de cultura para cultura, com o tempo adquiriram maior substância e passaram a ser vistas como efetivamente sólidas e reais.  

A partir desta única semente, com raiz no processo da percepção, os seres humanos criaram o "eu" e o seu mundo. Eles se transformaram em espectadores que vivenciavam seu meio comum como um mundo objetivo. Ao olhar para dentro, podiam refletir sobre os contrastes que percebiam em seus próprios estados interiores, e dar nomes a sentimentos e emoções. Assim, foi-lhes possível distinguir entre gostos e aversões, prazer e dor; podiam recordar e refletir sobre suas sensações. Empregando nomes, os seres humanos podiam avaliar sua experiência e expressar preferências e opiniões. 

Gradativamente, os nomes foram adquirindo maior significado, através de associações com outros nomes; conceitos se tornaram mais complexos. Mais tarde, criou-se uma base que viria possibilitar pensamentos mais abstratos e sofisticados. Derivados desta longa cadeia de desenvolvimentos, moldados pela linguagem, pela cultura e pelo meio ambiente, nossos atuais padrões mentais evoluíram ao longo de muitos milhares de anos. 

Durante toda a história da humanidade, a parte da nossa consciência que se liga a objetos recebeu contínuos reforços. Canais profundos foram entalhados em nossa mente, direcionando nossa energia mental para o plano dos objetos, e distanciando-a da dimensão aberta da consciência. A cada pensamento ou sensação, nossa mente agora ágil com a velocidade de uma corrente elétrica para absorver o mundo aparentemente objetivo. Desde o nascimento, somos condicionados a estes padrões de percepção, pensamento e reação

Automaticamente, empregamos estes padrões para interpretar objetos e situações, e responder a eles. Esta forma única de reagir é tudo o que conhecemos: como um trem segue seus trilhos, parecemos predestinados a seguir o caminho demarcado pelo curso da nossa evolução. Embora possamos estar convencidos de que estamos pensando e agindo de acordo com nossas próprias escolhas, na verdade vivemos condicionados por um sentido de separação e pelo jogo de atração e repulsão das polaridades. Estamos fadados a avaliar e reagir a todas as coisas em termos de agradável e desagradável, desejável e não-desejável, bom e ruim. 

Comprometidos com uma visão baseada na dualidade, e confinados às estruturas conceituais que emergem a partir desta visão, não conseguimos conceber a possibilidade de uma estrutura mais aberta para os nossos pensamentos e ações. Quase nada existe em nosso modo de vida que nos leve a qualquer indagação sobre os nossos padrões de percepção e pensamento, ou a qualquer reflexão sobre as inclinações mais profundas da nossa maneira de ver a nós mesmos e ao nosso mundo. 

Ao mesmo tempo, a força atrativa do mundo objetivo tornou-se mais intensa do que em qualquer outra época. As sociedades modernas deram luz a inúmeras tecnologias novas, colocando em movimento um tipo moderno de evolução, alimentado pela inventividade da mente racional. Embora nossa evolução científica e tecnológica seja um desenvolvimento recente na história do planeta, sua força fez crescer de forma significativa o impulso natural das mudanças. 

[...] À medida que o mundo se torna mais caótico e confuso, será que estaremos sendo mais e mais atraídos pela previsibilidade racional do computador? Será que alguns de nós poderão chegar até a se identificar mais com a inteligência computadorizada do que com seus semelhantes? (o aparelho celular como exemplo). Será que com o tempo vamos começar a avaliar nossa própria inteligência por comparação aos computadores?
[...] As respostas a estas perguntas precisam estar fundadas em um conhecimento do ser humano que seja o mais completo possível. Antes que sejamos arrastados na direção de um futuro que talvez não se apresente da maneira como desejamos, precisamos olhar de perto para a nossa situação atual, e começar um processo de exame da base mesma do nosso conhecimento — nossa consciência humana e a natureza da nossa mente. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A mente especulativa não alcança Aquilo que é Real

Embaixo e ao longe se avistava o vale, cheio das atividades próprias dos vales em geral. O sol se punha naquele momento atrás das montanhas longínquas, e as sombras eram escuras e longas. Era uma tarde serena e uma brisa soprava do mar. As laranjeiras, alinhadas em renques sucessivos, pareciam quase negras e sobre a longa estrada reta que percorria o vale, viam-se ocasionais lampejos, quando a luz do sol poente se refletia nos carros que passavam. Era uma tarde de paz e encantamento.

A mente parecia abarcar a amplidão do espaço e a distância infinita; ou melhor, a mente parecia expandir-se infinitamente e, acompanhando a mente, mas fora dela, algo existia que continha todas as coisas. A mente lutava, na penumbra do subconsciente, procurando reconhecer e lembrar aquilo que não fazia parte dela própria, detendo a sua habitual atividade; mas não podia apreender o que era estranho à sua própria natureza; e logo todas as coisas, inclusive a mente, estavam engolfadas naquela imensidão. Caiu a noite, e o longínquo latir dos cães não perturbava de maneira nenhuma aquela existência que escapava a toda percepção. Ela não pode ser pensada e “experimentada” pela mente.

