— Como é possível que a mente esteja constantemente produzindo pensamentos, e como posso parar o que não comecei?
Você não pode parar o que não começou. E nem tente, porque será um desperdício de tempo, de energia, de vida. Você não pode para a mente porque não foi você que a iniciou. Pode apenas observar, e dessa observação ela para. Mas não é você que a está parando, é apenas uma consequência da observação, é uma função da observação.
Não é você que faz isso, não há como fazer parar a mente. Se tentar, ela acelerará ainda mais, lutará, criará milhões de problemas para que você nunca mais tente.
A verdade é esta: se não foi você quem começou, como poderá fazê-la parar? Ela é uma consequência da sua inconsciência e só poderá desaparecer pela consciência. Nada se pode fazer para cessá-la, a não ser estar cada vez mais alerta.
A própria ideia de querer parar a mente é uma barreira, porque se você diz, "Agora ficarei atento para fazê-la parar", acaba perdendo o ponto principal. Nem mesmo sua atenção vai resolver porque essa ideia estará presente: como parar a mente. Depois de alguns dias de esforços inúteis — porque se a ideia está lá, nada acontece — você vem me procurar dizendo, "Tenho estado atento mas a mente não para".
Você não a pode parar, não existe método nenhum para isso. Mas ela para! E não é você que faz isso, para por si mesma. Você simplesmente observa. Na observação você retira a energia que ela necessita para funcionar. A energia é canalizada para a observação e automaticamente os pensamentos vão se tornando debilitados, enfraquecidos. Continuarão presentes, mas cada vez mais impotentes, porque não há energia disponível. Ficarão circulando à sua volta, mas aos poucos a energia vai sendo absorvida pela consciência.
De repente, um dia, esse energia não é mais movida para os pensamentos e eles desaparecem. Não podem existir sem energia. Por favor, esqueça isso de querer para-los, não é da sua conta.
A segunda questão: "Como é possível que a mente esteja constantemente produzindo pensamentos?" É apenas um processo natural. Assim como o coração bate sem interrupção, a mente está sempre pensando. Assim como o corpo não para de respirar, assim como o sangue está sempre circulando, o estômago digerindo, a mente está pensando. Não há nenhum problema nisso; é uma coisa muito simples. Mas você não está identificado com sua circulação sanguínea, não SE sente circulando dentro das veias. Na verdade, nem tem consciência de que seu sangue está circulando — e mesmo assim ele não para.
Todo problema existe com a mente porque você acha que é VOCÊ quem está pensando. A mente tornou-se um foco de identificação. E é apenas isso que tem que ser rompido. Se você acha que se a mente parar você jamais terá pensamentos, está enganado. Você só pensará quando for necessário. Os pensamentos estarão sempre presentes mas agora será tudo muito natural: será apenas uma resposta, uma atividade espontânea, e não mais uma obsessão.
Por exemplo, ou você come quando sente fome, ou isso pode se tornar uma obsessão e você come o dia inteiro. Então você enlouquecerá, estará cometendo um suicídio. Você anda quando quer andar. Quando quer ir a algum lugar movimenta as pernas. Mas se ficar dando passos enquanto estiver sentado numa cadeira, poderão pensar que você ficou louco. E então, se você perguntar o que fazer para que suas pernas parem de mexer e alguém aconselhar: "Force-as, prenda-as com os braços!", terá ainda mais problemas. Além das pernas que não param, agora também os braços estão envolvidos. Sua energia luta contra ela mesma.
É só isso: você está identificado com a mente. Isso é natural: ela está muito próxima e você a utiliza muito. Geralmente as pessoas passam todo o tempo dentro de suas cabeças. É como alguém que dirige o mesmo carro há anos e nunca sai de dentro dele. Chega até a se esquecer de que ode sair se quiser, que é ele quem está dirigindo. Esqueceu-se tão completamente que chega a pensar que é o próprio carro. Não pode sair porque quem irá sair? Não sabe mais como abrir a porta e ela já funciona por não estar sendo usada há tantos anos. Enferrujou, já não abre como antes. O motorista acabou se tornando o próprio carro — é só o que aconteceu. Surge então outra confusão: como fazer o carro parar? Quem irá fazer isso?
Você é o motorista da mente. Ela é um mecanismo em volta de você, que vai sendo utilizado pela sua consciência. Mas você nunca sai de dentro dela. É por isso que insisto: deixe um pouco sua cabeça e vá para até o coração. De lá, terá outra perspectiva e poderá ver que o carro está separado de você.
tente sair de seu corpo, isso também é possível. Fora do corpo, terá saído do carro completamente. Verá que nem o corpo, nem a mente, nem o coração, são você; você está separado.
Por ora, lembre-se apenas de uma coisa: você está separado de tudo que o circunda. O conhecedor não é o conhecido. Sinta isso cada vez mais a ponto de se tornar substancialmente cristalizado em seu ser que o conhecedor não é o conhecido. Se você conhece o pensamento, se vê o pensamento, como pode ser ele? Se conhece a mente, como pode ser ela? Afaste-se, é preciso que haja uma pequena distância. Um dia, quando estiver realmente distanciado, o pensamento cessará. Se o motorista sai, o carro não anda — não há mais ninguém para dirigir. Então você poderá dar boas risadas ao ver que tudo não passou de um mal-entendido. E então, sempre que for necessário, pense.
Você faz uma pergunta e eu respondo. A mente entrou em funcionamento. É através dela que eu lhe falo, não pode ser de outra maneira. Mas quando estou só, a mente para de funcionar.
Ela não perdeu sua capacidade. Na verdade, aprendeu a funcionar corretamente. Por não estar funcionando descontroladamente, pode reter energia, tornar-se mais clara. Por isso, para a mente, não significa que você não será mais capaz de pensar. Na verdade, pela primeira vez, estará pensando. Envolver-se com pensamentos irrelevantes não é pensar, simplesmente loucura. Ser claro, limpo, inocente, é estar no caminho certo para pensar.
Quando surgir um problema, você não estará mais confuso, não verá através dos preconceitos. Olha diretamente e assim o problema começa a dissolver. Se for realmente um problema, acabará se dissolvendo e sumindo. Se não for problema e sim um mistério, vai se dissolver e se aprofundar. Então você saberá o que é um problema.
O problema é tudo o que pode ser solucionado pela mente: o mistério não pode. O mistério tem que ser vivido e o problema resolvido. Mas quando você está muito no pensamento, não saberá quando é um ou outro. Às vezes você toma um mistério como problema. Você ficará lutando toda a sua vida e jamais encontrará a solução. Outras vezes pensa que um problema é um mistério e fica esperando tolamente: já poderia ter sido solucionado.
É preciso que haja clareza, perspectiva. Quando estiver pensando, — essa tagarelice, essa discussão interior que está sempre acontecendo — pare! Você estará alerta e consciente. Poderá ver as coisas como são, encontrará as soluções. Saberá também quando é um mistério. E se for mistério, você sentirá um profundo temor, um grande respeito.
Esta é a qualidade religiosa do ser. Sentir respeito é ser religioso, sentir admiração é ser religioso. Sentir-se profundamente maravilhado de ser criança novamente, é entrar no Reino de Deus.
O S H O