Pergunta: Por favor seja franco. Podemos conhecer a verdade tal como a conhece, parar de explorar, e ainda continuar com o negócio, ou sugere que o vendámos? Poderia entrar para o comércio e permanecer tal como é?
Krishnamurti: Senhor, por favor, não estou a esquivar-me do problema. Serei perfeitamente franco. Tal como o sistema está organizado, a menos que se retirem para uma ilha deserta onde cozinhem e façam tudo sozinhos, tem que haver exploração. Não é assim? É óbvio. Enquanto o sistema estiver baseado na competição individual, na segurança, na possessividade, como seus alicerces, tem que haver exploração. Mas não se podem libertar desses alicerces porque não têm medo, porque descobriram quais são as vossas necessidades essenciais, porque são ricos em vocês mesmos? Assim, embora permaneçam no negócio, descobrem que as vossas necessidades são muito poucas; ao passo que, se houver pobreza de mente e coração, as vossas necessidades tornam-se colossais. Mas de novo, a menos que se seja realmente honesto, absolutamente franco, e não se engane subtilmente a si próprio, o que eu disse pode ser usado para explorar mais. Não me importaria pessoalmente de entrar para o negócio, mas para mim não teria valor, porque não tenho necessidade de entrar para o negócio. Por isso, de que adiantaria falar teoricamente? Não que tenha dinheiro; mas faria qualquer coisa razoável, sensata, porque as minhas necessidades são muito poucas, e não tenho medo de ser destruído. É quando há o medo de perder – o medo da perda de segurança, preservação – que lutamos. Mas se estiverem preparados para perder tudo porque nada têm – bem, não há exploração. Isto soa ridículo, absurdo, selvagem, primitivo, mas se realmente pensarem nisso sensatamente, se lhe concederem alguns minutos do vosso pensamento criativo, verão que não é tão absurdo quanto isso. É o selvagem quem está continuamente às ordens das suas necessidades, não o homem de inteligência. Ele não se apega às coisas, porque interiormente ele é extremamente rico; por isso as suas necessidades externas são muito poucas. Sem dúvida que podemos organizar uma sociedade que se baseie em necessidades, não nesta exploração através da publicidade. Espero ter respondido à sua pergunta, senhor.
Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.
Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.