Mas que foi, então, que percebeu e se tornou cônscio de uma coisa tão diferente das “projeções” da mente? Quem é que a experimenta? Não foi, por certo, a mente constituída das lembranças, reações e impulsos de cada dia. Existe outra mente, ou há uma parte da mente que permanece adormecida e só pode ser despertada por Aquilo que existe acima e além da mente? Se assim é, existe então, sempre, dentro da mente aquela coisa que transcende todo o pensamento e o tempo. Todavia, não pode ser assim, pois isso é apenas pensamento especulativo e, portanto outra das muitas invenções da mente.

Uma vez que aquela imensidão não nasce do processo do pensamento, que é então que se torna cônscio dela? A mente, como “experimentador”, se torna cônscia dela, ou é aquela imensidão que está cônscia de si mesma, porque não existe mais “experimentador”? Não havia “experimentador”, na hora em que aquilo aconteceu, ao descermos a montanha e, todavia, o percebimento da mente era de todo diferente, tanto em qualidade como em intensidade, daquela coisa imensurável. A mente não estava funcionando; achava-se vigilante e passiva e, embora cônscia da brisa a brincar com as folhas, não havia movimento de espécie alguma, nela própria. Não havia “observador”, medindo ou avaliando a coisa observada. aquilo existia e era aquilo que estava cônscio de si mesmo e sua imensurabilidade. Aquilo não tinha começo, nem nome.

A mente está cônscia de não poder captar, pela experiência e pela palavra, aquilo que permanece sempre, atemporal e imensurável.    

Jiddu Krishnamurti — Reflexões sobre a vida

domingo, 7 de abril de 2013

O pensamento é o criador dos opostos

A verdade não existe nos opostos.
Os opostos são apenas o jogo recíproco de relações.
(...)
O incessante esforço de vocês para se ajustarem entre os opostos é a causa do conflito, porém, a libertação é a libertação dos opostos.

A luta e a aflição vêm à existência quando o "eu", pela emoção, pelo pensamento, cria a divisão dos opostos. A plenitude existe em todos, visto que esteja colhida pelo eu-consciência de vocês, por vocês mesmos criado. Na liberdade do eu-consciência, isto é, o ego existir, tem de haver esforço e por conseguinte tristeza.

Quando se libertarem dos opostos, dos extremos, a harmonia virá à existência. Isto é libertação. Isto é consumação da sabedoria; porém não poderão realizar isto, se houver um único pensamento do "meu" e do "teu", isto é, do "eu", que é separatividade.

Na realidade, na verdade, na vida não há nem separação nem unidade. A verdade é completa. Nela todos os opostos cessam de existir. A plenitude não tem aspectos, nem divisões, nem opostos. É essa plenitude que eu denomino perfeição e que existe a todos os instantes em todas as coisas, em todo o ser humano. Porém, em virtude de seu eu-consciência, o homem cria divisões entre a realidade e si próprio.

O "eu" pertence ao tempo, está sempre buscando orientação, pelos opostos, adquirindo qualidades, criando separatividades, conflitos, esforços.
(...)
Vocês estão aprisionados no conflito, e porque não podem compreender este conflito, desejam o oposto; repouso, paz, que é um conceito intelectual. Nesse desejo criaram uma máquina intelectual e essa máquina intelectual é a religião. Ela está inteiramente divorciada de seus sentimentos e vida diária e é, por isso, simplesmente uma coisa superficial. Essa máquina intelectual pode também ser a sociedade, criada intelectualmente, uma máquina da qual vocês se tornaram escravos, e pela qual serão esmagados sem piedade. Vocês criaram essas máquinas, porque estão em conflito, porque através do medo e da ansiedade, são arrastados para o oposto àquele conflito, porque estão buscando repouso, tranquilidade.

O desejo do oposto cria o medo e desse medo surge a imitação.

Assim, vocês inventam conceitos intelectuais, tais como as religiões, com suas crenças e padrões, a sua autoridade e disciplina, os seus salvadores e mestres, para lhes conduzirem ao que desejam, que é o conforto, a segurança, a tranquilidade, a fuga desse constante conflito.
(...)
Se forem covardes, buscam coragem, porém o medo ainda lhes perseguirá, pois que somente estarão escapando de um oposto para o outro. Ao passo que, se vocês se libertarem da causa do medo, que é o desejo; então não conhecerão, quer a coragem, quer o medo, e a maneira de operar isto, é tornar-se acautelado, vigilante, e não buscar alcançar coragem, porém, se libertar dos motivos na ação.
(...)
Este processo, de desenvolver a coragem é realmente, uma fuga ao medo; se, porém, vocês discernirem a causa do medo, esse naturalmente, cessará. Por que vocês não são capazes de discernir diretamente? — Porque, se houver percepção direta, tem de haver ação e, para evitar a ação, vocês desenvolvem o oposto, estabelecendo-se assim uma série de fugas sutis.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill