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quarta-feira, 27 de março de 2013

Discernir o processo do "eu" é o começo do preenchimento

Preencher-se é ser inteligente; e para despertar a inteligência é necessário o reto esforço. E o vigor, para este fim, não pode ser artificial; e a vida não deve ser dividida em trabalho e realização interna. O trabalho e a vida interna devem estar juntos. A própria alegria do esforço reto abre as portas da inteligência.

O discernir do processo do "eu" é o começo do preenchimento.

(...)

Se vocês, como indivíduos, começarem a despertar para as limitações que lhes são impostas pela sociedade, pelas religiões, pelas condições econômicas, e começarem a investigar e, assim, a criar conflito, então dissiparão essa pequena consciência que chamo o "eu"; então, saberão o que é este preenchimento, este viver criador no presente.

(...)

Ao tentarem descobrir o mérito das fugas que, por vocês mesmos criaram, manifesta-se a verdadeira inteligência, e essa inteligência é felicidade criadora, é preenchimento.

(...)

O mundo é uma extensão de vocês, enquanto forem irrefletidos, presos à ignorância, ao ódio, à ambição; mas, quando ficarem sinceramente atentos, apercebidos, não haverá somente uma dissociação dessas causas que criam tristeza e sofrimento, mas também haverá essa compreensão, que é o preenchimento, o todo.

(...)

Ambição não é preenchimento. A ambição é inflação do eu. Na ambição há a ideia de proveito pessoal, sempre em oposição ao lucro de outrem; há nela o culto do êxito, a competição cruel e a exploração de outrem. No despertar da ambição há descontentamento constante, destruição e vacuidade; pois, no próprio momento do êxito, há um falecimento e, portanto, um renovado impulso para outras consecuções. Quando discernirdes profundamente que a ambição tem dentro de si  esta constante luta e angústia, então compreenderão o que é o preenchimento. O preenchimento é a expressão fundamental daquilo que é verdadeiro. Com frequência, porém, toma-se equivocadamente uma reação superficial pelo preenchimento. O preenchimento não é apenas para uns poucos, mas exige profunda inteligência. Na ambição há o objetivo e o incitamento no sentido da sua consecução; porém, o preenchimento requer um ajuste contínuo e a reeducação de todo de todo o nosso ser social. Onde há ambição, há também a busca de recompensa por parte dos governos, das igrejas ou da sociedade, ou então há o desejo das recompensas das virtudes com suas consolações. No preenchimento desaparece integralmente a ideia de recompensa e de punição, pois todo o medo cessa por completo.

Façam experiências relativas ao que estou dizendo, e discirnam por si mesmos. A vida atual de vocês está repleta de ambição, não de preenchimento. Vocês se esforçam para se tornarem alguma coisa, em lugar de se perderem nas limitações que impedem o verdadeiro preenchimento.

(...)

O preenchimento é a fruição do profundo entendimento da nossa própria existência e de nossas ações.

(...)

O preenchimento é perfeição. Você não podem se preencher no futuro. O preenchimento não depende do tempo. O preenchimento está no presente.

Krishnamurti — O medo – 1946 — Coletânea ICK

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Não apague a chama fecunda do descontentamento

Já se sentaram em completo silêncio sem se mexer? Tentem, sentem-se com as costas retas e observem o que a mente faz. Não tentem controlá-la, não digam que ela não deve pular de um pensamento para outro, de um interesse para outro, mas somente conscientizem-se de como ela vagueia. Não façam nada a respeito, mas observem como se estivessem na margem de um rio olhando a água passar. Nela há muita coisa — peixes, folhas, animais mortos —, mas está sempre viva, em movimento, e a mente é idêntica. É uma inquietação, incessante, pulando de um ponto para outro como uma borboleta.

Quando vocês ouvem uma música, como agem? Podemos gostar da pessoa que está cantando, ela pode ter um rosto bonito, e vocês podem acompanhar o significado da letra; porém, por trás de tudo isso, quando ouvem a música, estão ouvindo os tons e o silêncio entre eles, não é? Da mesma maneira, sentem-se em silêncio sem ficar irrequietos, sem mover as mãos ou até mesmo os dedos dos pés, e simplesmente observem a mente. É divertido. Se tentarem como algo divertido, verão que a mente começa a se estabilizar sem que você se esforce para controlá-la. Não existe um censor, juiz ou avaliador, e quando a mente fica assim tranquila por si só, espontaneamente estabilizada, descobriremos o que é ser alegre. Sabem o que é alegria? É rir, se deliciar com algo ou por algo, provar da satisfação de viver, sorrir, olhar direto no rosto do outro sem qualquer sensação de medo.

Já olharam realmente no rosto de alguém? Olharam o rosto do professor, dos pais, do superior, do empregado, do pobre trabalhador braçal e viram o que acontece? A maioria de nós teme olhar diretamente no rosto do outro, e os outros não desejam que nós os encaremos desta maneira porque também estão assustados. Ninguém deseja se revelar; Estamos todos em guarda, escondendo-nos por trás de várias camadas de angústia, sofrimento, anseios, esperança, e são bem poucos os que podem olhar você diretamente no rosto e sorrir. E é muito importante sorrir, ser feliz, porque sem uma canção no coração a vida se torna insípida. Pode-se ir de um templo a outro, trocar de marido ou de esposa, ou encontrar um novo professor ou guru, mas se não houver alegria interna a vida terá pouco significado. E descobrir a satisfação interna não é fácil, porque a maioria de nós está apenas superficialmente descontente.

Sabem o que significa estar descontente? É muito difícil compreender esse sentimento porque a maioria de nós canaliza esse sentimento em uma certa direção, ocultando-o. A única preocupação que temos é nos estabelecermos em um posição segura, com interesses e prestígio bem-estabelecidos, para não sermos perturbados. Acontece nos lares e também nas escolas. Os professores não querem ser perturbados e por isso seguem a velha rotina. Porque, no momento que alguém se sentir realmente descontente e começar a inquirir, questionar, haverá distúrbios. E somente por intermédio do verdadeiro descontentamento é que surge a iniciativa.

Sabem o que é iniciativa? Vocês tem iniciativa quando iniciam ou começam algo sem serem acionados. Não é preciso algo muito grande ou extraordinário — isso pode surgir mais tarde; mas existe a centelha da iniciativa quando você planta uma árvore sem ser solicitado, quando é espontaneamente gentil, quando sorri para um homem que está carregando algo pesado, quando tira uma pedra do caminho ou afaga um animal na rua. Esse é um pequeno início de uma tremenda iniciativa que vocês devem ter se desejam conhecer esta cosia maravilhosa chamada criatividade. Ela possuí suas raízes na iniciativa, que acontece somente quando existe um profundo descontentamento.

Não tenham receio do descontentamento, podem nutri-lo até que a centelha se torne uma chaga e vocês permaneçam descontentes com tudo — os empregos, as famílias, a busca tradicional por dinheiro, posição, poder —, para que realmente comecem a pensar, descobrir. E quando estiverem mais velhos descobrirão que manter o espírito de descontentamento é muito difícil. Terão filhos para cuidar e deverão considerar as exigências em seus empregos, a opinião dos vizinhos, da sociedade fechando-se sobre vocês, e logo começarão a perder a chama do descontentamento. Quando se sentem descontentes, vocês ligam o rádio, vão a um guru, fazem rituais, vão ao clube, bebem, saem em busca de mulheres — qualquer coisa para encobrir a chama. Mas, observem, sem a chama do descontentamento, nunca terão iniciativa, que é o início da criatividade. Para descobrir o que é verdadeiro vocês precisam se revoltar contra a ordem estabelecida, e quanto mais dinheiro seus pais tiverem e mais seguros os professores estiverem em seus empregos, menos eles desejarão se revoltar.

A criatividade não é apenas uma questão de pintar quadros ou escrever poemas — o que também é bom, mas de pouca valia. O importante é estar totalmente descontente, pois esse é o início da iniciativa, que se torna criatividade quando amadurece. E esse é o único caminho para descobrir o que é verdadeiro, o que é Deus, porque o estado criativo é Deus.

Por isso é preciso haver o total descontentamento — mas com alegria. Compreenderam? É preciso estar totalmente descontente, mas não para resmungar, e sim agir com alegria, leveza, com amor. A maioria das pessoas que está descontente é terrivelmente aborrecida; estão sempre se queixando que algo não está certo, ou desejando estar numa posição melhor, ou buscando circunstâncias diferentes, porque seu descontentamento é bem superficial. E aqueles que não estão descontentes já estão mortos.

Se puderem se rebelar ainda jovens, e enquanto amadurecerem mantiverem o descontentamento vivo com a energia da satisfação e do grande afeto, então a chama terá um significado extraordinário, porque ela construirá, criará, montará coisas novas. Para isso é preciso receber a educação correta, que não é do tipo que apenas os prepara para conseguir um emprego, ou subir a ladeira do sucesso, mas a que os ajuda a pensar e ceder espaço — não o de um quarto maior, ou um telhado mais elevado, mas para a mente crescer e não ficar limitada por qualquer crença ou medo.

(...) O que acontece quando não fazemos esforço para fugir? Vivemos com essa solidão, esse vazio, e, ao aceitarmos isso, vemos surgir um estado criativo, que não tem nava a ver com luta, com esforço. Existe esforço apenas quando tentamos evitar a solidão interior, mas quando a examinamos, quando aceitamos o que é, sem tentar evitá-lo, alcançamos um estado de ser em que toda a luta cessou. Esse estado de ser é criatividade, e não resulta de esforço.

Quando compreendemos o que é, ou seja, o vazio, a insuficiência interior, e vivemos com essa insuficiência e a compreendemos completamente, encontramos a realidade criativa — a inteligência criativa —, que, por si só, traz felicidade.

Assim, a ação, como a conhecemos na verdade é reação, uma transformação incessante, e isso é negação do que é. Mas quando há uma conscientização do vazio, sem condenação ou justificativa, com a compreensão do que é, então, sim, a ação é criatividade. Você compreenderá isso se estiver cônscio de si mesmo, quando em ação. Observe-se quando estiver agindo, veja a si mesmo não apenas externamente, mas  procure perceber também o movimento de seus pensamentos e sentimentos. Quando perceber esse movimento, verá que o processo do pensamento, que também é de sentimento e ação, baseia-se em uma ideia de transformação. Essa ideia surge apenas quando há um senso de insegurança, e esse senso vem quando se está cônscio do vazio interior. Se você estiver cônscio desse processo de pensamento e sentimento, verá que há uma batalha em constante andamento, um esforço para mudar, para altera o que é. Esse é o esforço de transformação, e transformação é evitar diretamente o que é. Por meio do autoconhecimento, da constante conscientização de si mesmo, você descobrirá que a luta pela transformação leva à dor, ao sofrimento e à ignorância. Só quando estiver cônscio de sua insuficiência interior e viver com ela, sem fugir, aceitando-a integralmente, é que você descobrirá uma maravilhosa tranquilidade, uma tranquilidade que não é fabricada, não construída, mas que vem com a compreensão do que é. E é só nesse estado de tranquilidade que pode haver existência criativa. 

Krishnamurti    

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A tríplice-benção: tédio, insatisfação e inconformismo

Nossa experiência tem demonstrado ser bastante natural que, nos primeiros contatos com a proposta de pensadores compulsivos, proposta esta alicerçada na experiência de seus membros quanto a observação e absorção do conteúdo dos textos de Jiddu Krishnamurti, uma enorme confusão se apresente quase que de imediato, parecendo ao mesmo tempo ser algo totalmente ilógico, mas que também traz em si, um toque de real teor provocante.

É natural ao recém chegado, não perceber mais do que palavras e frases sem nexo, por mais clara e simples que seja a forma como são expressas por nossos membros. Isso é muito natural, uma vez que, este tipo de palavras e frases, como por exemplo — "observador e coisa observada" — não são frases que fazem parte do script cotidiano, portanto, estando totalmente fora do arquivo de memórias, fora do fundo psicológico daquele que as ouve pela primeira vez.

Não raro, desse material, muitos nem sequer chegam a ler uma página inteira; passam seus olhos, de forma um tanto superficial, tendo diante deles as pesadas e preconceituosas lentes de suas crenças e convicções, muitas vezes rejeitando-as de imediato. Isso é muito natural pois, o próprio pensamento condicionado, se vê ali ameaçado e, mais do que depressa, trata de lançar rótulos, achismos que possam instalar a identificação com os mesmos, tendo como único objetivo, dispersar o estado de mente aberta, através do qual, uma mínima fresta de luz possa atravessar as grossas, estagnantes e torturantes camadas de seus silenciosos condicionamentos.

De fato, por maior que seja a resistência dos primeiros contatos, algo ali permanece; nunca mais somos os mesmos.

Como nos dizeres do finado educador, Huberto Rohden, isso assim ocorre, porque as partes não podem ser entendidas senão à luz do Todo — mas esse Todo ainda é invisível aos iniciantes; falta-lhes a visão panorâmica (holística), dentro do qual as partes e parcelas integrantes têm algum sentido e razão de ser, mas fora do qual tudo é obscuro, confuso e desconexo. É inevitável que isso assim aconteça em maior ou menor escala. Essa inicial falta de compreensão, não prova absolutamente que as pessoas não possuam capacidade necessária para fazer frente à esse novo paradigma; isso prova somente o quanto que a consciência que somos, encontra-se totalmente envolta por uma enorme rede de condicionamentos, formada pela excessiva exposição à uma cultura cuja boa parte de seus códigos morais, se apresentam como mecanismos separatistas, fragmentários, incentivando a formação de uma rede de imagens, signos, conceitos, crenças, dogmas e símbolos que de modo algum são capazes de propiciar o alcance daquilo que por séculos tentam simbolizar. Nossa experiência demonstra que, aqui, se faz necessária uma boa dose de paciência e persistência — talvez num grau nunca antes praticadas — um esforço para superar a barreira inicial criada pela mente condicionada, profundamente preguiçosa, avessa a qualquer inspiração que possa abalar sua estagnante zona de conforto. Uma vez superada essa dificuldade inicial, instala-se, a "consciência do observador", o qual nos brinda com uma nova visão aos antigos olhos que pensavam ver. Nossa experiência tem demonstrado que, quanto maior a intensidade do colapso psíquico sofrido, quanto maior a intensidade dos sentimentos de tédio, insatisfação e inconformismo diante dos padrões tidos como "normal", maior a intensidade da "Sede de Plenitude", da fome pela vivência daquilo que os grandes homens e mulheres que "deram certo", em seus legados, tentaram simbolizar como sendo um possível caminho para a prontificação de um estado de ser capaz de propiciar o terreno fértil para a potencialização de uma experiência que não pode ser traduzida pela limitação das palavras mas, que uma vez manifesta, faculta ao homem aquilo que estes antigos mestres chamaram de a verdadeira liberdade do espírito humano.

"... voltam atrás, com saudades das suas ideologias tradicionais, dos seus queridos ídolos de sempre, dos quais não podem ou não querem se divorciar, porque sentiriam esse divórcio como uma dolorosa dilaceração interior, como uma profunda hemorragia moral. Para muitos deles só lhes podemos repetir as palavras do grande filósofo e curador, Jesus: "Quem lança mão ao arado e olha para trás, não é idôneo para o Reino de Deus, que é o Reino da "Verdade que Liberta".

Uma vez atravessada a fronteira inicial, no estágio seguinte, dá-se início a um silencioso e quase que despercebido processo de descondicionamento das células cerebrais, com seus desgastados e desfuncionais arquivos repletos de ídolos, dogmas, cultos, fetiches tradicionais, tidos e havidos por intocáveis e até mesmo, sagrados. Em alguns casos, alguns principiantes se mostraram repentinamente aterrorizados diante do início da profunda mutação consciencial, que apesar de dolorosa e não nos causar dano, faz com que desistam de prosseguir nessa jornada iniciática, optando assim por recaírem para as antigas e estagnantes zonas de conforto, influenciados pela carga de suas memórias eufóricas ritualísticas. 

Ainda nas palavras de Huberto Rohden, "Convém que esses principiantes temerosos saibam que a verdadeira espiritualidade não destrói nenhum valor real da vida humana; pelo contrário, clarifica e consolida valores reais, embora deva eliminar muitos valores fictícios tidos por verdadeiros. É necessário que se realize essa impiedosa demolição ideológica, para que um edifício mais sólido e belo possa surgir, aos poucos em meio das ruínas. Não esqueça ele que não se demole por demolir, mas sim para construir. A demolição não é um fim, mas sim um meio para uma espécie de revolução. Toda evolução é precedida por uma espécie de revolução. Se nunca ninguém dissesse algo novo, nenhum progresso seria possível, e a humanidade marcaria passo, eternamente, no mesmo plano horizontal."

É possível que a busca afaste um principiante do seu Deus — mas não de Deus; esse seu Deus não passa, talvez, de um pseudo-Deus, que tem de ser destronado para que o Deus verdadeiro, o Deus da "Verdade que Liberta", possa tomar-lhe o lugar. O fim de toda verdadeira busca é construir a felicidade do homem sobre uma base inabalável, sobre a rocha da Verdade absoluta e incondicional que liberta o homem de todo processo divisor, o qual impede o manifestar e um estado de unidade interna capaz de propiciar um verdadeiro estado de bem estar comum e de paz de mente e coração. Para muitos, a verdadeira busca equivale a uma grande "catarse" — uma purgação, uma purificação, uma limpeza de conceitos, crenças e códigos morais, um efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança, até então reprimida que provoca o alívio), lentamente realizada; para outros, é como uma dolorosa intervenção cirúrgica nos tecidos íntimos da alma. A verdade é implacável, não negociável, não democrática, porém, amiga como o bisturi; por vezes, faz sangrar o coração, mas, depois, de removidos os elementos mórbidos do erro e da ilusão, entra o corajoso principiante sofredor numa rigorosa convalescença e começa a sentir as belezas e suavidades da verdadeira vida, muito mais intensa e conscientemente do que nunca antes. É que em última análise, só a experiência direta da verdade é que nos pode libertar e nos tornar solidamente felizes. Pensam muitos que a verdade seja rígida, áspera e amarga; dizem que o homem necessita de certa dose de ilusões para suavizar e embelezar a sua vida, que seria, aliás, insuportável. Engano fatal! A mais grave das verdade é infinitamente mais bela e consoladora do que a mais meiga das mentiras e ilusões tradicionais. A verdade é o único fator capaz de tornar o homem profundamente tranquilo, calmo e feliz. Quem vive de ilusões, embora se sinta feliz, está sempre às vésperas de novas infelicidades, porque faz depender sua "chamada felicidade" de algo que não depende dele — e isto é o inverso de toda autêntica espiritualidade. Vale pois, a pena passarmos por um período de confusão e um período de demolição, afim de reconstruirmos nossa vida, livre da confusão e dos perigos de novas demolições.

Texto inspirado na obra:
O Pensamento Filosófico da Antiguidade - Huberto Rohden - Ed. Martin Claret

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vocês estão cientes de que sua vida está desordenada?

Vocês estão cientes da rotina diária, a monotonia, o fastio de ir para o escritório? Estão cônscios das desavenças, das brutalidades, dos aborrecimentos e da violência, de tudo que é o resultado de uma cultura que é desordem total, que é sua vida? Vocês não conseguem escolher e retirar dessa desordem o que pensam ser ordem. Estão cientes de que sua vida está desordenada, e se vocês não tiverem o interesse, a paixão, a intensidade, a chama para encontrar a ordem, então, escolherão e retirarão o que acham que é ordem para fora dessa desordem. Podem observar a si mesmos com grande honestidade, sem nenhum senso de hipocrisia ou subterfúgio, sabem por si próprios que sua vida é desordenada, e podem colocar tudo de lado para encontrar o que é a ordem. Sabem, colocar de lado a desordem não é assim tão difícil; nós a dramatizamos, sobrestimamos. Porém, quando veem algo muito perigoso, um precipício, um animal selvagem, ou um homem com uma arma, vocês o evitam instantaneamente, não é? Não há nenhum questionamento, nenhuma hesitação, há ação imediata. Da mesma forma, quando você vê o perigo da desordem, há ação instantânea que é a negação total da inteira cultura que gerou a desordem, que é você próprio.

Krishnamurti. The Awakening of Intelligence, pp 313-314

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O descontentamento é o portal do despertamento do Real

As crianças, em geral, são curiosas, querem saber; nós, porém, lhes embotamos o espírito de investigação com nossas asserções pontificais, nossa impaciência superior, e o modo indiferente por que nos livrarmos de sua curiosidade. Não encorajamos as indagações das crianças porque temos certa apreensão relativamente ao que elas possam perguntar; não lhes favorecemos o descontentamento, porque nós mesmos já desistimos de objetar.

A maioria dos pais e mestres teme o descontentamento, porque traz perturbações a todas as formas de segurança; por isso induzem os jovens a sufocá-lo, com empregos seguros, heranças, casamento, e a consolação de dogmas religiosos. Os mais velhos, que infelizmente conhecem muito bem todos os métodos de embotar a mente e o coração, procuram tornar a criança tão embotada quanto eles próprios, inculcando-lhe o respeito às autoridades, às tradições e às crenças que eles próprios aceitaram.

Só estimulando a criança a duvidar do livro, não importa qual seja, a examinar a validade dos vigentes valores sociais, tradições, formas de governo, crenças religiosas, etc., podem, o educador e os pais, ter esperança de despertar e manter vivo, nela, o senso crítico e o discernimento penetrante.

Os jovens verdadeiramente despertos mostram-se cheios de esperança e de descontentamento; assim devem ser, porque do contrário já estão velhos e mortos. E os velhos são os descontentes de outrora que lograram sufocar essa chama e encontrar, de várias maneiras, a segurança e o conforto. Anseiam pela permanência de si próprios e de suas famílias, desejam ardentemente a certeza, nas ideias, nas relações, nas posses; e, no instante em que sentem descontentamento, absorvem-se nas responsabilidades, nas ocupações ou no que quer que seja, para fugir ao incômodo sentimento de insatisfação.

A juventude é a época própria para o descontentamento, não só com nós mesmos mas também com as coisas que nos cercam. Deveríamos aprender a pensar com clareza e sem preconceitos, para não sermos interiormente dependentes e tímidos. A independência não foi feita para aquela seção colorida do mapa a que chamamos nossa pátria, mas para nós mesmos como indivíduos; e embora exteriormente dependamos uns dos outros; essa dependência mútua não se torna nem cruel nem opressiva, se interiormente estamos livres da ânsia de poder, posição, e autoridade.

Devemos compreender o descontentamento, temido pela maioria dentre nós. O descontentamento pode gerar uma confusão aparente; mas, se conduzir, como necessariamente deve conduzir, ao autoconhecimento e à negação do eu, há de criar uma nova ordem social e uma paz duradoura. Com a negação do “eu” vem um jubilo imenso.

O descontentamento é o caminho que leva à liberdade; mas, para podermos investigar seus preceitos, não podemos manifestar efusões emocionais, dessas que muitas vezes se traduzem em comícios políticos, proclamações de “slogans”, busca de “guru” ou instrutor espiritual, e extravagâncias religiosas de toda ordem. Tais efusões embotam a mente e o coração, tornando-os incapazes de discernimento e, por conseguinte facilmente moldáveis pelas circunstâncias e pelo temor. É o desejo ardente de investigar, e não a fácil imitação da turba que trará uma nova compreensão das coisas da vida.

Os jovens deixam-se muito facilmente persuadir, pelo sacerdote, pelo político, pelo rico ou pelo pobre, a pensar de determinada maneira; mas a educação correta deve ajudá-los a estar vigilantes contra essas influências para que não se ponham a repetir “slogans” como papagaios, ou venham cair em armadilhas habilmente dissimuladas da avidez, deles próprios ou de outrem. Não devem permitir que a autoridade lhe fofoque a mente e o coração. Seguir outra pessoa, por maior que seja, aderir a uma ideologia agradável não produzirá jamais um mundo pacífico.  

Quando deixamos a escola ou o colégio, muitos de nós abandonamos os livros, parecendo pensar que nada mais têm para aprender; outros sentem-se estimulados a ir mais longe e continuam a ler e a absorver o que os outros disseram, tornando-se devotos do saber. Enquanto houver devoção ao saber ou à técnica, como meio de sucesso ou de domínio, haverá competição impiedosa, antagonismo e a crescente luta pelo pão.

Enquanto o sucesso for o nosso alvo, não nos livraremos do temor, porque o desejo de sucesso gera inevitavelmente o medo de insucesso. Eis porque não se deve ensinar aos jovens idolatrar o sucesso. A maioria das pessoas procura o sucesso sob uma ou outra forma, seja no campo de tênis, seja no mundo comercial, seja na política. Todos queremos estar por cima e este desejo cria constante conflito dentro de nós mesmos e com o nosso próximo; leva à competição, à inveja, à animosidade e, por último, à guerra.

Como a velha geração, procuram também os jovens o sucesso e a segurança; embora no começo descontentes, não tardam a tornar-se pessoas respeitáveis, que não ousam dizer não à sociedade. As muralhas de seus próprios desejos começa a fechar-se em torno deles, e eles entram em forma e tomam nas mãos as rédeas da autoridade. Seu descontentamento, que é a própria chama da investigação, da busca, da compreensão, vai-se amortecendo, até extinguir-se de todo, e seu lugar é ocupado pelo desejo de um emprego melhor, um casamento rico, uma carreira triunfal — tudo isso expressões da ânsia de maior segurança.

Não há diferença essencial entre os velhos e os moços, porque tanto uns como outros são escravos dos seus próprios desejos e prazeres. A madureza nada tem que ver com a idade; ela vem com a compreensão. O ardente espírito de investigação é talvez mais fácil para os jovens, porque os mais velhos já foram muito fustigados pela vida, os conflitos os cansaram, e a morte, sob diferentes formas, os espreita. Isso não significa que eles sejam incapazes de resoluta investigação, apenas, é mais difícil para eles.

Muitos adultos são imaturos e um pouco infantis; esta é uma das causas que contribuem para a confusão e a miséria reinantes no mundo. São os mais velhos os responsáveis pela atual crise econômica e moral; e, uma das nossas deploráveis fraquezas é desejar que alguém atue por nós e modifique o curso de nossas vidas. Esperamos que outros se revoltem e reconstruam, enquanto permanecemos inativos, até que estejamos certos dos resultados.

É atrás da segurança e do sucesso que andamos, quase todos nós; a mente que busca segurança, que aspira ao sucesso, não é inteligente e, por conseguinte, é incapaz da ação integrada. Só pode haver ação integrada se estamos bem cônscios de nosso próprio condicionamento, de nossos preconceitos raciais, nacionais, políticos e religiosos; isto é, se percebemos que as atividades do “eu” são sempre separativas.

(...) Educar uma criança é ajudá-la a compreender a liberdade e a integração. Para se ter liberdade é preciso ordem, a qual só a virtude pode dar; e a integração só é possível quando há grande simplicidade. Das nossas inumeráveis complexidades devemos amadurecer para a simplicidade — tornar-nos simples, em nossa vida interior e em nossa necessidades exteriores.

A educação atual está toda interessada na eficiência exterior, desprezando inteiramente ou pervertendo, com deliberação, a natureza intrínseca do homem; só cuida de desenvolver uma parte dele, deixando que o resto se arraste como possa. Nossa confusão, antagonismo e temor, interiores, acabam sempre por subverter a estrutura exterior da sociedade, por melhor que ela tenha sido concebida e por mais habilmente que se tenha edificado. Quando não há educação correta, destruímo-nos uns aos outros, e é-nos negada a segurança física. Educar o estudante corretamente é ajudá-lo a compreender a compreender o processo total de si mesmo; porque só quando há integração da mente e do coração, na ação diária, é que pode haver inteligência e transformação interior.

Ao mesmo tempo que ministra conhecimentos e preparo técnico, a educação deve, sobretudo, estimular uma visão integrada da vida; deve ajudar o estudante a reconhecer e quebrar, em si próprio, todas as distinções e preconceitos, e demovê-lo da ávida busca de poder e prestígio. Deve incentivar a correta auto-observação e o experimentar da vida como um todo, quer dizer, não atribuir significação à parte, ao “eu” e ao “meu”, mas, sim, ajudar a mente a transcender a si própria, para descobrir o real... Quando há autoconhecimento, extingue-se a capacidade de criar ilusões e só então é possível manifestar-se a realidade ou Deus.

Krishnamurti — A educação e o significado da vida

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre o tédio e o interesse

            PERGUNTA: Não tenho interesse por coisa alguma, mas a maioria das pessoas está sempre ocupada em numerosos interesses. Não preciso trabalhar, portanto não trabalho. Devo emprender algum trabalho útil?

            KRISHNAMURTI: Tornar-vos um obreiro social, ou um obreiro político, ou um obreiro religioso — não é isso? Como não tendes mais o que fazer, vos tomais reformador! Se nada tendes que fazer, se estais enfadado, por que não ficais enfadado? Por que não ficar assim? Se sentis tristeza, ficai triste. Não procureis uma saída, porque o fato de estardes enfadado tem imensa significação, se fordes capaz de o compreender, de viver com ele. Se dizeis: “Sinto tédio, e, por isso, farei qualquer outra coisa”, estais apenas procurando fugir ao tédio e, como a maioria de nossas atividades são fugas, causais muito mais malefício, socialmente e a todos os outros respeitos. É muito maior o malefício, quando fugis ao fato, do que quando permaneceis com ele. A dificuldade consiste em como permanecer com o fato, sem fugir dele. Visto que a maioria de nossas atividades constituem um processo de fuga, é dificílimo desistirmos de fugir e encararmos o fato. Por conseguinte, folgo muito em saber que vos sentis verdadeiramente enfadado, e digo-vos: “Alto! Fiquemos aqui; vamos ver o que é isto. Por que fazer alguma coisa?”
            Se estais enfadado, por que estais enfadado? Que coisa é essa que se chama tédio? Por que não tendes interesse por coisa alguma? Há de haver razões e causas que vos embotaram: sofrimentos, fugas, crenças, atividades incessantes vos embotaram a mente e tornaram inflexível o vosso coração. Se pudésseis descobrir por que tendes tédio, por que não sentis interesse por coisa alguma, então, por certo, resolveríeis o problema, não é verdade? O interesse despertado, passaria a funcionar. Se não vos interessa saber a razão por que estais enfadado, não podeis forçar-vos a sentir interesse por uma atividade, só para fazer alguma coisa, como um esquilo que dá voltas na gaiola. Sei que é esta a espécie de atividade a que se entrega a maioria de nós. Mas podemos descobrir, interiormente, psicologicamente a razão por que nos achamos neste estado extremo de tédio; pode-se ver por que a maioria de nós se acha neste estado: estamos esgotados, emocional e mentalmente; temos tentado tantas coisas, tantas sensações, tantos divertimentos, tantas experiências, que nos tornamos embotados, cansados. Aderimos a um grupo, fazemos tudo o que se nos prescreve, e depois o deixamos; passamos a outra coisa, para experimentar. Se não obtemos resultados com um psicólogo, procuramos outra pessoa ou um sacerdote e, se de novo somos mal sucedidos, passamos a outro instrutor, e assim por diante; estamos sempre em movimento. Esse processo de constante tensão e relaxamento é exaustivo, não achais? Como todas as sensações, não tarda a embotar a mente.
            Temos feito isso, passado de sensação para sensação, de excitação para excitação, até chegarmos a um ponto em que nos vemos verdadeiramente exaustos. Agora, percebendo isso, não empreendais mais nada; descansai! Ficai quieto! Deixai a mente ganhar forças por si mesma; não a forceis. Assim como o solo se renova durante o inverno, assim também, quando deixamos a mente em repouso, ela se renova. É muito difícil, porém, deixar a mente em repouso, dar-lhe folga, depois de tudo isso, porque a mente quer estar sempre fazendo alguma coisa. Quando atingís o ponto em que realmente vos permitís ser exatamente como sois — enfadado, feio, repelente, ou o que for — então há possibilidade de fazer alguma coisa com relação ao fato.
            Que acontece quando aceitais uma coisa, quando aceitais aquilo que sois realmente? Quando admítis que sois o que sois, que é do problema? Só há problema quando não aceitamos uma coisa tal como é e desejamos transformá-la — o que não significa que eu esteja advogando a resignação, a conformidade. Ao contrário, se aceitamos o que somos, vemos então que a coisa que nos fazia medo, a coisa a que chamávamos tédio, a coisa a que chamávamos desespero, a coisa a que chamávamos medo, passou por completa transformação, Há uma transformação completa da coisa que temíamos.
            Eis por que é importante, como disse, que compreendamos o processo, as maneiras do nosso pensar. O autoconhecimento não pode ser aprendido de outra pessoa, aprendido de um livro, de um credo, de uma psicologia, ou de um psicanalista. Ele tem de ser achado por vós mesmos, porque ele é vossa vida. Não ampliando e aprofundando esse conhecimento do ‘eu”, podeis fazer o que quiserdes, alterar quaisquer circunstâncias ou influências exteriores ou interiores haverá sempre o campo de cultura do desespero, da dor e do sofrimento. Para transcender as atividades egocêntricas da mente, deveis compreendê-las. E compreendê-las, é estar cônscio da ação nas relações, nas relações com coisas, com pessoas e com idéias. Nessas relações, que são o espelho, começamos a ver-nos a nós mesmos, sem nenhuma justificação ou censura e desse conhecimento mais amplo e mais profundo das tendências da nossa mente, podemos avançar mais além, sendo então possível estar a mente quieta, receber o real.

Krishnamurti – A Primeira e Última Liberdade

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill