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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Seguir uma profissão libertará o homem do conflito e da confusão?

A educação moderna resultou em completo fracasso, por ter exagerado a importância da técnica. Encarecendo-a em demasia, destruímos o homem. Desenvolvendo capacidades e eficiência, sem compreensão da vida, sem uma percepção total dos movimentos da mente e do desejo, nos tornaremos cada vez mais cruéis, o que significa fomentar guerras e colocar em perigo nosso segurança física. O exclusivo cultivo da técnica tem produzido cientistas, matemáticos, construtores de pontes e conquistadores do espaço. Compreenderão esses homens o processo total da vida? Pode um especialista experimentar a vida como um todo? Só se deixar de ser um especialista. 

O progresso técnico resolve certos problemas para certas pessoas, num dado nível, mas, ao mesmo tempo, gera problemas mais vastos e profundos. Viver num só nível, desprezando o processo total da vida, é atrair desgraça e destruição. A maior necessidade e o problema mais urgente de todo indivíduo é adquirir uma compreensão integral da vida, que o habilite a enfrentar suas sempre crescentes complexidades. 

O saber técnico, embora necessário, de modo algum resolverá as nossas premências interiores e conflitos psicológicos; e porque adquirimos saber técnico sem compreensão do processo total da vida, a técnica se tornou meio de destruição. O homem que sabe dividir o átomo mas não tem amor no coração, transforma-se num monstro. 

Escolhemos uma profissão de acordo com nossas capacidades; mas, seguir uma profissão libertará o homem do conflito e da confusão? Uma dada espécie de preparo técnico parece necessária; mas, depois que nos tornamos engenheiros, médicos, contadores, o que acontece? A prática de uma profissão representa o preenchimento da vida? Parece que sim, para a maioria de nós. Nossas várias profissões mantêm-nos ocupados durante a maior parte da existência; mas as próprias coisas que criamos e das quais tanto nos maravilhamos, causam destruições e desgraças. Nossas atitudes e nossos valores estão fazendo das coisas e das profissões instrumentos da inveja, do ressentimento e do ódio. 

Sem a compreensão de nós mesmos, a mera operosidade conduz à frustração, com as suas inevitáveis fugas através de atividades maléficas de todo gênero. Técnica sem compreensão leva à inimizade e à crueldade, o que costumamos disfarçar com frases bem-soantes. De que serve encarecermos a importância e nos tornarmos entidades eficientes, se o resultado é a mútua destruição? Nosso progresso técnico é fantástico, mas só teve como resultado aumentar as possibilidades de nos destruirmos mutuamente; e em todos os países reinam a fome e a miséria. Não somos entes pacíficos e felizes. 

Quando se atribui à função toda a importância, a vida se torna insípida e monótona, uma rotina mecânica e estéril, da qual fugimos nos entregando a toda espécie de distrações. O acúmulo de fatos e o desenvolvimento de capacidades, a que chamamos educação, privou-nos da plenitude da vida de integração e ação. Porque não compreendemos o processo total da vida, nos apegamos à capacidade e à eficiência, que por essa razão assumem uma importância tremenda. O todo, porém, não pode ser compreendido pela parte; só pode ser compreendido por meio da ação e da experiência. 

Outro fator determinante no cultivo da técnica é que esta nos proporciona um sentimento de segurança, não só econômica mas também psicológica. É confortante verificar que somos capazes e eficientes. Saber que temos capacidade para tocar piano ou para construir uma casa nos dá um sentimento de vitalidade, de arrogante independência; mas realçar a importância da capacidade, por causa de um desejo de segurança psicológica, é negar a plenitude da vida. O conteúdo total da vida nunca pode ser previsto e tem de ser experimentado sempre como coisa nova, momento por momento. Tememos o desconhecido, por isso estabelecemos para nós mesmos zonas psicológicas de segurança, sob a forma de sistemas, técnicas e crenças. Enquanto andarmos em busca de segurança interior não compreenderemos o processo total da vida.

(...) Quem tem realmente alguma coisa para dizer, com o mesmo ato de externá-la cria seu estilo próprio; mas aprender um estilo sem ter a capacidade de experimentar interiormente, só pode redundar em superficialidade.

Krishnamurti em, A educação e o significado da vida

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Não importa se você morrer de fome

Pergunta: É prático um homem libertar-se de toda sensação de medo e ao mesmo tempo permanecer na sociedade?

Krishnamurti: O que é a sociedade? Um conjunto de valores, uma série de normas, regras e tradições, não é mesmo? Você vê essas condições de fora e diz: "Posso ter um relacionamento prático com tudo isso?" Por que não? Afinal, se você simplesmente se enquadrar nesse esquema de valores, por acaso será livre? E o que entende por "prático"? Isso quer dizer ganhar o próprio sustento? Há muitas coisas que você pode fazer para ganhar o seu sustento; e se você for livre não poderá escolher o que quer fazer? Não será isso prático? Ou você consideraria prático esquecer a própria liberdade e apenas ajustar-se ao quadro, tornar-se advogado, banqueiro, comerciante ou varredor de ruas? Certamente, se você for livre e tiver cultivado a própria inteligência, descobrirá o que lhe será melhor fazer. Colocará de lado todas as tradições e fará algo que verdadeiramente goste de fazer, independente da aprovação ou reprovação de seus pais ou da sociedade. Porque você é livre, tem inteligência, e fará alguma coisa que é totalmente sua, você agirá como um ser humano integrado.

(...)

Pergunta: Como podemos ter nossas mentes livres quando vivemos numa sociedade cheia de tradições? 

Krishnamurti: Em primeiro lugar, você precisa ter a necessidade, a exigência de ser livre. É como o desejo que o pássaro tem de voar, ou o desejo de correr das águas. Você tem essa necessidade de ser livre? Se tiver, o que acontecerá? Seus pais e a sociedade procurarão forçá-lo a enquadrar-se num molde. Poderá resistir-lhes? Você encontrará aí alguma dificuldade, porque tem medo. Tem medo de não obter emprego, de não encontrar o marido certo ou a esposa adequada; tem medo de passar fome ou de que os outros falem de você. Embora queira ser livre, você tem medo, de modo que não vai resistir. Seu medo do que possam dizer ou do que seus pais possam fazer o bloqueia e, desse modo, vê-se forçado a ajustar-se ao molde. 

Ora, será que você pode dizer: "Eu quero saber, e não me importa se morrer de fome. Haja o que houver vou lutar contra as barreiras desta sociedade podre, porque quero ser livre para descobrir coisas? " Você pode fazer isto? Quando sente medo pode enfrentar todas as barreiras, todas essas imposições? 

Assim, é muito importante que a criança, desde a mais tenra idade, seja ajudada a ver as implicações do medo e a libertar-se dele. No momento em que você tem medo, cessa a liberdade. 

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Diálogo sobre profissão

PERGUNTA Que profissão me aconselharíeis adotar?

KRISHINAMURTI: Toda pergunta está relacionada com alguma outra. Todo pensamento está relacionado com outro, não é independente. A profissão, o caminho, a educação, o autoconhecimento, estão todos intimamente relacionados entre si. Não podeis simplesmente escolher uma profissão e dedicar-vos ao autoconhecimento, ou escolher uma profissão para serdes um educador. Todas essas coisas estão relacionadas entre si. Todas as nossas ações e sentimentos estão relacionados entre si, e nisso é que consiste a sua beleza. Com um só pensamento podeis descer às profundezas do pensar.

Perguntais-me qual a profissão que vos aconselho abraçar. Se desejais uma resposta adequada, é mister entrarmos no assunto a fundo. Que está acontecendo neste mundo? Há possibilidade de se escolher profissão? Cada um segura aquilo que pode. Já nos consideramos felizes se achamos trabalho. Assim é em todas as partes do mundo. Porque já perdemos todos os valores genuínos, temos um único alvo: ganhar dinheiro seja como for, para viver. E, visto que esse é o valor predominante no mundo inteiro, não há possibilidade de escolha. Se sois bacharel em artes, bacharel em ciências, ou mestre de artes, vós vos tornais funcionário de escritório. A estrutura da sociedade está constituída de tal maneira, que só conduz à destruição. A sociedade está aparelhada para a destruição. Cada ação que praticais está conduzindo à guerra.

Não sei se estais bem cônscios disso, mas no meio desta tormenta, sob a ameaça da fome, podereis escolher a profissão de advogado, de soldado, ou de policial? Quando sentis realmente, que a humanidade está à beira da catástrofe podeis escolher qualquer uma dessas três profissões? Tornando-vos soldado, resolvereis o problema do mundo? A função do soldado é destruir, e, portanto, o que fará é destruir. Ele é adestrado para destruir, tal como o policial, que tem a função de vigiar, informar, espionar e intrigar; e bem sabeis o que significa ser advogado — um homem de muita sagacidade e poucos princípios. Todos os que sois advogados bem sabeis o que tem custado ao mundo a vossa sagacidade, e, todavia continuam a “fabricar-se” advogados aos milhares. Em que consiste essa profissão? Em dividir e sustentar a divisão, porque é disso que vivem. Não vivem de relações humanas, nem vivem da benevolência e do amor, mas, sim, da astúcia, da estupidez e intriga. Podeis ligar-vos a um homem que se enriquece, no meio do presente caos econômico? Podeis saber o que significa padecer fome?

Vedes, pois, como são limitadas as profissões. Senhores, antes de perguntardes o que vos cabe fazer, precisais aprender a pensar corretamente, e não de maneira negligente. O pensar correto gera a ação correta. Não podeis pensar corretamente, sem o autoconhecimento. Estais dispostos a aplicar o tempo necessário para conhecer a vós mesmos, a fim de aprenderdes a pensar corretamente e achardes a profissão adequada? Vós, os que não sois forçados a escolher imediatamente uma profissão, por certo podeis fazer alguma coisa. Cabe-vos essa responsabilidade, a vós, que tendes lazeres, que tendes tempo para aprender e observar. Mas, os que podem, não querem. É extremamente difícil escolher uma profissão num mundo civilizado desta espécie, em que toda ação conduz à destruição e à exploração. Os muitos que não são forçados a escolher profissão, são os que podem, mas esse não querem, e aí é que está a tragédia. Com a casa já a arder, continuam agarrados a umas poucas coisas. A tragédia não é, pois, daqueles que tem de escolher emprego, porque esses escolherão, quer queiram, quer não; a tragédia é dos que ficam sentados, a observar.

Só pelo pensar correto pode haver ação correta. O pensar correto não se adquire nos livros, ou nas lembranças do passado, ou nas esperanças do futuro.

Krishnamurti - 16 de Novembro de 1947 - Do livro: Uma Nova Maneira de Viver.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sobre a questão da escolha da profissão

Apenas na busca e descoberta dessa realidade interior é que podemos não só nos contentar com pouco, mas também estar conscientes de algo que existe além de qualquer medida. Isso é o que precisa ser buscado em primeiro lugar e, se isso acontecer, seguindo seu exemplo, tudo o mais tornar-se-á realidade.

[...] Muitos de nós escolhem uma profissão em função da tradição, ou porque somos de uma família de advogados ou de comerciantes; ou nosso desejo de poder e de posição define a nossa profissão; a ambição nos leva a competir e a ser cruéis nesse nosso desejo de conseguir êxito. Assim, aquele que não quer explorar ou contribuir para a causa da guerra precisa deixar de seguir a tradição, deixar de lado a cobiça, a ambição, a auto-afirmação. Se ele se abstiver de tudo isso, naturalmente encontrará a profissão adequada.

