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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Qual é a verdadeira vocação do homem?

[...] PERGUNTA: Podeis dizer-nos o que entendeis pelas palavras “nossa vocação”? Parece-me que entendeis coisa diferente da significação comum das palavras.
Krishnamurti: cada um de nós segue uma dada vocação — o advogado, o militar, o policial, o negociante, etc. É bem óbvio que há certas profissões prejudiciais à sociedade: o advogado, o militar, o policial, o negociante que não cuida de tornar outros homens igualmente ricos.
Quando desejamos, quando escolhemos uma dada vocação, quando estamos educando os filhos para seguirem uma determinada profissão, não estamos criando um conflito com a sociedade? Escolheis uma profissão, e eu escolha outra; e isso não faz nascer conflito entre nós dois? Não é isso o que está acontecendo no mundo, visto que nunca pudemos achar a nossa verdadeira vocação? Estamos apenas sendo condicionados pela sociedade, por uma determinada civilização, a aceitar certas profissões, que geram competição e ódios entre os homens. Sabemos disso, estamo-lo vendo.
Ora, existe alguma outra maneira de viver, em que vós e eu possamos exercer as nossas verdadeiras vocações? Não existe uma vocação única para o homem? Tende a bondade de prestar atenção, Senhores. Há vocações diferentes para o homem? Vemos que há: um é funcionário de escritório, outro engraxate; um é engenheiro, outro político. Vemos que há inúmeras variedades de profissões e que todas elas estão em conflito entre si. Assim, pois, por causa da sua vocação o homem está em conflito com o homem, o homem odeia o homem. Sabemos disso. São-nos familiares esses fatos da vida, de cada dia. Pois bem, vejamos se não existe uma só vocação para o homem. Se pudermos descobri-la, então a expressão de diferentes capacidades não produzirá conflito entre os homens. Eu afirmo existir apenas uma vocação para o homem. Uma só, e não muitas. A vocação do única do homem é a de descobrir o que é o Real. Senhores, não vos mostreis espantados; isto não é uma asserção mística.
Se estamos, vós e eu, aplicados a descobrir o que é a Verdade, o que constitui a nossa verdadeira vocação, então, nessa busca, não haverá competição entre nós. Não competirei convosco, não lutarei contra vós, ainda que expresseis essa verdade de maneira diversa. Podeis ser Primeiro Ministro, mas eu não serei ambicioso e não desejarei tomar-vos o posto, porque estou buscando, do mesmo modo que vós, a Verdade. Por conseguinte, enquanto não descobrirmos aquela verdadeira vocação do homem, estaremos necessariamente em competição uns com os outros, e haveremos de odiar-nos mutuamente; e, sejam quais forem as leis que promulgardes, nesse nível só podeis produzir mais caos.
Não é possível, pois, desde a infância, mediante educação adequada, ministrada por verdadeiros educadores, ajudar o jovem, o estudante, a ser livre, para descobrir o que é a Verdade, a Verdade relativa a todas as coisas, e não simplesmente a Verdade em abstrato; descobrir a Verdade existente em todas as relações — a relação do jovem com a máquina, com a natureza, com o dinheiro, com a sociedade, o governo, etc.? Requer isso, não achais, — uma outra espécie de preceptores, cujo interesse seja o de ajudar o jovem, o estudante, dando-lhe liberdade, para que seja capaz de descobrir a maneira de cultivar uma inteligência nunca suscetível de ser condicionada por uma sociedade em perene decomposição.
Não existe, pois, uma vocação para o homem? O homem não pode existir no isolamento; ele só existe em relação. E quando, nessas relações, não há o descobrimento da Verdade respeitante ao estado de relação, há então conflito.
Há tão-somente uma vocação para vós e para mim. E na busca dessa vocação encontraremos a expressão em que não entraremos em conflito um com o outro, em que não nos destruiremos mutuamente. Mas tudo deve começar, sem dúvida, pela educação correta, ministrada por educador adequado. O educador também necessita de educação. Fundamentalmente, o verdadeiro preceptor não é meramente um homem que transmite conhecimentos, mas aquele que faz nascer no estudante a liberdade, a revolta que o habilitará a descobrir o que é a Verdade.


Krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nosso sistema de pensamento e de ação gera exploração

Pergunta: Afirma-se aqui que só uma ou duas pessoas no mundo podem ter esperança em compreender a importância da sua mensagem. Por isso o ensinamento secundário da Teosofia moderna é necessário como substituto para a salvação do mundo. O que tem a dizer?

Krishnamurti: Senhor, em primeiro lugar tem que descobrir o que tenho a dizer antes de dizer que é impossível. É isto o que quero dizer. Todo o nosso sistema de pensamento e de ação e de vida está baseado no engrandecimento e no crescimento individuais à custa de outros. Isso é um fato, não é? E enquanto esse fato existir no mundo tem que haver sofrimento, tem que haver exploração, tem que haver divisão de classes; e nenhuma forma de religião pode ocasionar a paz, porque elas são a própria criação das ânsias humanas, são meios de exploração. Essa realidade viva, que eu afirmo que existe – chamem-lhe Deus, verdade, ou qualquer outro nome que quiserem – essa inteligência suprema que eu afirmo que existe, que eu afirmo ter compreendido, só pode ser encontrada através da ausência dos obstáculos que criaram através da procura de segurança e conforto, a seguranças das religiões e essa segurança artificial da possessividade.

