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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Krishnamurti - O Amor está no aniquilamento do conhecido

               O trem para Florença desenvolvia uma velocidade de 150 quilômetros horários. Aquela paisagem nos era familiar: as cidades sobre as encostas dos morros, o lago, a oliveira, o cipreste e a estrada paralela à linha do trem. A terra recebia contente a chuva que caía depois de um longo período de seca, tornando os rios caudalosos e barrentos e reanimando a vegetação. O trem seguia por entre os vales, causando estardalhaço nos cruzamentos e, sempre que reduzia a marcha, os trabalhadores do local acenavam aos passageiros. Manhã agradável e fria, em que o outono tingia as folhas de ocre e amarelo; os camponeses aravam fundo a terra para a semeadura do inverno, e era acolhedora a visão dos morros centenários de pouca altura. Assim que o trem retomou a velocidade habitual, seus condutores nos saudaram, convidando-nos a visitar sua cabine, pois nos conheciam das anteriores viagens. Esse convite fora feito pouco antes da partida do trem e, agora, sua atitude era tão afável e acolhedora quanto a dos rios e dos montes. De sua cabine tinha-se uma visão completa da paisagem, que parecia à espera do costumeiro apito do trem. O sol iluminava alguns dos montes e a superfície da terra parecia sorrir. Rumo ao norte, o céu clareava, contrastando com o delicado esplendor do cipreste e da oliveira. A terra, como sempre, estava bela.
               A noite já ia alta quando a meditação invadia os espaços do cérebro. Ela não significava conflito, a luta entre o que é e o que deveria ser; livre do controle, movimento algum perturbava aquela aquele estado. A contradição entre o pensador e o pensamento estava ausente, pois nenhum dos dois existia. Restava apenas o ver, sem o observador, cuja ação brotava do inexplicável vazio. A relação entre causa e efeito conduz à inatividade, isso que em regra denominamos ação.
Estranha coisa o amor, que se tornou tão respeitável: o amor a deus, o amor ao semelhante, o amor à família. Primorosamente demarcado como sacro e profano, como dever e responsabilidade, como disciplina e sacrifício, tanto os padres como os generais, ao planejarem as guerras, invocam o amor. Os políticos e as donas-de-casa sempre se queixam dele. O ciúme e a inveja alimentam o amor, que serve de prisão a toda forma de relacionamento. Ele está nas telas dos cinemas, nas páginas das revistas, e cada estação de rádio e televisão o apregoa. Ao findar o objetivo do amor, surge a foto emoldurada na parede, ou a imagem cultivada pela memória ou pela crença. Esses valores passam de geração a geração, sem que o sofrimento tenha fim.
A continuidade do amor resulta no prazer, sempre acompanhado da aflição; apegados ao prazer, lutamos para nos desvencilhar da dor. Através da continuidade se busca a permanência e a certeza nas relações.
Ao evitar-se qualquer mudança nas relações, fica-se enredado na sensação opressiva da segurança e na agonia do hábito. E, tachando de amor esse fluxo incessante de prazer e dor, tornamos-nos prisioneiros daquela obsessão. Para escapar ao tédio buscamos refúgio na religião e no romantismo, variável de acordo com as pessoas, que, em verdade, é uma fuga eficaz perante o fato do prazer e da dor. Sem esquecer, é claro, deus, o maior apelo e a derradeira esperança da humanidade, e o qual se tornou tão respeitável e lucrativo.
Nada disso é amor. Não há continuidade no amor; ao contrário da memória, ele ignora o amanhã ou o futuro. As recordações nascem das cinzas do passado, mas o amor é livre do jugo do tempo e desconhece a promessa, a esperança e ou o desespero. O cérebro não pode conceber o amor, pois este não pertence a nenhuma crença, símbolo ou sentimento. De sua eterna morte e ressurreição advém a destruição definitiva, o aniquilamento do conhecido, os quais são o próprio amor.

Krishnamurti - 04 de outubro de 1961
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill