Observe as nuvens: as nuvens movem-se e podem ser tão densas que você não consegue ver o céu através delas. A vasta extensão azul do céu está perdida e você está coberto pelas nuvens. Então, você continua a observar: uma nuvem se move e outra ainda não chegou ao seu campo de visão — subitamente, há um ponto na vastidão do céu.
O mesmo acontece interiormente: você é a vastidão azulada do céu, e os pensamentos são nuvens pairando em torno de você, entrando em você. Mas os intervalos existem, o céu existe. Ter um vislumbre do céu é satori; tornar-se o céu é samadhi. De satori a samadhi, todo o processo é uma profunda visão interior para a mente; nada mais.
Em primeiro lugar: a mente não existe como uma entidade; apenas os pensamentos existem.
Em segundo lugar: os pensamentos existem separados de você; não são ligados à sua natureza. Eles vêm e vão — você permanece, você persiste. Você é como o céu: nunca vem, nunca vai, está sempre ali. As nuvens podem ir e vir, são fenômenos momentâneos, não são eternas. Mesmo que você tentasse se agarrar a um pensamento, não poderia retê-lo por muito tempo. Ele tem de ir, tem seu próprio nascimento e morte. Os pensamentos não são seus, não lhe pertencem. Chegam como visitantes, hóspedes, mas não são o hospedeiro.
Observe profundamente e se tornará o hospedeiro e terá os pensamentos como hóspedes. Como hóspedes, eles são belos; mas se você esquece completamente de que é o hospedeiro, eles se tornam os hospedeiros e você fica em confusão. Isso é o inferno. Você é o dono da casa, a casa lhe pertence, mas os hóspedes se tornam donos. Receba-os, cuide deles, mas não se identifique com eles; de outra maneira, eles se farão senhores.
A mente torna-se problema porque você tomou os pensamentos tão profundamente, dentro de você, que se esqueceu por completo a distância, o fato deles serem visitantes, de irem e virem. Lembre-se, sempre, do que é duradouro: o que é a sua natureza, seu Tao. Fique sempre atento ao que nunca vem e nunca se vai, tal como o céu. Muda o gestalt: não faça dos visitantes o seu foco; permanece enraizado no hospedeiro. Os visitantes vêm e vão.
Há, naturalmente, bons e maus visitantes, mas você não precisa se preocupar com eles. Um bom hospedeiro trata todos os hóspedes da mesma maneira, sem fazer distinções. Um bom hospedeiro é apenas um bom hospedeiro: quando um mau pensamento surge, ele trata o mau pensamento da mesma forma como trataria um bom pensamento. Não é de sua competência julgar o pensamento bom o mau.
O que você está fazendo quando distingue este pensamento como bom e aquele como mau? Você está trazendo o bom pensamento para para mais junto de você, e empurrando para longe o mau pensamento. Mais cedo ou mais tarde, você estará identificado com o bom pensamento, que passará a ser o hospedeiro. E qualquer pensamento, quando se torna o hospedeiro, cria sofrimento — porque não é a verdade. O pensamento é um simulador, e você se identifica com ele. A identificação é a doença.
Gurdjieff costumava dizer que só uma coisa é necessária: não se identificar com o que vem e vai. A manhã vem, depois dela o meio-dia, vem a tarde, e todos eles se vão. Chega a noite e, novamente, a manhã. Você permanece — não como você, porque isso também é um pensamento, mas como pura percepção. Não o seu nome, porque isso também é um pensamento; não sua forma, porque isso também é um pensamento; não o seu corpo, porque um dia você compreenderá que também ele é um pensamento. Apenas pura percepção sem nome, sem forma: somente a pureza, somente o que não tem forma nem nome, somente o próprio fenômeno de estar consciente — só isso é duradouro.
Se você se torna identificado, torna-se mente. Se você se torna identificado, torna-se corpo. Se você se torna identificado, torna-se um nome e uma forma e, então, o hospedeiro está perdido. Você esquece o eterno e o momentâneo torna-se importante. O momentâneo é o mundo, o eterno é Divino.
Esta é a segunda visão interior a ser obtida; a de que você é o hospedeiro e os pensamentos são os hóspedes.
O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão
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