Embora seja importante e benéfica, a profissão adequada não é um fim em si mesma. Você pode ter um meio correto de viver mas, se você for interiormente insuficiente e pobre, será uma fonte de desgraça para si mesmo e, portanto, também para os outros; você se tornará insensato, violento, auto-afirmativo. Sem a liberdade interior da realidade você não terá alegria, não terá paz. Apenas na busca e descoberta dessa realidade interior é que podemos não só nos contentar com pouco, mas também estar conscientes de algo que existe além de qualquer medida. Isso é o que precisa ser buscado em primeiro lugar e, se isso acontecer, seguindo seu exemplo, tudo o mais tornar-se-á realidade.

Essa liberdade interior de realidade criativa não é um dom; deve ser descoberta e experimentada. Não é uma aquisição que você deva agregar a você mesmo para com ela se vangloriar. Trata-se de um estado de ser, como o silêncio, no qual não existe transformação, no qual existe a completude. Essa criatividade não precisa, necessariamente, procurar expressar-se; não se trata de um talento que exija uma manifestação exterior. Você não precisa ser um grande artista nem ter uma grande audiência; se você estiver em busca disso, perderá essa realidade interior. Não se trata de um dom, nem é o resultado de um talento; esse tesouro imperecível precisa ser encontrado quando o pensamento se libertar da concupiscência, do desejo mau e da ignorância, quando o pensamento se libertar das coisas mundanas e da ambição pessoal de vir-a-ser. Deve ser experimentada através do pensamento e da meditação adequadas. Sem essa liberdade interior da realidade, a existência é dor. Tal como um homem sedento busca água, assim devemos buscar. Apenas a realidade pode aplacar a sede de impermanência.


Krishnamurti - Sobre o Viver Correto

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Qual a verdadeira vocação do homem?

Cada um de nós segue uma dada vocação — o advogado, o militar, o policial, o negociante, etc. É bem óbvio que há certas profissões prejudiciais à sociedade: o advogado, o militar, o policial, o negociante que não cuida de tornar os homens igualmente ricos. 

Quando desejamos, quando escolhemos uma dada vocação, quando estamos educando nossos filhos para seguirem determinada profissão, não estamos criando um conflito com a sociedade? Você escolhe uma profissão, e eu escolho outra; e isso não faz nascer o conflito entre nós dois? Não é isso o que está acontecendo no mundo, visto que nunca pudemos achar a nossa VERDADEIRA VOCAÇÃO? Estamos apenas sendo condicionados pela sociedade, por uma determinada civilização, a aceitar certas profissões, que geram competição e ódios entre os homens. Sabemos disso, o estamos vendo. 

Ora, existe alguma outra maneira de viver, em que você e eu possamos exercer as nossas VERDADEIRAS VOCAÇÕES? Não existe uma vocação única para o homem? Tenha a bondade de prestar atenção, senhores. Há vocações diferentes para o homem? Vemos que as há: um é funcionário de escritório, outro engraxate; um é engenheiro, outro político. Vemos que há inúmeras variedades de profissões e que todas elas estão em conflito entre si. Assim, pois, por causa da sua vocação o homem está em conflito com o homem, o homem odeia o homem. Sabemos disso. São-nos familiares esses fatos da vida, de cada dia. Pois bem, vejamos se não existe UMA SÓ vocação para o homem. Se pudermos descobrí-la, então a expressão de diferentes capacidades não produzirá conflito entre os homens. Eu afirmo existir APENAS UMA VOCAÇÃO PARA O HOMEM. Uma só, e não muitas. A VOCAÇÃO ÚNICA DO HOMEM É A DE DESCOBRIR O QUE É O REAL. Senhores, não se mostrem espantados; isto não é uma asserção mística. 

Se estamos, você e eu, aplicados a descobrir o que é a Verdade, o que constitui a nossa verdadeira vocação, então, nessa busca, não haverá competição entre nós. Não competirei com você, não lutarei contra você, ainda que você expresse essa verdade de maneira diversa. Você pode ser Primeiro Ministro, mas eu não serei ambicioso e não desejarei tomar-lhe o posto, porque estou buscando, do mesmo modo que você, a Verdade. Por conseguinte, enquanto não descobrirmos aquela verdadeira vocação do homem, estaremos necessariamente em competição uns com os outros, e haveremos de odiar-nos mutuamente; e, sejam quais forem as leis que promulgarem, nesse nível só poderão produzir mais caos. 

