Krishnamurti: Existe? O homem de negócios moderno, o nacionalista, o seguidor da religião – eu chamo males a estas pessoas, males organizados; porque, senhores, criamos individualmente estes horrores no mundo. Como nasceram as religiões com o seu poder de explorar implacavelmente as pessoas através do medo? Como se tornaram nestas formidáveis máquinas? Nós criamo-las individualmente através do nosso medo da outra vida. Não que não haja outra vida: isso é uma coisa totalmente diferente. Nós criamos essa máquina e estamos aprisionados nela; e são apenas muito poucos aqueles que se afastam, e a essas pessoas vocês chamam Cristo, Buda, Lenin, ou X, Y, Z.
Depois há o mal da sociedade como ela é. É uma máquina organizada e opressiva para controlar os seres humanos. Vocês pensam que se os seres humanos forem libertados tornar-se-ão perigosos, que farão toda a espécie de horrores; portanto dizem, “Vamos controlá-los socialmente, pela tradição, pela opinião, pela limitação da moralidade”; e é a mesma coisa economicamente. Assim gradualmente estes males tornam-se aceitos como coisas normais e saudáveis. De fato, é óbvio como através da educação somos compelidos a integrar-nos num sistema em que nunca se pensa na vocação individual. Vocês são forçados a integrar-se nalgum trabalho; e assim criamos uma vida dupla, durante todas as nossas vidas, essa do negócio das 10 às 5, ou lá o que é, que nada tem a ver com a outra, a nossa vida privada, social, caseira. Portanto estamos continuamente a viver em contradição, indo ocasionalmente, se estiverem interessados, à igreja, para manter a moda, o espetáculo. Investigamos a realidade, Deus, quando há momentos de conflito, momentos de opressão, momentos em que há uma catástrofe. Dizemos, “Tem que haver uma realidade. Porque vivemos?” Criamos assim gradualmente nas nossas vidas uma dualidade, e por isso nos tornamos tão hipócritas.
Portanto, para mim, existe um mal. É o mal da exploração engendrado pelos indivíduos através da sua ânsia de segurança, de auto-preservação a qualquer custo, independentemente de todos os seres humanos; e não há nisso afeto, não há verdadeiro amor, mas apenas esta possessividade que classificamos como amor.