"A busca só existe quando você está dormindo; só existe quando você não está atento; a busca só existe na sua desatenção. A desatenção cria a busca."
Você já perguntou a si mesmo o que está procurando? Já fez disso um ponto de profunda meditação, saber o que está procurando? Não. Mesmo que em alguns vagos momentos, em momentos de sonhos, você tem algum pressentimento do que está buscando, ele nunca é preciso, nunca é exato. Você ainda não o definiu. Se tentar definir, quanto mais definido se tornar, mais você sentirá que há necessidade de buscá-lo. A busca só pode continuar num estado de incerteza, num estado de sonho; quando as coisas não estão claras, você simplesmente continua buscando, empurrado por alguma urgência interna, puxado por alguma necessidade interior. Uma coisa você sabe: precisa buscar. Esta é uma necessidade interior. Mas você não sabe o que está buscando.
E a menos que saiba o que está buscando, como poderá encontrar? É vago — você pensa que é dinheiro, poder, prestígio, respeitabilidade. Mas então vê as pessoas respeitáveis, poderosas, também procurando. Vê as pessoas que são tremendamente ricas — elas também estão buscando. Até o fim de suas vidas, estão buscando. A riqueza então não vai adiantar, o poder não vai adiantar. A busca continua a despeito do que você tem.
A busca tem que ser por alguma outra coisa. Esses nomes, esses rótulos — dinheiro, poder, prestígio — são só para satisfazer a sua mente. Só são para ajudá-lo a sentir que está buscando por alguma coisa. Essa coisa é indefinida, um sentimento muito vago.
A primeira coisa para um buscador real, para o buscador que quer tornar-se um pouco alerta, atento, é definir a busca; formular o conceito claro do que ela é; trazê-la para fora da consciência sonhadora; encontrá-la num profundo estado de alerta; olhá-la diretamente; encará-la. Imediatamente começa a acontecer uma transformação. Se você começar a definir a sua busca, começará a perder o interesse por ela. Quanto mais definida ela se tornar, menos existirá. Quando o que ela é tornar-se claramente conhecido, ela desaparece subitamente. Só existe quando você não está atento.
Deixe-me repetir: a busca só existe quando você está dormindo; só existe quando você não está atento; a busca só existe na sua desatenção. A desatenção cria a busca.[...]
Nossos sentidos são extrovertidos. Os olhos abrem-se para fora, as mãos movem-se, espalmam-se para fora, as pernas movem-se para fora, os ouvidos ouvem os barulhos, os sons exteriores. Tudo o que está disponível a você abre-se para o exterior; todos os cinco sentidos movem-se extrovertidamente. Você começa a buscar lá onde você vê, sente, toca — a luz dos sentidos incide no exterior. E o buscador está dentro.
Esta dicotomia precisa ser entendida. O buscador está dentro, mas como a luz está fora, o buscador começa a mover-se de uma maneira ambiciosa, tentando encontrar alguma coisa fora que o satisfaça.
Isso nunca irá acontecer. Nunca aconteceu. Não pode acontecer pela própria natureza das coisas — porque, a menos que você tenha buscado o buscador, toda a sua busca será insignificante. A menos que você venha a saber quem você é, tudo o que buscar será fútil, pois você não conhece aquele que busca. Sem conhecer o buscador, como poderá se mover na dimensão certa, na direção certa? É impossível. As primeiras coisas devem ser consideradas antes.
Portanto, estas duas coisas são muito importantes: primeiro, deixe absolutamente claro para si mesmo qual é o seu objetivo. Não fique tateando na escuridão. Enfoque a sua atenção no objeto — o que você realmente está buscando. Porque às vezes você quer uma coisa e sai buscando alguma outra; assim, mesmo que seja bem-sucedido, não conseguirá ficar satisfeito. Você já viu as pessoas bem-sucedidas? Pode encontrar maiores fracassados em algum outro lugar? Você já ouviu o provérbio que nada é mais bem-sucedido do que o sucesso. Está absolutamente errado. Gostaria de lhe dizer: nada fracassa mais do que o sucesso. O provérbio deve ter sido inventado por pessoas estúpidas.[...]
Um homem bem sucedido é sempre atirado para si mesmo no final, e então sofre as torturas do inferno, porque desperdiçou toda a sua vida. Buscou e buscou, arriscou tudo o que tinha, obteve sucesso — e agora seu coração está vazio e sua alma insignificante, sem fragrância, sem bênção.
Portanto, a primeira coisa é saber exatamente o que você está buscando. Insisto nisso porque quanto mais você focar seus olhos no objeto da sua busca, mais ele começará a desaparecer. Quando seus olhos estão absolutamente fixos, subitamente não há nada a buscar; imediatamente seus olhos começam a voltar-se para você mesmo. Quando não há objeto de busca, quando todos os objetos desapareceram, há o vazio. E nesse vazio acontece a conversão, a volta. De repente, você começa a olhar para si mesmo. Não há nada a procurar e um novo desejo surge em conhecer o buscador.
Se existe algo a ser buscado, você é um homem mundano; se não há nada a buscar, e a questão "Quem é este buscador?" tornou-se importante para você mesmo, então você é um homem religioso. É assim que defino o mundano do religioso.
Se você ainda está buscando alguma coisa — talvez na outra vida, na outra margem, no céu, no paraíso, no moksha, não faz nenhuma diferença — você ainda é um homem mundano. Se toda a busca cessou e subitamente você percebeu que agora só há uma coisa para conhecer — "Quem é este buscador em mim? O que é esta energia que quer buscar? Quem sou eu?" —, há então uma transformação. De repente, todos os valores mudam. Você começa a mover-se para dentro.
O S H O
O S H O