Não é possível, pois, desde a infância, mediante educação adequada, ministrada por verdadeiros educadores, ajudar o jovem, o estudante, a ser livre, para descobrir o que é a Verdade, a Verdade relativa a todas as coisas, e não simplesmente a Verdade em abstrato; descobrir a Verdade existente em todas as relações — a relação do jovem com a máquina, com a natureza, com o dinheiro, com a sociedade, o governo, etc.? Requer isso, não acham? — uma outra espécie de preceptores, cujo interesse seja o de ajudar o jovem, o estudante, dando-lhe liberdade, para que seja capaz de descobrir a maneira de cultivar uma inteligência nunca susceptível de ser condicionada por uma sociedade em perene decomposição. 

Não existe, pois, UMA vocação para o homem? O homem não pode existir no isolamento; ele só existe em relação. E quando, nessas relações, não há o descobrimento da Verdade respeitante ao estado de relação, há então conflito. 

Há tão-somente UMA VOCAÇÃO para vocês e para mim. E na busca dessa vocação encontraremos a expressão em que não entraremos em conflito um com o outro, em que não nos destruiremos mutuamente. Mas tudo deve começar, sem dúvida, pela educação correta, ministrada por educador adequado. O educador também necessita de educação. Fundamentalmente, o verdadeiro preceptor não é meramente um homem que transmite conhecimentos, mas aquele que faz nascer no estudante a liberdade, a revolta que o habilitará a descobrir o que é a Verdade. 

Jiddu Krishnamurti — Autoconhecimento — Base da Sabedoria  

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A profissão correta não é ditada pela tradição

A maioria de nossas profissões é ditada pela tradição, ou pela cobiça, ou pela ambição. Em nossas profissões somos rudes, competitivos, ardilosos, espertos e extremamente autoprotetores. Se mostramos fraqueza, seja quando for, podemos cair; por isso é preciso que acompanhemos a alta eficiência da ambiciosa engrenagem do mundo dos negócios. Trata-se de uma luta constante para manter o controle, para ser sempre mais esperto e sagaz. A ambição jamais encontrará a satisfação definitiva; está sempre à procura de campos mais amplos para sua auto-afirmação.

Mas nos relacionamentos ocorre um processo bastante diferente. Nele é preciso haver afeição, consideração, ajuste, autonegação, concessões, não para conquistar, mas para viver com felicidade. Nele deve existir a tema auto-anulação, a liberdade em relação ao domínio, à possessividade, mas o vazio e o medo causam o ciúme e a dor no relacionamento. O relacionamento é um processo de autodescoberta, no qual existe uma compreensão maior e mais profunda. O relacionamento é um constante ajuste na autodescoberta; ele exige paciência, flexibilidade infinita e um coração sincero.

Mas como podem estar juntos auto-afirmação e o amor, a profissão e o relacionamento? Um é rude, competitivo, ambicioso; o outro é abnegado, atencioso, gentil; eles não podem ficar juntos. Com uma das mãos a pessoa lida com sangue e dinheiro, e com a outra tenta ser gentil, afetuosa, atenciosa. Como um alívio para suas profissões insensíveis e sem vida elas buscam consolo e bem-estar nos relacionamentos. Mas os relacionamentos não geram bem-estar, pois trata-se de um processo diferente de autodescoberta e compreensão. O homem ocupado tenta em sua vida de relacionamentos buscar o consolo e o prazer como uma compensação para o enfado da sua atividade. Sua ocupação diária de ambição, cobiça e crueza conduz, passo a passo, à guerra e às barbaridades da civilização moderna.

A ocupação correta não é ditada pela tradição, pela cobiça ou pela ambição. Se cada um estiver seriamente preocupado em estabelecer relacionamentos adequados, não apenas com uma pessoa, mas com todos, então ele encontrará a profissão correta. A profissão correta vem acompanhada da regeneração, da mudança no coração, não com a simples determinação de encontrá-la.

A integração só é possível se existir clareza de compreensão em todos os diferentes níveis da nossa consciência. Não pode existir integração entre amor e ambição, entre clareza e trapaça, entre compaixão e guerra. Enquanto profissão e relacionamentos se mantiverem afastados, haverá constante conflito e desgraça. Qualquer reforma dentro do padrão dualista é retrocesso; somente para além dele pode existir a paz criativa.

Krishnamurti - Sobre o Viver Correto

O problema de como ganhar a vida decentemente

Questionador: O problema de ganhar a vida decentemente é fundamental para a maioria de nós. Uma vez que as correntes econômicas do mundo são inapelavelmente interdependentes, acredito que, qualquer que seja a minha atividade, estarei explorando alguém ou contribuindo para a causa da guerra. Como deve então proceder aquele que deseja ganhar a vida de forma decente, para escapar das garras da exploração e da guerra?

Krishnamurti: Para quem deseja encontrar um meio justo de viver, a vida econômica como está organizada atualmente é certamente difícil. Como diz o questionador, as correntes econômicas são entrelaçadas e, assim, o problema é complexo e, como qualquer problema humano complexo, precisa ser abordado com simplicidade. À medida que a sociedade se torna mais e mais complexa e organizada, a sistematização do pensamento e da ação está sendo reforçada em benefício da eficiência. A eficiência se torna cruel quando os valores sensoriais predominam, quando os valores eternos são deixados de lado.

Existem, obviamente, meios errados de viver. Aquele que ajuda na fabricação de armas ou de outros mecanismos capazes de matar seu semelhante está certamente ocupado em perpetuar a violência, e isso jamais trará a paz ao mundo. Os políticos que, seja em benefício próprio, de sua nação ou de uma ideologia, se ocupam em governar e explorar os outros estão certamente usando meios errados de viver, meios que conduzem à guerra, à desgraça e à miséria humana. O padre que se atém a um determinado preconceito, dogma ou crença, a uma determinada forma de adoração e oração, também está usando formas erradas de viver, pois estará apenas disseminando a ignorância e a intolerância, que colocam um homem contra outro homem. Qualquer profissão que conduza ou mantenha os conflitos ou as diferenças entre um homem e outro é obviamente um meio errado de viver. Essas ocupações levam à exploração e às lutas.

Nossas formas de viver são ditadas pela tradição ou pela cobiça e pela ambição, não são? Em geral, nós não nos pomos deliberadamente a pensar sobre a melhor forma de viver. Ficamos muito agradecidos em poder obter tudo aquilo que conseguimos e seguimos cegamente o sistema econômico que está em torno de nós. Mas o questionador quer saber como se esquivar da exploração e da guerra. Para escapar disso ele precisa não se deixar influenciar, não seguir a profissão tradicional, nem pode ele ser invejoso ou ambicioso. Muitos de nós escolhem uma profissão em função da tradição, ou porque somos de uma família de advogados ou de comerciantes; ou nosso desejo de poder e de posição define a nossa profissão; a ambição nos leva a competir e a ser cruéis nesse nosso desejo de conseguir êxito. Assim, aquele que não quer explorar ou contribuir para a causa da guerra precisa deixar de seguir a tradição, deixar de lado a cobiça, a ambição, a auto-afirmação. Se ele se abstiver de tudo isso, naturalmente encontrará a profissão adequada.

Embora seja importante e benéfica, a profissão adequada não é um fim em si mesma. Você pode ter um meio correto de viver mas, se você for interiormente insuficiente e pobre, será uma fonte de desgraça para si mesmo e, portanto, também para os outros; você se tornará insensato, violento, auto-afirmativo. Sem a liberdade interior da realidade você não terá alegria, não terá paz. Apenas na busca e descoberta dessa realidade interior é que podemos não só nos contentar com pouco, mas também estar conscientes de algo que existe além de qualquer medida. Isso é o que precisa ser buscado em primeiro lugar e, se isso acontecer, seguindo seu exemplo, tudo o mais tornar-se-á realidade.

Essa liberdade interior de realidade criativa não é um dom; deve ser descoberta e experimentada. Não é uma aquisição que você deva agregar a você mesmo para com ela se vangloriar. Trata-se de um estado de ser, como o silêncio, no qual não existe transformação, no qual existe a completude. Essa criatividade não precisa, necessariamente, procurar expressar-se; não se trata de um talento que exija uma manifestação exterior. Você não precisa ser um grande artista nem ter uma grande audiência; se você estiver em busca disso, perderá essa realidade interior. Não se trata de um dom, nem é o resultado de um talento; esse tesouro imperecível precisa ser encontrado quando o pensamento se libertar da concupiscência, do desejo mau e da ignorância, quando o pensamento se libertar das coisas mundanas e da ambição pessoal de vir-a-ser. Deve ser experimentada através do pensamento e da meditação adequadas. Sem essa liberdade interior da realidade, a existência é dor. Tal como um homem sedento busca água, assim devemos buscar. Apenas a realidade pode aplacar a sede de impermanência.

Krishnamurti - Sobre o viver correto


terça-feira, 9 de julho de 2013

O homem ambicioso está destruindo a si próprio

Pergunta: É verdade que a sociedade está baseada na cobiça e na ambição; mas, se não tivéssemos ambição, não nos deterioraríamos?

Krishnamurti: Esta é, em verdade, um pergunta muito importante, que requer toda a atenção.

Vocês sabem o que é atenção? Vejamos. Quando, durante uma aula, vocês olham pela janela ou puxam os cabelos de um companheiro, o mestre lhes manda “prestar atenção”. E o que significa isso? Que não lhes interessa o que estão escutando e, por conseguinte, o mestre lhes obriga a prestar atenção. Mas isso, de modo nenhuma é atenção. Há atenção quando vocês sentem profundo interesse por uma coisa, porque, então, procuram, com amor, descobrir tudo o que a ela diz respeito; então, a mente inteira de vocês, todo o ser, está presente. Analogamente, no momento em que percebem que esta pergunta — se não tivéssemos ambição, não nos deterioraríamos? — é realmente muito importante, ficam interessados e desejam descobrir a verdade a esse respeito.

Ora, o homem ambicioso não está destruindo a si próprio? Isso é que precisa se averiguar em primeiro lugar, e não perguntar se a ambição é “certa” ou “errada”. Olhem ao redor de vocês, observem as pessoas que são ambiciosas. O que acontece quando vocês são ambiciosos? Só pensam em si mesmos, não é verdade? São cruéis, empurram os outros para o lado, porque estão procurando preencher a ambição de vocês, procurando se tornarem “homens importantes”, e criando, assim, na sociedade, o conflito entre os que estão tendo êxito e os que estão ficando para trás. É uma batalha constante entre vocês e os outros, que também desejam o que vocês desejam; e pode esse conflito produzir um viver criador? Compreendem, ou isso está muito difícil?

Vocês são ambiciosos quando gostam de fazer uma coisa por amor a ela própria? Quando estão fazendo alguma coisa com todo o ser de vocês, não pode desejarem chegar a alguma parte ou obter alguma vantagem, porém, simplesmente, por gostarem de fazê-la — aí não há ambição, há? Não há então competição; não estão lutando contra ninguém pelo primeiro lugar. E não deve a educação lhes ajudar a descobrir o que realmente gostam de fazer, de modo que, do começo ao fim de suas vidas, estejam trabalhando em algo que sintam ser valioso e ter, para vocês, profunda significação? Do contrário, serão, até o fim de seus dias, seres dignos de lástima. Quando não sabem o que gostam de fazer, suas mentes caem numa rotina, em que só se encontra tédio, decomposição e morte. Eis por que é tão importante descobrirem, enquanto jovens, o que gostam de fazer. Esta é, realmente, a única maneira de criar uma nova sociedade.

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill