As meditações podem estar erradas. Por exemplo, qualquer meditação que leve você a uma concentração profunda está errada. Você ficará cada vez mais fechado, em vez de se abrir. Se estreitar a sua consciência, concentrar-se em algo e excluir o todo da existência, focando em uma única coisa, isso só irá criar mais tensão. Daí a palavra “atenção”. Nesse contexto ela significa “a-tensão”. O próprio sentido da palavra concentração passa uma idéia de tensão.
A concentração tem os seus usos, mas não é o mesmo que meditação. No trabalho científico, na pesquisa científica, no laboratório, você precisa de concentração. Precisa se concentrar em uma questão e excluir todo o resto, a ponto de mal se dar conta do mundo fora do seu campo de interesse. O seu mundo é exclusivamente a questão em que você está concentrado. É por isso que os cientistas se tornam pessoas ausentes, distantes. As pessoas que se concentram muito acabam se tornando distantes porque não sabem permanecer abertas ao mundo como um todo.
Outro dia eu li uma anedota.
- Eu trouxe uma rã que acabei de coletar da lagoa - disse o cientista, professor de zoologia, sorrindo para sua turma. - Primeiro vamos estudar a aparência externa dela e depois dissecá-la.
O professor desembrulhou cuidadosamente o pacote que trazia e dentro havia um sanduíche de presunto muito bem preparado. O professor olhou para o sanduíche com surpresa.
- Estranho! - exclamou. - Eu me lembro claramente de ter comido o meu almoço.
Isso costuma acontecer com os cientistas. Eles se tornam introvertidos por terem o costume de se concentrar, de estreitar a mente. É claro que estreitar a mente tem o seu proveito: ela se torna mais penetrante, fica afiada como uma agulha; ela atinge exatamente o ponto desejado, mas perde toda a vida que a rodeia.
O Buda não é um homem de concentração, é um homem de percepção. Ele não tenta estreitar a consciência - pelo contrário, tenta eliminar todas as barreiras para ficar inteiramente disponível para a existência. Observe... A existência é simultânea. Enquanto falo, o ruído do trânsito pode ser ouvido. O trem, os pássaros, o vento que sopra entre as árvores - neste momento converge o todo da existência. Você me escuta, eu falo com você e milhões de coisas estão acontecendo - isso é imensamente enriquecedor.
A concentração torna você focado a um custo muito grande: 90% da vida é descartada. Se estiver resolvendo um problema matemático, não pode escutar os pássaros, pois será uma distração. As crianças que brincam por perto, os cachorros latindo na rua, tudo será uma distração.
Por causa da concentração, as pessoas tentam fugir da vida: sobem o Himalaia, refugiam-se em uma caverna, permanecem isoladas para poder se concentrar em Deus. Mas Deus não é um objeto, Deus é esse todo, o conjunto da existência, este momento. Deus é a totalidade. É por isso que a ciência jamais poderá conhecer Deus. O método básico da ciência é a concentração e, por causa desse método, a ciência nunca chegará a conhecer Deus.
Então, o que fazer? Repetir um mantra, ao fazer a meditação transcendental, não vai ajudar. A meditação transcendental tornou-se muito importante nos Estados Unidos por causa da visão objetiva, por causa da mente científica - é a única meditação em que o trabalho científico pode ser feito.
É exatamente concentração e não meditação, portanto é compreensível para mentes científicas. Nas universidades, nos laboratórios científicos, em trabalhos de pesquisa psicológica, muito se tem estudado a meditação transcendental, porque ela não é uma meditação. É um método de concentração. Ela pode ser classificada na mesma categoria da concentração científica: há uma ligação entre as duas. Mas não tem nada a ver com meditação.
A meditação é tão vasta, tão imensamente infinita, que não possibilita nenhum tipo de pesquisa científica. Só se um homem se tornar compaixão poderemos saber se ele conseguiu ou não. As ondas alfa não serão de muita ajuda porque elas pertencem à mente e a meditação não é da mente, é alguma coisa além.
Portanto, deixe-me dizer algumas coisas básicas. Em primeiro lugar, meditação não é concentração, mas relaxamento - basta relaxar dentro de si mesmo. Quanto mais você relaxa, mais se sente aberto, vulnerável, e menos rígido. Você fica mais flexível e, de repente, a existência começa a penetrar em você. Você não é mais como uma pedra, agora tem aberturas.
Relaxamento significa permitir-se entrar em um estado em que não se faz nada, porque, se algo estiver sendo feito, a tensão continuará. É um estado de não-fazer: simplesmente relaxar e apreciar a sensação de relaxamento. Relaxe sozinho, feche os olhos e escute tudo o que está acontecendo ao seu redor. Não procure sentir nada como uma distração. No momento em que você sentir que algo é uma distração, estará negando Deus.
Nesse momento Deus veio a você como um pássaro - não o negue. Ele bateu à sua porta como um pássaro. No momento seguinte veio como um cachorro latindo, ou como uma criança chorando e se lamentando, ou como um louco rindo. Não negue, não rejeite: aceite, porque, se você negar, ficará tenso. Todas as negações criam tensão, por isso aceite.
Se quiser relaxar, a única maneira é aceitar. Aceite tudo o que está acontecendo ao seu redor, deixe que se torne um todo orgânico. Tudo está relacionado, quer você saiba disso ou não. Esses pássaros, essas árvores, esse céu, esse sol, essa terra, você, eu - tudo está relacionado. É uma unidade orgânica.
Se o sol desaparecer, as árvores desaparecerão; se as árvores desaparecerem, os pássaros desaparecerão; se os pássaros e as árvores desaparecerem, você não poderá estar aqui. É a ecologia. Tudo está profundamente relacionado entre si.
Portanto, não negue nada, porque, no momento em que negar, estará negando alguma coisa em si mesmo. Se negar esses pássaros cantando, então alguma coisa em você também será negada.
Quando você relaxa, aceita; a aceitação da existência é a única maneira de relaxar. Se as coisas pequenas o perturbam, então é a sua atitude que o está perturbando. Sente em silêncio; escute tudo o que está acontecendo ao seu redor e relaxe. Aceite, relaxe e de repente sentirá a imensa energia que surge dentro de você.
E quando eu digo observe, não tente observar, caso contrário ficará tenso novamente e começará a se concentrar. Relaxe, permaneça relaxado, com o corpo solto, e olhe... O que mais pode fazer? Você está aí, não há nada a fazer, tudo foi aceito, não há nada a ser negado, rejeitado. Não há luta, briga ou conflito. Você simplesmente observa. Lembre-se: apenas observe.
Osho, em "Meditação: A Primeira e Última Liberdade"