Certamente, compreender o que estou a dizer não é muito difícil. A dificuldade reside em pôr em ação o que digo. Agora, pôr em ação o que digo não precisa de coragem, mas antes de compreensão. A maior parte de nós está à espera que o mundo mude, mais do que a começar a mudarmo-nos a nós próprios. Estamos à espera que o sistema mundial altere esta atitude em relação à possessividade, e não estamos a tentar descobrir se podemos, como indivíduos, estar realmente livres da possessividade. Para compreender isto, esta ausência de possessividade, temos que descobrir inteligentemente quais são as nossas necessidades. Sabem, quando tiverem descoberto quais são as vossas necessidades, então não serão possessivos. Cada homem conhecerá as suas necessidades, muito claramente, muito simplesmente, se abordar a questão inteligentemente; mas não pode haver a descoberta de quais são as suas necessidades enquanto a mente estiver presa na possessividade, na ganância e na exploração. Portanto, quando descobrem quais são as vossas necessidades, não se estão a comprometer com as vossas necessidades e com as condições do mundo que se baseiam na possessividade. Espero estar a esclarecer isto.

O que quero dizer é que não pode haver relações humanas, vitais, nem viver com alegria na plenitude da vida no presente – que para mim é a única eternidade – enquanto a mente e o coração estiverem estropiados através do medo; e para dominar esse medo criamos inúmeros obstáculos, tais como as religiões, as crenças, a possessividade, as seguranças. Por esse motivo, como indivíduos, estamos continuamente a conferir sofrimento, continuamente a aumentar a luta, o caos do mundo. É certamente muito simples, se vierem a pensar nisso.

Se realmente quiserem descobrir o que estou a dizer, por favor examinem uma das ideias que exponho e ponham-na em ação; então verão que ela se torna prática, não vaga, teórica, impossível de compreender. Então não quererão nenhum ensinamento secundário.

Sabem, esta ideia de que as pessoas não compreendem, e por isso têm que lhes dar algo que compreendam, é realmente uma maneira habilidosa de exploração. É a atitude da classe capitalista. É a atitude do homem que tem muitas posses. Isto é, ele quer nutrir o mundo, guiar o mundo, guiar os outros homens; ao passo que eu desejo despertar o outro homem para que ele aja por si. Se eu os puder despertar para a vossa própria força, para a vossa própria compreensão, para a vossa própria responsabilidade, para a vossa própria ação, então destruirei a diferença de classes. Então não os mantenho na creche para serem explorados como uma criança por alguém que se supõe saber mais. É essa a atitude integral das religiões, que nunca possam descobrir o que é a verdade – só uma ou duas pessoas descobrem – por isso deixem-me, como mediador, ajudá-los; por consequência torno-me um explorador. É esse todo o processo da religião. É um meio hábil de explorar, sendo implacável em manter as pessoas sob domínio, tal como a classe capitalista o faz exatamente da mesma maneira – uma classe por meios espirituais, a outra por meios mundanos. Mas se examinarem isso, ambas são explorações implacáveis. (Ouçam! Ouçam!) Senhores, por favor não se incomodem em dizer “ouçam, ouçam.” O que é importante é agir, não concordar comigo intelectualmente. Isso não tem valor. A concordância só pode ter lugar na ação. Quando dizem “ouçam, ouçam”, isso significa que têm que resistir contra a sociedade, contra os vossos vizinhos, contra a vossa família, contra tudo o que essa sociedade edificou durante gerações. Isso requer grande percepção, não coragem, não esta atitude heroica perante a vida, mas percepção, elevada e direta, do que é a verdade.

Ora, para mim, a vida não é para ser uma escola. A vida não é algo de que aprendem, é para ser vivida – para ser vivida supremamente, inteligentemente e divinamente. Ao passo que, se fizerem dela um constante campo da batalha, de luta, de esforço contínuo, então a vida torna-se hedionda; e fizeram-na assim porque todo o vosso pensamento é auto-crescimento, auto-expansão, auto-engrandecimento, e enquanto isso existir, a vida torna-se numa luta hedionda.

Portanto isso é o que eu quero dizer. Certamente que isso é muito facilmente compreendido. Facilmente compreendido em certo sentido. Não se pode alcançar todo o seu significado de imediato. Pode-se ver em que direção reside, e para mudar a própria atitude tem que haver grande aflição, não contentamento, um grande conflito ardente que os force a descobrir; e Deus sabe que temos conflitos durante todo o dia, mas treinamos a nossa mente para ser astuta, e portanto para passar ao de leve por estes conflitos, fugir-lhes. Por isso podemos ter conflito após conflito, problema atrás de problema. A nossa mente aprendeu a ser engenhosa, e por isso a evadir-se.

Jiddu Krishnmaurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

Eu não quero ajudar o mundo: Isso é serviço

Pergunta: Alguns dos meus amigos notaram que embora achem os seus ditos intensamente interessantes, preferem o serviço a demasiada reflexão sobre as questões da verdade. Quais são as suas observações sobre esta opinião?

Krishnamurti: Senhor, o que quer dizer com serviço? Toda a gente quer ajudar. É esse o grito daquelas pessoas que pensam que estão a servir o mundo. Estão sempre a falar sobre ajudar o mundo, especialmente aquelas pessoas que pertencem a seitas. É a sua forma particular de doença, porque pensam que fazendo alguma coisa, não importa o quê, vão ajudar, que servindo as pessoas ajudarão. Quem pode dizer o que é o serviço? Um homem que pertence ao exército, preparado para matar o bárbaro que entre no seu país, diz que está a servir o país. O homem que mata, o carniceiro, diz que está a servir a comunidade. O explorador que tem os meios de produção nas mãos, monopolizados, diz que está a servir a comunidade. O homem que explora as crenças, o sacerdote, diz que está a servir o país, a comunidade. A quem cabe decidir?

Ou então olhemos a questão de uma forma bastante diferente. Acham que uma flor, uma rosa, está sempre a ter em consideração de que está a servir a humanidade, que está a ajudar o mundo pela sua existência porque é bonita? Pelo contrário, porque é bonita, extremamente bela, inconsciente da sua magnificência, é que está a ajudar. Não como um homem que anda de um lado para o outro a gritar que está a servir o mundo. Isto é, cada um quer usar os seus meios, ou as suas ideias, para explorar o mundo, não para libertar o mundo. Pessoalmente, se não me interpretarem mal, esse não é de modo nenhum o meu ponto de vista. Eu não quero ajudar o mundo, como vocês lhe chamariam. Eu não posso ajudar, isso acontece naturalmente. Isso é serviço. Não desejo fazer com que os outros se aproximem da minha forma específica de crença ou pedir-lhes que venham para a minha gaiola particular de pensamento, porque eu afirmo que ter uma crença é uma limitação.

Para servir realmente, tem que se ser extremamente livre da consciência limitada a que chamamos o “eu”, o ego, a consciência egocêntrica; e enquanto isso existir, não estão realmente a servir o mundo. A menos que realmente pensem, não podem descobrir se estão verdadeiramente a ajudar o mundo. Portanto não consideremos em primeiro lugar se estamos a ajudar o mundo, mas antes descubramos se temos a capacidade de pensar e de sentir. Para pensar realmente, a mente não pode estar amarrada a uma crença. Isso é muito simples, não é? Para realmente pensar profundamente, francamente, completamente, a vossa mente não deve estar limitada pelo preconceito ou restringida a uma determinada crença, ou pelo medo, ou por ideias preconcebidas. Para pensar, a mente deve começar outra vez, de novo, e não com um pano de fundo de tradição. Afinal, a tradição só é valiosa quando os ajuda a pensar, não quando os subjuga pelo seu peso.

Deixem-me colocar a questão de maneira diferente. Todos queremos ajudar. Quando vêem sofrimento no mundo há um intenso desejo de ajudar; mas para ajudar verdadeiramente as pessoas têm que ir à causa fundamental das coisas. Têm que descobrir a causa do sofrimento, e só o podem fazer se houver reflexão profunda. E esta reflexão não é mero prazer intelectual, mas só pode ter lugar, esta reflexão, na ação.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

A pobreza de mente e coração, tornam colossais as necessidades

Pergunta: Por favor seja franco. Podemos conhecer a verdade tal como a conhece, parar de explorar, e ainda continuar com o negócio, ou sugere que o vendámos? Poderia entrar para o comércio e permanecer tal como é?

Krishnamurti: Senhor, por favor, não estou a esquivar-me do problema. Serei perfeitamente franco. Tal como o sistema está organizado, a menos que se retirem para uma ilha deserta onde cozinhem e façam tudo sozinhos, tem que haver exploração. Não é assim? É óbvio. Enquanto o sistema estiver baseado na competição individual, na segurança, na possessividade, como seus alicerces, tem que haver exploração. Mas não se podem libertar desses alicerces porque não têm medo, porque descobriram quais são as vossas necessidades essenciais, porque são ricos em vocês mesmos? Assim, embora permaneçam no negócio, descobrem que as vossas necessidades são muito poucas; ao passo que, se houver pobreza de mente e coração, as vossas necessidades tornam-se colossais. Mas de novo, a menos que se seja realmente honesto, absolutamente franco, e não se engane subtilmente a si próprio, o que eu disse pode ser usado para explorar mais. Não me importaria pessoalmente de entrar para o negócio, mas para mim não teria valor, porque não tenho necessidade de entrar para o negócio. Por isso, de que adiantaria falar teoricamente? Não que tenha dinheiro; mas faria qualquer coisa razoável, sensata, porque as minhas necessidades são muito poucas, e não tenho medo de ser destruído. É quando há o medo de perder – o medo da perda de segurança, preservação – que lutamos. Mas se estiverem preparados para perder tudo porque nada têm – bem, não há exploração. Isto soa ridículo, absurdo, selvagem, primitivo, mas se realmente pensarem nisso sensatamente, se lhe concederem alguns minutos do vosso pensamento criativo, verão que não é tão absurdo quanto isso. É o selvagem quem está continuamente às ordens das suas necessidades, não o homem de inteligência. Ele não se apega às coisas, porque interiormente ele é extremamente rico; por isso as suas necessidades externas são muito poucas. Sem dúvida que podemos organizar uma sociedade que se baseie em necessidades, não nesta exploração através da publicidade. Espero ter respondido à sua pergunta, senhor.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Como implicar-nos na totalidade da vida e não apenas numa das suas partes?

(...) O que irá acontecer a todos nós, jovens e velhos — que iremos fazer das nossas vidas? Deixaremo-nos absorver por esta voragem da respeitabilidade convencional, com a sua moralidade social e econômica, tornaremo-nos parte da chamada sociedade culta, com todos os seus problemas, a sua confusão e suas contradições? Ou iremos fazer da nossa vida uma coisa inteiramente diferente? este é o problema que está perante a maior parte das pessoas.

Somos educados, não para compreender a vida como um todo, mas para desempenhar um papel particular nesta totalidade que é a existência. Estamos pesadamente condicionados desde a infância para "alcançar" alguma coisa nesta sociedade, para ter sucesso e para nos tornarmos burgueses completos. O intelectual sensível geralmente revolta-se contra um tal padrão de existência. Na sua revolta pode fazer várias coisas: ou se torna anti-social e contra a política, toma drogas e vai atrás de qualquer crença religiosa, estreita e sectária, ou se torna um ativista, um comunista (por exemplo), ou ainda, dá-se inteiramente a alguma religião exótica como o budismo ou o hinduísmo. E tornando-nos sociólogos, cientistas, artistas, escritores, ou, se estivermos capacitados para isso, filósofos, fechamo-nos num círculo e pensamos ter resolvido o problema. Imaginamos então ter compreendido a totalidade da existência e ditamos aos outros o que deveria ser a vida, de acordo com a nossa tendência particular, a nossa idiossincrasia, e segundo o ângulo do nosso conhecimento especializado. 

Quando observamos o que é a vida com a sua enorme complexidade e confusão, não apenas nas esferas econômica e social, mas também na esfera psicológica, temos de perguntar-nos — se somos realmente sérios — que papel vamos ter em tudo isto. Que vou fazer como ser humano a viver neste mundo, e não a fugir para alguma existência de fantasia ou para algum mosteiro? 

Ao vermos todo este quadro com toda a clareza, qual vai ser então o nosso comportamento, o que vamos fazer da nossa vida? esta questão tem sempre de por-se, quer estejamos dentro do sistema, quer apenas à beira de entrar nele. Por isso, parece-me, temos inevitavelmente de perguntar: Qual a finalidade da vida? E como ser humano razoavelmente saudável do ponto de vista psicológico, que não é totalmente neurótico, que está vivo e ativo: Que papel terei em tudo isto? Que papel ou que parte me atrai? E se me sinto apenas atraído para um fragmento ou uma secção determinados, tenho então de ter consciência do perigo de tal atração, porque assim regressamos de novo à mesma velha divisão, que gera esforço, contradição e guerra. 

Poderei então tomar parte na totalidade da vida e não apenas num segmento dela? Tomar parte na totalidade da vida não significa obviamente ter conhecimento completo de ciências — sociologia, matemática, etc. — da filosofia, assim por diante; isso seria impossível a não ser que se fosse um gênio. 

Poderemos portanto criar psicologicamente, interiormente, um modo de viver totalmente diferente? Isto significa, como é óbvio, que todas as coisas exteriores nos interessam, mas que a revolução fundamental, radical, se realiza no campo psicológico. 

Que podemos fazer para promover em nós próprios uma tão profunda mudança? Porque cada um e nós é a sociedade, é o mundo, é tudo o que está contido no passado. Assim, o problema é: Como podemos nós, vocês e eu, implicar-nos na totalidade da vida e não apenas numa das suas partes? 

Krishnamurti em, O mundo somos nós

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Seguir uma profissão libertará o homem do conflito e da confusão?

A educação moderna resultou em completo fracasso, por ter exagerado a importância da técnica. Encarecendo-a em demasia, destruímos o homem. Desenvolvendo capacidades e eficiência, sem compreensão da vida, sem uma percepção total dos movimentos da mente e do desejo, nos tornaremos cada vez mais cruéis, o que significa fomentar guerras e colocar em perigo nosso segurança física. O exclusivo cultivo da técnica tem produzido cientistas, matemáticos, construtores de pontes e conquistadores do espaço. Compreenderão esses homens o processo total da vida? Pode um especialista experimentar a vida como um todo? Só se deixar de ser um especialista. 

O progresso técnico resolve certos problemas para certas pessoas, num dado nível, mas, ao mesmo tempo, gera problemas mais vastos e profundos. Viver num só nível, desprezando o processo total da vida, é atrair desgraça e destruição. A maior necessidade e o problema mais urgente de todo indivíduo é adquirir uma compreensão integral da vida, que o habilite a enfrentar suas sempre crescentes complexidades. 

O saber técnico, embora necessário, de modo algum resolverá as nossas premências interiores e conflitos psicológicos; e porque adquirimos saber técnico sem compreensão do processo total da vida, a técnica se tornou meio de destruição. O homem que sabe dividir o átomo mas não tem amor no coração, transforma-se num monstro. 

Escolhemos uma profissão de acordo com nossas capacidades; mas, seguir uma profissão libertará o homem do conflito e da confusão? Uma dada espécie de preparo técnico parece necessária; mas, depois que nos tornamos engenheiros, médicos, contadores, o que acontece? A prática de uma profissão representa o preenchimento da vida? Parece que sim, para a maioria de nós. Nossas várias profissões mantêm-nos ocupados durante a maior parte da existência; mas as próprias coisas que criamos e das quais tanto nos maravilhamos, causam destruições e desgraças. Nossas atitudes e nossos valores estão fazendo das coisas e das profissões instrumentos da inveja, do ressentimento e do ódio. 

Sem a compreensão de nós mesmos, a mera operosidade conduz à frustração, com as suas inevitáveis fugas através de atividades maléficas de todo gênero. Técnica sem compreensão leva à inimizade e à crueldade, o que costumamos disfarçar com frases bem-soantes. De que serve encarecermos a importância e nos tornarmos entidades eficientes, se o resultado é a mútua destruição? Nosso progresso técnico é fantástico, mas só teve como resultado aumentar as possibilidades de nos destruirmos mutuamente; e em todos os países reinam a fome e a miséria. Não somos entes pacíficos e felizes. 

Quando se atribui à função toda a importância, a vida se torna insípida e monótona, uma rotina mecânica e estéril, da qual fugimos nos entregando a toda espécie de distrações. O acúmulo de fatos e o desenvolvimento de capacidades, a que chamamos educação, privou-nos da plenitude da vida de integração e ação. Porque não compreendemos o processo total da vida, nos apegamos à capacidade e à eficiência, que por essa razão assumem uma importância tremenda. O todo, porém, não pode ser compreendido pela parte; só pode ser compreendido por meio da ação e da experiência. 

Outro fator determinante no cultivo da técnica é que esta nos proporciona um sentimento de segurança, não só econômica mas também psicológica. É confortante verificar que somos capazes e eficientes. Saber que temos capacidade para tocar piano ou para construir uma casa nos dá um sentimento de vitalidade, de arrogante independência; mas realçar a importância da capacidade, por causa de um desejo de segurança psicológica, é negar a plenitude da vida. O conteúdo total da vida nunca pode ser previsto e tem de ser experimentado sempre como coisa nova, momento por momento. Tememos o desconhecido, por isso estabelecemos para nós mesmos zonas psicológicas de segurança, sob a forma de sistemas, técnicas e crenças. Enquanto andarmos em busca de segurança interior não compreenderemos o processo total da vida.

(...) Quem tem realmente alguma coisa para dizer, com o mesmo ato de externá-la cria seu estilo próprio; mas aprender um estilo sem ter a capacidade de experimentar interiormente, só pode redundar em superficialidade.

Krishnamurti em, A educação e o significado da vida

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Só surge a vocação quando não há o medo de não sobreviver

Descobrir aquilo que gostam de fazer exige muita inteligência, porque, se temerem não ser capazes de ganhar o sustento ou não se ajustar a essa sociedade infectada, nunca descobrirão. Mas se não tiverem medo, ao se recusarem a ser empurrados para a vala da tradição pelos pais, professores, pelas exigências superficiais da sociedade, então haverá a possibilidade de descobrirem o que realmente gostam. Para isso, NÃO PODE HAVER O MEDO DE NÃO SOBREVIVER.

Porém, muitos de nós temos esse medo. Dizemos: "O que acontecerá comigo se eu não fizer o que meus pais me dizem, se eu não me ajustar a sociedade?" Assustados, agimos como nos é dito, e nisso não há amor, somente contradição, que consiste num dos fatores que origina a ambição destrutiva.

Logo, é função básica da educação auxiliá-los na descoberta do que realmente gostam de fazer, para que possam dedicar a mente e o coração inteiros, porque é isso que cria a dignidade humana, que elimina a mediocridade, a pequena mentalidade burguesa. Por isso é muito importante ter os professores certos, a atmosfera correta para que vocês possam crescer com o amor que se expressa naquilo que fazem. Sem amor, os exames, o conhecimento, as capacidades, a posição e as posses são somente cinzas, sem significado; sem amor, seus atos trarão mais guerras, mais ódio, mais danos, mais destruição.

(...)Vocês acham que a verdade é uma coisa e sua vida diária é outra, e em sua vida diária vocês desejam realizar o que chamam verdade. Mas um está separado do outro? Quando crescerem terão de ganhar o próprio sustento, não é? Afinal, é para isso que precisam ser aprovados nos exames: para se preocupar com o próprio sustento. Porém várias pessoas não se importam com a área em que atuarão ou o trabalho que farão, desde que ganhem algum dinheiro. Enquanto tiverem emprego, não importa que sejam soldado, policial, advogado ou algum tipo de comerciante desonesto.

Bem, descobrir a verdade do que constitui um meio correto de ganhar a vida é importante, não é? Porque a verdade está em suas vidas, não fora dela.(...) Portanto, antes de se tornarem soldado, policial, advogado ou um comerciante astuto, não deveriam perceber a verdade dessas profissões? Certamente, a menos que vejam a verdade daquilo que fazem e sejam guiados por ela, sua vida se tornará uma confusão hedionda.

(...) Poderemos — eu e vocês, que somos pessoas simples, comuns — viver criativamente neste mundo sem o impulso da ambição que se revela de várias formas como o desejo de poder, de posição? Vocês encontrarão a resposta correta quando amarem aquilo que estão fazendo. Se são engenheiros somente porque precisam de uma forma de sustento, ou porque seus pais ou a sociedade esperam isso de vocês, têm-se uma outra maneira de compulsão; e compulsão, sob qualquer forma, gera contradição, conflito. Porém, se realmente gostam de ser engenheiros ou cientistas, ou se podem plantar uma árvore, pintar um quadro, escrever um poema, não para obter o reconhecimento, mas somente porque gostam, verão então que nunca competirão com o outro. Acho que esta é a verdadeira chave: amar aquilo que fazem. 

Krishnamurti em, PENSE NISSO

sábado, 25 de outubro de 2014

Meio de Vida Correto; Vocação, Incompatibilidades

O que é viver de maneira certa? Na sociedade como ela é agora, não há nenhum modo correto de viver. Você tem de ganhar o seu sustento; você se casa, tem filhos, torna-se responsável. (…) Ou será a busca de um modo certo de viver apenas uma busca de Utopia, um anseio por algo mais? O que se deve fazer numa sociedade corrupta, que tem tantas contradições em si mesma, na qual há tanta injustiça (…)? (Perguntas e Repostas, pág. 75)

É possível viver nesta sociedade, não apenas para ter um modo correto de subsistência, mas também para viver sem conflito? (…) Viver uma vida sem nenhum conflito requer grande dose de compreensão de si mesmo e, portanto, grande inteligência - não a inteligência aguda do intelecto, mas a capacidade de observar, de ver objetivamente o que está acontecendo, tanto externa como internamente (…) (Idem, pág. 75)

O que desejo discutir (…) é o problema da mente que se aplica a este vasto e complexo problema da existência. A existência não compreende apenas a obtenção ou a conservação de um emprego, mas toda a esfera da existência psicológica, quase desconhecida para a maioria de nós. (…) O problema da existência é este vasto complexo de guerras, classes, castas, divisão, a perpétua batalha do homem contra o homem, em competição. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 38)

Senhores, que significa “meio de vida”? É ganhar o suficiente para as nossas necessidades, que são alimento, roupa e moradia (…) A dificuldade (…) só surge quando nos servimos das coisas essenciais à vida como meios de agressão psicológica. (Novo Acesso à Vida, pág. 149)

Isto é, quando me sirvo das necessidades, das coisas indispensáveis, como meios de engrandecimento pessoal (…); e a nossa sociedade está essencialmente baseada, não no suprimento das coisas essenciais, mas no engrandecimento psicológico (…) (Idem, pág. 149)

Há suficientes conhecimentos científicos para suprir todas as necessidades do homem; isso já foi calculado, e tudo poderia ser produzido em tal escala que nenhum homem passaria necessidade. Mas por que não se realiza isso? Porque ninguém se satisfaz apenas com alimento, roupa e moradia; cada um quer mais. E esse “mais” é poder. (Novo Acesso à Vida, pág. 149-150)

Mas seria irracional ficarmos satisfeitos apenas com as coisas necessárias à vida. Ficaremos satisfeitos com as coisas necessárias, no seu sentido exato que é estar livre do desejo de poder - quando tivermos encontrado o imperecível tesouro interior a que chamamos Deus, a verdade (…) Se puderdes encontrar essas riquezas imperecíveis dentro em vós, vos sentireis satisfeitos com poucas coisas (…) (Idem, pág. 150)

Qual é então, o meio de vida correto? Essa pergunta só poderá ser respondida quando houver completa revolução na atual estrutura social, não uma revolução segundo a fórmula da direita ou da esquerda, mas completa revolução de valores não baseados nos sentidos. (Idem, pág. 151)

Temos crescente desemprego, exércitos cada vez maiores, os grandes negócios (…) formando vastas empresas. (…) Dada essa situação (…) como ireis encontrar um meio de vida correto? (…) Ou tendes de retirar-vos para formar com uns poucos uma comunidade autárquica, cooperativa, ou sucumbis (…) Mas, como sabeis, a maioria de nós não tem verdadeiro empenho em encontrar o meio de vida correto, cada um está interessado em obter um emprego e nele se manter (…) (Idem, pág. 152)

(…) Assim, o meio de vida justo, em vasta escala, deve começar com aqueles que compreendem o que é falso. Quando batalhais contra o falso, estais criando o meio de vida justo. Quando batalhais contra toda a estrutura da dissenção, da exploração por parte da esquerda ou da direita, ou contra a autoridade da religião (…) - essa é a profissão correta, no momento atual. Porque os que assim procedem criarão uma nova sociedade, uma nova civilização. (Novo Acesso à Vida, pág. 153)

Mas, para batalhar, precisais ver com toda a clareza e precisão o que é falso (…) Para descobrirdes o que é falso, cumpre percebê-lo lucidamente, observar todas as coisas que estais fazendo, pensando e sentindo; e, como resultado disso, não apenas descobrireis o que é falso, mas virá também uma nova vitalidade (…) energia, e essa energia determinará que espécie de trabalho deveis ou não deveis fazer. (Idem, pág. 153)

A maioria das nossas ocupações são inspiradas pela tradição, pela avidez ou pela ambição. Em nossas atividades, somos desapiedados competidores, embusteiros, ardilosos e altamente preocupados com nossa própria proteção. A qualquer momento (…) correremos o risco de soçobrar e por isso temos de ajustar-nos ao ritmo altamente eficiente da insaciável máquina dos negócios. É uma luta incessante pela manutenção de uma posição (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 19-20)

Mas, na vida de relação está implicado um processo inteiramente diferente. Nela é indispensável que haja afeto, consideração para com os outros, ajustamento, abnegação, condescendência; nela não se trata de vencer, porém de viver feliz. (…) (Idem, pág. 20)

Mas, como é possível conciliar duas coisas, como o egoísmo e o amor, os negócios e as relações com os semelhantes? Uma é desapiedada, competidora, ambiciosa; a outra, abnegada, delicada, suave. (…) Com uma das mãos contamos dinheiro e derramamos sangue, enquanto procuramos com a outra afagar, testemunhar afeto e consideração (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 20)

A ocupação justa não se inspira na tradição, nem na ganância, nem na ambição. Quando cada um estiver verdadeiramente interessado em estabelecer a verdadeira vida de relação, não só com um, mas com todos, achar-se-á, então, a ocupação justa. Esta resulta da regeneração, da transformação do coração, e não apenas da determinação intelectual de encontrá-la. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 21)

Mas, embora importante e benéfica, a ocupação justa não constitui, em si, um fim. Podeis ter um justo meio de vida, mas se interiormente fordes incompletos e pobres, sereis uma fonte de miséria para vós mesmos e, portanto, para os outros; sereis irrefletidos, violentos, egoístas. Sem a liberdade interior da Realidade, não encontrareis nem a alegria nem a paz. Na busca e na descoberta daquela Realidade interior, podemos não somente contentar-nos com pouco, mas também adquirir conhecimento de algo que ultrapassa todos os padrões. É isso o que cumpre procurar em primeiro lugar; as outras coisas virão na sua esteira. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 34)

Ora, nas condições em que a sociedade existe no presente, não há possibilidade da escolha entre o meio de vida correto e o (…) incorreto. Pegamos o primeiro emprego se temos a boa sorte de achar um. (…) Mas, para aqueles e vós que não sofrem igual premência (…) qual o meio de vida correto numa sociedade que está baseada (…) nas diferenças de classes, no nacionalismo, na ganância, na violência? (…) (A Arte da Libertação, pág.170)

É muito importante que cada um de nós descubra qual é a sua relação com a sociedade, se ela está baseada na ganância - que significa auto-expansão, preenchimento do “eu”, que supõe poder, posição, autoridade - ou se simplesmente aceitamos da sociedade as coisas essenciais, tais como alimento, roupa e moradia. (Idem, pág. 173)

(…) Se vossa relação é de necessidade e não de ganância, encontrareis então o meio de vida correto, em qualquer lugar, mesmo numa sociedade corrupta. Como a atual sociedade se está desintegrando rapidamente, precisamos descobrir; e aqueles cuja relação é só de necessidade criarão uma nova civilização, constituirão o núcleo de uma sociedade na qual as coisas necessárias à vida serão distribuídas equitativamente, e não utilizadas como meio de auto-expansão. (…) (Idem, pág. 173-174)

Perguntais-me qual a profissão que vos aconselho (…) Que está acontecendo neste mundo? Há possibilidade de se escolher profissão? Cada um segura aquilo que pode. Já nos consideramos felizes se achamos trabalho. Assim é em todas as partes do mundo. Porque temos um único alvo: ganhar dinheiro, seja como for, para viver. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 95-96)

(…) O pensar correto gera a profissão correta e a ação correta. Não podeis pensar corretamente, sem autoconhecimento. (…) É extremamente difícil escolher uma profissão num mundo civilizado desta espécie, em que toda ação conduz à destruição e à exploração. (…)(Idem, pág. 97)

A maioria das pessoas são forçadas a entregar-se a trabalhos, atividades, profissões, para as quais de forma alguma estão talhadas. Passam o resto da existência batalhando contra essas circunstâncias, disparando assim todas as energias em lutas, dores, sofrimentos (…)

Outros homens rompem as limitações do ambiente, depois de compreenderem o seu verdadeiro significado, passando a viver inteligentemente, em atividades criadoras, seja no mundo da arte, da ciência, seja nas profissões (…) (A Luta do Homem, pág. 94)

Eis porque é importantíssimo achar a vocação justa. Sabeis o que significa “vocação”? É a ocupação que desempenhamos com agrado, com naturalidade. Afinal, tal é a função da educação (…) de uma escola como esta, a saber, ajudar-vos a crescer com independência, para que não sejais ambiciosos e possais achar a vossa verdadeira vocação. (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 68)

(…) A verdadeira educação deve ter por fim ajudar-vos a ser tão inteligentes que (…) possais escolher uma ocupação a vosso gosto (…) ou passar fome, mas nunca fazer uma coisa estúpida, que vos fará infeliz para o resto da vida. (Novos Roteiros em Educação, pág. 19)

Para a maioria dentre nós, a profissão está separada da nossa vida pessoal. Temos o mundo da profissão e da técnica, e a vida dos sentimentos sutis, das idéias, (…) e do amor. Estamos adestrados para o mundo da profissão e só ocasionalmente (…) escutamos uns vagos murmúrios da realidade. (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 125)

O mundo da profissão tornou-se, gradualmente, exigente, tomando quase todo o nosso tempo, de modo a deixar pouca margem ao pensamento profundo e à emoção. Por esse modo, a vida da realidade, da felicidade torna-se cada vez mais vaga (Idem, pág. 125)

Com raras exceções, o exercer uma profissão não é a expressão natural do indivíduo. Não é a plenitude ou a completa expressão do seu ser integral. Se examinardes isso, haveis de averiguar que tal coisa é apenas o (…) adestramento do indivíduo no sentido de ajustar-se a um sistema rígido, inflexível. Esse sistema está baseado no temor, no espírito da aquisição e na exploração. (…) (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 126)

(…) Quanto mais planejamos e organizamos a nossa existência econômica, sem compreender e transcender as nossas paixões, temores e despeitos, tanto mais conflito e confusão haverão de surgir. O contentar-se com pouco resulta da compreensão de nossos problemas psicológicos, não da legislação (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 113)

(…) Pois bem, a maioria de nós se embota nisso que se chama trabalho, emprego, rotina, (…) Tão identificado (…) que não pode vê-lo objetivamente; (…) Vive numa gaiola (…) isolado (…) O seu trabalho, por conseguinte, é uma forma de fuga da vida: da sua esposa, de seus deveres sociais. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 127)

Se dizeis: “que aborrecimento, (…) preferiria fazer outra coisa qualquer” - o vosso espírito está evidentemente resistindo a esse trabalho. Uma parte da vossa mente está desejando que estivésseis fazendo outra coisa. Essa divisão produzida pela resistência, causa o embotamento, porque estais desperdiçando esforço (…) (Idem, pág. 128-129)

(…) Mas, se aceitais a tarefa (…) e a executais o mais inteligentemente possível, que acontece então? Porque já não estais resistindo, as outras camadas da vossa consciência continuarão ativas, independentemente do que estais fazendo; estais aplicando apenas a mente consciente ao trabalho, e a parte inconsciente, a parte oculta da mente, está ocupada com outras coisas muito mais vitais (…) e profundas (…) (Idem, pág. 129)

Pergunta: De que maneira poderia um estadista que compreendesse o que dizeis, pô-lo em prática nos negócios públicos? Ou, não é mais provável que ele se retirasse da política, reconhecendo falsos os seus objetivos e bases?

Krishnamurti: Se ele compreendesse o que digo, não separaria a política da vida na sua plenitude; e não vejo razões por que devesse afastar-se da política. É verdade que a política é atualmente um instrumento de exploração; mas, se ele considerasse a vida como um todo, e não a política somente - uma vez que por política ele entende a sua pátria, o seu povo, e a exploração dos semelhantes - e considerasse os problemas humanos não como problemas nacionais, porém mundiais, não como problemas americanos, ou hindus, ou germânicos, nesse caso, se de fato correspondesse ao que digo, seria ele um verdadeiro ser humano, e não um político. (…) (A Luta do Homem, pág. 157-158)

Acho que aí é que está o mal. O político só cuida da política, o moralista de moral, o suposto mestre espiritual, do espírito, cada um deles se julgando autoridade, com exclusão de todos os outros. Toda a estrutura de nossa sociedade se assenta nessa base, e, assim, esses líderes das diversas especialidades promovem devastação e miséria cada vez maiores. (…) (A Luta do Homem, pág. 158)

Mas se nós, como entes humanos, percebêssemos a relação íntima entre todas essas coisas, entre a política, a religião, e a vida econômica e social, se enxergássemos essa relação, não pensaríamos nem agiríamos, nesse caso, separativamente, individualistamente. (Idem, pág. 158-159)

Enquanto não houvermos descoberto o que é verdadeiro, o que é Deus, essa coisa extraordinária que enche a vida de grandeza, de bondade e beleza, todas as nossas atividades, em qualquer nível que seja, só podem ter uma significação superficial. A menos que estejamos experimentando diretamente o que é verdadeiro, momento a momento, a nossa civilização se torna mecânica e, portanto, destrutiva. Certo, o homem existe para encontrar-se com Deus, e não apenas para ganhar o seu sustento e ajustar-se a um padrão social. (…) (Visão da Realidade, pág. 113)

Seleta de Krishnamurti
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill